BCP vai emitir até 900 milhões em dívida de alto risco para cumprir metas do BCE
Os bancos têm de emitir dívida para responderem às exigências dos reguladores. E o BCP não é exceção. O banco vai emitir entre 500 e 900 milhões de euros durante este ano.
Os bancos portugueses vão ter de emitir dívida de elevada subordinação para responderem aos requisitos de capital impostos pelo regulador, o Banco Central Europeu (BCE). E o BCP não será exceção. O banco liderado por Nuno Amado vai ao mercado emitir até 900 milhões de euros desta dívida de alto risco, de acordo com a conference call com analistas sobre os resultados do BCP para 2017. Uma emissão “que não preocupa” a instituição financeira.
“O BCP prevê emitir entre 500 e 900 milhões de euros de dívida para satisfazer os requisitos europeus, conhecidos como MREL, ao longo do ano (dívida sénior e dívida sénior não preferencial)”, lê-se na nota de investimento do BPI a que o ECO teve acesso. Isto depois de, durante a conferência de imprensa sobre os resultados de 2017, o administrador do BCP Miguel Bragança ter explicado que o banco poderia vir a emitir títulos para o MREL, mas sempre dentro dos montantes habituais das emissões realizadas pelo banco.
O BCP prevê emitir entre 500 e 900 milhões de euros de dívida para satisfazer os requisitos europeus, conhecidos como MREL, ao longo do ano (dívida sénior e dívida sénior não preferencial).
“Não é nada que nos preocupe”, salientou o administrador. Mas o presidente da Associação Portuguesa de Bancos (APB) não partilha da mesma tranquilidade. Apesar de as instituições financeiras estarem “preparadas”, Fernando Faria de Oliveira disse ao ECO que estas emissões são motivo de preocupação. Isto porque estas operações vão atingir volumes significativos no mercado europeu. Ou seja, as instituições nacionais vão ter de concorrer com muitos outros bancos do Velho Continente que têm ratings mais elevados, garantindo maior interesse dos investidores, logo custos mais baixos.
Uma preocupação também expressada pelo BCE. O banco central liderado por Mario Draghi referiu que Portugal, Grécia, Itália e Espanha são os países que deverão ter mais dificuldades em encontrar interessados para esta dívida de alto risco, tendo em conta a elevada dependência de investidores domésticos. Esta realidade “pode sinalizar que há limites na capacidade de absorção” da dívida que é emitida para satisfazer os requisitos europeus, conhecidos como MREL, que exigem que as instituições tenham instrumentos financeiros que possam sofrer perdas antes ser necessário recorrer ao Fundo Único de Resolução.
Ou seja, é uma espécie de salva-vidas para os contribuintes, evitando, assim, que estes voltem a pagar milhares de milhões de euros no resgate a instituições financeiras como aconteceu no período mais critico da crise financeira que espoletou com o colapso do Lehman Brothers. Em Portugal, BPN, BES e Banif, por ordem cronológica, provocaram enormes rombos nas contas públicas com os respetivos resgates, dinheiro do Estado que saiu do bolso dos portugueses.
Custo dos depósitos vai continuar a cair
Enquanto a emissão de dívida para o MREL vai influenciar negativamente a margem financeira, há outros fatores que permitirão compensar essa pressão. O BCP conta com uma descida do custo dos depósitos a prazo. “O BCP prevê que o custo dos depósitos a prazo desça entre 15 e 50 pontos base face aos níveis atuais”, referem os analistas do BPI. Isto terá, dizem, um “impacto positivo entre 2% a 3% na margem financeira do banco”.
"O BCP prevê que o custo dos depósitos a prazo desça entre 15 e 50 pontos base face aos níveis atuais (…) o que terá um impacto positivo entre 2% a 3% na margem financeira do banco.”
Além disso, o aumento dos juros também vai dar a sua contribuição. Segundo o BPI, uma “subida de 100 pontos base das taxas de juro terá um impacto positivo de 100 milhões de euros [na margem financeira do banco], assumindo que apenas passa 40% a 50% deste aumento para o custo dos depósitos”.
Sobre as comissões, a administração projeta um crescimento ligeiro este ano, dizem os analistas. Isto depois de Nuno Amado ter afirmado que as comissões estão “estáveis em Portugal”, mas assumido que estas podem vir a subir este ano. “É possível que em 2018 haja algum aumento de comissões”, disse o presidente da entidade, depois de em 2017 ter revelado que as comissões líquidas aumentaram 3,6% para 666,7 milhões de euros.
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