Zuckerberg esteve cinco horas no Senado. O que disse?
O líder do Facebook submeteu-se às perguntas dos senadores numa sessão de cinco horas. Admitiu erros, abriu a porta à regulação e os apontamentos que levou apareceram na internet.
Esta terça-feira, Mark Zuckerberg deixou a t-shirt em casa e testemunhou perante o Senado norte-americano de fato e gravata, sinalizando um momento especialmente sensível para o Facebook, que fundou com 19 anos. Depois de vir a público que uma consultora se terá apropriado dos dados de 87 milhões de utilizadores da rede social, o gestor aceitou, finalmente, responder às questões dos senadores. A sessão durou cinco horas.
O líder do Facebook pediu “desculpa” pelo sucedido e admitiu que não foram tomadas as medidas suficientes para garantir a proteção de dados pessoais no Facebook. Recordando que a companhia soube, logo em 2015, que os dados de milhões de utilizadores estavam na posse da Cambridge Analytica, o Facebook não se certificou, de forma apropriada, que a consultora destruíra essas informações quando abordada pelos responsáveis da rede social.
“Quando a Cambridge Analytica nos disse que não tinha usado os dados e que os tinham apagado, considerámos um assunto encerrado. Em retrospetiva, foi claramente um erro. Não devíamos ter acreditado na palavra deles. Atualizámos a nossa política para garantir que não cometemos o mesmo erro outra vez”, disse o presidente executivo do Facebook. A consultora já reafirmou que apagou mesmo essas informações quando solicitado e já aceitou submeter-se a uma auditoria independente, que ainda aguarda conclusões.
Zuckerberg mostrou ainda abertura para que o Facebook passe a ser regulado, se a regulamentação da atividade da rede social for a “correta”. “A minha posição não é a de que não deve haver regulação. Creio que a verdadeira questão, numa altura em que a internet se torna mais importante na vida das pessoas, é qual é a regulação correta, e não se deve haver ou não regulação”, afirmou. Questionado sobre se o Facebook não é, afinal, um “monopólio”, o gestor descartou essa ideia: “Certamente, não sinto que seja assim”.
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Em relação à alegada interferência russa nas eleições Presidenciais de 2016, Zuckerberg confirmou que a empresa está “a trabalhar” em conjunto com o conselho especial que investiga esse caso nos Estados Unidos e reconheceu que essa investigação pode dar frutos. “Lançámos uma investigação… imagino que vamos descobrir algumas coisas”, disse. E acrescentou: “Há pessoas na Rússia cujo trabalho é tentar contornar os nossos sistemas”.
Creio que a verdadeira questão, numa altura em que a internet se torna mais importante na vida das pessoas, é qual é a regulação correta, e não se deve haver ou não regulação [do Facebook].
Notas de Zuckerberg expostas na internet
No interrogatório, o líder do Facebook mostrou-se sereno, mas os efeitos da pressão que tem vindo a enfrentar nas últimas semanas foram claros. Zuckerberg mediu cada palavra que disse, mostrando ter recebido uma longa preparação e trabalho de coaching para se apresentar perante o Senado, como já tinha avançado a imprensa internacional.
Prova disso foram também as notas que o gestor levou para a audiência e que acabaram expostas na internet pelo fotógrafo da Associated Press, Andrew Harnik. Nelas, Zuckerberg trazia preparadas várias respostas subdivididas por temas. Entre elas, um esquema de resposta às críticas de Tim Cook, líder da Apple, ao modelo de negócio do Facebook. Zuckerberg deveria contrapor com uma citação de Jeff Bezos, líder da Amazon.
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Mas outro ponto curioso diz respeito ao Regulamento Geral da Proteção de Dados. Nas notas de Zuckerberg surgia uma indicação, a negrito, para que o gestor não afirmasse, em momento algum, que o Facebook já está em compliance com o novo regulamento, que visa proteger os dados pessoais dos cidadãos da União Europeia. “Não dizer que já cumprimos os requisitos do RGPD”, lia-se nos apontamentos.
O presidente executivo do Facebook tem esta quarta-feira nova audiência marcada no Congresso, desta vez na Câmara dos Representantes. Será submetido a mais uma ronda de perguntas. Deverá começar por volta das 15h, hora de Lisboa.
Assista à audição completa de Mark Zuckerberg no Senado:
Mark Zuckerberg entra aos 1:26:16.
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