Nova taxa do BCE pode dar desconto na prestação da casa
A ESTER nasce em outubro de 2019. Se os bancos a escolherem para referência no crédito da casa, pode resultar em prestações mais baixas. Isto numa altura em que os juros deverão estar a subir.
Dentro de pouco mais de um ano, as famílias poderão ser surpreendidas com boas notícias relacionadas com os empréstimos da casa. Em outubro de 2019 nasce a ESTER, a nova taxa de juro de referência do BCE que poderá vir a substituir a Eonia e, consequentemente, a Euribor. Caso os bancos escolham esta taxa desenhada de modo a retratar apenas transações reais do mercado interbancário como referência para a determinação das taxas de juro do crédito da casa, tal pode significar um “desconto” no valor das prestações mensais das famílias portuguesas.
Esta conclusão tem como base a comparação entre o valor da Eonia (Euro OverNight Index Average) e o da ESTER (acrónimo de Euro Short-Term Rate), para a qual o Banco Central Europeu (BCE) já começou a publicar dados “em teste”: a pre-ESTER. Os últimos dados disponibilizados pela entidade liderada por Mario Draghi que dizem respeito ao dia 2 de maio mostram que as duas taxas apresentam um diferencial de cerca de nove pontos, com a pre-ESTER a apresentar o valor mais baixo. Nesse dia a Eonia estava nos -0,358%, enquanto a pre-ESTER apresentava-se com o valor de -0,452%.
ESTER face à Eonia
Fonte: BCE e Reuters
Não é certo que os bancos elejam a ESTER para substituir as taxas atuais, a Eonia e a Euribor, na determinação dos juros a pagar por quem tem um crédito à habitação de taxa variável, algo que o BCE faz questão de salientar. “O BCE irá publicar a ESTER como uma taxa de referência e cabe aos bancos optar por usá-la ou não”, disse fonte oficial da entidade liderada por Mario Draghi ao ECO.
Questionada sobre a adoção ou não desta taxa, a Associação Portuguesa de Bancos limita-se a afirmar que “acompanha os trabalhos que estão a ser desenvolvidos a nível europeu relativamente à ESTER e a outras risk free rates e aguarda as conclusões desses trabalhos”. Mas caso a opção seja a de acolherem a nova taxa, tal poderá resultar numa descida do valor das prestações da casa das famílias portuguesas.
"O BCE irá publicar a ESTER como uma taxa de referência e cabe aos bancos optar por usá-la ou não.”
Assumindo o exemplo de um empréstimo de 100 mil euros com um spread de 1%, caso se aplicasse esse diferencial de nove pontos à Euribor, a “poupança” na prestação mensal poderia chegar a quase seis euros (menos 1,88%). Isto no caso de um empréstimo com Euribor a três meses, em que a prestação seria de 307,11 euros, valor que baixaria para 301,34 euros mensais com a nova taxa. Já no exemplo de um crédito com a Euribor a seis meses, a redução seria de pouco mais de quatro euros (menos 1,35%). Na transição da Euribor para a ESTER, a prestação mensal baixaria de 309,43 para 305, 24 euros.
Evolução das Euribor a 3 e 6 meses
Fonte: Reuters
Ou seja, uma poupança que não é certa que se venha a concretizar, mas que será certamente bem-vinda para as famílias, sobretudo num período de inversão de juros que se aproxima.
A ESTER surge no seguimento de um grupo de trabalho criado em setembro do ano passado pelo BCE, com o objetivo de ser estabelecida uma taxa de juro sem risco do euro. A nova taxa de juro será calculada com base nos dados facilitados por 52 bancos informadores e antes do final de 2018 será decidida a possível inclusão de mais bancos informadores.
Esta iniciativa da entidade responsável pela política monetária da Zona Euro surgiu no seguimento da desconfiança em torno da Euribor cuja determinação é feita a partir das referências de um painel composto por mais de 50 instituições financeiras da Zona Euro do qual faz parte a Caixa Geral de Depósitos. Os escândalos relacionados com a manipulação da taxa por parte dos bancos levantaram muitas questões relacionadas com a fiabilidade do seu modelo de determinação.
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