Primo de Ricardo Salgado vai gerir carteira de 9.000 imóveis vendidos pelo Novo Banco
A Finsolutia, uma sociedade liderada por Nuno Espírito Santo Silva, primo de Ricardo Salgado, vai gerir juntamente com a Hipoges a carteira de 9.000 imóveis que o Novo Banco vendeu ao grupo Anchorage.
A Finsolutia, fundada e presidida por Nuno Espírito Santo Silva, primo do antigo líder do Banco Espírito Santo (BES) Ricardo Salgado, é uma das duas entidades que vai gerir a carteira de 9.000 imóveis que os americanos do Anchorage Capital Group adquiriram recentemente ao Novo Banco por mais de 700 milhões de euros, sabe o ECO.
Com a transação prestes a ficar fechada, algo que deverá acontecer até final do ano, está prevista a criação de uma plataforma para onde vão ser transferidos os 8.726 imóveis alienados há um mês pelo Novo Banco por 716,7 milhões de euros ao fundo de private equity americano Anchorage. Esta carteira, designada “Projeto Viriato”, é composta sobretudo por propriedades com usos residencial, incluindo estacionamentos, industrial, comercial e terrenos.
Ao que o ECO apurou, a gestão deste portfólio ficou a cargo da Lace Investment Partners, que delegou, por sua vez, a gestão da carteira em duas entidades: a Finsolutia e a Hipoges, duas sociedades com experiência na gestão de ativos na Península Ibérica. O Novo Banco, confrontado pelo ECO, diz que apenas negociou a venda da carteira com o grupo Anchorage, a única entidade com quem contactou diretamente neste processo. E terá sido a Anchorage e a Lace Investment a contratar aqueles duas sociedades.
A Finsolutia é uma sociedade que presta serviços de gestão e recuperação de créditos que nasceu em 2007, em resultado de uma joint-venture entre o UBS Investment Bank, o Espírito Santo Investimento e a Ongoing Strategy Investments. Tem como CEO Nuno Espírito Santo Silva, que conta no seu currículo com várias funções nas últimas duas décadas em entidades do universo Espírito Santo, nomeadamente no BES, BESI e ES Capital, segundo o seu currículo apresentado no seu LinkedIn. Nuno Espírito Santo Silva é primo de Ricardo Salgado, antigo líder do BES que foi alvo de uma medida de resolução em 2014.
Contactado pelo ECO no dia 26 de outubro para confirmar esta informação, Nuno Espírito Santo Silva disse: “Não posso confirmar. Desconheço. Não somos parte envolvida na transação. O que eu li no comunicado é que era entre a Anchorage e a Lace Investment Partners. Não tenho nada para comentar. O Novo Banco fez um comunicado e não sei mais nada do que isso.” Entretanto, o ECO voltou a contactar esta semana Nuno Espírito Santo Silva, mas não esteve disponível.
Quanto à Hipoges, fundada em 2008, gere atualmente ativos avaliados em mais de 12.000 milhões de euros, 3.000 milhões dos quais em Portugal. Ao ECO, o administrador António Nogueira Leite confirmou a informação de que a Hipoges vai gerir aquela carteira de imóveis que pertenciam ao Novo Banco.
A Hipoges foi adquirida no ano passado pelo fundo KKR, que tem vários investimentos em Portugal e que se encontra, inclusivamente, entre os candidatos selecionados pelo Novo Banco para ficaram com a maior carteira de malparado (NPL, non perfoming loans) que alguma vez esteve à venda no mercado nacional, um total de 1.700 milhões de empréstimos problemáticos. Os outros dois candidatos que estão na corrida pelo “Projeto Nata” são o Deutsche Bank e a Cerberus Capital Management.
28 trabalhadores do Novo Banco com rescisão à vista
Com a alienação da carteira, também um grupo de 28 trabalhadores do departamento de gestão imobiliária do Novo Banco vai transitar para a nova empresa, quase metade da força de trabalho daquele departamento. São trabalhadores com experiência e conhecimento na gestão daquele conjunto de imóveis.
Nas últimas semanas, o banco reuniu com aquele departamento para comunicar quais os trabalhadores que permaneceriam e quais iriam ser integrados nos quadros da nova empresa. Para quem fosse integrado na nova empresa, após a rescisão do contrato com o Novo Banco, há a garantia de que não pode ser despedido por um período de cinco anos. Adicionalmente, apesar da transferência para uma nova empresa, vão manter o mesmo nível salarial que têm atualmente no banco, embora continuem a existir entre trabalhadores muitas dúvidas sobre o futuro que lhes espera na outra empresa.
“Após a concretização da venda à Anchorage Capital Group, a gestão da carteira das 8.726 propriedades será realizada pela Lace Investment Partners e uma equipa de servicers de referência em Portugal na gestão deste tipo de ativos, que irão incorporar nos seus quadros até 30 colaboradores do Novo Banco, que saem com rescisões por mútuo acordo ou por reformas antecipadas“, disse fonte oficial do banco ao ECO.
“Estes colaboradores, que já geriam esta carteira de ativos no Novo Banco, beneficiam adicionalmente dos pacotes em vigor para rescisões amigáveis com o Novo Banco e terão ainda a garantia de um contrato de cinco anos com a nova gestora. Com a venda da carteira Viriato, o departamento gestão imobiliária não será afetado além da saídas referidas”, acrescentou a instituição.
Após a venda do portefólio de imóveis, o Novo Banco prepara-se para alienar uma importante carteira de malparado, no valor de 1.700 milhões de euros, com KKR, Deutche Bank e Cerebrus na corrida. Para a instituição detida em 75% pelo Lone Star e 25% pelo Fundo de Resolução, a venda desta carteira de empréstimos problemáticos representa “mais um importante passo no processo de desinvestimento de ativos não estratégicos, prosseguindo a sua estratégia de foco no negócio bancário”, segundo afirmou António Ramalho recentemente.
O banco “aguarda agora que [as instituições] façam as suas análises da carteira com toda a precisão para fazerem as suas propostas até ao início de dezembro”, isto para que a operação fique concluída antes do final do ano, adiantou o presidente do Novo Banco na conferência “O Futuro do Dinheiro”, organizado pelo Dinheiro Vivo e TSF.
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