Relações entre Portugal e Angola são estratégicas por razões económicas e políticas, diz Alex Vines
"As relações entre Portugal e Angola são estratégicas por razões políticas e económicas e a disputa sobre o caso judicial de Manuel Vicente foi uma distração", defende o investigador.
O diretor do programa sobre África do Instituto Real de Relações Internacionais britânico (Chatham House), Alex Vines, considerou este sábado, em entrevista à Lusa, que as relações entre Portugal e Angola são “estratégicas por razões políticas e económicas”. “A realidade é que as relações entre Portugal e Angola são estratégicas por razões políticas e económicas e a disputa sobre o caso judicial de Manuel Vicente foi uma distração que acabaria por ser resolvida, já que era do interesse estratégico de ambos os países que se encontrasse uma fórmula aceitável”, disse o investigador.
A disputa sobre o caso judicial de Manuel Vicente foi uma distração que acabaria por ser resolvida, já que era do interesse estratégico de ambos os países que se encontrasse uma fórmula aceitável.
Questionado pela Lusa sobre o significado da visita oficial do chefe de Estado angolano, João Lourenço, a Portugal, de 22 a 24 de novembro, Alex Vines disse que “a viagem do primeiro-ministro de Portugal a Angola [em setembro] foi mais um passo para a normalização das relaçoes bilaterais e a visita de Lourenço a Portugal vai cimentar esse processo”.
Para Alex Vines, Angola tem atualmente “uma economia frágil, que sofre de alto endividamento e inflação”, com o Produto Interno Bruto (PIB) a cair 0,1% este ano, mantendo-se em recessão, e está “à mercê da produção petrolífera”.
“A economia dominada pelo petróleo está à mercê da produção petrolífera, que atingiu o pico nos últimos anos e desde então caiu fortemente”, disse o analista, acrescentando que com a produção a dever cair 36% até 2023, “João Lourenço precisa de abrandar este declínio e garantir às companhias petrolíferas internacionais que existe um futuro lucrativo em Angola“.
Neste aspeto, Vines salientou que o Presidente “prometeu introduzir reformas na indústria petrolífera e novos incentivos, incluindo a criação de uma nova agência até 2020 para substituir a Sonangol como o principal regulador de novas concessões” e admitiu que “no papel houve muitas reformas neste setor”, mas sublinhou que “as ações têm sido surpreendentemente lentas sob a liderança do sucessor de Isabel dos Santos, Carlos Saturnino”.
Do ponto de vista externo, “o Governo tem tido uma imprensa positiva em África e no estrangeiro, mantendo-se um interesse cauteloso dos empresários relativamente a possibilidades de investimentos futuros”, mas “o facto de a emissão de dívida pública, este ano, ter tido mais procura que oferta indica que há um grau de confiança nas perspetivas económicas de médio prazo”.
O facto de a emissão de dívida pública, este ano, ter tido mais procura que oferta indica que há um grau de confiança nas perspetivas económicas de médio prazo.
No entanto, conclui, “a lentidão no processo de decisão e reformas, particularmente no setor petrolífero, está a fazer com que os observadores diplomáticos estejam menos otimistas sobre os limites das reformas de João Lourenço”.
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