Montepio falha colocação de obrigações no mercado. Mutualista injeta 50 milhões para reforçar rácios do banco
Montepio quis colocar até 150 milhões em obrigações subordinadas, mas a emissão falhou. Foi a mutualista a subscrever empréstimo de 50 milhões para reforçar rácios do banco antes do final do ano.
Foi já nos últimos dias do ano passado que a Associação Mutualista Montepio Geral (AMMG) teve de subscrever um empréstimo obrigacionista subordinado do seu Banco Montepio no valor de 50 milhões de euros, isto depois de o banco liderado por Carlos Tavares ter falhado uma colocação de obrigações no mercado que poderia atingir os 150 milhões de euros e que serviria para reforçar os rácios de capital num nível mais confortável face às exigências do Banco de Portugal para 2019.
Ao que o ECO apurou, o Banco Montepio realizou um roadshow internacional nos últimos dois meses do ano passado, tendo como objetivo colocar uma emissão de obrigações subordinadas a 10 anos no montante máximo de 150 milhões de euros.
Como contrapartida por estes títulos de capital tier 2 (que incorporam um maior grau de risco face às obrigações mais comum pois, em caso de falência do banco, os seus detentores apenas são reembolsados após os outros credores por dívida não subordinada), o banco acenou aos investidores com uma taxa de 8%. Em reação a esta notícia, o Montepio veio acrescentar que o juro não foi de 8%, mas não esclarece qual a taxa oferecida.
A remuneração apresentada terá sido superior aos 5,75% que a Caixa Geral de Depósitos (CGD) teve de suportar em meados do ano passado por uma emissão de títulos subordinados a 10 anos, com montante de 500 milhões de euros, mas em linha, por exemplo, com aquela que o Novo Banco pagou por uma operação semelhante também realizada em junho de 2018 (8,5% por 400 milhões).
Ainda assim, a operação levada a cabo pelo Banco Montepio em novembro e dezembro do ano passado veio a revelar-se um fracasso no que toca a captação de investidores interessados na oferta, com a taxa de juro a ser insuficiente para convencer o mercado.
Ao ECO, o Banco Montepio confirma que teve de voltar atrás com a operação devido às condições adversas do mercado — condições estas que, de resto, também levaram a Sonae MC a cancelar a sua ida para a bolsa ou a Vista Alegre a travar os seus planos de aumento de capital e expansão do capital disperso no mercado.
“O adiamento da operação prevista para 2018 deveu-se à deterioração das condições de mercado no final do ano – e foi aconselhado pelos assessores financeiros do banco – e ao facto de se ter constatado não ser necessária a referida emissão face à evolução favorável dos níveis de capitalização”, disse fonte oficial da instituição. “Provavelmente vai ser retomada em 2019”, adiantou a mesma fonte.
"O adiamento da operação prevista para 2018 deveu-se à deterioração das condições de mercado no final do ano – e foi aconselhado pelos assessores financeiros do banco – e ao facto de se ter constatado não ser necessária a referida emissão face à evolução favorável dos níveis de capitalização.”
Falhada a colocação de obrigações subordinadas junto dos investidores, e perante a exigência de um rácio de capital de 13,625% (acima dos 12,9% exigidos para 2018) que o Banco Montepio tinha de apresentar no dia 1 de janeiro de 2019, o seu acionista entrou em cena já na última semana de 2018 em auxílio da sua instituição financeira.
Uma fonte disse ao ECO que nos últimos dias de 2018 a AMMG subscreveu um empréstimo obrigacionista subordinado com maturidade a 10 anos, no valor de 50 milhões de euros, para que o banco – agora com outros acionistas minoritários, após a entrada da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e outras IPSS – pudesse reforçar os rácios de capital de acordo com os níveis exigidos pelo regulador liderado por Carlos Costa.
O banco diz que “os valores regulamentares dos rácios de capital seriam cumpridos mesmo sem a operação referida”. “Com os 50 milhões de euros emitidos assegurou-se apenas um conforto acrescido”, explicou ainda.
Mais: “O acionista também realizou uma operação com boa rentabilidade e em condições de mercado, conforme atestado pelos auditores. O montante aplicado corresponde basicamente às disponibilidades libertadas pelo reembolso no vencimento de outras emissões obrigacionistas da Caixa Económica Montepio Geral (CEMG) que a AMMG tinha em carteira”, detalhou a instituição liderada por Carlos Tavares.
"Os valores regulamentares dos rácios de capital seriam cumpridos mesmo sem a operação referida. Com os 50 milhões de euros emitidos assegurou-se apenas um conforto acrescido.”
O banco registou lucros de 22 milhões de euros nos primeiros nove meses do ano. Mas o resultado no fecho do ano deverá ser penalizado pela venda do Banco Terra (em Moçambique) e também pela alienação de uma carteira de crédito malparado de 240 milhões de euros. Estas duas transações ocorreram já em dezembro e vão dar um prejuízo de 3,6 milhões e sete milhões, respetivamente. Deste modo, também a AMMG poderá ver gorada a sua expectativa de ver revertida em 2018 42 milhões de euros da imparidade constituída sobre o banco em 2015 e 2017, no montante de 498 milhões de euros, tal como previu no seu plano de ação e orçamento para 2019.
Para lá do reforço de capital, Carlos Tavares tem procurado dar um novo impulso ao negócio do banco, através do chamado Plano de Transformação, que deverá entrar em execução plena este ano. Entre outros pontos, o plano prevê a criação de um novo Banco Empresas Montepio – que vai ficar com o negócio do crédito das empresas –, estando ainda em curso um projeto-piloto que passa pela abertura de várias agências low cost em zonas menos urbanas. Carlos Tavares já anunciou aos trabalhadores onde vai abrir os primeiros balcões, apostando em localidades onde a CGD fechou portas, tal como o ECO avançou em primeira mão.
Também está em vista a apresentação da nova marca do Banco Montepio até final do mês. Antes disso, será preciso clarificar a posição de chairman. Carlos Tavares obteve autorização para acumular essa função com a de CEO até ao dia 21 de janeiro. João Ermida está à espera de aval do Banco de Portugal para ser nomeado presidente do conselho de Administração.
(Notícia atualizada às 15h08 com a reação do Banco Montepio que corrige o montante máximo da emissão de dívida de 250 para 150 milhões de euros. No mesmo comunicado, o banco desmente a taxa de 8%, mas não avança qual o juro oferecido na operação)
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