Empresas têm de diversificar o financiamento “para garantir estabilidade”

O acesso ao crédito bancário já não é a única forma de financiamento para as empresas. A Bial diz que é preciso garantir um financiamento estável pelo que não se pode estar dependente de A ou B.

As empresas precisam de crescer e investir e, para isso, precisam de financiamento. Se dantes o financiamento era garantido apenas através de financiamento bancário, agora existem outras oportunidades ao alcance dos empresários. O mercado de capitais é uma delas e, nesse caso, existem vários exemplos de sucesso.

É o caso da Bial. A farmacêutica tem, ao longo do anos, diversificado as suas fontes de financiamento porque, “quando se tem projetos de longo prazo, é preciso garantir um financiamento estável e não estar dependente da liquidez de A ou de B”, explica José Redondo, administrador financeiro da Bial e um dos participantes no evento Finance for Growth.

A farmacêutica, com sede no Porto, apoia-se em três pilares: o financiamento bancário tradicional, as emissões obrigacionistas e ao Banco Europeu de Investimentos. “Há cinco anos ficou mais barato emitir a emissão obrigacionista do que recorrer à banca mas, em outubro passado, quando foi realizada a segunda emissão, teria sido diferente”, acrescenta o administrador.

De resto, o gestor reconhece que o melhor seria recorrer apenas a financiamento com “base em capitais próprios e pela geração de cash flow“, mas isso não é possível uma vez que “a Bial tem mais projetos do que a capacidade de financiamento”.

João Miranda, presidente da Frulact, ainda se lembra do dia em que bateu à porta da banca para pedir o seu primeiro financiamento: 600 mil contos. O sucesso não era garantido e Miranda diz que “só o BNU é que acreditou no projeto e no miúdo com ar irreverente que tinha à frente”.

O empresário coloca a tónica do relacionamento entre as empresas e os financiadores na questão da confiança e da transparência, “aspetos que, ainda hoje persistem e não podem perder-se”.

João Miranda diz mesmo que “o financiamento das empresas também se faz muito pela proximidade entre empresas e instituições”. Aliás, foi com base nessa proximidade que o financiamento da Frulact para a fábrica do Canadá foi “montado pela Caixa e pelo Santander a partir de Portugal”, até porque na altura a empresa não tinha ativos no Canadá. Hoje a realidade é diferente e a operação deverá ser cancelada e transferida para o Canadá.

Euronext à “caça” de novas empresas

Depois de, nos últimos meses, ter visto algumas operações de IPO canceladas, o Euronext Lisboa está à procura de novas empresas. Isabel Ucha, presidente da Euronext Lisboa, que falava perante uma plateia de empresários, deu o exemplo da Corticeira Amorim, uma empresa que diz multiplicou a capitalização bolsista por 15, desde 2008 até agora, com a clara intenção de demonstrar como, através do mercado de capitais, é possível… crescer.

Para além do caso de sucesso da empresa liderada por António Rios Amorim, Ucha referenciou o da construtora Casais que, na semana passada, recorreu ao mercado de capitais, através de uma emissão de obrigações no valor de 18,5 milhões de euros, a uma taxa de juro de 4,5%.

Para Isabel Ucha, o programa Finance for Growth não se esgota na questão do financiamento. Ucha relembra que, atrás do financiamento e da capitalização das empresas, vem a organização interna das sociedade, a aposta na inovação e na internacionalização. De resto, a presidente do Euronext diz mesmo que o “programa ajuda as empresas a enfrentar a disrupção tecnológica”.

Uma ideia partilhada por Armando Santos, diretor de marketing da Caixa Geral de Depósitos. O gestor lembra que, cada vez mais, as empresas “esperam do banco soluções financeiras, e que também as ajudem a assegurar a estruturação e formatação dos seus próprios negócios“. Defendendo a solução de crédito tradicional, o representante da Caixa adianta: “Estamos num bom momento para as empresas encetarem estratégias de crescimento”.

Na base deste raciocínio está a baixa das taxas de juro e, sobretudo, enfatiza Armando Santos, as previsões “que continuam a apontar para a baixa das taxas de juro”. Além de que, assegura, “os bancos nacionais têm níveis de alavancagem do crédito que estão na média dos países da Europa”.

Ainda no leque dos parceiros financeiros, Henrique Cruz, presidente do IFD, enaltece os diversos mecanismos financeiros, tendo adiantando que aquela organização vai lançar uma segunda linha de financiamento com maturidade de 12 anos e quatro de carência. Henrique Cruz não adianta, porém, qual a instituição financeira que está por trás desta segunda linha. À margem da conferência o gestor referiu ao ECO que “os contornos do contrato não estão ainda fechados pelo que não posso adiantar quem será o banco. Mas asseguro que é um dos grandes”.

Ligação entre empresas e instituições financeiras

“O programa nasce de uma vontade de estreitar a ligação entre as empresas e as instituições financeiras. A universidade faz a ponte explícita na forma como desenhámos o programa”, afirma Álvaro Nascimento, docente da Universidade Católica. Para o ex-chairman da Caixa, “o programa é uma medida de capitalização das empresas, que é apenas o espelho financeiro da forma como uma empresa se desenvolve”.

“As empresas são, antes de mais, um projeto de produção e só depois vem a questão financeira. As empresas só existem na exata medida em que existe um capital acumulado — para isso tem de ter dinheiro de caixa. O posicionamento na cadeia de valor, seja qual for, tem de ser financiado”, acrescenta.

Álvaro Nascimento diz que a ambição do programa é chegar às pequenas e médias empresas e, sobretudo, “a startups, mas não necessariamente ligadas ao ramo da tecnologia”.

O projeto Finance for Growth é uma iniciativa lançada em 2018 pela AEP e pela AIP, cofinanciado pelo Compete 2020, através do Portugal 2020 e do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional e, contando para a sua execução com o apoio da Caixa Geral de Depósitos, da Instituição Financeira de Desenvolvimento (IFD) e da Euronext, no âmbito do programa Capitalizar.

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