Mais do que os fortes lucros, serão os dividendos chorudos a animar a época de resultados do PSI-20
Retalhistas e energéticas já divulgaram dados provisórios da produção, que auguram um bom presságio para a época de resultados do ano passado. Mesmo que os lucros recuem deverão manter-se fortes.
Depois de o arranque da época de resultados em Portugal ter ficado a cargo da banca, as cotadas do PSI-20 preparam-se para prestar contas ao mercado. As perspetivas são de menores, mas fortes lucros impulsionados pela economia (ainda) robusta. No entanto, deverão ser as remunerações atrativas dos acionistas a cativar o interesse dos investidores pela bolsa de Lisboa.
“A maioria das empresas da bolsa portuguesa conseguiu aumentar os lucros nos primeiros nove meses do ano passado, lucrando cerca de 2,5 mil milhões de euros“, afirma Eduardo Pinto Alves, diretor de investimentos do Banco Best. “Essa melhoria que se tem vindo a registar nas contas está em muito relacionada com o processo de recuperação da economia portuguesa e o nível baixo dos juros, o que permitiu uma melhoria dos rácios também ao nível do balanço das empresas”.
As empresas portuguesas têm conseguido substituir capital alheio por capital próprio, reduzindo o peso do endividamento de forma acentuada, explica Pinto Alves sobre os fatores que beneficiam a praça lisboeta. O peso dos financiamentos obtidos no total do ativo diminuiu para 34,2% no terceiro trimestre do ano passado, segundo os mais recentes dados do Banco de Portugal.
No final de 2017, estava em 35,7% e, no final de 2015, em 37,9%. “Mesmo com o abrandamento no crescimento das exportações e da própria economia decorrente, fundamentalmente, de uma multiplicidade de fatores de origem externa, acreditamos que a época de apresentação de resultados irá decorrer de forma geral positiva”, sublinha o diretor de investimentos do Best.
Da mesma forma, Paulo Monteiro, diretor da gestão de ativos do Banco Invest, considera “que os resultados se esperam positivos e sem grandes surpresas”. Em termos setoriais aponta “em particular para os setores da pasta de papel e da energia (petróleo) ” e refere que “também o retalho poderá surpreender considerando os últimos valores reportados referentes às vendas em 2018″.
Petróleo, papel e retalho animam. EDP baralha as contas
O anúncio preliminar de produção e vendas (que algumas empresas já fizeram ao mercado) ajuda a delinear as expectativas para a época de resultados do PSI-20, que arranca no dia 11 de fevereiro, com as contas da Galp. A petrolífera aumentou a produção em 12% para 113,1 mil barris, no quarto trimestre do ano passado face ao período homólogo. No retalho, a retoma do consumo foi especialmente notória. A Sonae fechou o ano de 2018 com vendas recorde de 6.317 milhões de euros, mais 7,6% que no ano anterior, enquanto a Jerónimo Martins aumentou as vendas, em 6,5%, para 17,3 mil milhões de euros. A dona do Continente apresenta resultados a 21 de março e a concorrente do Pingo Doce a 27 de fevereiro.
Além destas, também o grupo EDP já apresentou dados provisórios da produção e capacidade, em 2018. A eólica liderada por João Manso Neto aumentou a produção anual em 3%, para 28,4 Terawatts-hora (TWh) de energia renovável. Já a elétrica de António Mexia produziu mais 3%, para um total de 72.054 Gigawatts por hora (GWh). Com taxas de crescimento da produção ligeiras, é neste grupo que se situa a maior incerteza desta época de resultados.
“Cerca de 73% das empresas do PSI-20 tinham registado, no terceiro trimestre de 2018, um aumento dos lucros face ao período homólogo, mas o resultado acumulado das empresas que compõem o índice acabou por ser inferior tendo sido penalizados pela EDP cujo lucro baixou 74%, caindo de 1,15 mil milhões para 297 milhões. Ou seja, se excluirmos os resultados da EDP e da própria EDP Renováveis, as empresas da bolsa teriam aumentado o lucro em 36%, o equivalente a 552 milhões, totalizando 2,1 mil milhões de euros”, clarificou Eduardo Pinto Alves.
Calendário de apresentação de resultados do PSI-20
Mesmo com lucros menores, remuneração do acionista não falha
Mesmos que os lucros recuem, as cotadas portuguesas deverão manter a generosidade no que diz respeito à remuneração dos acionistas. Pelo segundo ano consecutivo, Portugal deverá ser o país da Europa em que as empresas distribuem os melhores dividendos, segundo as estimativas da Allianz Global Investors. As cotadas portuguesas deverão apresentar, em média, uma dividend yield de 5,36%, no exercício de 2018. A concretizar-se, é a percentagem mais elevada dos últimos anos, sendo que os lucros de 2017 deram uma dividend yield de 4,5% e os de 2016 deram 4,4%.
A Allianz GI antecipa que sejam distribuídos 350 mil milhões de euros em dividendos por toda a Europa. O montante corresponde a um aumento 16 mil milhões de euros (4,8%) face ao ano anterior. Dentro do espaço europeu, o Reino Unido (4,97%), Itália (4,79%) e Espanha (4,65%) seguem-se a Portugal. A nível mundial, uma dividend yield mais atrativa do que em Portugal só aquele que é apresentado pelas cotadas russas, em torno dos 6%.
“O dinheiro distribuído aos acionistas [das cotadas do PSI-20] no ano passado, relativo ao exercício de 2017, rondou os 2,4 mil milhões de euros. Face aos elementos de que dispomos atualmente, não é de esperar uma grande discrepância de valores para este ano“, confirma o diretor de investimentos do Banco Best.
Entre as várias empresas no índice nacional, há várias que já deram sinais sobre a remuneração dos acionistas. A mais ansiada é o BCP, cujos acionistas estão em jejum de remunerações desde 2010. O CEO Miguel Maya já disse várias vezes — tantas quantos os acionistas o pediram — que pretende voltar a distribuir pelos acionistas este ano e, em novembro do ano passado, alterou um artigo dos estatutos para clarificar que é a Assembleia Geral o órgão responsável por esta aprovação.
Se o caso do BCP se prende com a recuperação da atividade após a crise, no caso da Galp poderá ser o reforço no mercado brasileiro a dar ganhos. A estimativa do CaixaBank / BPI é que os dividendos pagos pela petrolífera sejam revistos em alta, para 456 milhões de euros por ano, até 2021. Já sobre a Sonae Capital, os analistas do mesmo banco de investimento veem margem para um “grande dividendo” graças ao encaixe financeiro da venda do loteamento Efanor por 30 milhões de euros, concluído em novembro.
Riscos internacionais deverão ofuscar época na bolsa
A procura por dividendos atrativos resulta, tradicionalmente, numa corrida às ações na altura da época de resultados. Após o PSI-20 ter tido, em 2018, o pior ano desde 2014, o impulso das contas das empresas seria bem recebido para consolidar um arranque de 2019 de incerteza, mas também de ganhos.
A bolsa de Lisboa fechou o mês com uma valorização de 8,38% e registou o melhor janeiro desde 2013. Entre as 18 cotadas, apenas uma (a Galp) terminou o primeiro mês do ano em terreno negativo. No entanto, os ventos contraditórios internacionais poderão ser mais fortes que o potencial impulso da época de resultados lisboeta.
“Quanto à recuperação do mercado, de facto, após um ano de 2018 muito negativo, 2019 está a começar com uma recuperação forte, que espero que se mantenha”, lembra Paulo Monteiro, do Invest. “Porém, a volatilidade deverá manter-se elevada enquanto perdurarem as incertezas em torno da guerra comercial e o Brexit, entre outros (sobretudo políticos). De qualquer forma, as taxas de juro reais permanecem muito baixas e os resultados estão em recuperação, pelo que a bolsa inicia o ano com avaliações interessantes face às alternativas com menor risco”.
Eduardo Pinto Alves concorda: “A incerteza que se vive nos mercados é grande e os maiores riscos são externos”, diz, acrescentando que estes “ingredientes que prometem dominar o ritmo dos mercados nos próximos meses” irão sobrepor-se “às noticiais relativas à divulgação de resultados das principais cotadas nacionais”.
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