Globalização pressiona empresas e dificulta conciliação trabalho e família
Ainda que haja mais consciência das empresas portuguesas para a necessidade de facilitar a conciliação trabalho e família, a globalização dificulta a tradução prática desses valores, diz ministro.
Ainda que a promoção de ferramentas que facilitem a conciliação entre as vidas profissional, familiar e pessoal comece já a ser vista, no mercado nacional, como um trunfo das empresas, no contexto do mercado globalizado há pressões que induzem a escolha de caminhos bem diferentes. O alerta foi deixado, esta segunda-feira, pelo ministro do Trabalho, na apresentação do relatório da Confederação Empresarial de Portugal (CIP) sobre esta matéria, que sublinha que, face à globalização e à consequente concorrência com outros mercados que não valorizam esse tipo de práticas, há “pressões crescentes” sobre as companhias lusitanas.
“Temos mais sensibilidade, mais recursos, uma melhor legislação, mas vivemos numa economia com uma concorrência dura, exigente. Associada à globalização e à concorrência com sociedades onde esses indicadores não são valorizados, há pressões crescentes“, sublinhou Vieira da Silva.
O governante aproveitou, por outro lado, para notar que as dificuldades na conciliação das esferas referidas limita o potencial de criação de riqueza e bem-estar das economias, “contraindo o próprio potencial da população ativa”. Isto porque, como enfatiza o próprio estudo, a fraca conciliação trabalho e família pode fazer aumentar o absentismo e consequentemente pressionar a produtividade das empresas.
Depois de ter reforçado que Portugal está entre os cinco países da União Europeia com uma melhor rede de apoio à primeira infância, o governante salientou, além disso, que a conciliação em causa não passa, apenas, pela parentalidade, mas também pelo cuidado aos ascendentes. “Conciliação não é apenas a questão da parentalidade. É a possibilidade de acompanhar os dependentes em situações críticas, é a possibilidade de acompanhar um ascendente em situação aguda”, defendeu o ministro.
Vieira da Silva frisou também que a flexibilização horária — uma das medidas recomendadas pelo estudo apresentado esta segunda-feira — não é uma solução definitiva, dependendo o seu sucesso da negociação entre patrões e trabalhadores.
“A conciliação é urgente se queremos manter as nossas sociedades capazes de criar valor, riqueza e de serem competitivas”, rematou o responsável pela pasta do Trabalho.
O relatório em causa conclui que, apesar de já se registarem algumas práticas positivas no sentido da promoção deste tipo de conciliação, permanecem alguns inibidores à sua adesão. “Apesar da legislação laboral, em Portugal, prever situações que incentivam à conciliação e, apesar de certas empresas oferecerem medidas de conciliação, não é totalmente certo que os colaboradores as utilizem com frequência. Há um conjunto de situações, devidamente descritas na literatura académica e referida nas entrevistas às empresas, que funcionam como inibidores e barreiras à utilização de medidas de conciliação pelos colaboradores”, salienta o relatório, referindo-se à falta de conhecimento sobre a legislação em vigor e sobre as ferramentas oferecidas pelos empregadores, à resistência sentida no seio das empresas, ao receio das repercussões de chefias e colegas nomeadamente da perda de oportunidades de progressão na carreira e, no limite, da perda do próprio emprego.
Sobre este tema, recorde-se ainda que, em dezembro do ano passado, o Ministério do Trabalho, em parceria com o Ministério da Presidência e da Modernização Administrativa, anunciou o programa “3 em linha”, que prevê o alargamento da licença parental inicial exclusiva do pai de 15 para 20 dias.
A propósito, segundo disse Vieira da Silva esta segunda-feira, na última década, a possibilidade de partilha da licença parental fez saltar de menos de 1% para cerca de 37% os pais que decidem participar nas licenças em causa.
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