Neeleman: “A operação da TAP é a pior a que já estive associado em termos de atrasos”
Ex-governo "estava desesperado para encontrar alguém que pegasse na TAP", assume Neeleman. Que confessa: "A operação da TAP é a pior a que já estive associado em termos de atrasos."
“Os governos vão e vêm, mas a TAP continua.” Uma semana após o “caso dos prémios”, David Neeleman concede uma nova entrevista ao Expresso (acesso condicionado), onde volta a desvalorizar a polémica que provocou a quebra de confiança entre o acionista privado da transportadora e o acionista público, o Estado. E apesar de prometer melhorias nas contas já este ano, Neeleman assume que ainda há muito para fazer e que “a operação da TAP é a pior” a que já esteve associado em termos de atrasos.
“Quando me reúno com o Governo, tento insistir no que é importante para a companhia. Os governos vão e vêm, mas a TAP continua. Tem de continuar forte”, explica o empresário norte-americano nascido no Brasil que comprou a TAP, apontando, sobre os prémios pagos pela empresa apesar dos 118 milhões de prejuízo, nunca ter visto um país como Portugal em termos de desenvolvimento de negócios.
“Mas [Portugal] é um sítio muito diferente para fazer negócios. Nunca vi nada assim… A política, os media… Por exemplo, quando há notícias durante três dias sobre prémios de desempenho de pequeno montante… Há um grande foco na TAP. É um país pequeno. Estamos a fazer o melhor que podemos.” Mas para gerir uma companhia aérea, aponta então, importa focar no essencial e esquecer o acessório.
“O que está certo está certo. Quando me reúno com o Governo, tento insistir no que é importante para a companhia. Os governos vão e vêm, mas a TAP continua. Tem de continuar forte. Temos de nos focar no que é certo para Portugal, para os nossos trabalhadores, para a companhia…”
Quanto ao que está certo para a companhia, Neeleman aponta ao semanário que ainda há muito por fazer, mas que parte desse trabalho não depende da transportadora, assumindo, porém, que os níveis de atraso da TAP são dos piores com que já esteve envolvido.
“Há muito para fazer. Temos de ser mais eficientes. A operação da TAP é a pior a que já estive associado em termos de atrasos. Estamos a trabalhar com a NAV e com a ANA para melhorar. Mas há muitas coisas que saem do nosso controlo. Esperamos que possamos ter esta situação resolvida. A ANA — a Vinci — tem um dos aeroportos mais rentáveis do mundo e tem de gastar mais dinheiro. Estamos também a negociar com a Força Aérea sobre o uso do espaço aéreo.”
Para Neeleman, o problema do aeroporto de Lisboa é mesmo o fator que mais prejudica a TAP. “O mais negativo é o aeroporto. Esperamos que resolvam isso. É um desastre”, sublinha mesmo. E até que este problema se resolva, os atrasos continuarão, ainda que já não tão pronunciados como aconteceu no primeiro semestre de 2018. “Estamos melhor. Este ano estamos muito mais preparados. Contratámos pilotos e pessoal de bordo. Mas o problema dos atrasos não se resolverá antes de resolvermos as questões de que falei antes.”
“Governo estava desesperado para encontrar alguém que pegasse na companhia”
Sobre o processo que levou à sua entrada no capital da TAP, David Neeleman refere que encontrou no executivo PSD/CDS um Governo desesperado para vender a TAP, dadas as dificuldades financeiras que a empresa atravessava.
“O Governo estava desesperado para encontrar alguém que pegasse na companhia”, aponta o empresário ao Expresso. A ponte entre as partes foi feita por Fernando Pinto, ex-presidente da TAP, que ligou a Neeleman para este “dar uma vista de olhos” na oportunidade que representava a TAP.
“E Fernando Pinto tinha noção da situação complicada em que a companhia estava. Não podia continuar a ir aos bancos portugueses pedir mais dinheiro. Foi um desafio difícil, porque os bancos portugueses faziam parte da negociação e não aceitavam dar nenhum corte na dívida. E até subiram os juros que estávamos a pagar, que entretanto já foram reduzidos. O Governo estava desesperado para encontrar alguém que pegasse na companhia.” Não por acaso, recorda, “no primeiro dia tivemos de meter 90 milhões de euros para pagar salários e pagar à ANA”.
Em relação à evolução da situação económico-financeira da TAP, Neeleman sublinhou que ao longo de 2018 a opção da administração foi privilegiar “a paz laboral” no seio do grupo TAP e limpar todos os problemas relacionados com o ramo de manutenção no Brasil, decisões com impactos negativos, mas não recorrentes, a que se juntou a subida do preço do petróleo, pelo que este ano não será difícil fazer melhor.
“Iremos certamente fazer melhor este ano, mas não será ainda todo o nosso potencial. Estamos a receber 34 aviões novos este ano. Quando chegarmos a 2020, a 2021 e a 2022, iremos ver as margens aumentar de forma significativa e aproximar-nos do ponto de endireitar a companhia. Temos todas as peças no sítio, mas ainda estamos em transição. Estou otimista em relação a 2019 e mesmo confiante em relação a 2020.”
A propósito de 2020, David Neeleman aponta ainda que vê como “essencial” a entrada da TAP em bolsa. “É essencial. Estamos a preparar a companhia, e o próximo ano é um bom momento para o fazer.”
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