CDS quer que empresas possam descontar dívidas do Estado nos impostos a pagar
A ideia dos centristas é que as empresas possam descontar nos impostos a pagar ao Estado as dívidas que este tem para com elas. A medida faz parte do programa eleitoral.
Sai a quinta medida do CDS do programa eleitoral. Os centristas querem que as empresas possam descontar nos impostos que têm a pagar ao Fisco as dívidas que o Estado tem para com elas. A proposta recupera o conceito de conta-corrente entre o Estado e as empresas que, segundo dizem, não avançou, mas é concretizada através de um mecanismo diferente que passa pela emissão de título de dívida pública entregues aos credores para abater nos impostos a pagar. “Mas não são os mini-BOT de Itália”, garante ao ECO o coordenador do programa eleitoral, Adolfo Mesquita Nunes.
O programa eleitoral que Assunção Cristas leva a votos a 6 de outubro prevê a “criação de um mecanismo sem custos para as empresas nos casos em que as empresas são credoras do Estado e são, ao mesmo tempo, devedoras de algum imposto, contribuição ou taxa, através do qual se faz um acerto de contas”.
Mas neste caso é preciso confirmar a existência da dívida e para o CDS a ideia é começar pelas micro e pequenas empresas. Ou seja, avançar de forma faseada, até porque “é um processo complexo”.
“Qualquer empresa ou pessoa a quem o Estado deve dinheiro deve poder descontar a fatura vencida e não paga, utilizando o dinheiro proveniente desse desconto para pagar os seus impostos (IVA, IRS, IRC e etc…). Assim, as faturas vencidas e não pagas pelo Estado são convertidas, depois de devidamente certificadas pelo Ministério das Finanças (através de um mecanismos gratuito e desmaterializado), em títulos da dívida. Esses títulos poderão ser utilizados para fazer face a pagamentos ao Estado, ocorrendo posteriormente um encontro de contas entre entidades do Estado”, explica o CDS.
Os títulos só poderiam ser utilizados para pagamentos ao Estado “e terão um prazo de validade pré-definido, destinado a cobrir o período de pagamento do ano fiscal em causa”.
O CDS argumenta que o Governo já prometeu a conta-corrente entre o Estado e as empresas “várias vezes” mas que a medida ainda não avançou.
CDS tenta evitar erros dos mini-BOT de Itália
Mesquita Nunes explica que este mecanismo “não é igual” aos mini-BOT aprovados em Itália, porque estes títulos de dívida “só servem para pagar impostos” e têm um “prazo de validade”. Se uma empresa vir uma dívida do Estado reconhecida e tiver um título de dívida para abater ao imposto a pagar só o pode fazer no ano fiscal em que está. Se não o usar, o título “caduca”, explica.
O esquema proposto pelo CDS é semelhante a uma solução encontrada em Itália. O Parlamento italiano autorizou o Governo a emitir dívida alternativa na forma de mini bilhetes do Tesouro (mini bills of Treasury, em inglês, ou mini-BOT). Estes ativos funcionam como uma espécie de certificados de dívidas que entraram em incumprimento (do Estado a fornecedores, por exemplo), tal como propõe o partido em Portugal.
Também porque os exemplos anteriores de países em desenvolvimento que lançaram mini-BOT não tiveram sucesso, como foi o caso da Argentina, que emitiu títulos semelhantes no início do milénio e acabou por gerar uma crise monetária.
A diferença é que, no caso de Itália (que tinha no final do ano passado 53 mil milhões de euros em dívida vencida a fornecedores), os títulos podem ser usados para pagar impostos, mas também podem ser vendidos ou trocados.
Adolfo Mesquita Nunes explica ao ECO: “Não repetimos os erros do caso italiano”. O coordenador acrescenta ainda que a medida tem como objetivo respeitar a ideia de que “um Estado que deve, não pode cobrar” mas também incentivar o Estado a pagar aos fornecedores, já que ao emitir títulos de dívida engorda a dívida pública.
Em maio deste ano, o conjunto das Administrações Públicas acumulava 857,8 milhões de euros em dívidas por pagar há mais de 90 dias. A maior fatia (73%) dos pagamentos em atraso era da responsabilidade dos hospitais EPE.
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