De Seia para Lisboa, o percurso do CEO do Crédito Agrícola
Licínio Pina, que foi reeleito presidente da Caixa Central de Crédito Agrícola este ano, está no centro de uma polémica que envolve subvenções pagas pelo banco à sua mulher.
Mais de 200 quilómetros separam Seia de Lisboa. Foi a distância que percorreu Licínio Pina, quando passou para o leme da Caixa Central de Crédito Agrícola, em 2013. Mas ao aceitar o desafio, foi preciso pesar as mudanças que vêm com a transição de uma “casa” para a outra.
Na cidade serrana, foi professor do ensino secundário e envolveu-se em atividades em locais como a Casa do Povo de Seia e a Cooperativa Agrícola de Seia, onde foi presidente do conselho fiscal. Mas destacou-se na direção da Caixa de Crédito Agrícola da Serra da Estrela, cargo que ocupava quando recebeu o convite para liderar o Conselho de Administração Executivo da Caixa Central de Crédito Agrícola.
O “sim” foi a resposta de Licínio Pina, mas com condições. A escolha da “assessoria” foi uma delas, e o papel coube à mulher, que tinha deixado o cargo de professora em Seia. Maria Ascensão Pina começou a receber uma subvenção mensal de dois mil euros líquidos, o que suscitou dúvidas, que foram enviadas em denúncias anónimas, avançou o Diário de Notícias (acesso pago).
Licínio Pina justificou este pagamento, numa carta datada de agosto de 2018, dizendo que a esposa de há mais de 36 anos é o seu “fator de equilíbrio” sendo que, para o exercício das suas funções e responsabilidades, necessita de “disponibilidade total e, acima de tudo, estabilidade emocional”.
As denúncias anónimas foram investigadas pelo Banco de Portugal, que pediu explicações sobre o assunto e também sobre outros casos que foram relatados sobre o banco. Entre estas encontravam-se também questões relativas a acumulação de cargos por parte do Licínio Pina na Caixa Agrícola da Serra da Estrela, onde continuava como presidente não executivo.
Questionado sobre as subvenções, em 2018, Licínio Pina disse, em entrevista ao Dinheiro Vivo e à TSF, que estas não existiam. Quando confrontado a respeito da carta que escreveu sobre os pagamentos, explicou que se referia à situação atual no momento já que, entretanto, o Crédito Agrícola decidiu terminar com as subvenções.
Bancos têm dinheiro e têm “abusado”
Licínio Pina trabalha no Crédito Agrícola há mais de 30 anos e, desde assumiu o cargo à frente do banco, tem sido reconduzido. As últimas eleições foram este ano, em maio, e o gestor foi reeleito para um novo mandato, que termina em 2021, já que, na avaliação do Banco de Portugal à idoneidade e adequação ao cargo dos seus elementos, passou o teste. A lista que encabeçava era a única concorrente.
Em 2013, pouco depois de tomar o leme do Crédito Agrícola, defendeu que não era necessário um banco de fomento em Portugal, alegando razões como a existência da Caixa Geral de Depósitos, mas também tendo em conta a liquidez da banca nacional. “A ideia que existe no público é que os bancos não têm dinheiro, os bancos têm dinheiro”, dizia Licínio Pina em entrevista à Lusa, na altura. “Não têm é dinheiro para colocarem em empresas em grande dificuldade, não estão dispostos a correr riscos. Fazer com que haja mais dinheiro nos bancos para fazer reverter para a economia não é necessário”, argumentava.
No ano passado, surgiu a possibilidade de o banco se juntar ao Montepio numa holding bancária, sugestão levantada por Tomás Correia. Licínio Pina admitiu que o grupo foi sondado mas recusou a proposta, dizendo que o Crédito Agrícola já cumpre a função de banco da economia social, em declarações citadas pela Lusa.
O banco registou lucros de 112,5 milhões de euros em 2018, valor que compara com os 150,2 milhões registados no ano anterior. Já este ano, o grupo obteve lucros de 104,9 milhões de euros até setembro, um aumento de 23,3% face ao mesmo período do ano passado.
Licínio Pina admitiu, numa entrevista ao Dinheiro Vivo e à TSF, em maio, que os bancos “têm abusado um bocadinho” e que “há comissões para tudo”. “O que tem acontecido é que os bancos, para sustentarem a sua rentabilidade e equilibrar balanços, e não sendo possível que haja margem financeira disponível para alimentar o negócio, foram criando comissões. Tem-se abusado um bocadinho, há comissões para tudo”, reiterou.
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