EuroBic perdeu 600 milhões em depósitos com o Luanda Leaks
O dinheiro depositado no EuroBic baixou mais de 600 milhões de euros no primeiro trimestre, com a reputação do banco afetada pelo Luanda Leaks e a polémica envolvendo a acionista Isabel dos Santos.
O caso Luanda Leaks, revelado pelos jornais em meados de janeiro, deu origem a uma fuga de depósitos de mais de 600 milhões de euros do EuroBic, com as notícias em torno da acionista Isabel dos Santos a afetarem “significativamente” a reputação do banco e a confiança dos seus depositantes.
A instituição financeira liderada por Teixeira dos Santos, que está prestes a ser vendida ao Abanca, fechou o primeiro trimestre do ano com depósitos na ordem dos 6,3 mil milhões de euros, menos 640 milhões do que no final do ano passado, antes de ter rebentado a polémica em relação às origens da fortuna da empresária angolana. Perdeu, assim, mais de 10% dos depósitos.
Face a toda a pressão, o banco tomou medidas imediatas: começou logo por cortar a ligação comercial a Isabel dos Santos e pessoas relacionadas com ela. E, à medida que ia perdendo depósitos no pico da turbulência, foi vendendo títulos de dívida para assegurar níveis de liquidez confortáveis, acima dos níveis exigidos pelo BCE. De acordo com as demonstrações financeiras do primeiro trimestre, o EuroBic vendeu mais de 300 milhões de euros destes títulos entre janeiro e março.
As primeiras notícias em torno do caso foram divulgadas pelo consórcio internacional de jornalistas no dia 19 de janeiro, com o Expresso a dar conta de transferências alegadamente ilegais de mais de 100 milhões de euros de contas da Sonangol no EuroBic para uma offshore de Isabel dos Santos no Dubai, a Matter Business.
Foi o início de uma tempestade perfeita que se abateu sobre a filha do ex-Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, mas que também provocou danos colaterais importantes no EuroBic, “afetando significativamente a reputação do banco” (palavras do EuroBic no relatório e contas de 2019). Em poucas semanas, o banco perdeu centenas de milhões de poupanças de clientes desconfiados em relação ao futuro da instituição.
A própria empresária angolana, visada num processo em que o Estado angolano quer recuperar mais de cinco mil milhões de dólares, também decidiu sair pelo próprio pé da estrutura acionista do banco, colocando a sua posição de 42,5% à venda. A 10 de fevereiro, surgiu o anúncio de venda de 95% aos espanhóis do Abanca. O processo de venda está prestes a fechar.
Banco vale até 280 milhões
Se o primeiro trimestre do ano foi atípico para a generalidade da banca por causa da crise do Covid-19, foi ainda mais para o EuroBic por causa do Luanda Leaks. Estes dois fatores ajudaram a explicar o mau desempenho operacional do banco entre janeiro e março. O banco viu os lucros afundarem 66% para apenas 4,5 milhões de euros. E isto depois dos lucros recorde de 61 milhões de euros alcançados em 2019. Apesar de tudo, o banco manteve a sua situação líquida durante este período, apresentando capitais próprios de 572 milhões de euros.
Por este indicador, aplicando métricas do mercado — o BCP, por exemplo, estava avaliado na bolsa a cerca de 40%-50% dos seus capitais próprios —, o EuroBic apresenta um valor de mercado de entre os 230 milhões e 280 milhões de euros. Quanto é que os galegos oferecem?
O ECO contactou o EuroBic mas não esteve disponível para responder até à publicação do artigo.
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