Santander Totta corta prémios aos trabalhadores e abre conflito interno
Banco de Castro e Almeida cortou metade do orçamento para incentivos à produção devido à pandemia. Medida está a gerar mal-estar interno. Comissão de trabalhadores pede para voltar atrás com decisão.
Quando receberem esta sexta-feira os prémios de desempenho relativos ao segundo trimestre, os trabalhadores do Santander Totta vão reparar que os montantes pagos pelo banco foram substancialmente mais baixos do que estariam habitualmente à espera.
Devido à crise provocada pelo surto de Covid-19, que vai ter reflexos no negócio bancário, a instituição liderada por Pedro Castro e Almeida avançou com várias medidas de redução de custos, tendo inclusivamente comunicado aos funcionários (por via das chefias) que vai cortar em 50% os valores disponíveis para o pagamento de remunerações variáveis em 2020. O que não está a ser bem recebido internamente.
Com efeito, a decisão terá um impacto imediato nos valores que os trabalhadores receberão esta sexta-feira: por exemplo quem tivesse cumprido os objetivos de produção no segundo trimestre do ano e pudesse reclamar um bónus de incentivo de 1.000 euros, como foi o caso de um relato de um trabalhador ao ECO, só vai levar para casa 300 euros. É um corte de 70%.
“Atendendo ao nível de indignação, desconforto e sentimento de injustiça que esta medida está a tomar, a comissão nacional de trabalhadores apela à administração que reconsidere a aplicação desta medida“, insta a estrutura de trabalhadores do Santander numa nota enviada esta quarta-feira aos mais de 6.000 colaboradores do banco e a que o ECO teve acesso.
"Atendendo ao nível de indignação, desconforto e sentimento de injustiça que esta medida está a tomar, a comissão nacional de trabalhadores apela à administração que reconsidere a aplicação desta medida.”
Pandemia e reguladores
Do lado do banco, o apelo vai noutro sentido: de compreensão pela atual excecional situação que se vive no país em consequência da pandemia, que impõe medidas de contenção dos custos numa altura em que o setor bancário também vai ser fortemente penalizado por aquela que será uma das maiores recessões de sempre.
“Infelizmente, a diminuição inevitável de receitas — e também as projeções do PIB que deverá contrair quase 10% e os efeitos sobre o desemprego, com reflexos sobre o setor — obrigou o banco a tomar diversas medidas de contenção de custos, entre as quais um ajustamento de cerca de 50% aos valores disponíveis para o pagamento de remunerações variáveis“, explica a instituição em declarações ao ECO.
"Infelizmente, a diminuição inevitável de receitas — e também as projeções do PIB que deverá contrair quase 10% e os efeitos sobre o desemprego, com reflexos sobre o setor — obrigou o banco a tomar diversas medidas de contenção de custos, entre as quais um ajustamento de cerca de 50% aos valores disponíveis para o pagamento de remunerações variáveis.”
O banco destaca ainda que os trabalhadores “foram um exemplo durante o período de confinamento, mantendo sem interrupções a rede de balcões à disposição do público”, mas lembra outras medidas importantes: o salário mínimo no banco é de 1.100 euros, não recorreu ao lay-off e tem assegurado a todos os colaboradores 100% da remuneração, mesmo tendo estado em situação de quarentena e/ou apoio a filhos e família em teletrabalho.
Adicionalmente, ainda segundo o Santander, o corte excecional no “bolo” para pagamento de incentivos “permitiu salvaguardar parte do valor destinado à remuneração variável antes da pandemia e foi tomada em linha com decisões iguais do grupo Santander e com as recomendações dos reguladores bancários”.
Trabalhadores contestam
Por seu turno, a comissão de trabalhadores contesta os argumentos regulatório e de diminuição de negócio da parte do banco. “Efetivamente, tem existido alguma preocupação dos reguladores quanto à remuneração variável das altas direções no setor da banca através de prémios e bónus anuais, onde não se inserem os incentivos trimestrais”, diz aquela estrutura no comunicado partilhado com os pares.
“No caso do Santander, não existe razão aparente para a sua redução face aos resultados de 2019 e aos já obtidos no primeiro trimestre de 2020“, acrescenta. Castro e Almeida apresenta os resultados do banco do segundo trimestre na próxima semana, que se seguirão após um primeiro trimestre em que os lucros baixaram 13% para 119 milhões de euros, refletindo a provisão de 30 milhões realizada por causa da pandemia.
Contrariando os motivos da administração, os trabalhadores dizem que é “de uma grave injustiça” proceder a “uma subtração substancial nos seus incentivos trimestrais”, sendo ainda uma “contradição” da gestão que tem elogiado os trabalhadores e apelidando-os de “heróis sem palmas”.
Na mesma nota, a comissão de trabalhadores lamenta a forma “estranha e pouco fundamentada” como a medida foi anunciada, através de “uma lacónica mensagem de e-mail para as hierarquias que, por sua vez, tiveram que fazer as ‘despesas da casa’ e transmitir aos trabalhadores as alterações”.
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