Da TSU aos recibos verdes, há apoios reforçados para empresas do turismo. Como funcionam?

Turismo tem sido um dos setores mais castigados pela crise sanitária e pelas restrições impostas de modo a conter a propagação do vírus pandémico. Governo reforçou, por isso, apoios a essas empresas.

A pandemia de coronavírus levou à imposição de restrições à mobilidade e até mesmo de confinamentos gerais, castigando de modo significativo o turismo. Esse setor tem sido, tudo somado, um dos mais prejudicados pela crise que o mundo atualmente atravessa. Por isso, o Governo decidiu criar condições mais favoráveis para as empresas nesta área de atividade no âmbito dos apoios que já têm estado disponíveis nos últimos meses. O apoio à retoma progressiva passa a garantir, assim, a dispensa de contribuições sociais a mais empregadores e até a medida desenhada para os trabalhadores independentes ganha agora um nova roupagem.

De acordo com o Instituto Nacional de Estatística, por efeito da crise pandémica, as receitas do turismo afundaram 67% em 2020 e o número de dormidas tocou em mínimos dos anos 90 do século passado. Aliás, as empresas deste setor têm figurado entre as que mais recorreram aos apoios extraordinários, como o popular lay-off simplificado, que garantiu uma ajuda aos empregadores para o pagamento dos salários.

Com o país a viver um desconfinamento a conta-gotas, o Governo decidiu agora lançar um novo pacote de apoios à economia, tendo criado regimes especiais dentro dessas medidas com condições mais favoráveis para as empresas e trabalhadores do setor turístico, já que reconhece que essa área tem sido e continua a ser uma das mais afetadas pela pandemia e pelas restrições impostas para a conter.

Uma das medidas que ganha, a partir de agora, um regime especial para o turismo é o apoio à retoma progressiva. Em causa está o regime desenhado para suceder ao lay-off simplificado e que permite aos empregadores em crise diminuírem os horários de trabalho (até 100%), em função das suas quebras de faturação, recebendo da Segurança Social um apoio para o pagamento dos salários.

Até aqui, apenas as micro, pequenas e médias empresas tinham direito, no âmbito deste medida, à dispensa de 50% das contribuições sociais relativas à compensação assegurada ao trabalhador pela horas não trabalhadas; Mas o Governo decidiu tornar agora essas condições mais favoráveis para as empresas turísticas e da cultura.

Assim, a partir de agora, as empresas desses dois setores com quebras inferiores a 75% passam a poder beneficiar de isenção total das contribuições sociais relativamente à compensação paga ao trabalhador pelas horas não trabalhadas. Continuam, ainda assim, a ter de fazer esses descontos para a Segurança Social sobre a retribuição paga pelas horas trabalhadas, o que significa que este regime permanece menos favorável que o lay-off simplificado, que prevê isenção sobre a totalidade das contribuições sociais.

Por outro lado, as empresas do turismo e da cultura com quebras superiores a 75% têm direito à dispensa de 50% das contribuições sociais relativas também à compensação pelas horas não trabalhadas. Tal benefício já estava disponível para micro, pequenas e médias empresas, mas passa a estar disponível, pela primeira vez, também para os empregadores de grande dimensão.

Outra das medidas que o Governo decidiu “adaptar” às dificuldades do setor turístico, melhorando-a, foi o apoio extraordinário à redução de atividade económica de trabalhador independente.

Esta prestação foi reativada por ocasião do confinamento de janeiro, mas só estava disponível para os “recibos verdes” encerrados ou com atividade suspensa por imposição legal ou administrativa. Agora passa, contudo, a estar acessível também para aqueles que, não estando confinados, estão “em situação de comprovada paragem”. Isto desde que a sua área de atividade seja o turismo, a cultura, os eventos ou os espetáculos.

No referido pacote de apoios à economia, consta ainda o alargamento do lay-off simplificado, o lançamento do apoio simplificado às microempresas e a criação de uma nova edição do incentivo à normalização, medidas que não foram desenhadas especificamente para o turismo, mas podem favorecer este setor.

Por exemplo, o lay-off simplificado deixa de estar disponível apenas para os empregadores encerrados por imposição legal (isto é, confinados); Passam, assim, a poder aceder os empregadores em paragem total ou parcial superior a 40% resultante “da interrupção das cadeias de abastecimento globais, ou da suspensão ou cancelamento de encomendas, nas situações em que mais de metade da faturação no ano anterior tenha sido efetuada a atividades ou setores que estejam atualmente suspensos ou encerrados por determinação legislativa ou administrativa de fonte governamental”. Ou seja, um fabricante de cervejas, por exemplo, que fornecia um restaurante, se tiver quebras, passa a ter direito a este regime.

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IEFP vai pagar incentivo à normalização em falta até final do mês

O IEFP garante ao ECO que até ao final de março todas as empresas que aderiram ao incentivo à normalização e cumpram os requisitos para tal "terão recebido a totalidade do apoio".

O Instituto do Emprego e da Formação Profissional (IEFP) assegura, em declarações ao ECO, que até ao final do mês de março todas as empresas que tenham pedido o incentivo à normalização da atividade e que cumpram os requisitos desta medida “terão recebido a totalidade do apoio”. A Ordem dos Contabilistas Certificados tem avisado que há empregadores que continuam à espera da segunda tranche deste apoio, mas sabe-se agora que deverão recebê-la até dia 31.

Lançado em agosto do último ano, o incentivo à normalização garantiu até dois salários mínimos por posto de trabalho aos empregadores que saíram do lay-off simplificado e voltaram à sua atividade “normal”, eliminando os cortes nos tempos de trabalho aos seus trabalhadores e deixando de ter apoios para o pagamento dos salários.

De acordo com a legislação, esse subsídio, na modalidade de dois salários mínimos por posto de trabalho, foi pago em duas prestações: A primeira no prazo de 10 dias úteis a contar da data de comunicação da aprovação do requerimento; E a segunda no prazo de 180 dias a contar do dia seguinte ao último dia de aplicação do lay-off simplificado.

Ou seja, para os empregadores que deixaram esse regime de apoio ao emprego no final de agosto, por exemplo, e pediram o incentivo, a segunda tranche deveria ter chegado no final de fevereiro deste ano. Ainda assim, a Ordem dos Contabilistas Certificados tem vindo a alertar para atrasos nesse pagamento, sublinhando que há empresas ainda à empresa da segunda transferência do IEFP.

Ao ECO, o Instituto garante agora que até ao final do mês todas as empresas “que cumpram os requisitos terão recebido a totalidade do apoio”. “O segundo pagamento implica que seja verificado o cumprimento das obrigações a que a entidade se encontra vinculada, nomeadamente a manutenção do nível de emprego e não fazer cessar contratos de trabalho ao abrigo das modalidades de despedimento coletivo, despedimento por extinção do posto de trabalho, despedimento por inadaptação, previstos nos artigos 359.º, 367.º e 373.º do Código do Trabalho, nem iniciar os respetivos procedimentos”, explica fonte do IEFP.

E adianta que, até ao momento, já foram pagos quase 388,8 milhões de euros ao abrigo desta medida, o que corresponde a 85% do valor aprovado. “Em 2021, já foram pagos 105 milhões de euros, dos quais 101 milhões foram a empresas com apoio na modalidade de duas RMMG [retribuições mínimas garantidas]”, detalha a mesma fonte.

O IEFP considera que assegurou “uma resposta rápida às empresas que se candidataram ao incentivo à normalização”. Ao ECO, fonte oficial diz que, “em menos de seis dias, 70% das candidaturas foram aprovadas”; Em menos de 11 dias, 62% das empresas receberam o incentivo; E, em menos de 20 dias, 87% das empresas tinham recebido o apoio.

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BCE critica propostas sobre desclassificação de documentos. Alerta para “efeito adverso”

Instituição de Lagarde considera que propostas do PSD e PAN para desclassificar documentos podem ter um “efeito adverso” na partilha de informação entre o Banco de Portugal e os outros reguladores.

O Banco Central Europeu (BCE) alertou o Parlamento para o “efeito adverso” que podem ter os projetos de lei do PSD e PAN sobre a desclassificação de documentos na partilha de informação entre o Banco de Portugal e os outros reguladores financeiros, como a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) e a Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF). E defendeu que contratos celebrados entre o Fundo de Resolução e os bancos (como do Novo Banco) devem continuar a manter em segredo informações confidenciais de supervisão.

A instituição liderada por Christine Lagarde já enviou o seu parecer aos deputados sobre as propostas que visam criar um regime jurídico de transparência de contratos e documentos conexos relativos a operações que impliquem o recurso a fundos públicos, como no caso da resolução do BES e a capitalização do Novo Banco através do Fundo de Resolução. E deixou várias críticas.

De acordo com os projetos do PSD e PAN, seria criado um regime através do qual o Parlamento, por resolução, poderia votar a desclassificação de documentos secretos e torná-los acessíveis a qualquer pessoa, à exceção daqueles que estão protegidos pelos segredos de Estado ou de Justiça.

Ainda que as propostas deixem o Banco de Portugal de fora do universo das entidades públicas às quais as futuras leis serão aplicáveis, o BCE nota que outras instituições com quem o supervisor se relaciona estarão dentro do perímetro, pelo que documentos, contratos e informações partilhados com estas entidades podem ser suscetíveis de desclassificação e divulgação pública.

E dá o exemplo do regulador dos mercados financeiros e de outros supervisores financeiros, com quem o Banco de Portugal poderá vir a ter limitações na partilha de informação. O supervisor liderado por Mário Centeno, ouvido no início do mês no âmbito do grupo de trabalho do Parlamento para concretização destas iniciativas legislativas, já tinha alertado para esta situação.

“A autoridade de supervisão competente pode trocar informações com outras autoridades, tais como autoridades nacionais responsáveis pela supervisão dos mercados financeiros, organismos de supervisão e a administração central”, diz o BCE no seu parecer enviado esta semana. Porém, “em qualquer destas situações, a troca de informações apenas pode ocorrer se a informação divulgada estiver sujeita a requisitos de sigilo profissional no mínimo equivalentes aos descritos no artigo 53.º da Diretiva 2013/36/EU”, lembra.

“Isto significa que, se a informação em questão a partilhar pela autoridade de supervisão competente for considerada como sendo inerente ou relativa a um contrato suscetível de ser tornado público por força dos projetos de lei, então a autoridade de supervisão competente já não poderia partilhar tal informação”, argumente o BCE.

O BCE também deixou uma observação com reparos ao facto de o Fundo de Resolução se encontrar dentro do âmbito da aplicação dos dois projetos de lei. Além de ser a autoridade de resolução bancária, com quem o Banco de Portugal tem uma relação muito estreita e há muita partilha de informação sensível e sujeita às regras europeias de sigilo, é este fundo que tem estado a capitalizar o Novo Banco por via do mecanismo de capital contingente acordado em 2017, recorrendo a empréstimos do Estado, e cujo contrato poderá ser tornado público caso as propostas legislativas do PSD e PAN sejam aprovadas.

Para a instituição com sede em Frankfurt, a divulgação pública de contratos como este com o Novo Banco, apesar de não constituírem documentação do Banco de Portugal, não poderá incluir informação confidencial de supervisão, “uma vez que a divulgação pública de tais documentos ou informações contrariaria obviamente o sigilo profissional tutelado pelo artigo 53.º da Directiva 2013/36/UE”.

“Por conseguinte, a divulgação pública de tais documentos ou informações constituiria uma clara violação do artigo citado, pelo que qualquer informação confidencial de supervisão constante de tais documentos terá de ser rasurada”, refere o BCE.

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Novo Banco faz póquer de prejuízos acima de mil milhões

Banco liderado por António Ramalho apresenta contas esta tarde. Desde 2017 que os prejuízos superam fasquia dos mil milhões de euros. E novo pedido ao Fundo de Resolução ultrapassa os 476 milhões.

O Novo Banco apresenta esta sexta-feira à tarde as contas de 2020 e os resultados vão ser novamente negativos. Desde 2017 que o banco reporta prejuízos acima dos mil milhões de euros. Se aconteceu o mesmo no ano passado, será o póquer para a instituição liderada por António Ramalho, que já tem preparado novo pedido ao Fundo de Resolução, que vai ser superior aos 476 milhões de euros inscritos no orçamento por parte do Governo.

O banco vai a caminho do quarto ano com perdas acima dos mil milhões (o tal póquer, que se usa quando se obtém quatro cartas iguais), depois de ter registado perdas de mais de 850 milhões de euros até setembro, com os resultados a serem penalizados por três fatores:

  • 727,7 milhões de euros de imparidades e provisões, em resultado da descontinuação do negócio em Espanha, e do agravamento do nível de incumprimento de alguns clientes (crédito a clientes, garantias e instituições de crédito), sendo 187,2 milhões de euros de imparidade adicional para riscos de crédito decorrentes da pandemia Covid-19;
  • 260,6 milhões de euros em “resultado da avaliação independente aos fundos de reestruturação. O Grupo continuará a monitorizar esta área à medida que o impacto da pandemia na economia portuguesa de torne mais claro”;
  • 26,9 milhões de euros de reforço da provisão para reestruturação.

O último trimestre de 2020 não terá corrido melhor, como demonstraram já os resultados dos outros grandes bancos nacionais, que, com o agravamento da pandemia na reta final do ano, tiveram de colocar mais dinheiro de lado para fazer face à severidade da crise pandémica.

Novo Banco acumula prejuízos de 7,9 mil milhões

Fonte: Novo Banco

3,5 milhões de prejuízos por dia

Mesmo antes da pandemia, o banco bom do BES nunca saiu do “vermelho” no que toca aos resultados no final do ano — chegou a ter lucro em trimestres. Desde o dia 3 de agosto de 2014, quando foi criado a partir da resolução do BES, o Novo Banco acumula prejuízos na ordem dos 7,9 mil milhões de euros, o que dá uma média de 3,5 milhões de euros de prejuízos por dia.

As perdas decorreram sobretudo do legado “tóxico” do BES: créditos em incumprimento e outros ativos e negócios que o banco teve de se desfazer também para cumprir o plano acordado em 2017 entre o Governo e a Comissão Europeia para a venda ao fundo Lone Star.

Desse plano decidido entre Lisboa e Bruxelas saiu o acordo de capital contingente de 3,9 mil milhões de euros, que tem sido usado para o Novo Banco fazer a limpeza do seu balanço. Este mecanismo obriga o Fundo de Resolução a compensar o banco a repor o capital sempre que as insuficiências para cumprir os rácios resultarem de perdas com um conjunto de ativos problemáticos.

Fundo de Resolução já injetou três mil milhões

Fonte: Novo Banco

Nessa medida, António Ramalho tem nova fatura a apresentar ao Fundo de Resolução por conta dos prejuízos do ano passado. Quanto será? As chamadas de capital ao Fundo de Resolução vão já nos 2.978 milhões, o equivalente a mais de 75% da “garantia pública que o Novo Banco tem aproveitado para “limpar” o balanço. Ainda há 912 milhões de euros disponíveis no acordo de capital contingente que durará até 2026 e a expectativa do Governo é que essa verba não seja totalmente utilizada.

O ministro das Finanças disse contar que o pedido fique abaixo dos 500 milhões. Em entrevista ao ECO no início do ano, o CEO do Novo Banco não se comprometeu com os 476 milhões que foram inscritos no Orçamento do Estado deste ano para o Fundo de Resolução injetar no Novo Banco. E o ECO sabe que será um pedido acima do valor fixado em sede do orçamento (mas que acabou por ser chumbado pelo Parlamento e ainda não há solução alternativa para o Fundo de Resolução fazer esse pagamento).

Nessa entrevista, Ramalho confirmou que 2020 marcou o virar de página de um banco em reestruturação para um banco a gerar lucros e sem necessitar de mais apoios do Fundo de Resolução. “Garanti, desde a primeira hora, duas coisas: que a reestruturação seria realizada até 2020, e que a partir de 2021 o banco já não absorve capital, é ele criador de capital. O que significa que espero que essa discussão [de novo pedido ao Fundo de Resolução] não se coloque.

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Testes à Covid vendidos nas farmácias vão ficar isentos de IVA

Os testes rápidos que vão ser vendidos nas farmácias e noutros locais de venda de medicamentos não sujeitos a receita médica vão estar isentos de IVA, revela o Ministério das Finanças ao ECO.

Os autotestes de despiste à Covid-19 que vão passar a ser vendidos nas farmácias e noutros locais autorizados à venda de medicamentos não sujeitos a receita médica vão estar isentos do Imposto de Valor Acrescentado (IVA), pelo menos até ao final do ano, revela o Ministério das Finanças ao ECO.

A Lei 4-C/2021, de 17 de fevereiro, prevê que as “transmissões, aquisições intracomunitárias e importações de dispositivos médicos para diagnóstico in vitro da doença Covid-19 que estejam em conformidade com os requisitos aplicáveis” estão isentas de IVA.

O Ministério das Finanças explica que esta isenção diz respeito não só à importação destes artigos dentro do espaço comunitário, mas será também aplicada à venda os autotestes nas farmácias e noutros locais autorizados à venda de medicamentos não sujeitos a receita médica, uma vez que os testes rápidos são considerados dispositivos médicos de diagnóstico in vitro, dado que para a sua realização necessitam de um reagente. “Por força do disposto na lei 4-C/2021 de 17 de fevereiro, [os autotestes] encontram-se isentos de IVA até 31 de dezembro de 2021”, revela o gabinete do ministério liderado por João Leão.

Além dos testes, estão isentos de IVA “as transmissões, aquisições intracomunitárias e importações de vacinas contra a doença Covid-19 autorizadas pela Comissão Europeia ou pelas autoridades de saúde nacionais”, bem como “as prestações de serviços estreitamente ligadas com os dispositivos ou vacinas referidos nas alíneas anteriores”, aponta o diploma publicado em Diário da República.

Neste contexto, a isenção de IVA deverá permitir que estes testes tenham um preço mais reduzido, contudo os valores ainda não são conhecidos. De sublinhar que o Presidente da República abriu a porta ao controlo dos preços dos testes da Covid-19, por forma a evitar especulações e açambarcamentos, como se verificou no início da pandemia com as máscaras e geles desinfetantes. “Podem ser adotadas medidas de controlo de preços e combate à especulação ou ao açambarcamento de determinados produtos ou materiais, designadamente testes ao SARS-Cov-2 e outro material médico-sanitário“, lê-se no decreto assinado por Marcelo Rebelo de Sousa.

No início da pandemia, a elevada procura por máscaras e geles desinfetantes por parte dos portugueses, levou a que os preços desses artigos disparassem. Face a esta situação e por forma a evitar especulações, o Governo decretou a imposição de um limite máximo de 15% na percentagem de lucro destes artigos.

De sublinhar que esta isenção aplicada aos testes que serão vendidos ao público em geral contrasta com o que sucede, por exemplo, com as máscaras e os geles desinfetantes que são considerados equipamentos de proteção, pelo que estão atualmente sujeitos à taxa de IVA reduzida (6%).

Ainda não há testes à venda

Há cerca de duas semanas, o Governo autorizou a venda de testes rápidos de antigénio em farmácias e noutros locais autorizados à venda de medicamentos não sujeitos a receita médica, como, por exemplo, parafarmácias e alguns espaços de bem-estar dos hipers e supermercados.

Estes testes permitem detetar possíveis casos de infeção por Covid-19 através da recolha de uma amostra de fluido das fossas nasais e cuja colheita é feita através de uma zaragatoa (mais pequena do que a utilizada nos testes PCR). Apesar de terem uma sensibilidade inferior aos testes de referência (os PCR), estes testes permitem obter resultados mais rápidos, entre 10 a 30 minutos, pelo que são aconselhados principalmente para rastreio comunitário.

Assim, com esta medida excecional, o Executivo deu “luz verde” a que estes testes possam ser feitos pela população em geral, sem supervisão de um profissional de saúde, como acontecia até agora. Contudo, apesar de Infarmed, INSA e Direção-Geral de Saúde já terem divulgado as orientações relativas à sua comercialização e sobre a comunicação dos resultados, os autotestes ainda não começaram a ser vendidos, já que o Infarmed ainda não publicou a lista sobre os testes autorizados.

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Carlos Mendes Gonçalves: “A gestão tem de ser feita pelos melhores gestores”

  • ECO
  • 26 Março 2021

Carlos Mendes Gonçalves, 55 anos, um dos finalistas do prémio Entrepreneur of The Year, tinha 15 anos quando fundou com o pai a empresa com o seu nome e que Portugal associa a festas e arraiais.

Pão, carne e mostarda. Poucas combinações gastronómicas estão mais presentes nas festas portuguesas do que esta e foi a pensar nisso que, há três anos, se deu o casamento entre os Santos Populares de Lisboa e a Paladin, produzida pela fábrica Mendes Gonçalves, na Golegã. A marca, património do imaginário nacional, já tinha nascido desse contacto das rulotes, das festas, e nada como um evento dessa envergadura, que atraía portugueses mas também estrangeiros à nossa Lisboa cosmopolita de hoje. É tudo o que tem a ver connosco, com o que prometemos – sabor”, diz ao ECO Carlos Mendes Gonçalves, fundador da empresa com os seus apelidos e finalista do prémio EY Entrepreneur of The Year.

Estão nos arraiais da capital como no Carnaval de Torres ou nas Bifanas de Torres Novas. “Tem a ver com a nossa mensagem, com sermos uma empresa portuguesa, na província, nada mais genuíno do que as nossas festas. Vamos alargando com essa matriz, o que seja nosso, mas não é o nosso por tradição bacoca, é tradição com mundo”, diz o gestor.

Carlos Mendes Gonçalves tinha 15 anos quando, em 1982, com o pai, começou o negócio de produzir, engarrafar e distribuir vinagre de figo de Torres Novas. “Fiz tudo, desde a construção até todas as tarefas de produção”, conta. “Era sócio e assinava”. Hoje, a Mendes Gonçalves está em todo o país, exporta e fatura 32 milhões de euros a partir da sua fábrica de 10 mil metros na Golegã. “Somos uma empresa de 350 trabalhadores numa terra de mil pessoas”, diz o gestor, orgulhoso e consciente da responsabilidade de gerir e manter a empresa.

Esta é a nossa terra e a decisão parece muito boa, pelas vias de acesso, por estarmos no centro do país, mas há 40 anos o centro estava bem mais longe do que está hoje”, refere Carlos Mendes Gonçalves. Recorda essa decisão primordial: “Fazer uma empresa na nossa terra, com a nossa gente. Nascemos uma empresa que quer fazer diferente, que não quer ser mais uma no mercado, quer fazer com os produtos da nossa terra, que sempre incorporou mais de 80% de produtos portugueses no seu fabrico, não é por moda nem por marketing”.

2004, o ano do campeonato europeu de futebol em Portugal, é um ano de viragem na história da Mendes Gonçalves: diversifica os produtos do seu portefólio – começa a produzir molhos (maionese, mostarda e ketchup).

A mudança começou a desenhar-se quatro anos antes com a aquisição da Paladin e a inauguração de uma fábrica de embalagens. “É com a embalagem que começa”, defende Carlos Mendes Gonçalves. “Tem um peso importante no nosso produto e na nossa promessa de inovação, de apresentar produtos diferentes”. Agora, “todos os anos lançamos vários produtos novos”. A própria Paladin renasceu em 2013.

Fazer uma empresa na nossa terra, com a nossa gente. Nascemos uma empresa que quer fazer diferente, que não quer ser mais uma no mercado, quer fazer com os produtos da nossa terra, que sempre incorporou mais de 80% de produtos portugueses no seu fabrico, não é por moda nem por marketing.

São também, uma empresa 100% familiar. “Familiar não só porque é propriedade de uma família, mas porque o nosso primeiro colega ainda cá está. Temos gente há 30, 20, 15. Temos pais e filhos, temos irmãos e nós próprios nos consideramos uma família”, explica. Não usam a expressão “recursos humanos”, mas “Família Mendes Gonçalves”.

Fundador e líder da empresa, Carlos Mendes Gonçalves, 55 anos, reconhece que o facto de serem uma empresa familiar é um desafio. “É o nosso principal foco que isso não seja um problema”, diz, e acrescenta: “Efetivamente as empresas familiares têm problemas de dimensão, não têm capacidade de crescer, outras vezes por problemas de sucessão acabam por perder o foco. São pouco profissionais. Na nossa administração temos um board [conselho] não executivo com pessoas de fora. É o desafio das empresas portuguesas, que se internacionalizaram, sendo familiares”.

Preocupa-o o problema da sucessão? “Nada”, responde sem hesitação. “Nós o que queremos fazer é separar a propriedade da gestão. A gestão tem de ser feita pelos melhores gestores. O que quer dizer é que a propriedade não pode pôr em causa o funcionamento da empresa tenham o apelido que tiverem. Temos de separar o lado emocional do lado funcional, é a melhor decisão até para a família. Se acontece uma desilusão, é uma desgraça para os filhos que têm um peso que não pediram nem querem”. Carlos Mendes Gonçalves tem três filhas, na empresa trabalha a mulher, no conselho de administração sentam-se pessoas da empresa e outros de fora.

Temos uma empresa que emprega 350 pessoas numa terra de 3 mil. Isto tem de continuar, a fazer isto ou outra coisa qualquer, mas gerido pelos melhores”, defende. “Sou primeira e segunda geração, mas não queremos deixar um problema. Isto não é obra de uma pessoa ou de dez, é de todos os que aqui trabalham”, nota.

A conversa conduz-nos até à sua formação académica. Carlos Mendes Gonçalves começou tão cedo que “não houve tempo” para ir à universidade. Mas, “faz falta”, diz, de novo sem hesitação. “Hoje, temos muita gente com capacidade e formação que preenche essa minha lacuna, que, rapidamente se percebeu, que fazia falta. Foi o conhecimento que nos trouxe à sociedade que temos hoje”, afirma. Um dos departamentos que nasceu com o crescimento da empresa foi o de investigação e desenvolvimento, com dez pessoas, onde se trabalham as relações com outras empresas e faculdades. No laboratório, testam-se em versão pequenina o que a fábrica produz em grande. “Equipamento de 2 mil quilos que ali temos a réplica com seis”, diz Carlos.

Nos seus quase 40 anos de história, sempre a crescer, a empresa galgou fronteiras. “Queremos internacionalizar a marca Paladin para países do Médio Oriente e África”, diz. “As grandes multinacionais são os nossos grandes concorrentes, sabíamos que tínhamos de ter uma mensagem diferente e preencher as lacunas que essas grandes empresas têm. Hoje somos fornecedores dos nossos grandes concorrentes”, conta. A consequência? “Puxam-nos para outros patamares de exigência. Fazem-nos evoluir e estar noutra divisão”.

Sem festas e arraiais, 2020 trouxe novos desafios à empresa. Antes do primeiro-ministro anunciar aos portugueses o confinamento, já a Mendes Gonçalves tinha enviado alguns dos trabalhadores para casa – 60 a 70 pessoas passaram a estar em teletrabalho. Na fábrica, criaram-se duas entradas e quatro turnos. “O medo foi substituído pela confiança”, considera. “Procurámos a todos os níveis preocuparmo-nos com as pessoas, não despedimos ninguém”.

Em paralelo com a fábrica Mendes Gonçalves, desenvolve o projeto Vila Feliz Cidade, que gostaria que “fosse uma fundação onde pudéssemos deixar este património, um projeto de sustentabilidade”. Para já, explica, “temos plantadas umas milhares de árvores – é de onde extraímos os pimentos picantes, biológicos – pois queremos evoluir para um sistema regenerativo. Não queremos apenas impacto zero, mas positivo.”

“Sou apenas um rapaz simples do campo”

Carlos Mendes Gonçalves diz que foi com “bastante surpresa, até pelos outros finalistas”, que recebeu a notícia de que faz parte dos finalistas da 8.ª edição do prémio EY Entrepreneur of The Year. “Toda a gente fica satisfeita de ver reconhecido o seu trabalho. Não é falsa modéstia, considero que sou apenas uma rapaz simples do campo que quis criar o seu trabalho”.

Carlos Mendes Gonçalves, António Oliveira (Oli – Sistemas Sanitários, António Carlos Rodrigues (Casais), Guy Villax (Hovione) e Rupert Symington (Symington) são cinco empreendedores finalistas deste prémio que anteriormente distinguiu Belmiro Azevedo (Sonae), Carlos Moreira da Silva (BA) ou António Amorim (Corticeira Amorim). O vencedor será conhecido em abril.

O EY Entrepreneur of The Year é considerado o mais antigo prémio de empreendedorismo a nível global. O galardão começou a ser entregue nos EUA em 1986. Seguiram-se edições regionais e nacionais nos mercados onde a EY opera. Atualmente é organizado em 145 cidades e mais de 60 países. Entre os vencedores estão gestores como Michael Dell (Dell Computers), Jeff Bezos (Amazon), Jeff Weiner (LinkedIn) ou Serguei Brin/Larry Page (Google).

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