Lagarde promete comprar dívida a ritmo “significativamente mais elevado”. É “prematuro” desacelerar
O programa de compra de ativos do Banco Central Europeu não vai sofrer alterações, após ter sido reforçado na última reunião de política monetária.
O programa de compra de ativos do Banco Central Europeu (BCE) não vai sofrer alterações, após ter sido reforçado na última reunião de política monetária. O ritmo de aquisições será, ao longo de todo o trimestre, “significativamente mais elevado” do que nos primeiros meses do ano, tal como reafirmou agora apesar da pressão de alguns governadores. A presidente Christine Lagarde garantiu que os decisores políticos não discutiram sequer uma redução por ser “prematuro”.
“Na reunião de hoje [quinta-feira], o Conselho do Banco Central Europeu (BCE) decidiu reconfirmar a orientação muito acomodatícia da sua política monetária“, anunciou a instituição liderada por Christine Lagarde, em comunicado, após o conselho de governadores desta quinta-feira. No último destes encontros, em março, o BCE anunciou que iria acelerar as aquisições mensais de ativos para um “ritmo significativamente mais elevado” no segundo trimestre devido ao agravamento da situação pandémica e ao segundo confinamento.
A decisão sobre o Programa de Compras de Emergência Pandémica (PEPP, na sigla em inglês) — que tem atualmente 1,85 biliões de euros — não foi unânime e criou mesmo desconforto entre os governadores mais conservadores. Ainda assim, a aceleração aconteceu, levando o volume de compras para níveis próximos de julho do ano passado e assim continuará.
“Dado que a informação entretanto disponibilizada confirmou a avaliação conjunta das condições de financiamento e das perspetivas de inflação realizada na reunião de março dedicada à política monetária, o Conselho do BCE espera que as aquisições no âmbito do PEPP ao longo do atual trimestre continuem a ser conduzidas a um ritmo significativamente mais elevado do que nos primeiros meses do ano“, garantiu.
Questionada sobre se as críticas públicas tinham sido levadas para a reunião e se tinha havido algum debate sobre reduzir a compra de dívida, Lagarde respondeu que não, na conferência de imprensa que se seguiu ao encontro. “Não discutimos nenhuma redução do PEPP porque é simplesmente demasiado prematuro. Não é uma questão de calendário, será dependente dos dados. Ainda há um grande caminho a fazer até que seja ultrapassada a ponte da pandemia“, afirmou.
Yields sobem apesar de garantias. BCE admite riscos para a economia
As yields das dívidas soberanas da Zona Euro reagiram às palavras de Lagarde em alta, apesar das garantias de que o banco central irá continuar a apoiar as condições de financiamento. As bunds alemãs a 10 anos agravaram o juro em 0,5 pontos base para -0,26%, enquanto Portugal viu uma subida na mesma ordem para 0,402%. Em Itália, houve um aumento de 1,5 pontos para 0,78% e em Espanha para 0,4%.
Os investidores poderão estar a assumir que a pressão dentro do conselho de governadores irá manter-se ou mesmo a focar-se nos alertas sobre a economia e inflação. Lagarde alertou que “o outlook económico de curto prazo mantém-se nublado pela incerteza relativo ao ressurgimento da pandemia e ao desenvolvimento das campanhas de vacinação”. Nesse horizonte temporal, os riscos para o crescimento da Zona Euro “continuam negativos”, mas a médio prazo o BCE já vê um “equilíbrio”.
Quanto aos preços, o BCE concluiu que a aceleração da taxa de inflação se deve a fatores temporários e que só após a pandemia poderá ser sustentado. Assim que o impacto da Covid-19 começar a diminuir, “a redução da folga apoiada pelas políticas monetárias e orçamentais irá resultar num aumento da inflação no médio prazo”, acredita a autoridade monetária.
"Não discutimos nenhuma redução do PEPP porque é simplesmente demasiado prematuro. Não é uma questão de calendário, será dependente dos dados. Ainda há um grande caminho a fazer até que seja ultrapassada a ponte da pandemia.”
Todos os instrumentos em cima da mesa. Revisão estratégica apresentada no outono
Sem mudanças, o BCE continuará assim a realizar aquisições líquidas de ativos ao abrigo do PEPP, no mínimo, até ao final de março de 2022 e, em qualquer caso, até considerar que o período de crise do coronavírus terminou. Irá fazê-lo “de forma flexível” de acordo com as condições de mercado e a fim de evitar um aumento da restritividade das condições de financiamento que seja incompatível com contrariar o impacto em sentido descendente da pandemia na trajetória projetada da inflação.
Depois desse horizonte tempo, o BCE continuará a reinvestir os pagamentos de capital dos títulos que atingirem as maturidades, pelo menos, até ao final de 2023. Em simultâneo com o PEPP, irá continuar a decorrer o anterior programa de compra de ativos, a um ritmo mensal de 20 mil milhões de euros. Estas compras líquidas decorrerão “enquanto for necessário para reforçar o impacto acomodatício das suas taxas diretoras”.
O guidance da autoridade monetária é que a compra de dívida só termine “pouco antes” de decidirem começar a aumentar as taxas de juro diretoras. Para já, estas continuam em mínimos históricos: a taxa de juro aplicável às operações principais de refinanciamento em 0%, a taxa de juro aplicável à facilidade permanente de cedência de liquidez em 0,25% e a taxa de juro aplicável à facilidade permanente de depósito em -0,50%.
Christine Lagarde garantiu que o conselho de governadores está constantemente a analisar a possibilidade de adotar novos instrumentos. A par dos instrumentos de política monetária, a francesa foi ainda questionada sobre a revisão estratégica, que o banco central anunciou ainda em 2019 e pretendia ver fechado ainda no ano passado, mas que resvalou devido à pandemia.
“É um projeto que está a absorver muito tempo do nosso staff no BCE e ao nível dos bancos centrais nacionais e esperamos ter os primeiros resultados no outono“, anunciou a presidente do BCE. Esta será a primeira revisão do género desde 2003 (ou seja, ainda antes da crise financeira que levou o BCE a implementar nunca antes vistas na Zona Euro) e a expetativa é que o exercício resulte numa redefinição da meta de inflação, um tema que é, há anos, alvo de críticas.
(Notícia atualizada às 14h55)
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