Truss demite ministro das Finanças e chama Hunt para estabilizar Reino Unido
Liz Truss decidiu afastar Kwasi Kwarteng, responsável pelo plano financeiro que causou o caos nos mercados. Já há sucessor na pasta das Finanças do Governo britânico: Jeremy Hunt.
Liz Truss demitiu esta sexta-feira Kwasi Kwarteng de ministro das Finanças, após 38 dias no cargo. “O que fiz hoje foi para assegurar que temos estabilidade económica” no Reino Unido, explicou a primeira-ministra britânica aos jornalistas, assegurando que se vai manter na liderança do Governo, apesar da enorme pressão externa e interna. Já há sucessor na pasta das Finanças: Jeremy Hunt.
“Estou absolutamente determinada em cumprir o que prometi: promover um maior crescimento económico no Reino Unido e maior prosperidade para enfrentarmos a tempestade que temos pela frente”, vincou Truss numa curta conferência de imprensa, dizendo que fez o mais correto ao avançar com uma troca nas Finanças: “Agi decisivamente para assegurar estabilidade económica. Isso é de crucial importância para as pessoas e empresas em todo o país”.
Ao mesmo tempo, anunciou uma inversão de marcha na decisão de congelar os impostos sobre as empresas, o que significa que a taxa vai aumentar de 19% para 25% em abril, medida que permitirá arrecadar uma receita fiscal adicional de 18 mil milhões de libras. Truss reconheceu que partes do seu mini-orçamento “foram além e mais rapidamente do que os mercados estavam à espera”.
“Precisamos de agir agora para assegurar aos mercados a nossa disciplina orçamental”, sublinhou.
Depois de tomar posse a 6 de setembro, Kwarteng fica na história do Reino Unido como o ministro das Finanças com menos tempo em funções desde 1970, num esforço de Truss para recuperar a sua credibilidade e a do seu Executivo, que parecem cercados pelos mercados e pelo próprio Partido Conservador.
Kwarteng estava em viagem nos EUA, a propósito de um evento promovido pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) com ministros das Finanças de todo o mundo, mas teve de encurtar a visita a Washington para se apresentar com urgência em Downing Street para Liz Truss lhe comunicar a sua demissão.
“Pediu-me para me afastar como seu ministro das Finanças. Eu aceitei”, diz a carta de demissão que apresentou junto de Truss e que Kwarteng publicou no Twitter.
Em resposta, Truss disse: “Como amigo e colega de longa data, lamento profundamente perdê-lo no governo. Partilhamos a mesma visão.”
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O plano financeiro de Kwarteng para a economia britânica foi apresentado no mês passado e incluía cortes fiscais de mais de 50 mil milhões de euros para animar a economia, mas foi mal recebido pelos investidores, receosos com o impacto das medidas nas contas públicas.
As obrigações do Tesouro afundaram, assim como a libra britânica caiu para mínimos de muitos anos, obrigando o Banco de Inglaterra a intervir no mercado através da compra de títulos de dívida para evitar que os fundos de pensões fossem arrastados para o caos financeiro.
Desde que o plano de choque foi anunciado que Truss e Kwarteng enfrentavam uma crescente pressão para reverter as medidas, com a primeira-ministra a procurar a sobrevivência dentro do partido, já que as sondagens apontavam para uma enorme perda de confiança dos eleitores nos conservadores. Há quem discuta publicamente a sua saída, após substituir Boris Johnson há poucas semanas.
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Truss terá agora de encontrar, juntamente com o novo ministro das Finanças – Jeremy Hunt, ex-secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Saúde –, um novo pacote de cortes na despesa pública e aumentos de impostos no sentido de recuperar a credibilidade junto dos investidores e da Câmara dos Comuns, que terá de dar luz verde.
“Se o Governo não fizer uma inversão de marcha, os mercados irão reagir mal”, disse Rupert Harrison, gestor da Blackrock e antigo conselheiro do ex-ministro das Finanças George Osborne no Twitter.
A economista do Credit Suisse Sonali Punhani adiantou que os investidores precisam de ver um plano orçamental credível, no valor de 60 mil milhões de libras em reversões de cortes de impostos anunciados por Kwarteng e mais reduções nos gastos do Governo.
“Será um desafio apresentar cortes nesta dimensão, mas para serem credíveis, estes cortes têm de ser anunciados mais cedo do que tarde”, frisou Punhani, citado pela agência Reuters.
(Notícia atualizada às 16h00)
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