Exclusivo Caixa a caminho de lucro recorde e novo ciclo

Banco publico apresentará resultados que o colocam a caminho de lucros de 1,7 mil milhões em 2024, mas próximos anos serão "mais difíceis", avisou Paulo Macedo. Vem aí um novo ciclo na Caixa.

A Caixa Geral de Depósitos (CGD) apresenta esta quinta-feira os resultados dos primeiros nove meses do ano com o caminho apontado a um lucro recorde em 2024. Mas Paulo Macedo já avisou que, depois do resultado “significativo” deste ano, “não vai ser fácil” compensar a descida das taxas de juro em 2025. Que trará um novo ciclo no banco público, com possíveis mudanças na gestão. Após alcançar lucros de quase 900 milhões de euros na primeira metade do ano, a desempenho até setembro encaminhará a CGD para lucros históricos na casa dos 1,7 mil milhões de euros no conjunto do ano.

 

Pelo menos é esta a conta que o Governo (com base nas indicações do banco) está a fazer com base no dividendo de 670 milhões de euros que espera receber da Caixa no próximo ano (e que foi inscrito no Orçamento do Estado) e tendo em conta a habitual política de distribuição de 40% dos resultados ao acionista (que nos últimos dois anos foi mais generosa até).

Porém, apesar do resultado inédito que se prevê para este ano, o presidente da Caixa já deixou o aviso de que não se vai repetir devido ao ciclo de normalização da política monetária do Banco Central Europeu (BCE).

A descida das taxas de mercado que se verifica no último ano já está a pressionar a margem financeira dos bancos (como se viu nos resultados dos outros bancos privados), mas espera-se que o embate seja particularmente sentido nas contas do próximo ano, admitiu Paulo Macedo recentemente.

“Para o ano, a perspetiva é que os resultados sejam inferiores aos deste ano. Não será fácil compensar o cenário central que é de um corte 150 pontos base até 31 de dezembro do ano que vem”, avisou na conferência dos 40 anos da Associação Portuguesa de Bancos. “Da mesma maneira que estamos com um resultado que será outra vez bastante positivo, para o ano temos de nos preparar, e para os anos seguintes”, alertou na mesma ocasião.

Novo ciclo na Caixa após pagar recapitalização

O novo ciclo da política monetária na Zona Euro coincidirá de certa maneira com um novo capítulo na vida da Caixa. Depois da dura reestruturação que executou nos últimos anos e de ter reembolsado a totalidade dos 2,5 mil milhões de euros da injeção de dinheiro que recebeu em 2016 para tapar o buraco aberto por empréstimos ruinosos (que valeu uma penosa comissão de inquérito), o banco público olha agora para a próxima fase.

Nos tempos mais imediatos, isso passará pela nova equipa de gestão. A atual administração está em fim de mandato. Paulo Macedo, que assumiu o leme em 2017, já manifestou a intenção de continuar a liderar o maior banco em Portugal. Mas deverá haver administradores na porta da saída, por vários motivos, incluindo a chegada à idade da reforma.

“Já manifestei essa disponibilidade” ao Ministério das Finanças, assumiu Paulo Macedo em entrevista ao Jornal de Negócios em junho. “Ainda há muita coisa a fazer no banco”, acrescentou.

Segundo explicou, uma grandes prioridades será a digitalização do banco público — algo que vai ao encontro do que destacou esta semana a vice-governadora do Banco de Portugal, Clara Raposo, quando disse que o setor devia aproveitar os bons resultados para investir no futuro.

“O nível de serviço da Caixa é adequado, mas estamos conscientes que temos de fazer muito melhor e de que há toda esta parte hoje tecnológica que é um imperativo“, disse Paulo Macedo na entrevista apontando à forma como o banco quer tirar partido das novas tecnologias, incluindo Inteligência Artificial e big data.

Polémica com redução de serviços, nova sede e Novobanco

O trabalho de Paulo Macedo continuará ainda marcado pelo esforço de eficiência que os bancos têm imprimido nos últimos anos através do fecho de balcões e redução de quadros, perante uma procura cada vez maior nos canais digitais. Em algumas situações este esforço tem levado a polémicas como aconteceu com o episódio de fecho do balcão da Caixa em Almeida em 2017 e volta agora a repetir-se com a redução de serviços bancários em agências localizadas interior do país e nas ilhas. Por conta desta polémica, o presidente da CGD foi novamente chamado ao Parlamento. Déjà vu.

Na Caixa, o cost to income está abaixo dos 30%, um dos melhores do setor em Portugal, mas o banco quererá manter os custos controlados face ao ciclo de juros mais baixos.

Com o novo mandato a estender-se até 2028, a nova equipa de Paulo Macedo terá ainda outros dois grandes marcos pela frente: a potencial consolidação do setor com a venda do Novobanco a arrancar no próximo ano e ainda a mudança para a nova sede.

A Caixa está de saída do seu quartel-general dos últimos 40 anos, na Avenida João XXI, e onde mora agora o Governo, e prepara a mudança para o Parque das Nações previsivelmente daqui a dois anos. A nova morada será o Edifício WellBe.

Em relação ao Novobanco, o discurso de Paulo Macedo tem sobretudo abordado a questão da importância de manter um banco público com força para atuar no mercado, algo que poderá estar em causa se o banco da Lone Star for vendido a algum dos grandes concorrentes: BCP ou os espanhóis BPI ou Santander. “Interessa ser relevante. Não faz sentido ser um banco público com quota de 6% ou 7%. A Caixa claramente influencia as comissões ao ter das mais baratas, os spreads ao ter dos mais baratos, e as operações de médio e longo prazo onde é líder”, disse no ano passado. E não falta capital à Caixa (rácio acima de 20%), ao contrário do que aconteceu no passado.

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