Exclusivo Novobanco manteve gestor suspeito em funções para não atrapalhar investigação do Ministério Público
Operações financeiras causaram “grande preocupação” junto do CEO Mark Bourke, que assume que se trata de uma “situação altamente indesejável” para o banco. BCE foi informado de tudo desde o início.
As operações financeiras que levaram ao despedimento de Carlos Brandão do Novobanco foram detetadas há cerca de três meses. “Causaram enorme preocupação” ao CEO que, prontamente, informou as autoridades do sucedido, incluindo o Banco Central Europeu (BCE), de acordo com as informações recolhidas pelo ECO. Mas durante este período o banco manteve o gestor em funções “para não interferir com a investigação do Ministério Público”, segundo explicou Mark Bourke numa comunicação enviada aos trabalhadores. “Foi necessário manter a pessoa em causa no seu cargo e garantir a estrita confidencialidade do assunto”.
De acordo com o Ministério Público, estão em causa factos que podem constituir a prática de crimes de fraude fiscal qualificada, branqueamento de capitais e falsificação por parte do agora ex-administrador do Novobanco. Carlos Brandão será um dos dois arguidos que estão na mira das autoridades.
O Ministério Público iniciou a investigação na sequência da denúncia apresentada pelo CEO e pelo presidente do Conselho Geral e de Supervisão, Byron Haynes.
“Através dos processos internos do banco, foram identificadas operações financeiras suspeitas na esfera pessoal do indivíduo, que nos causaram grande preocupação. Na sequência de uma investigação interna, eu próprio e o presidente do Conselho Geral e de Supervisão informámos o regulador dessas operações suspeitas, e foi efetuada uma denúncia ao Ministério Público, que levou à investigação agora em curso”, revelou Mark Bourke num email interno a que o ECO teve acesso.
Carlos Brandão continuou em funções sem saber que estava a ser investigado. “Neste período, foram tomadas todas as medidas adequadas para proteger o banco e os seus stakeholders”, contou o CEO irlandês.
Tal como foi anunciado publicamente pelo banco, Mark Bourke também fez questão de sublinhar aos seus quadros que as operações foram realizadas “na esfera pessoal” de Carlos Brandão e que desta situação não resultou “qualquer impacto nos clientes, nas contas ou operações dos clientes, ou na situação financeira ou atividade do banco”.
Ainda assim, o líder do Novobanco assume que se trata de “uma situação indesejável” para o banco – que está em vias de iniciar um processo de venda por parte do fundo Lone Star.
CEO chama ex-partner da KPMG Irlanda
Uma fonte adiantou ao ECO que, assim que as operações foram detetadas, o Novobanco informou de forma tempestiva o Mecanismo Único de Supervisão (MUS), o braço da supervisão financeira do BCE e que supervisiona os grandes bancos da Zona Euro. Com o Banco de Portugal a ser informado de todo o processo a todo o momento.
Carlos Brandão entrou no Novobanco em julho 2017 e era o administrador executivo responsável pela gestão de risco desde setembro de 2022. Antes esteve no Bankinter e no Barclays Portugal.
Mark Bourke vai desempenhar as funções de Carlos Brandão interinamente até ser nomeado um novo Chief Risk Officer (CRO), mas contará com o “apoio” de Paul Dobey, ex-sócio da KPMG Irlanda “com vasta experiência na área de gestão de risco”, segundo disse aos trabalhadores.
No final da comunicação, Mark Bourke fez um apelo aos trabalhadores para se manterem “focados na execução da estratégia do banco e no serviço aos clientes”.
“Não obstante o negócio do banco não ser de forma alguma afetado por estes acontecimentos, o facto de um executivo do banco ser alvo de investigação é um assunto muito sério e que está a ser tratado como tal pelo banco”, assumiu o CEO.
O Novobanco acabou de fechar um acordo com o Fundo de Resolução que permitirá ao fundo Lone Star desencadear o processo de venda. A operação poderá ter lugar em maio. Os americanos detêm 75% do capital do banco, enquanto os restantes 25% estão nas mãos do Fundo de Resolução e da Direção-Geral do Tesouro e Finanças.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
Novobanco manteve gestor suspeito em funções para não atrapalhar investigação do Ministério Público
{{ noCommentsLabel }}