Blackout ou nem tanto: O que acontece quando há greve na PT?
A PT está em greve. Mas um dia de protesto na dona da Meo não é como um dia de paralisação no metro de Lisboa. O que implicará, para os clientes, este protesto na operadora? Fomos descobrir.
Telemóveis sem rede. Televisões pintadas de negro. Os telefones não tocam, a internet não funciona e inúmeros serviços sofrem um blackout. Em Lisboa, os escritórios da PT/Meo estão vazios. É 21 de julho de 2017, dia de greve geral nesta operadora de telecomunicações. E o cenário é apocalíptico. Será realmente assim esta sexta-feira? Não. Claro que não.
É certo que uma greve desta natureza não acontecia há mais de uma década. Também ficou claro que os sindicatos anteveem uma “forte adesão” e que a empresa já ativou diversos planos de contingência para mitigar as consequências. Mas, para os clientes, esta greve significa muito pouco. Os efeitos deverão ser limitados, nada comparáveis com o verdadeiro caos que as próximas greves dos trabalhadores do metro deverão provocar em Lisboa.
“Uma empresa como a nossa está bastante automatizada felizmente”, diz Jorge Félix ao ECO. É o presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Grupo Portugal Telecom (STPT). Garante que, na dona da Meo, “a maior parte das coisas funcionam por si”. “Dada a automatização da rede, independentemente dos serviços mínimos, a maior parte das coisas em termos de telecomunicações vai funcionar”, prevê.
Onde esta greve poderá ter efeitos é, precisamente, onde a empresa funciona única e exclusivamente à base de pessoas: no atendimento ao cliente. Ainda não há robôs muito avançados para resolverem problemas de forma personalizada, à exceção daquela voz que nos diz os números a carregar quando ligamos para a operadora. Por isso, nesta vertente sim, a greve dos trabalhadores da PT poderá ter efeitos para quem é cliente.
É o próprio presidente do sindicato quem o reconhece. “A greve poderá ter [efeitos] na questão do atendimento ao cliente, por exemplo. Desde que não seja uma situação de emergência, poderá vir a não funcionar o atendimento. Poderá ter algumas situações menos correspondentes às necessidades. Mas uma greve numa empresa como a nossa, de um dia, não tem repercussões grandes para os clientes e para as pessoas em termos gerais”, assume Jorge Félix. O ECO questionou também a PT acerca deste assunto mas, oficialmente, a empresa preferiu não comentar.
Dada a automatização da rede, independentemente dos serviços mínimos, a maior parte das coisas em termos de telecomunicações vai funcionar.
PT ativa planos de contingência
Em relação à greve, a reação da empresa surgiu na quinta-feira: “A PT ativou os devidos planos de contingência e de redundância que nos permitirão assegurar técnica e humanamente todos os serviços que prestamos aos nossos clientes”, disse fonte oficial à agência Lusa. A PT estará a fazer os possíveis por garantir serviços mínimos previstos por lei nesta paralisação.
“Em princípio os trabalhadores que estarão obrigados aos serviços mínimos serão aqueles que estão abrangidos pelo regime de prevenção, que trabalham 24 horas por dia por turnos. É isto que é obrigatório por lei relativamente aos serviços mínimos”, esclarece o presidente do sindicato da PT.
No entanto, a CGTP já veio acusar a dona da Meo de estar a recrutar pessoas para trabalhar em desacordo com o estipulado pela lei. Sobre isso, Jorge Félix acrescenta: “A empresa nem sequer tem de exigir ou deixar de exigir e perguntar quem faz greve. Ainda não havia despacho do Ministério do Trabalho e já a empresa andava localmente a falar com pessoas a perguntar se faziam greve e a convocá-las para virem trabalhar. O plano de contingência que eles falam só se for, naturalmente, uma obrigatoriedade fora da lei”, acusa.
A PT ativou os devidos planos de contingência e de redundância que nos permitirão assegurar técnica e humanamente todos os serviços que prestamos aos nossos clientes.
Então, para que serve a greve?
As características tecnológicas de uma empresa como a PT evitam, assim, que uma greve de um só dia provoque uma disrupção significativa nos serviços prestados pela operadora. Mas nem esse era o principal objetivo desta paragem. Como explica Jorge Félix, “o objetivo é marcar posição”. “Essencialmente, queremos é que haja uma resposta imediata [as reivindicações dos trabalhadores], se possível. E marcar simbolicamente um dia de greve, nomeadamente quando há dez anos que, na PT, as relações laborais nunca levaram a fazer mais uma greve”, sublinha o sindicalista.
Os trabalhadores da PT queixam-se de assédio moral no trabalho e acusam a empresa de estar a fazer um despedimento coletivo, acusações que a administração já veio rejeitar. A PT tem vindo a transferir trabalhadores para outras empresas às quais está ligada e a aceitar rescisões por mútuo acordo para “tornara empresa mais ágil”, como disse o chairman Paulo Neves no dia da apresentação do negócio da compra da TVI.
Em suma: “A greve não é no sentido de prejudicar, de pôr em causa as próprias comunicações no nosso país, mas é principalmente chamar a atenção. É uma marcação de posição dos trabalhadores e das suas organizações perante o poder legislativo, governativo e também perante o descontentamento da administração”, resume Jorge Félix. E conclui: “Efeitos negativos para a sociedade, em princípio, não terá.”
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