Palha da Silva: “Não podemos ficar impedidos de participar no aumento de capital da Oi”

Luís Palha da Silva, gestor da Pharol, admite participar no próximo aumento de capital da Oi. É por isso que vai pedir mais dinheiro aos acionistas e autorização para emitir obrigações.

Na próxima vez que os acionistas da Pharol se reunirem em Lisboa, a 25 de maio, o presidente executivo da empresa vai propor aos acionistas um aumento de capital que pode chegar até aos 40 milhões de euros e pedir autorização para emitir obrigações. Numa entrevista ao ECO, dividida em quatro partes, Luís Palha da Silva explica que o objetivo é preparar o terreno para a Pharol participar também no próximo aumento de capital da Oi.

A entrevista em quatro partes:
1 – “Não receber nada da Rio Forte é uma impossibilidade”
2 – “A Oi teve uma desvalorização súbita demais para ser uma situação normal”
3 – “Não podemos ficar impedidos de participar no aumento de capital da Oi”
4 – “Confiamos na justiça brasileira para garantir a boa governação da Oi”

Há um ponto que vai ser falado na próxima assembleia-geral da Pharol, que é a alteração dos estatutos, para subir o teto do aumento de capital da Pharol de 15 milhões para 40 milhões de euros, mais a autorização para a emissão de obrigações. O que é que motiva estas alterações aos estatutos? A Pharol está a ficar sem dinheiro?

Não, não. A Pharol não tem um poço sem fundo de recursos, mas tem perfeitamente à vontade para aquilo que é hoje a sua missão, que é defender o valor dos seus ativos de forma muito cuidada e profissional. Portanto, não é um problema de continuar a sua tarefa de defesa dos ativos que tem. É um sinal claro de que, no processo de recuperação judicial (RJ), alguns dos sacrifícios que são pedidos aos acionistas é de que invistam mais capital na Oi. Nós, não tendo tomado uma decisão definitiva, porque aguardamos todas as informações que possam vir de aumentos de capital da empresa que serão feitos em duas fases (a primeira por conversão de dívidas de obrigacionistas e de outros credores no capital da empresa e um aumento de capital por dinheiro fresco), estamos empenhados em ter preparadas todas as medidas para qualquer situação que venha a desenhar-se.

O que nos está a dizer, basicamente, é que a Pharol se está a posicionar para, eventualmente, voltar a subir a posição que tem na Oi.

Não, não voltar a subir, mas manter a posição que tem. Se houver um aumento de capital [na Oi] em condições que consideremos atrativas, não deixaremos de sugerir aos nossos acionistas que participemos nesse esforço.

Para voltar aos 27% ou manter os 7%?

Para os 7% se manterem. Ou seja, para não haver diluição extra pela entrada de dinheiro fresco. Não é a diluição em percentagem que é relevante para nós. É o acesso a operações que criem valor. Suponha, por exemplo, que, tal como está previsto, há um aumento de capital a desconto em relação à cotação atual. Nós não podemos ficar impedidos de vender direitos de subscrição nem podemos ficar impedidos de participar no aumento de capital. E queremos estar preparados para todas as eventualidades. Pode ser só com recurso ao dinheiro dos acionistas da Pharol? É uma possibilidade. O pedido de autorização do aumento de capital é só um mero aviso à navegação para que os acionistas, no futuro, pensem o que fazer relativamente a isto. Mas pode ser uma operação francamente positiva para nós.

Tal como está previsto, o aumento de capital de quatro biliões de reais será feito a um grande desconto em relação à cotação atual. Depende do que for a cotação na altura. Mas a 1,23 reais (ou coisa parecida) que está previsto este aumento de capital, não é uma operação que deva ser vista sem interesse por parte dos nossos acionistas. E nós, Conselho de Administração (CA), sugeriremos vivamente que, nessas condições, se considere o aumento de capital. Serão sempre eles a decidir se vamos ou não ao aumento de capital. Porque isto é uma mera autorização do CA para voltar a sugerir aumentos de capital. Mas é também um sinal muito claro ao mercado de que nós continuamos empenhadíssimos em, um, defender os interesses dos acionistas da Pharol e, dois, defender a Oi. E, se o aumento de capital for algo de muito importante para a vida da empresa e para reforçar as suas capacidades competitivas, nós estaremos lá para participar.

Já há algum investidor disponível para pôr dinheiro na Pharol?

Sim. Esse aumento de capital [da Pharol] que estamos aqui a sugerir já teria larga participação. Diria mesmo, larguíssima participação.

Já tem o número do aumento de capital necessário para esta operação?

A conjugação de recursos financeiros, de obrigações mais capital, daria à vontade para o esforço máximo que nós, neste momento, julgamos que teríamos de fazer.

Para manter os 7% de capital.

Não é para manter os 7%. Volto a dizer: Não estamos preocupados com a percentagem. Estamos preocupados é com exercer os direitos suficientes que nos forem atribuídos. Se forem positivos, vamos utilizar ao máximo os direitos de preferência, os direitos de subscrição de ações, que nos forem concedidos. Mas não é para manter a percentagem. É para utilizar ao máximo os direitos de subscrição.

Luís Palha da Silva, líder da Pharol, vai propor aumentar o capital da Pharol para participar no aumento de capital da Oi.Hugo Amaral/ECO

Já se pode saber os nomes de alguns dos investidores que estão disponíveis?

Não, eu diria que temos alguns acionistas que são conhecidos…

… e outros desconhecidos…

Sim, desconhecidos, como sabe. E muitos deles, é uma das condições com que trabalham é serem capazes de investir sem se dar a conhecer, obviamente que têm que respeitar as leis e dar-se a conhecer em condições bem precisas, e são conhecidas (2%, 5%, 10%…). Há acionistas mais pequenos que nem querem saber, nem querem que se saiba que são investidores ou, pelo menos, não têm nenhum interesse em que isso seja conhecido. Alguns dos que são conhecidos já manifestaram disponibilidade para estudar a operação. Mas volto a dizer: uma operação de aumento de capital só se faz conhecendo as condições concretas. Nós, hoje, dizemos: “está a prémio”. Mas, no dia seguinte, pode estar a desconto. E também, neste caso, o que nos é dito é que o aumento de capital, em princípio, será feito a desconto, donde os direitos de subscrição podem ser vendidos com um valor positivo, ou nós podemos usar esse direito de preferência. Mas tudo depende das circunstâncias da altura. Tudo depende da dimensão exata do aumento de capital. Depende de muitas circunstâncias…

Mas é claro para si que vai haver um aumento de capital na Oi?

É claro que o plano de RJ prevê um aumento de capital em dinheiro [na Oi] e que nós nunca colocámos um obstáculo a que esse aumento de capital em dinheiro existisse. Portanto, não vai ser da nossa parte que surgirão obstáculos ao aumento de capital em dinheiro.

Esse aumento de capital da Oi, considera exequível realizar-se até junho?

O aumento de capital por entrada de dinheiro não me parece que o calendário seja até junho. Aquele que tem sido dito pela empresa que é um calendário até junho é a conversão da dívida dos obrigacionistas. Depois, o resto teria de acontecer… as informações iniciais diziam que até fevereiro de 2019, mas julgo que a empresa está a fazer esforços para que possa ser antes.

Se houver um aumento de capital [na Oi] em condições que consideremos atrativas, não deixaremos de sugerir aos nossos acionistas que participemos nesse esforço.

Luís Palha da Silva

Presidente executivo da Pharol

Como é que vê essa criação de valor com essa operação de aumento de capital? Com a entrada de outro player grande, internacional, no capital da Oi? Com algum tipo de fusão dentro do próprio mercado brasileiro?

Acho que o futuro da Oi depende, em larga medida, daquilo que possa ser feito para melhorar o desempenho operacional da companhia, e é esse que nos motiva, fundamentalmente, neste momento. E isso pode ser feito com paz na empresa e com um plano de RJ aprovado (e, por isso, lutamos pela aprovação de um plano de RJ justo, neutral em relação a todos os interesses, mas que entre rapidamente numa execução definitiva) e resultará de uma equipa claramente focada nas operações, em vez de focada nos aspetos jurídicos, financeiros, num plano de RJ que tem sido muito, muito desgastante para a empresa nos últimos quase dois anos.

Vemos também que, com mais investimento e melhor investimento, será possível melhorar o desempenho da Oi. E, obviamente, não esqueceremos que o mundo não se faz cristalizando a presença das companhias num determinado mercado, mas participando em processos de consolidação que tanto podem ter uma intervenção muito ativa por parte da empresa (e ser ela o aglutinador de diferentes vontades), como ser uma empresa que cria sinergias no envolvimento com outras. Por isso, em primeiro lugar, nós estamos apostados em criar valor neste aumento de capital através daquilo que consideramos ser muito possível, que é um forte desempenho operacional da Oi e, em segundo lugar, de quaisquer outras operações que possam surgir e que beneficiem o mercado e as companhias que trabalhem no mercado brasileiro.

"É claro que o plano de RJ prevê um aumento de capital em dinheiro [na Oi] e que nós nunca colocámos um obstáculo a que esse aumento de capital em dinheiro existisse.”

Luís Palha da Silva

Presidente executivo da Pharol

O aumento de capital é sobretudo para a dimensão operacional? É para isso que vai servir este aumento de capital?

Deveria ser. Porque, para redução de dívida, já é a primeira parte. Os quatro biliões deveriam ser para reforçar as capacidades operacionais da empresa.

Quando diz “deveriam” é porque existe alguma nuance

Não… não vou dizer nada de muito extraordinário à volta disso. Digo que, no passado, nem todos os investimentos foram bons. Por isso, quando há pouco disse que era mais e melhor investimento, quero dizer que só com um espírito muito criterioso, só com investimentos pensados para obter melhorias de rentabilidade, com taxas internas de rentabilidade adequadas ao país (e, como sabem, o custo de capital no Brasil é muito elevado). Mas só com bons investimentos é que a empresa melhorará o seu desempenho operacional. Porque fazer meramente investimentos só para dizer que tem determinado tipo de presenças, de redes, de hardware no mercado, é pouco. Obviamente, é pouco para uma empresa que precisa de melhorar significativamente os seus desempenhos operacionais. Isso mede-se pela rentabilidade dos ativos empregues, pela taxa interna de rentabilidade dos investimentos que produz. E estamos atentos. Sabemos que há boas possibilidades, mas… exigimos um espírito muito crítico quando se trata de novo dinheiro dos acionistas.

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