Luís Palha da Silva, gestor da Pharol, garante que "é uma impossibilidade" não reaver qualquer dinheiro do investimento da antiga PT na Rio Forte. Há "recursos em cash" na massa falida da sociedade.
A Pharol já só espera recuperar 74,6 milhões de euros dos 897 milhões de euros que a antiga PT investiu na Rio Forte, sociedade do Grupo Espírito Santo (GES). Ou seja, voltou a moderar as expectativas e acredita, neste momento, que poderá vir a ser capaz de recuperar 8,3% do total daquele investimento milionário. Mas, em entrevista ao ECO, divida em quatro partes, Luís Palha da Silva, presidente executivo da Pharol, acredita que é “uma impossibilidade” que a empresa acabe por não recuperar dinheiro nenhum daquele crédito. Porque a massa falida da Rio Forte ainda tem recursos em cash que “têm de ser distribuídos”, diz.
A entrevista em quatro partes:
1 – “Não receber nada da Rio Forte é uma impossibilidade”
2 – “A Oi teve uma desvalorização súbita demais para ser uma situação normal”
3 – “Não podemos ficar impedidos de participar no aumento de capital da Oi”
4 – “Confiamos na justiça brasileira para garantir a boa governação da Oi”
Foi revisto agora em baixa, uma vez mais, para cerca de 8%, o dinheiro que esperam reaver do investimento na Rio Forte, que é de cerca de 74,6 milhões de euros. A Pharol vai continuar a reduzir e a rever em baixa esse valor? Ou agora é que é?
Na Pharol, a única coisa que podemos fazer relativamente a um crédito destes, de uma empresa que está num processo de falência, é tentar avaliar de uma forma totalmente objetiva, neutral, desapaixonada, o que lá está. E temos um modelo. Um modelo que trabalhamos com quem nos pode ajudar: com assessores, com a concordância de quem nos vigia — o Conselho Fiscal, os auditores, etc. Esse modelo vai recebendo informações. Se lhe disserem que uma parte significativa dos ativos está arrestada, isso tem uma contribuição para o modelo. O modelo não é uma previsão num ponto. O modelo é um conjunto de cenários possíveis, cada um deles com a sua probabilidade de existência. E se se alterarem os inputs com mais informação, esse modelo pode determinar diminuições de valor ou aumento de valor.
Portanto, isto não é uma coisa feita “olha, agora diminui mais qualquer coisinha, vamos jogar com expectativas”. Não. É um modelo que esperamos que seja compreendido como um modelo neutral e objetivo das circunstâncias exatas em cada momento. Se nos chegarem ótimas notícias de um crédito muito grande de outras entidades que, afinal, não vão ser consideradas como credoras da empresa, isso altera significativamente as probabilidades e até pode fazer aumentar o valor.
Mas a conclusão a que chegamos é que se está a degradar esse nível de informação.
Não. Eu diria que há uma coisa que, fatalmente, torna mais difíceis as circunstâncias, que é o tempo. À medida que o tempo vai passando, as dificuldades, não digo que se agravem, mas não nos deixam facilidades para valorizações dos ativos. A verdade é que uma empresa que está em falência e tem alguns ativos, a não ser que haja uma gestão muito, muito profissional de cada um dos ativos da empresa em falência, tende a ter algum desencanto, alguma menor concentração de esforços para que eles resultem bem. Portanto, o tempo não é bom. Mas não foi o tempo que nos levou a reavaliar esse crédito. Foram circunstâncias que foram conhecidas, que têm sido transmitidas sempre aos nossos acionistas e que levam também em linha de conta aquilo que nós vemos como tendências, ou mesmo transações efetuadas no mercado para créditos semelhantes e com a mesma empresa.
Está a demorar demasiado tempo?
Um processo de falência, em Portugal, no Luxemburgo ou na maior parte das jurisdições, é um tema não muito fácil. Quando, ainda por cima, resulta de processos com enormes dúvidas transfronteiriças… por exemplo: Suíça e o Banque Privée. Quem tem créditos sobre a Rio Forte tem créditos sobre a Rio Forte diretamente ou considera quem lhe vendeu, o Banque Privée, é que é responsável por isso? Então, alguns dos credores devem pedir a satisfação dos seus créditos na Suíça ou no Luxemburgo? Devem estar nas duas listas? Mas se estão nas duas listas, em que é que ficamos? São assuntos complicados que nós compreendemos. Talvez pudessem andar mais depressa. Ninguém está satisfeito, nunca, com processos que demoram vários anos. Mas posso dizer que há processos muito mediáticos no Luxemburgo que já vão em muito mais do que os dois anos que nós temos da Rio Forte lá.
E a Pharol ainda tem tempo para aguentar esta situação e esperar que chegue a um bom porto. Ou não tem alternativa?
Temos os recursos necessários para o tempo mais do que normal — ou seja, se corresse pior do que esperamos — para continuar a defender os nossos interesses.
No limite, se isto continuar num processo de degradação com base na atualização da informação, não receber nada, no limite, chega-se à conclusão de que a Pharol não tem condições…
Não receber nada é uma impossibilidade. Quase impossibilidade. Posso dizer que há um conjunto de recursos em cash da massa falida que obviamente têm de ser distribuídos. Por grande que seja a nossa percentagem do total dos créditos, ou muito pequena… isso pode variar, de facto, dependendo de quem são os credores, se são muitos, se são poucos, etc. Por muito que isso varie, esses valores estão lá. Chegar a zero é uma impossibilidade.
Não receber nada é uma impossibilidade. Quase impossibilidade. Posso dizer que há um conjunto de recursos em cash da massa falida que obviamente têm de ser distribuídos.
Ao mesmo tempo, do outro lado, soubemos no final do ano passado que a Espírito Santo International (ESI) reclama 750 milhões à Pharol…
Não, não reclama.
Quer esclarecer-nos?
O que está num comunicado que nós retirámos da internet, nem é um comunicado que tenha sido divulgado amplamente, é que terá sido nomeado um curador, um administrador judicial, para avaliar essa possibilidade. Não sabemos rigorosamente mais nada.
Não tiveram mais nenhum tipo de informação? Mais nenhum tipo de contacto?
Nem sequer percebemos quais são os argumentos. Não sabemos. Agora, como sempre, ao termos tido conhecimento, que foi um conhecimento indireto, achámos que os nossos acionistas também não poderiam deixar de ter esse conhecimento.
Ao mesmo tempo, a Pharol não fez nenhuma provisão. Pelo menos, foi isso que soubemos através do relatório.
Exatamente. Nem sabemos quais são as razões que poderão levar a que… Mesmo o excesso de prudência não seria aqui uma solução.
Os acionistas devem ficar tranquilos com esta situação, pelo menos para já, enquanto não há nenhuma informação adicional?
O nível de tranquilidade é dado pela informação que nós lhes damos. O que lhes damos é isto. Não sentimos que, não conhecendo nenhumas razões nem acreditando que existam algumas razões para que tal venha a acontecer, que seja necessário fazer provisões.
Outra matéria é o processo desencadeado pela própria Pharol contra a Deloitte por causa deste investimento na Rio Forte e da forma como ele foi aprovado, sem ter sido levado às instâncias devidas de governação. Como está esse processo?
Segue o seu curso normal de Justiça. Corre cá. Esse é um processo relativamente ao qual os dados já estão lançados. Estamos a aguardar serenamente o desenrolar interno do processo na Justiça.
Já agora, pode-nos clarificar quais são esses dados que estão lançados?
Foi o nosso processo. Termos lançado um processo e a Deloitte, em várias jurisdições, já ter dado a sua resposta à nossa acusação.
Agora estão à espera de decisão judicial. Já houve audições por decisão judicial?
Não, houve documental. Vai passar para uma fase seguinte e o calendário, embora tenhamos algumas ideias, não é formalmente conhecido.
Na sua ideia, isto, durante este ano, tem desenvolvimentos?
Ainda estamos no princípio do ano. Mal seria que não tivesse qualquer desenvolvimento. Entendemos que sim, que ainda falta uma parte muito grande do ano e que, portanto, é provável que tenha alguns passos complementares.
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Palha da Silva, presidente da Pharol: “Não receber nada da Rio Forte é uma impossibilidade”
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