O ECO comparou o UberEATS com os dois principais concorrentes, a Glovo e a NoMenu. A aventura permitiu conhecer preços e tempos de espera. Mas trouxe algumas aventuras... e zero de faturas com NIF.
Chegou a Lisboa. A capital portuguesa já faz parte da lista de cidades onde funciona o UberEATS. Foi no final do mês passado que a empresa deixou de transportar apenas pessoas e passou a levar-lhes refeições a casa também. Porém, o serviço não é novo: por cá, outras empresas já faziam o mesmo. O ECO decidiu comparar a nova funcionalidade da Uber com duas das alternativas mais conhecidas: a Glovo e a NoMenu.
O método de comparação foi o seguinte: encontrar um restaurante que servisse no UberEATS e noutra plataforma concorrente, fazer a mesma encomenda nos dois serviços ao mesmo tempo e, por fim, comparar os preços e a rapidez na entrega. Com tudo preparado, metemos mãos à obra. No que deu? Para além do comparativo, a experiência resultou em situações caricatas, faturas por receber e… uma redação totalmente saciada. ¯\_(ツ)_/¯
Uber e Glovo. Faturas, para que vos quero?
Para comparar a Uber e a Glovo, escolho o restaurante Natural Crave, não muito longe da redação do ECO. O relógio marca 12h23 quando faço a encomenda de um wrap através dos dois serviços. No UberEATS, é-me mostrada uma estimativa do tempo que demora. Na Glovo, a aplicação indica apenas que está a ser recolhida.
Enquanto os wraps não chegam, importa olhar para os preços. A Uber pede 6,95 euros pela refeição, mais 2,90 euros pelo serviço. A Glovo pede 6,95 euros pela comida e oferece o serviço por ser a minha primeira encomenda. Ora, para ser justo, há que somar a este valor um euro, que é o preço da entrega numa situação normal. Ou seja, a mesma encomenda fica a 9,85 euros na Uber e 7,95 euros na Glovo. O pagamento é feito automaticamente, com cartão de crédito.
A primeira a chegar é a da Glovo, por volta das 12h40. O estafeta vem de bicicleta, mas não encontra a redação e liga-me. Explico onde fica. Sobe, entrega-me um saco, pede-me uma assinatura no telemóvel e segue viagem. É aqui que dou conta de um pormenor: o número de contribuinte não vem na fatura, apesar de ter preenchido esse campo no ato de registo. Por esta altura, a Uber ainda indica que o meu pedido está a ser preparado.
É preciso esperar até cerca das 12h50 para o receber, momento em que o estafeta estaciona a mota junto à redação do ECO. Também não encontra a porta e liga-me. Explico-lhe onde estou. O estafeta sobe ao segundo andar e entrega-me o saco com o segundo wrap que encomendei. Pergunto se é preciso uma assinatura. Diz-me que não e segue caminho. O recibo da encomenda vem agrafado ao saco, sem número de contribuinte, apesar de também ter esse campo preenchido nos dados para faturação.
No site da Uber, ao requerer a fatura, a empresa indica: “Ainda estamos a trabalhar em gerar uma fatura para esta viagem. Volte a tentar mais tarde.” Um par de dias depois, a mensagem mantém-se. Em relação aos wraps, vinham nas devidas condições.
Uber e NoMenu. Sushi para dar e vender
Para comparar a Uber e a NoMenu, escolho o restaurante Noori Sushi, no Chiado. A experiência é um ligeiramente diferente. A NoMenu já cá anda há uns tempos. Não tem uma aplicação, como o UberEATS e a Glovo, e as encomendas podem ser feitas no site ou por telefone. O pagamento faz-se num multibanco ou em dinheiro, no ato de entrega. E só aceita encomendas superiores a dez euros.
Escolher o que comer não é fácil. Há muitos entusiastas de comida japonesa na redação. Além disso, o site da NoMenu é muito pouco intuitivo — confuso, até — e demora tempo até perceber a correspondência dos produtos nas duas aplicações. Decido encomendar cinco fatias de sashimi de salmão, uma limonada e uma caixa com quatro hosomakis de salmão e outros quatro de salmão e manga, nos dois serviços em simultâneo. A encomenda é feita às 12h45.
A primeira a chegar é a do UberEATS, às 13h27. O estafeta — espante-se! — não consegue descobrir a redação do ECO. Depois de alguns minutos ao telefone, vejo-me obrigado a descer o prédio para ir ao seu encontro. A entrega é feita na rua.
Desta vez, questiono: “Como é em relação à fatura?” Responde o estafeta: “Não é preciso fatura.” Olho-o com alguma perplexidade. “Ah, precisa de fatura? Desculpe, não sei. Só faço mesmo a entrega.” Nada feito. Agradeço e subo novamente para a redação. No site da Uber volta a surgir a indicação: “Ainda estamos a trabalhar em gerar uma fatura para esta viagem.” No recibo, entregue em mão, o campo do NIF também não está preenchido.
E quanto à NoMenu? Recebo apenas dois e-mails: um a confirmar o pedido, outro a confirmar a encomenda. No site da empresa, a indicação é a de que o pedido já está concluído. Às 13h47, ligo para o restaurante. Confirmam-me que a encomenda já está pronta, mas que ainda não apareceu o estafeta para a recolher. Sugerem-me que contacte a NoMenu. As chamadas para os números no site da empresa não são atendidas.
Só às 14h10 é que chega a refeição. O estafeta surge naturalmente na redação, sem dificuldade em encontrar o espaço. O saco é-me entregue (e reparo logo que é bem mais pesado do que o da encomenda da Uber, mas já lá vamos). Faço o pagamento em dinheiro, o estafeta devolve-me o troco e peço a fatura. Não a tem. Nem recibo. Pergunta se não a recebi no e-mail. Digo que não. Sugere que ligue para a NoMenu a solicitá-la e segue caminho.
É o que faço. Desta vez, a empresa atende a chamada. A conversa é bizarra:
— Boa tarde. Fiz uma encomenda através do vosso site e gostaria de receber a fatura com número de contribuinte.
— Sim, vamos enviá-la para o seu e-mail. Obrigado e boa tarde…
— Desculpe, mas nem me identifiquei. Como sabe quem sou?
— É o Flávio, certo?
— Sim, sou.
— Vamos enviar-lhe a fatura por e-mail.
Das duas, uma: ou somos os únicos clientes do dia, ou a NoMenu faz corresponder o número de telefone ao cliente que os contacta. De uma forma ou de outra, é aqui que me apercebo de que a encomenda traz muito mais comida do que o esperado.
No saco vêm cinco shashimis de salmão, 16 hosomakis e duas limonadas. Quanto aos acessórios, vêm em triplicado, como se a refeição fosse destinada a três pessoas: três pares de pauzinhos (hashi), três saquetas de wasabi, três recipientes para três saquetas de molho de soja e três pequenas porções de gengibre. Só no site da NoMenu é que consigo perceber o erro. Por alguma razão, a encomenda dos hosomakis ficou repetida. Consulto a captura de ecrã ao cesto da encomenda, feita no momento do pedido, onde só consta uma unidade.
O excesso também se reflete no preço. A Uber cobra 2,90 euros pela entrega, 4,55 euros pelo sashimi e 5,25 euros pela caixa de hosomakis — ou seja, 12,70 euros no total. A encomenda da NoMenu, com a caixa e a limonada repetidas, fica a 19,95 euros. Retirando os itens repetidos, a conta teria ficado, ainda assim, nos 14,20 euros, superior à do serviço UberEATS. Quanto ao sushi, apesar das grandes quantidades, não sobrou posta.
O resultado:
Chegados aqui, vale a pena meter tudo em pratos limpos. A experiência do ECO mostrou que a Glovo parece ter o serviço mais célere e mais acessível — e permite encomendar outros itens para além de comida, como medicamentos da farmácia ou pasta de dentes de um supermercado. O UberEATS cobra uma taxa de entrega superior, o que inflaciona o preço das encomendas e não conseguiu ser mais rápida do que a Glovo nas entregas, mas ganha pontos por ter a exclusividade do novo serviço McDonald’s Delivery, que entrega comida fast food ao domicílio e poderá vir a ser um dos fatores que os lisboetas mais terão em conta.
A NoMenu acabou por ser o serviço mais caro e mais lento, apesar de também ter transportado comida em maior quantidade. Tem também um caminho a percorrer no que toca a construir uma aplicação e tornar o interface mais intuitivo. Contas feitas, os três serviços funcionam, cada um à sua maneira e com o seu tempo. Mas se o preço e o tempo forem os fatores decisivos, há um claro vencedor deste desafio.
Imagem de destaque por shopblocks, via Flickr.
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UberEATS, Glovo ou NoMenu. Qual tem o melhor sabor?
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