BCP a um euro vale mais do que a um cêntimo?

A fusão de ações não tem influência no valor do BCP, mas analistas consideram que banco pode beneficiar com maior exposição aos fundos e menor volatilidade. Impacto é limitado, avisam.

Deixou cair o rótulo de penny stock, há menor volatilidade entre os seus títulos que, a cotar acima do euro, já entram no radar de mais fundos de investimento internacionais. O agrupamento de ações concretizado esta segunda-feira pelo BCP foi um mero ajustamento técnico e, aparentemente, não tem qualquer influência no valor de mercado do banco. Será mesmo assim?

No total, mais 58 mil milhões de ações do BCP “desapareceram” com o reverse stock split e já não foram para a praça esta segunda-feira. Cada “novo” título do banco passou a valer mais de 1,3 euros, o mesmo que 75 ações “velhas” na casa dos 1,8 cêntimos. Analistas ouvidos pelo ECO consideram que este ajustamento de ações vai beneficiar o banco, mas sublinham que o impacto será sempre limitado. É que, no final do dia, são os resultados financeiros quem vai ditar o valor esperado dos dividendos futuros. E as últimas contas do BCP não têm sido positivas.

“A operação de agrupamento de ações não altera, de facto, o valor da instituição mas, ao dar-lhe mais visibilidade e ao permitir-lhe ser captada por investidores que não olham para as penny stocks, poderá, no futuro, acrescentar-lhe valor”, refere João Queiroz, diretor de negociação da GoBulling.

Pedro Lino, CEO da DifBroker, destaca a maior estabilidade bolsista que a “nova ação” vai conferir aos investidores do BCP. “Uma penny stock pode transmitir que a situação financeira da empresa não é a melhor, pelo que uma cotação mais elevada é adequada, além de evitar grandes oscilações e movimentos mais especulativos”, diz o responsável.

"Uma penny stock pode transmitir que a situação financeira da empresa não é a melhor, pelo que uma cotação mais elevada é adequada, além de evitar grandes oscilações e movimentos mais especulativos.”

Pedro Lino

DifBroker

No radar dos fundos

Desde sexta-feira que as ações do BCP deixaram de negociar na casa dos cêntimos para passar a cotar na casa dos 1,3 euros. É certo que o valor do banco não alterou com o agrupamento de títulos, mas o facto de a ação cotar acima do euro vai mudar mais do que a simples perceção dos investidores em relação ao banco português. Por exemplo, o BCP vai ganhar outra relevância na atenção dos gestores dos grandes fundos de investimento, cujas estratégias deixam de fora ações com cotações demasiado baixas.

“Existem investidores, sobretudo institucionais como os fundos, que não negoceiam penny stocks” e, por isso, “tende a ser positivo” o facto de deixar de ser uma penny stock, explica Queiroz.

Os fundos de investimento tendem a comprar grandes blocos de ações e a assumir posições longas, apostando na valorização do ativo ao invés da especulação e contribuindo para a estabilização do preço da ação.

Fonte: Bloomberg (Valores em euros)
Fonte: Bloomberg (Valores em euros)

Ainda assim, Pedro Lino relativiza o impacto dos grandes fundos com a baixa capitalização bolsista do BCP: “Para os fundos existem pelo menos dois fatores que são fundamentais, o preço e a capitalização. O facto de o BCP estar muito próximo dos mil milhões é indicativo de perigo, uma vez que a capitalização baixa afasta a ação dos principais índices mundiais”.

Fosun não chega

A perspetiva da entrada do grupo chinês no capital do banco tem dado o mote para ganhos mais expressivos nas últimas semanas. Aliás, depois de anunciada a assembleia geral de acionistas a ação já valorizou mais de 10%. Mas se tem dado algum suporte, a Fosun, por si só, não chega para sustentar um movimento de valorização mais continuado. Com as contas do terceiro trimestre à vista, os investidores vão querer esperar para verificar a saúde financeira do banco.

Nuno Amado apresentará contas no próximo dia 7 de novembro, na véspera de os acionistas serem chamados a votar o aumento do limite de votos de 20% para 30% e ainda o alargamento do conselho de administração, duas condições impostas pelos chineses para entrar no capital do banco nacional.

“O interesse da Fosun nas ações do BCP, deu algum suporte, mas não será suficiente para inverter o rumo. Será necessário que os resultados operacionais mostrem que o banco é merecedor da confiança dos investidores”, diz Pedro Lino.

João Queiroz concorda: “Se o desempenho das receitas e resultados trimestrais forem crescentemente sustentáveis ajuda a visibilidade do título. A entrada de “capital fresco” que aumente os capitais próprios tende a suportar o valor da ação, sobretudo, se corresponder a um maior equilíbrio entre os recursos e as aplicações do banco”.

"A entrada de ‘capital fresco’ que aumente os capitais próprios tende a suportar o valor da ação, sobretudo, se corresponder a um maior equilíbrio entre os recursos e as aplicações do banco.”

João Queiroz

Diretor de negociação da GoBulling

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