Vodafone: Exclusividade no futebol foi uma ilusão
Mário Vaz, líder da Vodafone, disse ao ECO que a "ilusão da exclusividade" na compra de direitos do futebol terá implicações no preço para o cliente. Compra da TVI não faz parte dos planos.
“A ilusão de exclusividade teve um preço.” A frase é de Mário Vaz, presidente executivo da Vodafone: em entrevista ao ECO, o líder da operadora reconhece que as compras milionárias de direitos desportivos, que culminaram com um acordo de partilha de conteúdos assinado com a Meo, a Nos e a Nowo, foi um “movimento” que aumentou a “estrutura de custos” de todo o mercado. Incluindo a da Vodafone, que apresentou resultados esta terça-feira.
No primeiro semestre fiscal, a operadora portuguesa registou 457,6 milhões de euros em receitas de serviço. Aumento no número de clientes fixos ajudou as contas da empresa. Quanto às receitas totais, que tanto englobam o fornecimento de serviços fixos e móveis como a venda de equipamentos de telecomunicações, atingiram 494,5 milhões de euros no mesmo semestre fiscal. Trata-se de um crescimento homólogo ligeiramente mais fraco, de apenas 0,6%.
Por e-mail, Mário Vaz indica que os impactos financeiros dos acordos são “inevitáveis”, embora, no caso da Vodafone, o protocolo assinado este verão tenha tido um impacto “ainda marginal” nas contas do terceiro trimestre do ano. O peso maior irá refletir-se “em resultados futuros” e de forma transversal a “todos os operadores subscritores”, reconhece o presidente executivo.
As principais operadoras anteciparam a atualização anual dos preços de janeiro de 2017 para os meses de agosto (Vodafone), novembro (Meo) e dezembro (Nos) deste ano. Até agora, só a Meo tinha reconhecido que o aumento do preço dos serviços irá dever-se a custos com a aquisição de conteúdos desportivos. No caso da Vodafone, a operadora justifica um aumento de 7,43% no pacote triple play com um “reforço da oferta”, mais propriamente, um novo router de acesso à internet.
Mas agora, ao ECO, ainda que recusando “comentar a estratégia” dos concorrentes, Mário Vaz admite que o “aumento de custos” tem “necessárias implicações do ponto de vista de preço para o cliente”. No entanto, o importante para a operadora é o equilíbrio entre a imputação desse custo ao cliente “no preço final” e o impacto que isso tem “no nível de adesão dos clientes a esses conteúdos”. Sobre isso, o presidente executivo recorda que “cada operador fará as suas leituras dessa equação”.
A ilusão da exclusividade teve um preço e este movimento representou um incremento na estrutura de custos do mercado como um todo e, naturalmente, para a Vodafone também.
Compra da TVI não está nos planos
Tem sido uma tendência lá fora. Operadoras de telecomunicações estão a adquirir empresas de conteúdos. O caso mais flagrante — e recente — é o da norte-americana AT&T, que comprou a Time Warner por mais de 80 mil milhões de dólares. Há quem acredite que, em Portugal, uma fusão pode estar também prestes a acontecer e o certo é que já há um negócio à venda: trata-se da Media Capital, dona da estação televisiva TVI, da rádio Comercial e da produtora Plural.
O grupo é detido pela Prisa e a Altice, dona da Meo, estará interessada. Mas a Vodafone não. Mário Vaz recorda que a operadora “sempre defendeu a universalidade dos conteúdos em detrimento da exclusividade”. Bastou o acordo de partilha e a entrada no capital da Sport TV que, justificou a empresa na apresentação de resultados, serviu para dar “uma maior solidez e sustentabilidade à empresa”. Face a isto, é perentório: “Não consta dos nossos atuais planos avançar para a aquisição de quaisquer outros ativos relacionados com conteúdos”, diz. E acrescenta: “A estratégia da Vodafone passa por estar na fase de distribuição.”
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"Não consta dos nossos atuais planos avançar para a aquisição de quaisquer ativos relacionados com conteúdos. A estratégia da Vodafone passa por estar na fase de distribuição.”
Ainda há interesse na rede de fibra da PT
Mário Vaz tem criticado o preço pedido pela PT para que concorrentes acedam à rede de fibra ótica da operadora. Este ano, no habitual debate do “Estado da Nação das Comunicações”, integrado no congresso anual da APDC, apontou baterias à concorrente, dizendo que os preços exigidos são “um pedido de comparticipação e financiamento integral” dessa mesma rede.
Ao ECO, mantém essa posição: “Temos visões muito diferentes sobre o que quer dizer o termo oferta. Se a mesma fosse boa, seguramente já teria clientes”, critica. “Nós estamos claramente interessados e disponíveis, mas não parece ser essa a preocupação de quem fez a oferta”, garante. A Vodafone tem vindo a investir numa rede própria de fibra ótica e, no congresso da APDC, Paulo Neves desafiou o líder da Vodafone a fazer uma contraproposta: “Aceitamos reciprocidade”, assumiu. Nessa altura, Mário Vaz contra-argumentou que “a Vodafone está onde a PT está”, pelo que fazer essa oferta “não faz sentido”, disse.
Esta quinta-feira, a empresa anunciou ter ultrapassado o marco dos 37 mil quilómetros de fibra espalhados pelo país. “Servimos mais de 2,5 milhões de lares e empresas, quando há pouco mais de três anos chegávamos a pouco menos de meio milhão”, recorda ao ECO. Sobre investimentos futuros, Mário Vaz prefere não se adiantar: “À data de hoje não temos planos adicionais que possamos tornar públicos.”
"[Nós e a PT] temos visões muito diferentes sobre o que quer dizer o termo oferta. Se a mesma fosse boa, seguramente já teria clientes.”
Regulação: “Estamos num momento de impasse”
Mário Vaz deixa, por fim, críticas à “atual indefinição regulatória”: “Estamos a aguardar a evolução da posição da Comissão [Europeia] e do BEREC sobre a decisão da Anacom de regular sem regular”, algo que “torna inviável o desenho de planos de investimento e coloca claramente em risco a continuidade um modelo de co-investimento nas infraestruturas de redes de nova geração, que melhor defenderia os interesses do país”, defende.







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Há ainda uma “ameaça de aumento de custos” nas taxas municipais e “barreiras à entrada de novos operadores” devido à “ausência de clarificação sobre a titularidade de condutas e respetivos custos”, diz. Ou seja, o setor vive, para Mário Vaz, um “momento de impasse com crescentes dificuldades que tornam inviável o desenho e comprometimento com o acionista sobre novos planos de investimento” na área das redes de nova geração.
“Lamentamos que a situação atual esteja a limitar o potencial de chegarmos com redes de nova geração mais rapidamente a todas as zonas do país, mesmo as mais remotas, promovendo a coesão territorial e contribuindo assim para o aumento da competitividade numa nova economia digital em que as infraestruturas de comunicação serão determinantes para o sucesso do nosso país”, conclui.
"Estamos num momento de impasse com crescentes dificuldades que tornam inviável o desenho e comprometimento com o acionista sobre novos planos de investimento nesta área.”
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