Credor alemão: “Novo Banco está a fazer all-in. É bom que tenha uma boa mão”
Novo Banco reúne credores amanhã. Depois do "ok" da Pimco, agora tem um "não" do fundo alemão Xaia. "Responsáveis parecem muito convencidos" com sucesso da operação, diz diretor do fundo ao ECO.
“É como se o Novo Banco estivesse a jogar póquer e a fazer all-in. Se tu fazes isso, tens de estar muito seguro em relação à tua mão”.
O desabafo é de Jochen Felsenheimer, diretor do fundo alemão Xaia Investment, que já decidiu que não vai participar na Assembleia Geral de obrigacionistas do Novo Banco que se realiza esta sexta-feira. Este fundo detém cerca de 100 milhões de euros em dívida que o banco português não vai poder recomprar. Faltam quatro mil milhões de euros para atingir o objetivo. Caso não consiga, o destino da instituição pode passar pela resolução (bail-in) ou até mesmo liquidação.
Ao ECO, este responsável alemão não esconde algum receio com a incerteza quanto ao resultado das 12 Assembleias Gerais que vão acontecer esta sexta-feira. Um resultado que os responsáveis do Novo Banco parecem estar a ignorar. Ou então é um sinal de confiança da parte deles…
“Na verdade, estou um pouco perdido neste caso. Os responsáveis do Novo Banco parecem muito convencidos (ou desconhecedores) em relação ao resultado destes encontros. Como eu atuo como fiduciário do dinheiro dos meus clientes, eu não posso recomendar investimentos em bancos ou países que se comportam assim com os seus investidores”, frisou Felsenheimer.
"É como se o Novo Banco estivesse a jogar póquer e a fazer ‘all-in’. Se tu fazes isso, tens de estar muito seguro em relação à tua mão.”
Ao manter as suas obrigações, o fundo Xaia junta-se a outros tantos investidores que rejeitaram a proposta do Novo Banco na primeira reunião, realizada no início deste mês.
O banco de transição pretende recomprar dívida que emitiu no passado e oferece em troca cash ou depósitos. Se a operação não cumprir o objetivo, a venda ao Lone Star não se concretiza e todos os credores podem ser chamados a assumir perdas num cenário de nova resolução (bail-in) do banco ou até de liquidação, como vem anunciado no prospeto do Novo Banco. Porém, caso a operação seja bem-sucedida, então estes credores que não participaram na oferta mantêm as condições financeiras iniciais e evitam perdas que estão implícitas na oferta lançada há dois meses pelo Novo Banco. É essa também a aposta da Ever Capital Investment, sediada em Madrid.
Com cerca de cinco milhões de euros em obrigações do Novo Banco, este credor espanhol havia dito à agência Bloomberg no final de julho que iria manter as obrigações no seu portefólio à espera de uma valorização destes títulos assim que a venda do Novo Banco esteja finalmente fechada. O ECO tentou falar com Eva Rodríguez Roselló, da Ever Capital, mas sem sucesso. Em agosto, a responsável espanhola disse ao ECO que o preço oferecido pelo Novo Banco “era baixo”.
Pequenos investidores resistem
Ainda que a Pimco tenha dado o seu aval no início desta semana, depois de desbloqueado o problema técnico que impedia alguns investidores de acederem à oferta de depósitos, abrindo caminho para esta operação encontre êxito, ainda não há certezas de que o Novo Banco vai cumprir o objetivo dos seis mil milhões de euros em recompras de obrigações.
"Na verdade, estou um pouco perdido neste caso. Os responsáveis do Novo Banco parecem muito convencidos (ou ignorantes) em relação ao resultado destes encontros. Como eu atuo como fiduciário do dinheiro dos meus clientes, eu não posso recomendar investimentos em bancos ou países que se comportam assim com os seus investidores.”
À data da última reunião faltava convencer investidores representando quase quatro mil milhões de euros, tendo ficado cumprido apenas 37% do objetivo que permitirá que o banco de transição reforce os seus capitais em 500 milhões de euros e seja finalmente vendido ao fundo norte-americano Lone Star. Esta transação foi anunciada no final de março, mas a sua concretização depende do sucesso da operação de troca de dívida.
A decisão da Pimco vem ajudar a cumprir uma parte importante do objetivo. Mas a operação ainda não está concluída e até dia 2 de outubro o Novo Banco vai continuar a receber ordens dos seus credores. Os fundos Xaia e Ever Capital não participam. E “muitos investidores individuais”, representando “centenas de milhões de euros” em dívida do Novo Banco ainda resistiam, relatava a revista Sábado esta terça-feira, colocando maior incerteza em relação ao futuro do banco.
O ECO contactou o Novo Banco que não quer fazer qualquer comentário. Será para manter o seu poker face?
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