Pescanova deve 125 milhões à banca nacional

  • Lusa
  • 3 Março 2017

A banca portuguesa tem 125 milhões de euros de dívidas a receber da Acuinova de Mira, uma unidade detida pela Pescanova e que se encontra em Processo Especial de Revitalização.

A banca portuguesa tem 125 milhões de euros de dívidas a receber da Acuinova, reconhecidas no Processo Especial de Revitalização (PER) que a Nova Pescanova pediu pela sua unidade de Mira.

De acordo com o documento disponível no Citius, com data de 1 de março, assinado pelo administrador judicial Bruno Miguel Costa Pereira, numa lista de 124 credores, a dívida do Novo Banco, BPI, BCP e CGD ascende aos 125 milhões de euros, de um total de dívidas reconhecidas de 167 milhões de euros.

O total do montante em dívida ao Novo Banco ascende aos 31,6 milhões de euros, que a instituição emprestou à Acuinova no âmbito do Projeto de Interesse Nacional (PIN) promovido durante o Governo de José Sócrates.

Segue-se a Caixa Geral de Depósitos (CGD), com uma dívida de 27,9 milhões de euros, a que acresce uma outra de 3,5 milhões de euros referentes à Caixa Banco de Investimento.

O BCP, por sua vez, surge no processo com uma dívida total reconhecida de 31,2 milhões de euros e o BPI com um montante de 31,1 milhões de euros.

O administrador não reconhece uma dívida reclamada à Acuinova pelo Estado português através do IFAP – Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas no montante de 58,7 milhões de euros, que, de acordo com o Jornal de Negócios, Bruno Costa Pereira considera não serem reembolsáveis porque o contrato já terminou no final do ano e porque houve alterações das circunstâncias que justificam a resolução do mesmo (nomeadamente os acidentes que tiveram impacto na produção).

A Lusa tentou obter um comentário junto da empresa, mas tal não foi possível até ao momento.

Num comunicado enviado em fevereiro, a Acuinova informou ter sido aprovado em 31 de janeiro pelo Tribunal Judicial da Comarca de Coimbra o pedido de PER, com vista à recuperação financeira da empresa.

Segundo a empresa do grupo Nueva Pescanova, a operação encontra-se “abaixo da sua capacidade instalada, devido a problemas técnicos nos emissários de captação, cujas responsabilidades estão a ser discutidas judicialmente, o que provocou sérias dificuldades financeiras, com prejuízos que resultaram em capitais próprios negativos, que só foi possível ultrapassar com o apoio da banca e das empresas do grupo”.

Apesar disso, referiu, “a empresa gera um EBITDA [resultado antes de juros, impostos, amortizações e depreciações] positivo, o que a torna passível de recuperação financeira através deste acordo de reestruturação da dívida”.

No documento, a empresa garantia ter todos os seus pagamentos em dia, incluindo salários e impostos, excetuando-se apenas os pagamentos da dívida aos bancos e às empresas do grupo.

“Assim, será possível durante este processo especial de revitalização manter a empresa em funcionamento, com a supervisão de um Administrador Judicial Provisório, destinando-se a sua produção maioritariamente à exportação, através das empresas do Grupo Nueva Pescanova, sendo os principais mercados consumidores a Espanha, Itália, França e Portugal, entre muitos outros países”, refere.

Segundo a unidade de Mira, não está previsto que tenha lugar qualquer reestruturação ou despedimentos, uma vez que a empresa já vinha operando com a estrutura adequada ao seu volume de produção desde há alguns anos.

Atualmente, a Acuinova tem 127 trabalhadores e produz entre 1.900 e 2.300 toneladas de pregado por ano, representando 20% a 25% da produção aquícola nacional e continuando a ser um dos principais operadores do mercado, segundo dados da empresa.

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Brigas Afonso diz desconhecer falhas informáticas

  • Cristina Oliveira da Silva
  • 3 Março 2017

Brigas Afonso assumiu a liderança da AT em julho de 2014, cargo que ocupou durante nove meses. Está a ser ouvido no Parlamento, a propósito das transferências para 'offshores' sem vigilância do Fisco.

O antigo diretor-geral da Autoridade Tributária e Aduaneira (AT) Brigas Afonso diz que nunca teve conhecimento de “falhas informáticas” e afirma que a grande preocupação do Executivo na altura em que estava em funções era o e-fatura.

Brigas Afonso passou a liderar a AT em julho de 2014 e esteve nove meses no cargo, demitindo-se na sequência do escândalo da “lista VIP”. Está a ser ouvido na comissão parlamentar de Orçamento, Finanças e Modernização Administrativa relativamente aos quase dez mil milhões de euros de transferências para o Fisco entre 2011 e 2014 que fugiram ao controlo da máquina. Por esta comissão já passou Paulo Núncio, antigo secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, e Rocha Andrade, que ocupa atualmente esse lugar e que já apontou para uma falha informática.

Em resposta ao deputado social-democrata Duarte Pacheco, Brigas Afonso explicou que não tinha, na altura, um subdiretor-geral para a área da informática, mas acrescentou: “Não me reportaram falhas informáticas”. Porém, também fez questão de frisar que existem mais de 200 aplicações informáticas, em “constante atualização”. “Não me recordo de ter tido um reporte específico quanto ao tratamento desta matéria”, salientou.

Brigas Afonso frisa que não conhecia muitos dos trabalhadores da área de informática mas tinha a ideia de “pessoas muito dedicadas” e “competentes”. Em resposta ao PCP, o antigo diretor-geral do fisco afirmou que a AT não tem recursos para o desenvolvimento de aplicações mais complexas, recorrendo a outsourcing. Só pequenas adaptações são feitas “com a prata da casa”, salientou.

Questionado pelo PSD sobre se trocou informações com o secretário de Estado dos Assuntos Fiscais na altura, Brigas Afonso indicou que nunca houve “qualquer pedido concreto” sobre o assunto. Aliás, “na altura, a grande prioridade era o e-fatura”, disse. Tratava-se de um “sistema novo”, com um “manancial enorme” de informação.

Brigas Afonso não soube precisar se todas as transferências para offshores são enviadas para o controlo do fisco ou se há alguma seleção específica, questões levantadas pelo Bloco de Esquerda. Mas referiu depois que a competência para tratar os dados é da inspeção tributária, com base na análise de critérios de risco. E notou que estes critérios são sigilosos, em resposta a Cecília Meireles, do CDS.

O antigo líder da AT disse ainda que não teve conhecimento de qualquer mudança que pudesse levar a que determinadas transferências deixassem de ser analisadas.

Ontem, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores dos Impostos (STI) disse ao ECO que a informação sobre as transferências para offshores chegam à AT através dos modelos 38 “e depois é feita uma separação entre o que vai para análise e o que não vai”. Enquanto Azevedo Pereira era diretor-geral da AT, havia “uma série de dados que não passam para a área da investigação” porque “eram montantes relativamente baixos”, revela. Mais tarde, já com Brigas Afonso na AT, “há uma grande transferência que não vai sequer para análise”, afirmou Paulo Ralha.

(notícia atualizada às 16:00)

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Depois do IPO, Snap valoriza ainda mais

A empresa que detém a rede social Snapchat chegou ontem à bolsa norte-americana e na segunda sessão continua a valorizar. Os índices abriram em terreno positivo esta sexta-feira.

Depois da dispersão em bolsa, a Snap continua a valorizar na segunda sessão: os títulos da empresa estão a subir 6,76% para os 26,135 dólares por ação. Na sessão de estreia, esta quinta-feira, as ações tinham valorizado 44% dos 17 dólares iniciais para os 24,48 dólares no final do dia. O Nasdaq, índice onde a cotada foi inserida, acompanha esta evolução valorizando 0,02% para os 5.862,55 pontos.

Esta sexta-feira, a Reuters noticiou que a NBC Universal fez um investimento de 500 milhões de dólares na Snap durante a dispersão em bolsa, de acordo com uma informação enviada aos trabalhadores da empresa. Além disso, ficou-se a saber que uma escola secundária da Califórnia ganhou 24 milhões de dólares com o IPO porque em 2012 a escola tinha investido 15 mil dólares na empresa na sua fase inicial.

As ações da Snap transacionavam no pré-mercado da bolsa norte-americana a valorizar quase 8% para os 26,43 dólares. É a segunda sessão da empresa depois da estreia de quinta-feira onde valorizou mais de 40%. A empresa dona da rede social está avaliada em mais de 28 mil milhões de dólares.

Todos os índices abriram em terreno positivo em Wall Street. O índice industrial Dow Jones está a valorizar 0,11% para os 21.022,20 pontos, continuando acima da barreira dos 21 mil pontos que ultrapassou esta semana. Já o S&P 500 está a subir 0,01% para os 2.381,50 pontos.

Hoje é mais um dia de os investidores estarem atentos ao discurso de Janet Yellen, desta vez em Chicago. A presidente da Fed irá falar sobre o estado da economia e dará mais pistas sobre o que vai acontecer na próxima reunião da Reserva Federal, a 15 de março, onde irá decidir se aumenta novamente a taxa de juro dos Estados Unidos.

Além de Yellen, também outros governadores de bancos centrais de vários Estados norte-americanos têm indicado que é necessário continuar a aumentar a taxa de juro. Os próprios investidores estão mais confiantes de que isso vai acontecer: na semana passada essa possibilidade estava a 40% no inquérito da Bloomberg, sendo que esta semana já passou para os 90%.

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Offshores: o que se apurou nas audições e o que falta saber

  • Marta Santos Silva
  • 3 Março 2017

Entre os dois, Paulo Núncio e Rocha Andrade foram ouvidos durante mais de sete horas na Comissão de Finanças, mas ainda há perguntas sem resposta. Fique a par em dez tópicos.

Após terem sido ouvidos o anterior e o atual secretários de Estado dos Assuntos Fiscais, muitas das dúvidas ficaram esclarecidas acerca de como dez mil milhões de euros transferidos para offshores não ficaram no radar da Autoridade Tributária, e sobre a não publicação das estatísticas deste tipo de transferências durante vários anos. Esta sexta-feira, dois anteriores diretores da Autoridade Tributária falam aos deputados, e ainda há questões por esclarecer.

Afinal, qual foi a natureza da falha informática que levou a estes erros? Poderá ter havido intervenção humana nesse processo para deixar escondidos dez mil milhões de euros? Foi legítima a escolha de Paulo Núncio em não divulgar os dados estatísticos sobre as transferências para offshores? Ponha-se a par daquilo que já foi apurado e das dúvidas que restam, em dez perguntas e respostas com base nas audições de Núncio e Fernando Rocha Andrade.

Porque é que as estatísticas não foram publicadas?

Logo nas suas declarações iniciais na audição, Paulo Núncio afirmou ter sido ele quem decidiu não publicar as estatísticas das transferências para jurisdições offshore por “ter dúvidas” acerca da sua utilidade e do risco envolvido em publicá-las.

As dúvidas eram de duas ordens. Por um lado, Paulo Núncio acreditava que a publicação daria “vantagem ao infrator” que pretendesse usar as offshores para fugir à tributação. “Achei que a publicação podia constituir um alerta para os infratores relativamente ao nível e à quantidade de informação que a Autoridade Tributária dispunha sobre as transferências”. Em segundo lugar, o ex-secretário de Estado acrescentou que “a informação enviada era abrangente e não distinguia os tipos de operação”, o que preocupou Paulo Núncio porque, já que os dados não distinguiam as operações comerciais daquelas que seriam objeto de tributação, a publicação poderia levar a interpretações incorretas”.

São justificações que foram criticadas pela esquerda: Mariana Mortágua, do BE, perguntou se o ex-secretário de Estado se tinha “esquecido” destas dúvidas quando emitiu o seu primeiro comunicado sobre o assunto, em que inicialmente responsabilizara a Autoridade Tributária pela não publicação dos dados, e Eurico Brilhante Dias insistiu que se Núncio não autorizou a publicação por decisão própria, então “ocultou deliberadamente” os números. “Entendeu durante quatro anos ocultar as publicações sem gerar novo despacho ou nova ordem que contradissesse” o do antecessor no cargo, Sérgio Vasques, do Governo de José Sócrates.

A explicação de Núncio também não convenceu Fernando Rocha Andrade. No final da tarde do mesmo dia, quando foi a sua vez de falar aos deputados, assumiu não ver razões para a publicação das estatísticas trazer qualquer benefício a quem pratica evasão fiscal. “Eu não concordo que a publicação de estatísticas tenha qualquer efeito negativo no combate à fraude e à evasão. Aquilo que por vezes se discute que não deveria ser revelado são os mecanismos de controlo”, assumiu. “Agora a divulgação estatística não está relacionada com os mecanismos de controlo, divulga apenas a dimensão de uma realidade”.

Mas havia obrigação de publicação?

O despacho de 2010 de Sérgio Vasques, no qual o então secretário de Estado dos Assuntos Fiscais determinava que as estatísticas das transferências para offshores fossem publicadas, também marcou a discussão na audiência de Paulo Núncio. Enquanto o ex-secretário de Estado entende que o despacho não cria uma obrigação legal para a publicação, tendo decidido não divulgar os dados devido às suas dúvidas, Mariana Mortágua pressionou-o para que esclarecesse se acreditava que a Autoridade Tributária tinha “obrigação de publicar as estatísticas”.

Para sustentar a sua posição, a deputada bloquista leu o comunicado do próprio Paulo Núncio no dia 24 de fevereiro: “O despacho do meu antecessor [Sérgio Vasques] determina que a DGCI (atual AT) divulgue na sua página a informação relativa a transferências financeiras para paraísos fiscais”, afirmando que não precisaria de aprovar essa divulgação. Paulo Núncio desviou a questão, já que, disse, no seu comunicado se referia a uma situação “geral e abstrata” enquanto o caso se trata de uma questão “concreta e objetiva”. Assim, concluiu Núncio, “a Autoridade Tributária procedeu bem”.

Fernando Rocha Andrade, por sua vez, não hesitou quando lhe foi perguntado, perto do início da legislatura, se autorizava a publicação de estatísticas. “Simplesmente determinei que fosse seguido o despacho de Sérgio Vasques”, afirmou, e em abril de 2016 foram publicados os dados referentes às transferências entre 2010 e 2014.

Os ministros das Finanças sabiam da não publicação?

Paulo Núncio disse repetidamente que Vítor Gaspar e mais tarde Maria Luís Albuquerque não sabiam nem estavam envolvidos em nenhuma decisão relacionada com as estatísticas das transferências para offshores. “Admito que tenha tido conversas com os ministros das Finanças sobre as questões em geral, mas (…) esta matéria dos paraísos fiscais era uma matéria que eu acompanhava em particular”, afirmou Paulo Núncio, insistindo mais tarde, questionado se o Governo “estava a par”, que: “O Governo estava, eu era o responsável. (…) Eu é que tinha competência sobre a matéria”.

Paulo Núncio afirmou ter tido “dúvidas” que o fizeram decidir não publicar as estatísticas dos offshores.Paula Nunes/ECO

Mas não convenceu Eurico Brilhante Dias, deputado do Partido Socialista que trouxe a resposta a uma das questões colocadas pelo grupo parlamentar do PCP sobre o tema das estatísticas dos offshores, que vinha do gabinete do ministro Vítor Gaspar. Embora Paulo Núncio tenha respondido: “A resposta foi dada pelo meu gabinete e o chefe do gabinete do ministro apenas transmitiu a resposta aos serviços do Parlamento”.

Para perceber melhor a questão, Vítor Gaspar e Maria Luís Albuquerque já foram chamados pelo PS a esclarecer o caso no Parlamento.

Há ligação entre a não publicação das estatísticas e a não fiscalização dos dez mil milhões?

A divulgação do trabalho estatístico no Portal das Finanças não está relacionada nem influencia o trabalho de fiscalização da Autoridade Tributária, que continuava a tratar e analisar os dados internamente. Paulo Núncio fez questão de frisar repetidas vezes que os dois casos — o facto de as estatísticas não terem sido publicadas entre 2011 e 2016 e que entre 2011 e 2014 tenha havido dez mil milhões de euros em transferências para offshores que não foram analisados — não estão relacionados.

Sendo verdade que o trabalho de fiscalização é independente da divulgação estatística, vários deputados sublinharam uma questão: a publicação das estatísticas permite que os dados sejam escrutinados pelo público em geral, o que permite identificar erros com maior frequência. “A publicitação dá-nos sinais de alerta para podermos ir à procura”, afirmou Eurico Brilhante Dias. “Para agir é preciso ter informação”.

Como se descobriram os dez mil milhões que estavam escondidos?

O caminho que levaria à descoberta desta falha começou com a ordem para publicar as estatísticas dada por Rocha Andrade no início do seu mandato. Em abril de 2016 foram publicadas as estatísticas referentes às transferências realizadas entre 2010 e 2014. Já em julho de 2016, quando a Autoridade Tributária já dispunha de um novo software para tratar as declarações enviadas pelos bancos de transferências feitas para jurisdições consideradas paraísos fiscais, que são feitas através do Modelo 38, ficaram prontos os dados de 2015 e foram publicados. A surpresa? Eram mais do que 20 vezes superiores aos valores registados em 2014.

Em outubro, o secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Rocha Andrade, perguntou à Autoridade Tributária o que poderia estar por trás de uma discrepância tão grande entre os números de 2014 e os de 2015. Segundo Rocha Andrade contou na sua audição, foi aí que foi descoberto o problema: “Entre a pergunta e a resposta”, que chegaria a 8 de novembro de 2016.

O que se passara? O software que fora utilizado nos anos anteriores a 2016 e que servia para transferir os dados enviados pelo sistema financeiro para o sistema central da Autoridade Tributária, onde seriam fiscalizados, funcionara de forma incompleta em vinte declarações “cujos ficheiros estavam no Portal das Finanças, entregues e agregados. (…) Dentro de cada uma dessas declarações houve um conjunto de transferências que não foram transmitidas ao sistema central das Finanças”, contou Rocha Andrade. No total, eram 14.484 transferências, num valor próximo de dez mil milhões de euros, que não chegaram ao sistema central da AT, ou seja, não foram tratadas nem puderam ser objeto de inspeção.

Mas Azevedo Pereira não garantira que todas as transferências tinham sido fiscalizadas?

Sim. Ao ECO, o máximo responsável da Autoridade Tributária entre 2007 e julho de 2014 José Azevedo Pereira afirmou que “a Autoridade Tributária (AT) efetuou em devido tempo, quer o tratamento e o acompanhamento inspetivo que lhe competia, quer a preparação dos elementos necessários à efetiva divulgação pública dos elementos em causa”. Na Comissão de Finanças, a deputada do CDS-PP Cecília Meireles observou: “Ou isto é mentira, ou estes dez mil milhões de euros foram fiscalizados”.

Mas o secretário de Estado Rocha Andrade deu uma outra explicação. “Todas as transferências que eram conhecidas, ou seja, que estavam no sistema central, puderam ser objeto de inspeção”, reconheceu. Os dez mil milhões de euros ficaram ocultos, não tendo sido transferidos para o sistema central, pelo que não foram tratados. Azevedo Pereira não mentiu: “Falou sobre aquilo que conhecia”, afirma Rocha Andrade.

Afinal o que se passou com o software?

O software defeituoso estaria desatualizado há algum tempo e a sua substituição foi pedida pelo novo subdiretor da Autoridade Tributária para os sistemas de informação escolhido já pelo Governo PS, segundo explicou Rocha Andrade, tendo o novo software entrado em vigor em julho de 2016, na altura da publicação das estatísticas das transferências realizadas em 2015.

O secretário de Estado disse não ter indicação de que tenha havido intencionalidade.Paula Nunes / ECO

Mas nem todos acreditam que o problema fosse apenas informático. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores dos Impostos (STI), Paulo Ralha, afirma que a falta de controlo destas transferências resultou de ação humana. “Não houve problema no sistema informático. Houve problema com as pessoas que manejaram o sistema informático”, referiu, afirmando no entanto que falta apurar se “foi com dolo ou não”.

Houve mão política na não fiscalização dos dez mil milhões de euros?

Paulo Núncio afirmou, questionado pelos deputados, que nunca deu “nenhuma instrução relacionada com questões concretas de combate à fraude” nem sobre a questão dos dez mil milhões em concreto. “Nunca dei nenhuma instrução para a alteração de nenhum sistema informático que pudesse pôr em causa a ação da AT”, acrescentou, detalhando que nunca inferiu em nenhum processo nem teve consciência de discrepâncias durante o seu mandato.

Rocha Andrade pareceu concordar, afirmando: “Não tenho indicação de que tenha havido intencionalidade política ou de dirigentes técnicos no sentido de conduzir a este resultado”.

Estas transferências eram tributáveis?

Nem todas as transferências para offshores são tributáveis. Por exemplo, uma transferência comercial, em que uma empresa paga uma transação através da transferência do montante para um paraíso fiscal, não gera imposto. Paulo Núncio referiu que dos “dez mil milhões de euros, pode haver uma parte significativa desse valor que tenha a ver com pagamentos relativos ao comércio internacional”. Para o saber ao certo será preciso esperar pelo resultado de uma investigação ao caso que está a ser feita pela Inspeção-Geral das Finanças e que estará pronta, anunciou Rocha Andrade, em março.

Rocha Andrade já avançou alguns detalhes que podem dar pistas neste sentido. As transações que foram fiscalizadas entre 2011 e 2014, ou seja, as que não foram afetadas pela falha informática que deixou os dez mil milhões escondidos, eram 90% realizadas por empresas e 10% por pessoas singulares, e 18% eram pagamentos relativos a comércio. Mas as transações que ficaram escondidas podem ter um perfil bastante diferente. No volume total, em 2014, o valor que ficou oculto excedeu aquele que foi fiscalizado.

Será possível tributar impostos se se averiguar que são devidos nesses dez mil milhões?

Paulo Núncio insistiu que não há impostos perdidos neste caso, visto que o Governo PSD de Passos Coelho aprovou um alargamento da caducidade para a liquidação de impostos para 12 anos nas transferências para offshores. “A norma foi feita para ser o mais abrangente possível”, afirmou, sendo perentório que ainda será possível tributar estas transferências se se descobrir que há impostos devidos.

Rocha Andrade não é tão otimista, e olha para lá da caducidade quando fala na possibilidade de haver receita fiscal impossível de recuperar. “Não posso dar a garantia de que não haja impostos perdidos porque a questão é um pouco mais complexa do que o que tem sido relatado”, explicou Rocha Andrade. O direito à liquidação “não caducou, mas daí não posso extrair a conclusão de que a falta de controlo administrativo atempado não levou à perda de receita”, por duas razões que explicou.

A primeira é a de que os dados relativos a estas transferências também podem ser usados para despoletar investigações a atividades internas suspeitas e assim descobrir outras situações de fuga ao Fisco ou evasão fiscal que de outra forma passaria despercebida. A outra é “mais simples”: as pessoas coletivas extinguem-se ou mudam-se, e pode acontecer ser preciso fazer uma liquidação a uma pessoa coletiva que desde 2012 entretanto desapareceu. “Também aqui, sem prejuízo de continuar a haver direito à liquidação, pode não haver ninguém a quem liquidar o imposto”, afirma.

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Porque não se acaba com as offshores?

O ECO falou com fiscalistas para perceber se acabar com as 'offshores' pouco transparentes é viável e de que forma pode ser feito. Uma ação conjunta europeia ou global é improvável.

Mais do que uma questão nacional, este é um problema global. As offshores são um tema transversal aos quase 200 países que existem atualmente no mundo. Alguns desses Estados reconhecidos internacionalmente são a origem do problema servindo de refúgio para uma série de operações. Algumas são legais, muitas ilegais. Em Portugal, uma discrepância de dez mil milhões de euros nas estatísticas causada por um erro informático tornou-se num caso político. Mas muito milhares de milhões de euros multiplicam-se pelo mundo fora, parte sem rasto.

Primeiro é preciso distinguir dois casos. Existem regimes fiscais vantajosos em vários Estados, mas isso não significa que sejam paraísos fiscais onde a “legislação ou a prática administrativa não permita o acesso e troca de informações relevantes para efeitos fiscais”, tal como refere a Lei Geral Tributária. Ou seja, jurisdições onde existe falta de transparência e que, por isso, estão mais suscetíveis a serem utilizadas para fins ilícitos.

Caso diferente são os Estados onde existe um regime fiscal mais vantajoso, mas onde a informação é prestada e a tributação — ainda que reduzida — é feita. Poder-se-ia dizer que Portugal é, neste sentido, um paraíso fiscal para os pensionistas suecos, tal como apontou recentemente a ministra das Finanças da Suécia. Um argumento também válido para o Centro de Negócios da Madeira que apenas tributa 5% dos lucros, consoante certos critérios, ou para o IRC de 12,5% na Irlanda que já causou problemas na Apple.

É esta distinção que faz Patrick Dewerbe, da CMS Rui Pena & Arnaut, ao ECO: “Se por offshores se pretende referir as jurisdições que hoje em dia não implementaram quaisquer mecanismos de troca de informações e transparência relativamente à origem dos fundos e identificação dos beneficiários efetivos, então relativamente a essas, na base da sua utilização estarão apenas razões ilegítimas, não sendo defensável a sua existência”. Estes Estados são os que não implementam os mecanismos de transparência recomendados pela OCDE.

“Pelo contrário, se por offshores se pretende apenas referir jurisdições que tenham regimes fiscalmente mais favoráveis, entenda-se taxas reduzidas de tributação, a sua utilização, desde que acompanhada de motivações de natureza económica e empresarial e não apenas fiscal, constitui uma importante forma dos investidores estruturem os seus investimentos a nível mundial”, argumenta do sócio do departamento de fiscal da sociedade de advogados. Estas jurisdições estão, na sua opinião, no âmbito da “competitividade fiscal que deve ser encarada como uma vantagem dos países para captação de investimento”.

Até há relativamente pouco tempo é evidente que todos nós desconfiávamos que as operações com offshores traduzir-se-iam sempre em evasão fiscal. Atualmente tenho dúvidas.

Vasco Valdez

Ex-secretário de Estado dos Assuntos Fiscais

Podem ainda existir situações em que empresas ou pessoas singulares têm clientes ou fornecedores que estão sediados em offshores. Neste caso, “ao pagarem determinadas operações têm de o fazer através do domicílio”, explica Vasco Valdez, ex-secretário de Estado dos Assuntos Fiscais quando Manuela Ferreira Leite era ministra das Finanças, entre 2002 e 2004. “Até há relativamente pouco tempo é evidente que todos desconfiávamos que as operações com offshores traduzir-se-iam sempre em evasão fiscal. Atualmente tenho dúvidas“, afirma o fiscalista.

Porquê? Valdez apresenta duas razões. A primeira está relacionada com a taxa de juro baixa praticada a nível mundial, pelo que não seria vantajoso ter dinheiro nas offshores para beneficiar de um juro remuneratório maior. Além disso, a tributação posterior também seria penalizadora. Essas operações podem ser legais, reconhece, e “corresponder a questões reais” relativas às empresas, mas o fiscalista relembra que os “riscos reputacionais” afastam a utilização deste mecanismo.

Isto acontece, por exemplo, em heranças e bens familiares. Já no caso da otimização fiscal, isso já não se verifica, pelo menos nas offshores com regulação mais apertada dado que as empresas acabam por ter benefícios que não compensam as obrigações. Nomeadamente no relacionamento com os seus clientes, diz Vasco Valdez, referindo-se à jurisdição portuguesa, que acompanha na generalidade as boas práticas mundiais.

Patrick Dewerbe também é da opinião que atualmente já está em andamento a extinção de offshores onde os mecanismos de troca de informações não existe. Porquê? “Aqueles que se recusem a implementar os mecanismos recomendados pela OCDE terão tendência a acabar, pois a sua utilização é cada mais sancionada por todas jurisdições“, esclarece o especialista. O especialista argumenta que existem medidas aplicadas “com sucesso” relativamente à origem dos fundos e identificação dos beneficiários efetivos, citado a FATCA, CRS e BEPS.

A questão, no entanto, está longe de ser simples. Mesmo entre especialistas o problema revela ter várias nuances, nomeadamente para as grandes empresas ou particulares com maior riqueza capazes de utilizar estratégias fiscais ilegais que fiquem fora do radar das máquinas fiscalizadoras dos Estados. É o caso da triangulação.

Problema está na falta de ação conjunta

Apesar de existirem acordos de troca de informação, há quem duvide da sua eficácia. Além disso, os protocolos nem sempre são cumpridos por todas as partes, revelando o conflito de interesses económicos e políticos de cada país. Mesmo com as guidelines da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico e a ação de alguns Governos por causa da crise financeira de 2008, ainda existe muito por fazer para apertar o cerco a operações ilícitas, tal como mostraram, no ano passado, escândalos de evasão fiscal como os Panama Papers, os Bahama Papers ou os Football Leaks.

Os especialistas contactados pelo ECO são unânimes em referir que só com troca de informação generalizada entre as principais economias e uma ação conjunta entre a União Europeia e os Estados Unidos é que o problema se resolve. É crucial saber o destino do dinheiro que circula para offshores, percebendo assim se esse Estado é opaco no tratamento da informação ou se tem transparência nos seus procedimentos administrativos.

Qualquer tipo de offshores pura e simplesmente deviam desaparecer.

Vasco Valdez

Ex-secretário de Estado dos Assuntos Fiscais

“Qualquer tipo de offshores pura e simplesmente deviam desaparecer”, afirma Vasco Valdez. “Não é por uma questão de natureza fiscal — pode ser — mas pela opacidade que está aí presente. Esse dinheiro que vai para a droga, o terrorismo, o tráfico de pessoas, passa por offshores. Não passa por uma conta aberta num banco nosso”, justifica. Mas para isso acontece devia haver um “boicote ativo” dos Estados. Mas será que esse é o objetivo dos Governos? “Para alguns será, mas para outros não”, responde o ex-secretário de Estado dos Assuntos Fiscais.

Não será, por isso, Portugal sozinho a conseguir mudar. “Nem a União Europeia”, acrescenta Vasco Valdez, referindo a necessidade dos Estados Unidos se envolverem, assim como a China, a América Latina… “Em suma, algo concertado a nível mundial”, defende. Até porque uma solução isolada teria o risco de prejudicar a economia de quem utiliza esses instrumentos, ainda com o valor ético e moral do seu lado. “É esta a grande desculpa enquanto não houver uma contestação de todos os Estados contra as offshores“, admite o especialista.

Ainda assim, o ex-responsável pelos Assuntos Fiscais de Portugal reconhece que “houve um esforço enorme na OCDE” e também nos Estados Unidos, que “são intervenientes nisto tudo”, para que os dinheiros ilícitos fiquem fora das offshores. Contudo, admite também que não sabe se é fácil fazer isto integralmente. “Tem de haver uma vontade muito firme para acabar com isto”, diz, argumentando que não tem a ver com problemas político-filosóficos, mas sim com os interesses instalados, principalmente nos países onde não existe transparência e os dinheiros públicos são usados para fins privados.

As offshores eram aqueles escapes do sistema, como existem aquelas fugas nas placas tectónicas, para evitar males maiores.

Manuel Faustino

Fiscalista

“As offshores eram aqueles escapes do sistema, como existem aquelas fugas nas placas tectónicas, para evitar males maiores”. A frase é de um profissional do Fisco espanhol (um dos mais reconhecidos a nível internacional), dita num curso de fiscalidade e direito internacional. Quem a relembra ao ECO é Manuel Faustino, o pai do sistema do IRS em Portugal, referindo que “as offshores são legais”. “Se se declarar tudo o que lá se faz, do ponto de vista fiscal, não há problema rigorosamente nenhum“, afirma.

Enquanto fiscalista, o professor está preocupado em saber se os factos tributários que ocorrem nos paraísos fiscais são devidamente tributados. “Se o forem, em termos fiscais, não há nada contra as offshores. Enquanto fiscalista coloco-me nessa perspetiva”, explica Manuel Faustino. E, por isso, não vê razões para acabar com as offshores. “Do ponto de vista de outras finalidades, isso aí não nos cabe a nós fiscalistas pronunciar”, justifica, reconhecendo, no entanto, que “existe hipocrisia política em relação às offshores“.

A razão reside no conflito de interesses a vários níveis, nomeadamente dentro da União Europeia. O especialista deixa um questão: “Alguém vai transferir dinheiro para um paraíso fiscal sabendo que vai ser reportado às autoridades fiscais quando sabe que pode, para o mesmo efeito, transferir para a Suíça e depois para o paraíso fiscal e já não é reportado diretamente às autoridades fiscais?” Esta possibilidade de triangulação pode ser feita “por qualquer um”, avisa.

Ou seja, “se for para transferir algo sobre o qual existem telhados de vidro, não o vão fazer aqui através de bancos portugueses a não ser que sejam ceguinhos“, explica o fiscalista. Isto ocorre porque existe livre circulação de capitais na União Europeia, podendo assim o cidadão ou empresa transferir para o montante outro país da UE. Assim, terá “muito menos riscos”, diz. Porquê? Segundo Manuel Faustino, as normas de reporte fiscal “não existem em muitos lados, não é uma norma generalizada”. Contudo, reconhece também que a questão da “falta de transparência está cada vez mais posta em causa”.

Ainda assim, Faustino não está otimista em relação a um futuro acordo entre os países para acabar de vez com as offshores onde a transparência não existe. “A UE fará o que as multinacionais querem que ela faça. Não espero grandes coisas para este peditório”, confessa ao ECO. Em causa estão os interesses divergentes da União Europeia, o que a levará a “fechar-se em copas”. Além disso, mesmo quando são alcançados progressos, o fiscalista diz que residem “grandes dúvidas” nos meandro: “Quando vemos os pormenores sabemos que não é tudo igual em todo o lado”.

Existem dúvidas sobre a eficácia da troca de informação

Primeiro, é preciso existir uma suspeita. E, daí, um pedido de informação. “Hoje há de facto mecanismos que já dificultam muito a utilização das offshores, mas não sou muito crente que isto esteja muito melhor do que está“, confessa Vasco Valdez, perspetivando que a “tendência será outra vez reforçar as offshores por causa dos Estados Unidos”. Ou seja, de Donald Trump e as suas políticas económicas e fiscais de desregulação.

Mas Valdez vai mais longe na desconfiança. Em causa estão os acordos celebrados entre offshores e os países para que exista maior transparência e a troca de informação. “Tenho algumas dúvidas da grande transparência que exista relativa a todas as offshores“, indica, incluindo “mesmo as offshores que celebraram protocolo com os países da OCDE para trocar informações“.” Será que trocam mesmo?”, questiona. “Não tenho conhecimento suficiente para lhe poder dizer se essa prática já está tão rotinada… Se assim for desaparece completamente o interesse nas offshores“, argumenta.

E o que está fora do radar do Fisco?

Estas questões têm sido suscitadas frequentemente desde que a globalização avançou a todo o gás, mas um especialista na área refere ao ECO que sem os Estados Unidos, a maior economia do mundo, nada é feito. Ou se é, não tem eficácia. A questão crítica são outras transações que não passam por Portugal e dizem respeito ao país, como o exemplo já dado neste texto da triangulação.

Um especialista na área dá outro exemplo ao ECO: uma empresa com cinco mil euros de capital social e com ativos no valor de um milhão pode ser adquirida por alguém pagando os cinco mil euros em Portugal e depois um milhão através de uma offshore. Assim, esse montante foge ao imposto e nem sequer toca na jurisdição portuguesa.

Este é o tipo de situações que não consta sequer das estatísticas e que é de difícil identificação. Os sistemas informáticos — apesar de terem, segundo o atual secretário de Estado, Rocha Andrade, falhado nesta ocasião — estão gradualmente a ganhar sofisticação, mas ainda há um longo caminho a fazer. Uma fiscalização mais eficaz passará por modelos mais avançados de inspeção, prevenindo assim casos de evasão fiscal mais complexos. O mesmo especialista diz, no entanto, que Portugal é um caso de sucesso e que já existe um controlo rígido.

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Governo trabalha com Banco de Portugal “de forma leal e construtiva”

  • Lusa
  • 3 Março 2017

António Costa diz que o Governo tem trabalhado com o governador do Banco de Portugal "de forma leal e construtiva".

O primeiro-ministro, António Costa, afirmou hoje que o Governo tem trabalhado com o governador do Banco de Portugal “de forma leal e construtiva”, recusando-se a comentar atuação do regulador no dossiê que culminou com a resolução do BES.

“Aquilo que compete ao Governo atual é trabalhar com o senhor governador do Banco de Portugal, como trabalhar com todas as instituições, de uma forma leal e construtiva, como temos feito”, declarou o chefe do Executivo, em declarações aos jornalistas.

Questionado a propósito das peças jornalísticas que o canal de televisão SIC tem transmitido nos últimos dias sobre a atuação do governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, nos anos que antecederam a resolução do Banco Espírito Santo (BES), António Costa afirmou: “Não vou estar a comentar reportagens televisivas”.

Falando hoje em Fafe à margem da cerimónia de inauguração do novo quartel da GNR, o primeiro-ministro recordou que Carlos Costa foi nomeado pelo Governo anterior, frisando que o governador do Banco de Portugal tem “um estatuto próprio de inamovibilidade e sujeito à fiscalização própria do sistema de supervisão europeu”.

À pergunta se há no Governo algum desconforto com Carlos Costa, a propósito de declarações que António Costa fez sobre o tema aquando da nomeação do governador do Banco de Portugal, o chefe do Executivo respondeu: “Essa referência foi feita na minha qualidade de secretário-geral do PS e aquando da nomeação. Essa posição é conhecida, ninguém esqueceu o que foi dito na altura”.

Sobre a mesma matéria, o primeiro-ministro assinalou que o “Estado tem regras institucionais para funcionar” e que o “Governo trabalha com quem está em funções, seja a senhora procuradora-geral da República, seja o governador do Banco de Portugal, seja o presidente da Entidade Reguladora da Comunicação Social, seja a presidente da ANACOM, seja o presidente de qualquer outra entidade reguladora”.

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Reabilitação urbana: CEB garante 80 milhões

O Banco de Desenvolvimento do Conselho da Europa concedeu um empréstimo de 80 milhões de euros para operacionalizar o Instrumento Financeiro para a Reabilitação e a Revitalização Urbanas.

O Estado Adjunto e do Ambiente, José Gomes Mendes, e o secretário de Estado do Tesouro, Álvaro Novo, e o governador do Banco de Desenvolvimento do Conselho da Europa, Rolf Wenzel.

Depois do Banco Europeu de Investimento agora é a vez do Banco do Conselho da Europa assinar um empréstimo quadro com o Estado português para ajudar a executar o Portugal 2020. Os moldes são os mesmos, mas o montante é inferior e já tem um alvo específico: a reabilitação urbana.

Em causa estão 80 milhões de euros do Banco de Desenvolvimento do Conselho da Europa (CEB) que serão disponibilizados ao Instrumento Financeiro para a Reabilitação e a Revitalização Urbanas (IFRRU 2020).

“Este empréstimo-quadro irá contribuir para uma rápida, eficiente e integral utilização em Portugal dos fundos europeus, permitindo apoiar o aumento da competitividade e da internacionalização da economia portuguesa e, simultaneamente, promover a melhoria do ambiente urbano”, explica o Ministério das Finanças em comunicado enviado às redações.

Este empréstimo, à semelhança do que foi feito com o BEI, primeiro no âmbito do QREN e depois já para o Portugal 2020, permite que o fundo tenha um maior poder de alavancagem. O modelo é o mesmo seguido no programa Jessica, também destinado à reabilitação urbana, mas que deixava os privados de fora (exceto fundos de investimento).

Quando o IFFRU foi criado já se sabia à partida que os 700 milhões de euros, eram assegurados por quatro entidades:

  • 102.720.159 de euros de FEEI;
  • 500.000.000 de euros de empréstimos do Banco Europeu de Investimentos, assegurados pela Direção-Geral do Tesouro e Finanças ao IFFRU 2020;
  • 80.000.000 de euros de empréstimos do Banco de Desenvolvimento do Conselho da Europa, também assegurados pela Direção-Geral do Tesouro e Finanças;
  • E 20.512.163 de euros, a título de contrapartida pública nacional dos financiamentos dos FEEI.

Os 700 milhões serão distribuídos por tranches, ao longo dos próximos sete anos, até 2023. A maior fatia, de 141,7 milhões de euros, será entregue logo de 2017. Em causa estão projetos de reabilitação e revitalização urbana, incluindo uma componente de aumento da eficiência energética da habitação para particulares.

Recorde-se que a Estrutura de Gestão do Instrumento Financeiro para o IFRRU 2020 já lançou o concurso público internacional para a seleção dos instrumentos financeiros e das respetivas entidades gestoras. Um concurso que decorre até 13 de março.

Este empréstimo quadro foi assinado entre o secretário de Estado do Tesouro, Álvaro Novo, e o governador do Banco de Desenvolvimento do Conselho da Europa (CEB), Rolf Wenzel. “A concretização deste investimento evidencia a prioridade do Governo na captação dos apoios disponíveis para incentivar o investimento público e privado, promovendo a regeneração e a revitalização física, económica e social de zonas urbanas por todo o território nacional”, acrescenta o mesmo comunicado das Finanças.

Recorde-se que Portugal foi o primeiro país a estrear esta modalidade de acordos quadro com bancos de desenvolvimento para ajudar a executar os fundos comunitários. O primeiro foi feito com o BEI, na altura em que Carlos Costa era o vice-presidente da instituição, e visava garantir a existência de uma verba para fazer face à contrapartida nacional na utilização das verbas comunitárias. Ou seja, como os fundos, salvo raras exceções, apenas financiam uma parte do investimento, a outra tem de ser assegurada pelo promotor (público ou privado).

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Portugal emite dívida a três e nove anos

O Tesouro português regressa aos mercados na próxima semana. Quer levantar até 1.250 milhões de euros em títulos de longo prazo, numa altura em que juros estabilizaram.

Portugal estará de novo no mercado de dívida na próxima semana. O Tesouro conta emitir até 1.250 mil milhões de euros em obrigações a três e nove anos na próxima quarta-feira. E isto numa altura em que os juros parecem ter travado a escalada que protagonizaram no início do ano.

Em vista estão duas linhas com maturidade em 2020 e 2026, adiantou esta sexta-feira o IGCP, que pretende obter na operação um montante entre 1.000 milhões e 1.250 milhões de euros com estes títulos.

Esta operação é anunciada numa altura de relativa acalmia nos mercados secundários de dívida, depois de um início de ano bastante turbulento e que afetou de forma particular Portugal e condicionou o acesso ao financiamento primário.

Fatores como a menor disponibilidade de dívida portuguesa ao alcance do programa de compras do Banco Central Europeu (BCE), alta da inflação e risco específicos do país contribuíram para criar um cenário de aversão ao risco no mercado nacional ao longo das primeiras semanas do ano e atirar os juros a 10 anos para níveis acima de 4%.

Foi neste cenário de pessimismo que, na última operação de longo prazo de Portugal, o resultado do leilão se cifrou num agravamento acentuado dos custos de financiamento para a República quando a agência liderada por Cristina Casalinho vendeu no início de fevereiro 1.180 milhões de euros em obrigações a cinco e sete anos. Na emissão a sete anos, de resto, a taxa paga foi sensivelmente o dobro daquela que havia conseguido apenas oito meses antes.

Neste momento, o clima de tensão parece, no entanto, estar ultrapassado. A yield implícita nas obrigações a 10 anos segue estável ligeiramente abaixo de 4%.

(Notícia atualizada às 13h31)

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Dívida: CGD na “estrada” à procura de grandes fundos

  • Rita Atalaia
  • 3 Março 2017

O banco já está na "estrada" à procura de investidores para a sua dívida subordinada. Mas esta emissão não é para todos. A CGD garante que não venderá a particulares ou empresas.

A Caixa Geral de Depósitos (CGD) já deu início ao road show para vender a dívida subordinada que vai emitir, no âmbito do processo de recapitalização aprovado por Bruxelas. Em causa está a emissão de títulos de dívida de elevada subordinação no valor de 500 milhões, operação que deverá ocorrer no final de março ou início de abril. Mas esta emissão não é para todos. O banco público esclarece que é dirigida exclusivamente a grandes investidores. De fora ficam os clientes particulares ou empresas.

A CGD está a preparar uma emissão de dívida subordinada AT1 (additional tier 1). Ou seja, que conta para o capital do banco. Em causa estão 500 milhões de euros de dívida de elevado risco, com taxas de juro que devem rondar os 8% a 10%.

"Pelas suas características de subordinação e tratando-se de dívida perpétua, esta emissão é dirigida exclusivamente a investidores institucionais, nomeadamente fundos de investimento e hedge funds, fundos de pensões e seguradoras”

Caixa Geral de Depósitos

Mas, pelas suas características, esta emissão não é para todos os investidores. Apenas para os institucionais. “Pelas suas características de subordinação e tratando-se de dívida perpétua, esta emissão é dirigida exclusivamente a investidores institucionais, nomeadamente fundos de investimento e hedge funds, fundos de pensões e seguradoras“, esclarece a Caixa num comunicado enviado às redações.

Por isso, “não haverá colocação desta emissão junto de clientes particulares ou empresas, bem como junto de entidades públicas, nos termos do acordo com a DG Comp”, explica o banco do Estado.

Contactado pelo ECO, um analista do setor já tinha explicado que os investidores que compram este tipo de dívida são normalmente fundos, muitos deles especializados neste tipo de produtos financeiros. Um apetite que tem sido crescente, levando a que a generalidade das obrigações já colocadas pelos bancos europeus estejam a valorizar.

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Portugal à distância de um clique? Recuou um pouco

  • Lusa
  • 3 Março 2017

Portugal melhorou a sua pontuação no índice de Digitalidade da Economia em todas as categorias, com exceção da administração pública 'online'. Dinamarca, Finlândia e Suécia são os melhores.

Portugal recuou para o 15º lugar do ranking europeu no domínio digital, apesar de ter progredido em diversas áreas, revela um estudo da Comissão Europeia, que aponta como grande desafio do país melhorar as competências digitais da população.

O “Índice de Digitalidade da Economia e da Sociedade” de 2017, hoje apresentado em Bruxelas, revela que Portugal obtém uma classificação global de 0,53 pontos (numa escala de 0 a 1), ligeiramente superior àquela obtida na tabela de 2016 (0,51) – e à média da UE, de 0,52 -, o que não impediu o país de cair um lugar na classificação, de 14º para 15º, trocando de posições com Espanha.

De acordo com o relatório de 2017, Portugal “melhorou a sua pontuação no índice em todas as categorias, com exceção dos serviços públicos digitais” (administração pública ‘online’), um dos cinco elementos considerados na elaboração da classificação, juntamente com conectividade, capital humano, utilização da internet e integração das tecnologias digitais.

Segundo a Comissão Europeia, Portugal continua entre os países com melhor pontuação na área dos serviços públicos digitais (é 10º entre os 28 Estados-membros), “mas o desempenho do país agravou-se relativamente ao ano anterior, sobretudo devido à fraca prestação nos domínios dos dados previamente preenchidos em formulários em linha e da utilização de dados abertos”.

"O desempenho do país agravou-se relativamente ao ano anterior, sobretudo devido à fraca prestação nos domínios dos dados previamente preenchidos em formulários em linha e da utilização de dados abertos.”

Comissão Europeia

Índice de Digitalidade da Economia e da Sociedade de 2017

No entanto, Portugal progrediu nos restantes quatro indicadores, designadamente na conectividade, pois “os níveis de utilização de serviços de banda larga fixa e móvel aumentaram significativamente em 2016”, registando-se também progressos a nível de número de assinaturas de banda larga rápida e à cobertura de NGA (redes de acesso da nova geração), “na qual Portugal é um dos líderes europeus”, aponta o relatório.

Outra área na qual Portugal realizou progressos no último ano foi a da integração das tecnologias digitais por parte das empresas portuguesas, que “apresentaram elevadas taxas de utilização da tecnologia RFID (identificação por radiofrequência), tendo também a utilização das redes sociais e da faturação eletrónica registado “um aumento significativo” em 2016.

No entanto, “nem a percentagem de Pequenas e Médias Empresas com lojas em linha, nem o volume de negócios eletrónicos das PME registaram qualquer evolução”, observa o executivo comunitário.

Segundo o relatório anual sobre digitalidade na UE, o maior desafio de Portugal é no domínio do capital humano, pois “a percentagem de cidadãos portugueses que utilizam a internet aumentou em relação ao ano anterior, mas continua a ser bastante inferior à média da UE”: Portugal encontra-se em 20º lugar nesta área específica.

"A percentagem de cidadãos portugueses que utilizam a internet aumentou em relação ao ano anterior, mas continua a ser bastante inferior à média da UE.”

Comissão Europeia

Índice de Digitalidade da Economia e da Sociedade de 2017

“Esta é uma área em que ainda existe margem para melhorias, pois não se verificaram progressos” no último ano, refere o relatório, apontando que, por outro lado, “continua a haver grande relutância em fazer compras em linha ou em utilizar serviços bancários através da internet”.

A nível geral, os três países europeus com melhor desempenho no domínio digital continuam a ser, pela mesma ordem, Dinamarca, Finlândia e Suécia, que ocupam também o pódio a nível mundial, à frente de Coreia do Sul, Japão e Estados Unidos.

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PSD acusa PS de estar a brincar com o Parlamento

  • Lusa
  • 3 Março 2017

O PSD acusou hoje o PS de "brincar" com o Parlamento ao tentar proibir a utilização da troca de correspondência entre o ministro das Finanças e o ex-presidente da Caixa Geral de Depósitos.

O PSD acusou hoje o PS de “brincar” com o Parlamento ao tentar proibir a utilização da troca de correspondência entre o ministro das Finanças e o ex-presidente da Caixa Geral de Depósitos (CGD) António Domingues.

Esta posição foi assumida pelo vice-presidente da bancada social-democrata Hugo Soares, depois de o PS ter defendido a tese de que a troca de correspondência entre o ministro Mário Centeno e António Domingues pode ser consultada por todos os deputados dos grupos parlamentares representados na comissão de inquérito, embora esteja fora do objeto dos trabalhos. Ou seja, para o PS, essa troca de correspondência pode ser consultada pelos deputados, mas não pode ser divulgada publicamente e utilizada politicamente.

"A CGD é um tema demasiado sério para ser sujeito às brincadeiras do PS. Por parte do PSD, não há qualquer dúvida de que os documentos fazem parte do espólio da comissão parlamentar de inquérito”

Hugo Soares

vice-presidente da bancada social-democrata

“A CGD é um tema demasiado sério para ser sujeito às brincadeiras do PS. Por parte do PSD, não há qualquer dúvida de que os documentos fazem parte do espólio da comissão parlamentar de inquérito”, contrapôs o vice-presidente da bancada social-democrata. De acordo com Hugo Soares, o que se passou na quinta-feira na reunião da comissão parlamentar de inquérito sobre a CGD foi “claro e cristalino”.

“Foi não só aprovada a admissibilidade dos documentos enviados por António Domingues, como também a sua distribuição por todos os deputados que compõem a comissão”, sustentou. Para o vice-presidente da bancada do PSD, neste passo, no âmbito da comissão parlamentar de inquérito sobre a CGD, o PS “foi provavelmente apanhado de surpresa”, depois de “uma maldade que o PCP quis fazer a Mário Centeno e aos socialistas”.

“Talvez se esteja perante uma pequena vingança dentro da geringonça [partidos que suportam o atual Governo], mas isso é um problema entre eles”, frisou Hugo Soares. Ainda para refutar a posição dos socialistas, o dirigente do grupo parlamentar do PSD salientou que “não há documentos distribuídos numa comissão de inquérito sem serem admitidos”. “É assim em qualquer lado do mundo”, acrescentou.

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Desemprego: subsídios anulados atingem valor mais baixo

  • Cristina Oliveira da Silva
  • 3 Março 2017

Menos desempregados inscritos, menos subsídios anulados. 2016 marcou o número mais baixo de anulações desde a entrada em vigor do regime jurídico do subsídio de desemprego mas a taxa continuou nos 2%.

Num ano de queda do desemprego, caiu também o número de subsídios anulados por incumprimento de deveres e, em consequência, o número de recursos e de prestações repostas. As anulações atingiram o valor mais baixo desde 2007, quando entrou em vigor o atual regime jurídico das prestações de desemprego. No final do ano passado, um dos deveres foi eliminado mas, para já, “ainda não são claras as repercussões”, diz a Comissão de Recursos que funciona junto do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP).

Em 2016, foram anulados 3.372 subsídios de desemprego, menos 19% face a 2015, a beneficiários que não cumpriram os deveres previstos legalmente e que, por isso, viram cancelada sua inscrição no centro de emprego. Isto acontece num cenário em que o próprio universo de desempregados registados é também mais reduzido. Só no caso de beneficiários com subsídio, a quebra foi de 8%, para uma média de 194 mil no final dos meses.

“Assim, em termos absolutos, o número de anulações efetuadas pelos serviços de emprego é o mais baixo desde a entrada em vigor do atual regime jurídico do subsídio de desemprego (janeiro de 2007)”, indica o relatório da Comissão de Recursos a que o ECO teve acesso. Ainda assim, a “a taxa de anulação de desempregados subsidiados manteve-se nos 2%”, patamar em que se fixa desde 2012.

Quando os desempregados veem anulado o seu subsídio de desemprego — na sequência de incumprimento de deveres específicos — podem recorrer à Comissão liderada por Cristina Rodrigues. Num primeiro nível, foram apresentados 349 recursos, menos 27% comparando com 2015. Em 104 casos, a Comissão deu razão ao desempregado, através de deferimentos (27) ou de pedido de intervenção ao centro de emprego (77). Ainda há nove recursos sem decisão, tendo os restantes sido indeferidos ou arquivados.

Quando a resposta não é positiva, os desempregados podem recorrer a um segundo nível: aqui deram entrada 32 recursos (menos 42%), dez com resposta favorável e um ainda sem decisão. “A deliberação favorável da Comissão de Recursos, em segundo nível, contrariando a decisão anterior de um vice-coordenador, corresponde normalmente à entrada de documentação complementar que não fora possível entregar anteriormente“, explica o relatório.

A taxa de recursos — 10% no primeiro nível e 9% no segundo — mantém-se “no mesmo patamar desde que existe a Comissão”. Este valor “pouco elevado” pode corresponder a duas situações. “Por um lado, o deficiente nível de literacia de muitos dos beneficiários do subsídio de desemprego, para quem apresentar um recurso é complexo. Por outro lado, pode significar a aceitação do corte de subsídio, por efetivamente existir um comportamento suscetível de penalização”, diz o relatório.

Quais os motivos das anulações?

A falta de comparência a convocatórias do centro de emprego é o principal motivo que leva à anulação do subsídio de desemprego (58%), seguindo-se o incumprimento do dever de apresentação quinzenal (23%). Porém, esta última obrigação foi eliminada em outubro do ano passado: “Tendo a lei entrado em vigor no início de outubro, ainda não são claras as suas repercussões na dinâmica dos serviços de emprego, em particular no que toca ao controlo das obrigações por parte dos desempregados subsidiados“, salienta o relatório.

E por isso, a Comissão está expectante com os resultados no futuro: “Estamos expectantes relativamente às repercussões das alterações à lei do subsídio de desemprego, em vigor desde o início de outubro, na dinâmica dos serviços de emprego na sua relação com os desempregados subsidiados, e com o controlo das suas obrigações.”

E que motivos alegam os desempregados quando apresentam recursos num primeiro nível? Sobretudo problemas de correspondência (42%) seguindo-se motivos de doença (19%), assistência a familiar (6%) e atraso ou esquecimento (6%).

“Em grande medida os recursos têm por base problemas na distribuição postal. Da nossa experiência, existem de facto questões graves na entrega de correspondência por parte dos CTT. Reiteramos a necessidade de se providenciar a possibilidade de comunicação eletrónica com os beneficiários que sejam utilizadores de meios informáticos, comunicação que seria mais célere e mais segura”, recomenda a Comissão.

O relatório acrescenta ainda que a “articulação do IEFP com a Segurança Social continua a apresentar dificuldades” e por isso a Comissão entende “que, promovendo a modernização administrativa, se deverá investir na comunicabilidade entre sistemas, de forma a não penalizar os beneficiários”.

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