10 momentos que marcaram de Fernando Ulrich à frente do BPI

Depois de 13 anos, o presidente do BPI está de saída. Para o seu lugar entra hoje Pablo Forero, diretor-geral do CaixaBank. Seguem-se os dez momentos de Fernando Ulrich à frente do banco português.

Desde “se os sem-abrigo aguentam, porque é que nós não aguentamos?”, até “o dia em que batermos na parede não está muito longe”, muitas foram as frases polémicas ditas por Fernando Ulrich desde que está à frente do BPI. São, ao todo, 13 anos de liderança que acabam agora com a entrada do diretor-geral do CaixaBank, que se vai sentar no lugar do presidente-executivo. Pablo Forero Calderón, só Pablo Forero na esfera profissional, está no banco catalão desde 2009. Agora, e na sequência da oferta pública de aquisição (OPA) lançada pelo CaixaBank ao BPI, assumirá o cargo mais alto numa instituição bancária. Conheça dez dos momentos mais marcantes de Ulrich à frente do banco português.

10 momentos de Fernando Ulrich no BPI

  • “O país aguenta mais austeridade?… ai aguenta, aguenta!”

Foi em 2012 que o presidente executivo do BPI afirmou que o país teria de aguentar mais austeridade. Fernando Ulrich referiu, na conferência III Fórum Fiscalidade Orçamento de Estado 2013, que estava chocado como havia “tanta gente tão empenhada, normalmente com ignorância com o que está dizer ou das consequências das recomendações que faz, a querer nos empurrar para a situação da Grécia”.

Pouco tempo depois, Ulrich voltou a fazer outra declaração polémica. “Se andar aí na rua e infelizmente encontramos pessoas que são sem-abrigo, isso não lhe pode acontecer a si ou a mim, porquê? Isso também nos pode acontecer”, dizia então o presidente executivo do BPI. “Se as pessoas que vemos ali na rua, naquela situação a sofrer tanto aguentam, porque é que nós não aguentamos?”, questionou.

Declarações que levaram o deputado do PS João Galamba a exigir um pedido de desculpa do presidente… que nunca chegou. Fernando Ulrich disse apenas que tinha feito “afirmações absolutamente banais”.

  • “O dia em que batermos na parede não está muito longe. Talvez por semanas”

A frase foi dita por Fernando Ulrich em 2010. O presidente do BPI afirmou que bater na parede significava, por exemplo, a intervenção do FMI. “Lamento mas o país tem que saber”, disse o gestor. “Tirem já o C do PEC, o c é para esquecer”, pedia Ulrich, acrescentando que “o principal problema de Portugal não é apenas de tesouraria, mas sim o facto de não nos conseguirmos financiar”. E rematou: “Ou se discute a sério a economia portuguesa e o seu sistema financeiro, ou teremos graves problemas de futuro”.

  • Contribuintes é que pagaram a banca? “É mentira”

Afinal quem é que pagou os problemas da banca? Fernando Ulrich negou que tenham sido os contribuintes. O presidente do BPI disse estar preocupado com as notícias na comunicação social — nomeadamente declarações de comentadores — que estariam a passar mensagem de que os contribuintes é que têm pago os problemas na banca. “É mentira”, disse Ulrich.

Os números “mostram que quem fez um grande esforço e teve perdas gigantescas foram os acionistas dos bancos” e revelam que “os vários governos protegeram muito bem os contribuintes”, realçou.

  • “Projeto [do banco mau] não interessa ao BPI”

O Governo de António Costa tem estado a estudar um veículo para limpar o malparado dos bancos portugueses. Mas esta solução “não interessa ao BPI”, salientou Fernando Ulrich. “Não conheço o projeto para o banco mau. Tenho dificuldade em pronunciar-me (…) Isso é para ativos que não estão corretamente provisionados”, avaliou o presidente do banco português.

  • “Tinha mais graça enfrentar o Dr. Salgado quando achavam que era dono disto tudo”

A queda do Banco Espírito Santo (BES) levou o antigo presidente Ricardo Salgado a ser condenado pelo Banco de Portugal a pagar uma multa de quatro milhões de euros. Isto além de ficar inibido de exercer qualquer cargo ou atividade no setor financeiros nos próximos dez anos. Mas Fernando Ulrich não quis falar sobre isto. O presidente do BPI disse apenas que “tinha mais graça ter alguns confrontos com o Dr. Ricardo Salgado quando vocês [jornalistas] achavam que ele era dono disto tudo”.

Na altura, referiu também que “estar a fazer comentários sobre uma pessoa que foi líder do BES e numa altura que, com certeza, é um período difícil, não me acrescenta nada. Gosto de enfrentar as pessoas quando estão na mó de cima”.

  • “Eu preferia a solução do Partido Comunista que era a nacionalização [do BES]”

O presidente do BPI defende que o BES deveria ter sido nacionalizado quando foi resgatado. Esta seria, segundo Ulrich, a via mais segura para a banca nacional por não implicar riscos de prejuízos. “Agora vou ser muito egoísta e puxar só a brasa aos interesses que eu defendo”, disse. “Eu preferia a solução do Partido Comunista que era a nacionalização do banco [BES], essa tinha sido melhor para nós”, rematou.

Na altura, o gestor referiu que a possibilidade de o futuro comprador do Novo Banco ficar sob risco de ter de enfrentar vários processos em tribunal decorrentes do resgate do BES poderia afastar potenciais interessados. Quase três anos, o banco de transição foi vendido ao fundo norte-americano Lone Star.

  • “Há pessoas que são sérias e pessoas que não são sérias”

No ano passado, o presidente do BPI deixou claro: “não me venham com a conversa do sistema”. Ulrich disse que “quem fala do sistema andava a tentar esconder-se atrás de uma média que, hoje sabemos, escondia coisas horrorosas. Eu não sou parte do sistema, o BPI não é parte do sistema e nós também temos as nossas responsabilidades mas também fazemos as coisas bem feitas”, frisou. Por isso, defendeu: “Há bancos bons e bancos maus, pessoas que são sérias e pessoas que não são sérias”.

  • “Aposto praticamente 100% que [António Domingues] vai ser convidado para presidente da Caixa Geral de Depósitos”

Fernando Ulrich soube exatamente quando é que António Domingues foi desafiado a liderar a Caixa Geral de Depósitos. “Um dia, a secretária ou gabinete do Sr. ministro das Finanças ligou para falar com ele [António Domingues]. Era ao fim do dia e não estava. E a secretária dele também não. Ligaram para a minha [Fernando Ulrich] e pediram para falar com ele”.

No dia seguinte, contou o presidente executivo do BPI, “conversei com ele e ele foi conversar com o ministro nessa tarde. Quando conversámos eu disse: ‘aposto praticamente a 100% que vai ser convidado para presidente da CGD'”.

  • “Enviei uma carta ao sr. governador do Banco de Portugal, na qual reponho a verdade dos factos”

O presidente do conselho de administração do BPI, Fernando Ulrich, enviou uma carta ao governador do Banco de Portugal para repor “a verdade dos factos” sobre os alertas que fez, em 2013, em relação ao Grupo Espírito Santo. Numa entrevista ao jornal Público, Carlos Costa desvalorizou o papel de Fernando Ulrich nas chamadas de atenção para o problema do GES. Reconhece que o presidente do BPI lhe entregou um documento, tal como tinha sido revelado pela reportagem da SIC, mas garante que “nesse momento, o Grupo GES já tinha sido identificado como uma das grandes entidades devedoras do sistema.”

  • “Confio no Dr. António Costa” e no seu “sentido de responsabilidade”

Foi há dois anos que Fernando Ulrich expressou o seu apoio a António Costa, caso viesse a ocupar o cargo de primeiro-ministro, como veio a acontecer. “Se, porventura, o Dr. António Costa for indigitado para ser o próximo primeiro-ministro (não faço a menor ideia do que vai acontecer), eu, pessoalmente, confio no Dr. António Costa e no PS e [confio] que terão o sentido de responsabilidade necessário para manter o país num caminho de rigor”, defendeu. Isto depois de o presidente do BPI ter dito publicamente que votou em Pedro Passos Coelho e no PSD.

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Fernando Ulrich “ultrapassa o discurso politicamente correto”, diz Faria de Oliveira

No último dia de Ulrich na presidência executiva do BPI, o presidente da Associação Portuguesa de Bancos caracteriza o gestor como alguém que "nunca se coíbe de dizer o que pensa".

Faria de Oliveira não poupa nos elogios a Fernando Ulrich. No último dia do gestor na liderança executiva do BPI, que vai agora ser ocupada por Pablo Forero, o presidente da Associação Portuguesa de Bancos (APB) afirma que o presidente do banco português ultrapassou o “discurso politicamente correto”, mantendo-se fiel às suas convicções. Uma posição que, segundo Faria de Oliveira, permitiu um “desempenho bastante positivo” do BPI, mesmo durante o período da crise financeira e soberana.

“Aliando a sua muito forte personalidade e fidelidade às suas convicções com a sua competência e defesa intransigente dos interesses do BPI, nunca se coíbe de dizer o que pensa, ultrapassando o discurso politicamente correto, denunciando e esclarecendo.” É assim que o presidente da APB caracteriza Fernando Ulrich, em declarações ao ECO. Desde “se os sem-abrigo aguentam, porque é que nós não aguentamos?”, até “o dia em que batermos na parede não está muito longe”, muitas foram as frases polémicas ditas por Fernando Ulrich desde que está à frente do BPI.

Aliando a sua muito forte personalidade e fidelidade às suas convicções com a sua competência e defesa intransigente dos interesses do BPI, nunca se coíbe de dizer o que pensa, ultrapassando o discurso politicamente correto, denunciando e esclarecendo.

Fernando Faria de Oliveira

Presidente da Associação Portuguesa de Bancos

Hoje, depois de cerca de 13 anos, o gestor passa a liderança do BPI a Pablo Forero, diretor-geral do CaixaBank. Forero está no banco catalão desde 2009 e este é o cargo mais alto que irá assumir numa instituição bancária. Licenciado em Economia e especializado em macroeconomia pela Universidade Autónoma de Madrid, Forero acumula cargos de liderança desde a década de 80.

Fernando Ulrich soube conduzir e manter a estabilidade, solidez e eficiência da instituição num mandato passado, grosso modo, em ambiente de crise financeira e, mais tarde, de crise soberana. Foram anos que trouxeram uma mudança drástica de paradigma para o setor bancário e de quadro regulatório e de supervisão, obrigando a um forte ajustamento dos modelos de negócio dos bancos“, realça. E é por isso que o “BPI teve, sob a sua liderança, um desempenho bastante positivo“, defende o presidente da APB.

E no futuro? Faria de Oliveira está confiante de que Ulrich continuará a desempenhar um papel importante no setor bancário e “em concreto, no BPI, instituição que sempre quis forte, moderna e de confiança”. Sobre os planos que o novo presidente-executivo tem para o BPI, pouco se sabe. Na conferência de imprensa onde foram apresentados os resultados da Oferta Pública de Aquisição lançada pelo CaixaBank sobre o banco português, Forero falou pouco e disse apenas querer manter o foco comercial do BPI.

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Fernando Ulrich: o “enfant terrible” da banca

"Nuevo" BPI traz um novo desafio para Fernando Ulrich. Com um perfil marcadamente executivo, terá Ulrich engenho para dançar este tango? O que pensam Artur Santos Silva e os amigos do banqueiro.

A assembleia geral do BPI que tem lugar esta quarta-feira em Serralves marca um novo ciclo na vida do banco, mas marca sobretudo um novo ciclo na vida de Fernando Ulrich com a sua passagem a presidente do conselho de administração do banco, ou “chairman“, sucedendo no cargo a Artur Santos Silva. Santos Silva, por seu turno, assume o cargo de presidente honorário.

A data de 26 de abril, que curiosamente coincide com o aniversário de Fernando Ulrich — faz 65 anos — será assim um novo marco na vida de um homem que é conhecido pela sua frontalidade e impulsividade e sobretudo pela sua enorme dedicação ao BPI, onde durante mais de 13 anos assumiu os comandos executivos da instituição. A liderança executiva passa para as mãos de Pablo Forero, vindo do CaixaBank.

Amigos próximos de Ulrich — que preferem não ser identificados — dizem que “estes novos tempos vão ser um desafio“. Ulrich tem um perfil muito executivo “e gosta de se envolver nos dossiers ao detalhe” e estas novas funções vão exigir outra contenção. Uma contenção ainda mais reforçada na medida em que estamos perante uma sociedade detida praticamente na totalidade pelo CaixaBank, o que limita ainda mais as funções de chairman.

Com o sucesso da oferta pública de aquisição (OPA), o grupo catalão assumiu o controlo de 84,5% do BPI. Os mesmos amigos adiantam que “para ele vai ser uma mudança muito grande“. Mas ainda assim dizem: desengane-se quem pensa que o chairman do BPI deixará de lado “o seu verbo fácil”.

Artur Santos Silva, fundador do BPI e que agora abandona as funções de chairman, tem outro entendimento como adiantou em declarações ao ECO. “As pessoas ajustam-se às novas realidades, o Fernando Ulrich tem todas as qualidades e tem capacidade de entender as realidades novas, sobretudo quando tem um acionista como o CaixaBank que entende que o BPI deve continuar a ter uma equipa de gestão maioritariamente portuguesa”.

Artur Santos Silva, fundador do BPI.

"Vamos ter o mesmo Fernando Ulrich com o entendimento daquilo que são as suas funções, um presidente não executivo que vai estar muito presente e isso é muito importante para o banco e para o país.”

Artur Santos Silva

Presidente do conselho de administração do BPI

Para Santos Silva não há dúvidas de que iremos ter o mesmo Fernando Ulrich. “Vamos ter o mesmo Fernando Ulrich com o entendimento daquilo que são as suas funções, um presidente não executivo que vai estar muito presente e isso é muito importante para o banco e para o país”. E acrescenta: “tal como eu fiz em 2004 [altura em que Ulrich assumiu a presidência executiva que pertencia a Santos Silva], também o Fernando Ulrich vai ser capaz de mudar de funções”.

De resto, Santos Silva relembra que a situação que hoje se vive no BPI — um acionista de controlo com 84,5% — já acontece desde há cinco anos. “O CaixaBank já era o acionista de referência, detinha 44% do capital do BPI e é uma instituição muito moderna”.

Sobre as qualidades do homem que lhe vai suceder no cargo, Santos Silva não poupa nos elogios. “Considero-o um excecional profissional, de enorme dimensão humana, grande criatividade, bom senso, o que é fundamental para quem gere uma instituição de crédito e com grande capacidade de liderança e de mobilização de equipas e tem uma visão muito importante do que é o país e do que devia ser“, afirma.

Para Santos Silva não há dúvidas. Ulrich tem sempre presente o “interesse do país no horizonte e isso é fundamental para quem gere uma instituição de crédito”.

A estas qualidades, Santos Silva acrescenta ainda “uma vontade insaciável de conhecer, e foi este conjunto de qualidades e de valores, e um grande sentido de cidadania que marcaram todo o seu trajeto profissional e de grande afirmação pública, e ainda a proximidade das pessoas“.

O ainda chairman do banco relembra que “Ulrich está no banco desde a sua criação, em 1983, e dedicou toda a sua vida a este projeto, e é o BPI que marca a sua vida profissional” e que foi com muita naturalidade e com enorme consenso e com total unanimidade que o seu nome foi aprovado quando em 2004, Santos Silva indicou Ulrich para o substituir na presidência executiva do banco.

Fernando Ulrich, presidente do BPI.Paula Nunes

Mas os elogios não vem só do seu antecessor nos cargos.

Fernando Ulrich, o banqueiro que “fala fora da caixa”, o mesmo que disse que o país “aguenta, aguenta” mais austeridade é visto dentro do BPI como alguém muito corajoso.


Manuel Ferreira da Silva, administrador do BPI, e que nesta assembleia geral deixa a administração do banco, diz que “o Fernando é uma pessoa bastante fácil de conhecer”.

Membros do conselho de administração do banco adiantam que “no essencial o Ulrich fora dos holofotes mediáticos não é diferente do Ulrich do dia a dia“.

Inteligente, intuitivo e sobretudo muito desprendido são características que quem o conhece bem lhe atribui.

Colaboradores do banco adiantam que: “é fácil trabalhar com ele e sobretudo é muito transparente, não há jogos, é tudo muito claro”. E acima de tudo “tem muito carisma”.

"Só alguém desprendido e muito livre pode ser tão frontal e tão corajoso como ele.”

Manuel Ferreira da Silva

Administrador do BPI

Ferreira da Silva diz mesmo que “só alguém desprendido e muito livre pode ser tão frontal e tão corajoso como ele”.

Coragem. A mesma que terá tido no dia em que disse — estávamos Maio de 2010– que “o dia em que batermos na parede não está muito longe. Talvez por semanas. E bater na parede significa, por exemplo, a intervenção do FMI. Lamento mas o país tem de saber“. Ou a mesma que foi tendo ao longo de todo o seu percurso e em que se envolveu com figuras centrais da vida política e económica, como foi o caso de Ricardo Salgado, na altura o mais influente banqueiro português. Ou até mesmo no dia em que disse, numa entrevista ao Expresso, que os políticos não têm tempo para pensar.

"O dia em que batermos na parede não está muito longe. Talvez por semanas. E bater na parede significa, por exemplo, a intervenção do FMI. Lamento mas o país tem de saber.”

Fernando Ulrich

Presidente do BPI

Com grande capacidade de trabalho e muito dotado, as mesmas fontes dizem ainda que Fernando Ulrich é muito generoso. Manuel Ferreira da Silva aponta-lhe ainda outras características. Ulrich é “generoso, entusiasta e muito positivo“. Assim se explica eventualmente os dois últimos anos, em que o banco andou de assembleia geral em assembleia geral à procura de consensos entre os dois maiores acionistas: o CaixaBank e a Santoro de Isabel dos Santos.

Agora até de Angola chegam elogios

Mas nem esses tempos difíceis e atribulados ‘roubam’ elogios ao novo chairman do BPI.

É um negociador difícil mas leal“. As palavras são sobre Fernando Ulrich, presidente do BPI, e são da responsabilidade de Mário Leite da Silva, presidente da Santoro, empresa do universo de Isabel dos Santos e acionista do BPI, e que durante praticamente dois anos travou com o banqueiro uma luta renhida sobre o futuro do banco.

Mário Silva, presidente da Santoro, holding de Isabel dos Santos, vai ser o novo chairman do BFA.Paula Nunes

Um dos pontos quentes travados entre Mário Silva e Ulrich teve a ver com a desblindagem dos estatutos do banco. Isabel dos Santos opunha-se à desblindagem enquanto a administração do banco era claramente favorável, mas nem isso impede o homem forte de Isabel dos Santos de considerar Ulrich como “uma pessoa excelente, um bom amigo e sobretudo um excelente banqueiro”.

"Uma pessoa excelente, um bom amigo e sobretudo um excelente banqueiro.”

Mário Leite Silva

Presidente da Santoro

Para trás ficam as imensas assembleias gerais em que ambos estavam em polos opostos. De um lado, Isabel dos Santos — que através de Mário Silva se opunha ferozmente à OPA do CaixaBank sobre o BPI e sobretudo à solução encontrada pela administração do banco para dar resposta à exigência do Banco Central Europeu sobre a grande exposição a Angola — e do outro o presidente executivo do BPI, conhecido por ser direto, assertivo e muito frontal e que desde sempre deu o seu “aval” à OPA dos espanhóis.

A gestão vista por Santos Silva

Desde 2004, altura em que assumiu a presidência executiva do banco, muito aconteceu. No Mundo, em Portugal e no sistema financeiro.

Santos Silva relembra que o BPI viveu anos muitos difíceis. Primeiro, a OPA hostil do BCP sobre o BPI, a crise internacional em 2007 com o subprime, depois a falência do Lehman Brothers e depois uma crise que deixou marcas profundas no sistema financeiro. “É com muito orgulho que constato que o BPI saiu sem uma única mancha em termos reputacionais e de solidez”.

“O Banco foi uma exceção na realidade portuguesa, em termos de respeito pela lei e pela ética e da credibilidade”.

E numa clara alusão à interferência do BCE adianta: “O BPI nunca esteve envolvido em nada menos ético e legal. O que abanou mais o banco foi uma exigência difícil de compreender por parte do BCE e que envolveu uma instituição importante para o banco e que era a mais rentável de Angola”. Para Artur Santos Silva, a interferência do BCE prejudicou não só o banco mas também o país. “O BFA era um instrumento muito importante na relação de Portugal e Angola”.

“A exigência do BCE implicou problemas para o BPI que se arrastaram até ao epílogo que todos conhecemos e que foi o de perdermos o controlo de uma unidade em Angola que era muito importante”, adianta.

"O banco saiu enfraquecido, apesar de continuarmos com um interesse significativo, mas diria que esse foi o problema mais complexo. A falta de flexibilidade e de pragmatismo do BCE prejudicaram o BPI.”

Artur Santos Silva

Presidente do conselho de administração do BPI

Para Santos Silva não há dúvida. “O banco saiu enfraquecido, apesar de continuarmos com um interesse significativo, mas diria que esse foi o problema mais complexo. A falta de flexibilidade e de pragmatismo do BCE prejudicaram o BPI”.

O fundador do BPI diz mesmo que “Fernando Ulrich teve mares muito complicados em que navegou como CEO, e depois entramos numa crise de que ainda não saímos — o próprio país não está no rating que tinha há 13 anos atrás”.

O apoio do Governo ao problema de Angola

Com os acionistas do BPI em “guerra” e sem entendimento quanto a uma solução que permitisse satisfazer as exigências do Banco Central Europeu impostas em dezembro de 2014, com vista à redução da exposição a Angola, Ulrich contou com o apoio do Governo português, do Presidente da República e até do próprio Banco Central Europeu.

O Governo preparou uma legislação que permitia a desblindagem de estatutos nos bancos, ao facilitar o fim da limitação de votos dos acionistas. O diploma, que foi rapidamente apelidado por Isabel dos Santos de “diploma BPI”, acabava por retirar poder à empresária, uma vez que fez equivaler os direitos económicos aos direitos de voto. Até então, Isabel dos Santos que detinha 19% do capital do BPI detinha praticamente o mesmo poder que os espanhóis do CaixaBank, detentores de 44% do BPI.

Mas não foi só o Governo a apoiar Ulrich. O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa foi célere na aprovação do diploma. E o próprio BCE parecia “ajudar” o BPI ao aceitar suspender o processo de contra-ordenação ao banco, apesar de o prazo ter terminado.

Apesar da sua assertividade, Ulrich é um gerador de consensos. Ou nem tanto. A família Violas — Holding Violas Ferreira — o maior acionista português do BPI, não lhe perdoa a tomada de posição durante a OPA, o que levou ao afastamento de Edgar Ferreira do conselho de administração do BPI, saindo em desacordo com a administração do banco.

Mas Ulrich está habituado a estes “desencontros”. Mais uma vez quem o conhece há muitos anos adianta que o presidente do BPI é “muito impulsivo, mas quando erra tem a humildade de reconhecer o erro“.

Hobby: dançar o tango

Adepto do Sporting, e de um bom jogo de futebol como por exemplo, um Real Madrid – Barcelona, Ulrich tem no tango o seu grande hobby. O presidente do BPI aprendeu a dançar o tango e esse é manifestamente um dos seus grandes prazeres quando despe a “farda” de banqueiro. Casado, o banqueiro tem três filhos e é ainda fã de jogos de râguebi.

Próximo do PSD e defensor da austeridade imposta por Passos Coelho, isso não o impediu de afirmar ainda Costa não era primeiro-ministro que “confio no doutor António Costa e no Partido Socialista de que terão o sentido de responsabilidade necessário para manter o país num caminho de rigor das finanças públicas e de garantia de estabilidade no sistema financeiro”.

Com influência politica, empresarial e mediática, Ulrich reconheceu em tempos numa entrevista ao Expresso que “gostava de ser deputado, é uma coisa bonita”. Ulrich dizia: “gosto de participar na sociedade em que pertenço. Não excluo nada”, mas para que não existissem equívocos adiantou de imediato: “no BPI só aceitamos dedicação exclusiva”.

O banqueiro foi aliás, um dos rostos do Compromisso Portugal e tem feito afirmações ao longo da sua carreira a “fugir” para esta área, algumas até polémicas, como quando defendeu que devia ser mais fácil e mais caro despedir.

Mas as ligações políticas não são de agora. Lá atrás o banqueiro, — que não é licenciado, tendo frequentado o Instituto Superior de Economia da Universidade Técnica de Lisboa, curso que não viria a terminar, — chegou a ser jornalista no Expresso, sendo responsável pela secção de mercados financeiros. Foi assessor do embaixador de Portugal junto da OCDE entre 1975 e 1979 em Paris, tendo mais tarde assumido o cargo de chefe de gabinete dos ministros das Finanças e do Plano dos governos Balsemão, Morais Leitão e João Salgueiro.

Em 1983 entra para a Sociedade Portuguesa de Investimentos (SPI) com Artur Santos Silva, que mais tarde se torna no BPI. E agora passados 35 anos, volta a suceder a Santos Silva, o que já acontecera quando assumiu a presidência da comissão executiva.

 

O presidente do conselho de administração do BPI, Artur Santos Silva, e o presidente da comissão executiva do BPI, Fernando Ulrich, durante a conferencia de imprensa para apresentação do relatório do conselho de administração do BPI sobre a OPA lançada pelo Banco Comercial Português, a 10 de abril de 2006.

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Wall Street fecha com as ações perto de máximos históricos

O índice tecnológico Nasdaq bateu pela primeira vez a fasquia dos seis mil pontos. Os resultados das empresas e a reforma fiscal de Donald Trump estão a alimentar o apetite de risco dos investidores.

O dia em Wall Street foi histórico. Pela primeira vez, o Nasdaq ultrapassou a fasquia dos seis mil pontos e conseguiu agarrar esse resultado no fecho. O índice tecnológico fechou o dia a ganhar 0,7% para 6.025,49 pontos, com os mercados animados com os resultados das empresas, mas também com aquilo que será o pacote fiscal que o Presidente Donald Trump deverá apresentar esta quarta-feira. As expectativas apontam para uma quebra de 35% para 15% nos impostos para as empresas.

Já o índice industrial Dow Jones avançou mais de 200 pontos à boleia do desempenho de empresas como a Caterpillar (cujas ações aumentaram 8%) e o McDonald’s (cujas ações registaram uma subida de 5% depois da apresentação dos resultados. E o S&P 500 fechou perto de máximos, com os produtores de materiais a registar ganhos significativos com os metais industriais — sendo a liderança clara a do cobre.

Mas vamos aos números. O Dow Jones fechou a ganhar 1,12% para 20.996,12 pontos, muito próximo do máximo histórico registado a 1 de março. E o S&P500 fechou a ganhar 0,6%, também a escassas centésimas (0,3%) de atingir um novo recorde.

O otimismo norte-americano também não é estranho ao bom desempenho das bolsas europeias que atingiram máximos de 20 meses, sublinha a Bloomberg. O euro subiu 0,4% para os 1,0911 dólares, o nível mais elevados em cinco meses. Este desempenho revela o otimismo dos mercados de que o pior já poderá ter passado, já que Emmanuel Macron é dado como o favorito, relativamente a Marine Le Pen, da Frente Nacional, numa segunda das presidenciais em França agendadas para 7 de maio.

Já o petróleo está a subir, pela primeira vez em sete dias, com a expectativa de que os inventários de crude nos Estados Unidos caíram pela terceira semana consecutiva. Os futuros aumentaram 0,7% depois de terem recuado nas últimas seis sessões. O barril está a cotar nos 49,70 dólares em Nova Iorque. Os stocks de ouro negro nos Estados Unidos provavelmente caíram em 1,75 milhões de barris a semana passada de acordo com uma sondagem da Bloomberg realizada antes de a Administração de Informação sobre Energia divulgar o seu relatório esta quarta-feira.

O Brent do Mar do Norte, que serve de referência para Portugal, está também a subir 0,58%, cotando nos 51,90 dólares por barril.

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OMC: Países deveriam harmonizar as regras do comércio eletrónico

A regulamentação internacional das regras do comércio eletrónico não vão travar a atividade das empresas do setor, garante Roberto Azevêdo. O líder da OMC defende a harmonização.

Os países deveriam harmonizar as regras do comércio eletrónico. O aviso foi feito esta terça-feira pelo diretor geral da Organização Mundial do Comércio (OMC) que, no entanto, frisa que as empresas de comércio eletrónico não devem recear as novas regulamentações internacionais, porque estas não as vão impedir de levar a cabo os seus negócios.

Mesa redonda sobre o comércio electrónico, em GenebraOMC

Roberto Azevêdo, numa conferência das Nações Unidas em Genebra, defendeu uma maior harmonização das regras mundiais de forma a promover as melhores práticas. O diretor geral da OMC lembrou ainda que a regulamentação é capacitação, mas para isso é necessária maior harmonização e partilha de boas práticas. Mas para isso é necessário que “todos estejam de acordo” com essas mudanças, acrescenta.

“A harmonização das regras tornará as coisas mais simples e fáceis para as pequenas empresas”, sublinhou o responsável que esteve recentemente de passagem por Lisboa para participar na última reunião do Conselho de Estado dedicada ao comércio internacional.

O brasileiro, que viu renovado o seu mandato à frente da OMC em fevereiro, chamou ainda a atenção para os elevados custos de não colaborar nesta fase.

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Interpol apreende mais de 300 mil latas de conserva de peixe em Portugal

  • Lusa
  • 25 Abril 2017

Mais de 300 mil latas de conserva de peixe foram apreendidas em Portugal numa operação da Interpol e Europol que visou comida e bebida adulterada.

A operação conjunta da Interpol e da Europol a nível global permitiu encontrar 230 milhões de euros de alimentos e bebidas contrafeitos, anunciou hoje a organização internacional de polícia criminal. Além da apreensão das 300 mil latas de conserva de peixe apreendidas em Portugal, também foram apreendidos 26 milhões de litros de álcool em todo o mundo.

Em Portugal, foram apreendidas 311 mil latas de conserva de peixe que foram introduzidas numa fábrica de transformação que tinha a sua licença revogada por recondicionamento fraudulento das suas embalagens, refere a AFP.

Esta operação da Interpol e Europol desenvolveu-se em 61 países, de dezembro de 2016 a março de 2917. Levou à apreensão de perto de 26 milhões de litros de álcool adulterado, mais de 9.800 toneladas de alimentos e 26,4 milhões de litros de produtos perigosos.

A operação implicou o envolvimento de polícia, alfândegas e serviços inspetivos e foi conduzida em lojas, mercados, aeroportos, portos e zonas industriais.

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Banco de Espanha reorganiza-se e reforça área de supervisão bancária

  • Lusa
  • 25 Abril 2017

Depois da investigação sobre a autorização dada para o banco público Bankia entrar em bolsa em 2011, o banco central reorganizou-se.

O conselho de administração do Banco de Espanha aprovou esta terça-feira a reorganização de três das suas direções-gerais, uma decisão que visa melhorar a coordenação entre os vários departamentos responsáveis pela supervisão bancária.

As alterações foram iniciadas em fevereiro último, depois de três responsáveis da instituição se terem demitido na sequência de uma investigação sobre a autorização dada para o banco público Bankia ser admitido na bolsa em 2011, contra a opinião dos técnicos do Banco de Espanha.

De acordo com um comunicado de imprensa, na direção-geral de Estabilidade Financeira e Resolução ficam agora agrupadas as funções relacionadas com a regulação financeira e com a participação do Banco de Espanha em diferentes organismos internacionais.

Na direção-geral de Supervisão é estabelecida a dependência direta dos quatro departamentos das operações de supervisão e cria-se o novo Departamento de Planificação e Análise, com o objetivo de “reforçar as funções transversais”.

Por último, a direção-geral auxiliar de Assuntos Internacionais passa para a direção-geral de Economia e Estatística.

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Já sabemos o que Marcelo disse. Mas o que é que os partidos ouviram?

  • Margarida Peixoto
  • 25 Abril 2017

O PSD ouviu um "pedido de maior ambição" nas palavras do Presidente. E os socialistas tomaram "boa nota" delas. Os politólogos não ouviram conflitos. A esquerda ouviu apelos contra a desigualdade.

Foi o próprio Presidente da República que o disse: em datas como o 25 de Abril, “os discursos devem ser correspondentes ao significado nacional das datas e não discursos para mensagens acerca da conjuntura política.” Porém, apenas um dia depois, esta terça-feira, nas comemorações do Dia da Liberdade na Assembleia da República, Marcelo Rebelo de Sousa disse: “Os dois anos e meio que faltam de legislatura parlamentar terão de ser de maior criação de riqueza e melhor distribuição.” Foi um recado? Um aviso? Um incentivo?

Antes de mais, importa dizer que o discurso do Presidente da República foi muito para além daquela referência ao que se espera do país nos próximos dois anos e meio. Marcelo Rebelo de Sousa começou até por colocar em causa a própria cerimónia, partilhando na sala das sessões a dúvida colocada por muitos dos seus alunos: faz sentido celebrar o dia da liberdade naquele palácio fechado?

O Presidente-professor diz que sim. “É porque estes tempos são de substituição da substância pela forma”, do “debate das ideias pela proclamação básica”, que “faz sentido manter viva esta tradição, hoje mais do que nunca.” O objetivo é “mostrar que não nos esquecemos da nossa história”, é “confirmar que preferimos a democracia, imperfeita, injusta e incompleta” e que essa democracia “tem uma casa.”

Confirmada a importância da celebração, Marcelo passou para o reconhecimento dos portugueses. Chamou-lhes “heróis” que vão construindo a democracia e atribuiu-lhes o mérito das vitórias nas finanças na economia e na sociedade. Passou pelo tema dos nacionalismos e populismos e argumentou que Portugal é capaz de uma “visão descomplexadamente patriótica”. Reconheceu a importância do poder local e considerou-o como “um fusível de segurança singular da nossa democracia”. E foi já no fim da sua intervenção que disse: “Os dois anos e meio que faltam de legislatura parlamentar terão de ser de maior criação de riqueza e melhor distribuição.”

Sabemos o que disse o Presidente. E o que é que os partidos ouviram?

Para um relato mais detalhado do discurso do Presidente, pode consultar o Direto do ECO, aqui. Mas passemos ao que os partidos ouviram. Os partidos ouviram todos nuances diferentes do discurso do Chefe de Estado, mas todos se conseguiram identificar, em alguma passagem, com as palavras de Marcelo — o que não implica que todos tenham gostado, BE, PCP e Verdes não aplaudiram, por exemplo.

Não é de estranhar, “o Presidente evitou qualquer clivagem”, avalia Costa Pinto, politólogo. “Foi um discurso otimista sobre Portugal, quer do ponto de vista político, quer económico”, nota o professor do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. “Foi um discurso pouco conflituoso com o Governo”, corrobora Marina Costa Lobo, também politóloga, notando que nem BE, nem PCP criticaram as palavras do Presidente da República.

PCP ouviu falar de desigualdades

Jerónimo de Sousa notou a importância dada pelo Presidente ao poder local, mas também à necessidade de “repartição da riqueza”. Mais tarde, em declarações durante o desfile de comemoração do 25 de abril na Avenida da Liberdade, em Lisboa, o secretário-geral do PCP notou que a constatação de Marcelo foi “genérica” e que agora “é preciso concretizar as medidas”. O comunista não aproveitou as palavras do Presidente para criticar o Governo, antes para exigir mudanças.

BE ouviu falar de Estado Social, transparência e combate à xenofobia

Catarina Martins, coordenadora do Bloco de Esquerda, frisou três aspetos do discurso do Presidente. Primeiro, o facto de Marcelo ter reconhecido que a liberdade, o Estado Social e a democracia terem sido feitos por “todos aqueles e aquelas que meteram as mãos ao trabalho”. Segundo, a referência à “luta pela transparência”. E terceiro, o combate à xenofobia. Só quando questionada pelos jornalistas sobre a referência do Presidente à necessidade de mais crescimento económico até ao final da legislatura é que Catarina Martins disse: “É preciso ter a coragem de não aceitar fatalismos”, referindo-se aos constrangimentos das regras comunitárias.

Os Verdes ouviram falar de poder local

José Luís Ferreira, deputado pelos Verdes, destacou a importância que Marcelo Rebelo de Sousa deu ao poder local. Sublinhou a importância da mensagem quanto à necessidade de combater as desigualdades e aproveitou para responder à questão colocada pelos alunos do professor Marcelo: as comemorações do 25 de abril devem ser feitas tanto na Assembleia da República, como nas ruas.

CDS ouviu falar do passado

João Almeida, deputado do CDS-PP, reconheceu a ação do anterior Governo de direita nas palavras de Marcelo. Em declarações na Assembleia da República aos jornalistas, frisou que o Presidente valorizou “o esforço dos portugueses” e argumentou que o “desafio neste momento é acrescentar qualidade de vida”. Não deixou passar as referências à necessidade de transparência e da participação cívica, dando conta de que as autárquicas são um espaço ideal para promover essa participação.

PSD ouviu um recado ao Governo…

Hugo Soares, deputado do PSD, frisou que Marcelo Rebelo de Sousa apelou “de forma muito firme à reforma do Estado.” Defendeu que será dessa forma que o país, “em cima das reformas que fez no passado, vai crescer mais e proporcionar maior qualidade de vida aos cidadãos.” E por isso ouviu nas palavras do Presidente um “pedido de maior ambição ao Governo” que vai ao encontro do que “o PSD tem repetido”, notou.

…e o PS ouviu o recado

Carlos César, presidente do PS, sublinhou o registo de “unanimidade” quanto a que o 25 de abril significa para a democracia portuguesa. Deu conta dos progressos conseguidos, mas acusou o toque sobre o crescimento: frisou que o país atingiu “o maior PIB de sempre” e que já cresce acima de outros países da União Europeia. “Durante este ano, não faltarão ocasiões em que essa confiança será reforçada pelos observadores internacional”, garantiu. Mais tarde, no desfile na Avenida da Liberdade, o primeiro-ministro António Costa foi confrontado pelos jornalistas quanto ao pedido do Presidente sobre o crescimento económico. “Trabalhamos nisso todos os dias”, disse, em declarações transmitidas pela RTP3. “O Governo não avalia [as palavras do Presidente], ouve com atenção”. E somou: “Tomamos boa nota.” Nota de quê? “Nota de grande otimismo do que têm sido estes 43 anos.”

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Bancos europeus aliviam condições de crédito às empresas no primeiro trimestre

  • Lusa
  • 25 Abril 2017

O BCE informou que a principal causa para este alívio é o aumento da concorrência entre as instituições financeiras.

A concorrência no mercado bancário levou a uma melhoria nas condições oferecidas pelos bancos da zona euro no crédito que concederam às empresas durante o primeiro trimestre, revelou hoje o Banco Central Europeu (BCE).

Segundo o Inquérito sobre os Empréstimos Bancários na zona euro, conduzido pelo BCE entre 16 e 31 de março a 139 bancos da zona euro, houve uma descida de 2% (em termos líquidos) ao nível das taxas cobradas às empresas, depois de no último trimestre do ano passado ter havido um avanço deste indicador.

O BCE informou que a principal causa para este alívio é o aumento da concorrência entre as instituições financeiras.

No mesmo inquérito, o BCE dá também conta de um recuo nos padrões do crédito à habitação concedido às famílias (-5%) no primeiro trimestre.

Porém, os bancos antecipam que no segundo trimestre haja um ‘endurecimento’ nas condições pedidas para financiar as empresas e uma manutenção dos padrões dos créditos à habitação.

As baixas taxas de juro na zona euro impulsionaram a procura de crédito por parte dos particulares, especialmente no segmento do crédito à habitação.

Já a política de compra de dívida por parte do BCE ajudou a melhorar a posição de liquidez dos bancos, bem como as condições de financiamento no mercado, ao longo dos últimos seis meses.

O BCE conduz trimestralmente este inquérito com o intuito de acompanhar o andamento do mercado creditício.

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PSI-20 fecha a ganhar à boleia do BCP

O grande destaque do dia vai para o Millennium bcp que fechou a ganhar 4,19%, com as ações a cotarem nos 0,21 euros. A bolsa portuguesa está em máximos desde maio de 2016.

A bolsa portuguesa fechou como abriu — no verde. Mas conseguiu cimentar os ganhos, já que encerrou a sessão com uma progressão de 0,97%, naquela que foi a melhor sessão desde maio do ano passado, em termos de volume de transações registadas.

O grande destaque do dia vai para o Millennium bcp que fechou a ganhar 4,19%, com as ações a cotarem nos 0,21 euros. É necessário recuar a 12 de dezembro de 2016 para ter as ações do banco liderado por Nuno Amado a valer tanto. E porquê? O banco beneficiou na sessão de hoje dos bons resultados do Bank Millennium, a unidade polaca detida em 50,1% pelo banco português.

O lucro de 32,6 milhões de euros no primeiro trimestre, uma subida homóloga de 2,4%, levaram as ações do BCP a valorizar mais de 5%. O resultado líquido do banco polaco nos primeiros três meses deste ano mostraram uma subida de 6,9% em relação ao trimestre anterior. As ações do próprio Bank Millennium fecharam com uma valorização superior a 7% e a cotar nos 6,95 zlotys (1,63 euros). Mas as ações chegaram a ser transacionadas a 7,13 zlotys (1,67 euros) esta manhã.

Com apenas cinco cotadas a fechar no vermelho, de destacar que o PSI20 se mantém acima dos cinco mil pontos (5.046,16 pontos), uma fasquia que conseguiu ultrapassar na segunda-feira à boleia dos resultados da primeira volta das eleições presidenciais em França, que determinaram a passagem de Emmanuel Macron e Marine Le Pen para o escrutínio já agendado para 7 de maio.

O destaque negativo da sessão vai para a Pharol que fechou a perder 5,02%. Mota Engil (-0,82%), Semapa (-0,55%), Ren (-0,01%) e Altri (-0,001%) foram os outros títulos que também fecharam no vermelho, mas muito próximo da linha de água.

Em termos europeus, o cenário foi igualmente positivo com o Stoxx 600 a fechar com ganhos de 0,21%. Mas todas as outras praças europeias também fecharam no verde — com destaque para a valorização de 2,05% da bolsa de Atenas –com exceção da praça irlandesa (ISEQ) que fechou a cair 0,48%.

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Nasdaq em máximo histórico, supera os seis mil pontos

Resultados de empresas como a McDonald's e a Caterpillar estão a animar Wall Street.

Wall Street está em alta e a bater máximos. Os três principais índices que integram a bolsa de Nova Iorque abriram o verde e com um desempenho invejável.

O industrial Dow Jones valoriza 0,98%, tendo o índice aumentado mais 150 pontos com a Caterpillar a subir mais de 6% e a McDonalds mais de 2%. A Caterpillar reviu em alta as suas previsões de receitas em 2017 para um intervalo entre 38 e 41 mil milhões de dólares, um desempenho alimentado sobretudo pelas melhores perspetivas face ao mercado chinês. Os analistas apostam assim ao fim de um pântano de mais de quatro anos, depois de ter cortado custos. Os resultados trimestrais também foram melhores do que o esperado pelos analistas.

Já a McDonald’s registou um surpreendente ganho nas vendas no primeiro trimestre do ano (4%), quando os analistas apontavam para apenas 1,3%. A receita total do gigante dos hambúrgueres foi de 5,68 mil milhões de dólares nos três primeiros meses do ano. Os analistas consideram que a reinvenção do Big Mac e promoções mais agressivas ao nível das bebidas estão a ajudar os restaurantes de fast food a superar o abrandamento global que se verifica.

O S&P 500 0,36% e o tecnológico Nasdaq 0,5% transacionando acima dos seis mil pontos, pela primeira vez.

Este desempenho do índice tecnológico reflete as expectativas dos investidores relativamente aos resultados de empresas como a Alphabet, a dona do Google, da Microsoft, da Amazon, da Intel e do Twitter que são conhecidos esta semana.

Isto depois de as ações na Europa também terem tocado em máximos de 20 meses e os mercados emergentes também registarem subidas significativas com o apetite pelo risco ainda em alta, alimentado pelos resultados das eleições em França. A primeira volta das eleições presidenciais ditou a passagem de Emmanuel Macron e Marine Le Pen. A segunda volta vai agora ser disputada a 7 de maio.

“As atenções vão rapidamente passar a incidir sobre Washington com a expectativa de que o Presidente norte-americano Donald Trump revele esta quarta-feira o seu pacote fiscal“, à medida que se aproximam a passos largos os 100 dias da Administração Trump, que se celebram no sábado, sublinha Jim Reid, um estratega do Deutsche Bank em Londres, numa nota, citada pela Bloomberg. A Casa Branca está certa que um crescimento mais elevado poderá levar a um corte nos impostos.

A decisão de Trump em impor uma nova tarifa aduaneira às importações de madeira — até 24% — voltou a alimentar os receios de protecionismo e o dólar canadiano já se recente com uma queda.

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PSD insiste em “criminalizar enriquecimento ilícito”

No discurso das comemorações do 25 de abril, Teresa Leal Coelho, deputada do PSD, pediu "tolerância zero" para o desvio de recursos necessários ao desenvolvimento do país.

É preciso “criminalizar o enriquecimento ilícito”, pediu Teresa Leal Coelho, deputada do PSD e candidata pelo partido a Lisboa, no seu discurso de comemoração do 25 de abril. Esta terça-feira, na Assembleia da República, os deputados de todos os partidos lembraram as conquistas de abril e recusaram os nacionalismos e populismos.

“A liberdade só se alcança quando cada pessoa pode escolher de acordo com o seu talento, o seu projeto e o seu modo de vida”, começou por frisar a deputada social-democrata. Por isso, argumentou, é preciso “investir num ensino com exigência e qualidade”, que permita interromper ciclos de pobreza.

Mas foi mais longe: a sociedade deve libertar-se se da corrupção e do compadrio do enriquecimento ilegítimo e da tentação de abuso de poder na política e na economia, defendeu Teresa Leal Coelho. A deputada frisou a necessidade de prevenção da riqueza injustificada e de “criminalizar o enriquecimento ilícito” nos casos em que existe “uma manifesta desproporção entre património e rendimentos auferidos.” E sublinhou que deve haver “tolerância zero para o desvio de recursos necessários” ao desenvolvimento do país.

"[Os principais atores económicos devem ser] alvo de elevado escrutínio e manifestar publicamente os seus interesses, propósitos e afiliações.”

Teresa Leal Coelho

deputada do PSD

Quem exerce cargos políticos e os principais atores económicos devem ser “alvo de elevado escrutínio e manifestar publicamente os seus interesses, propósitos e afiliações”, continuou. É que “a confiança é uma consequência do prestígio das instituições”, avisou.

O tema do enriquecimento ilícito está a ser trabalhado na comissão parlamentar eventual para a Transparência e Pedro Delgado Alves, deputado socialista, já tinha revelado no fim de semana numa entrevista ao jornal Público que o PS vai apresentar uma proposta para penalizar o enriquecimento ilícito, que não esbarre nos argumentos do Tribunal Constitucional, relacionados com a inversão do ónus da prova. Segundo o deputado, os socialistas vão propor a criação de um novo tipo de crime para conseguir penalizar este tipo de enriquecimento.

Os perigos do populismo

Nas comemorações do 25 de abril no Parlamento, os deputados das diferentes cores políticas alertaram para os perigos do populismo e do nacionalismo. Marcelo Rebelo de Sousa, presidente da República, distinguiu mesmo entre dois tipos de nacionalismos: os “nacionalistas contra o mundo, contra os que não são dos nossos”, e os que amam a nação “de coração aberto, de alma universal, não renegando as raízes identitárias mas sabendo que foram feitas de traços” de vários povos.

Num discurso em que deixou um recado ao Governo — é preciso crescer mais até ao final do mandato, avisou o Presidente — Marcelo defendeu que o ritual de celebrar abril na Assembleia da República faz ainda mais sentido num tempo em que se tende a substituir “o debate das ideias pela proclamação básica”. É por isso que “faz sentido manter viva esta tradição, hoje mais do que nunca”, argumentou, “para mostrar que não nos esquecemos da nossa história.”

Ferro Rodrigues, Presidente da Assembleia da República, aproveitou para sublinhar que o novo tempo político que o país vive mostra que “não há deputados dispensáveis, todos contam”, porque o Parlamento “ganhou uma nova centralidade”. E avisou que o populismo que alastra “não é um novo populismo, é a velha extrema direita, autoritária e xenófoba.”

Joana Mortágua, do Bloco de Esquerda, identificou o perigo com o “projeto europeu falhado”. E avisou: “O perigo é a austeridade que nasce quando baixamos a guarda, troikas que espreitam atrás de cada programa de estabilidade.” Já Jorge Machado, pelo PCP, frisou que é importante combater “tentativas de meter no mesmo saco o fascismo e o comunismo.”

Isabel Galriça Neto, deputada do CDS, dispensou “listas de promessas ou discursos enganadores” e pediu “compromissos que se concretizam”. Heloísa Apolónia, pelos Verdes, deixou um alerta ao Governo de António Costa: “O que exigimos é que governem para as pessoas e que não esbarrem na obsessão dos números encolhidos por Bruxelas. Essa é a condição de estabilidade.”

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