Entre as montanhas de Jackson Hole, bancos centrais procuram fuga à avalanche da recessão
Arranca esta quinta-feira o simpósio onde investidores vão procurar sinais sobre o curso da política monetária nos próximos meses. Pressionado por Trump e pela economia, Powell vai centrar atenções.
O vale de Jackson Hole, no estado norte-americano do Wyoming, é o lugar de encontro anual de banqueiros centrais, economistas e decisores políticos. Este ano, o simpósio tem como tema os “desafios da política monetária” e — sob a ameaça de uma recessão eminente –, não lhes faltará tema de debate. Do lado de fora, os investidores vão estar particularmente atentos à procura de sinais sobre qual será a estratégia a seguir.
“Dez anos após a crise financeira, os decisores de política monetária enfrentam uma série de desafios enquanto procuram alcançar os seus mandatos”. É este o mote do simpósio, que é organizado pela Reserva Federal norte-americana (Fed) e que decorre entre esta quinta-feira e o próximo sábado.
“Ritmos diferentes de recuperação levaram os bancos centrais a traçarem diferentes cursos de normalização da política monetária no seguimento de um período em que a maior parte dos bancos centrais usaram tanto ferramentas convencionais como não convencionais de política monetária em resposta à grande recessão. Se alguns bancos centrais estão a aproximar-se de um quadro político neutral, outros ainda não começaram o processo de remoção da política acomodatícia“, admite a Fed, que organiza o simpósio.
É este o cenário atual. Os maiores bancos centrais do mundo, incluindo a Fed e o Banco Central Europeu (BCE), fizeram afundar os juros de referência para mínimos históricos e lançaram programas de estímulos monetários para aumentar a liquidez nos mercados. No caso da Fed, a taxa de referência atingia um intervalo entre 0% e 0,25% em dezembro de 2008 e assim se manteria ao longo de sete anos.
O processo de normalização nos EUA começaria em dezembro de 2015, com a primeira subida dos juros. Nos dois anos seguintes, seriam mais oito aumentos, acompanhados do fim da compra de dívida no mercado e do início da limpeza destes títulos da folha de balanço.
"Diferentes condições económicas entre os países e os correspondentes quadros de política monetária apresentam uma série de desafios para os decisores políticos.”
Powell vs Trump
No entanto, as perspetivas do fim do ciclo económico (que nos EUA é já o mais longo de sempre) e o impacto da guerra comercial na economia global determinaram uma mudança de discurso. A 31 de julho, o presidente da Fed Jerome Powell anunciou o primeiro corte nos juros de referência desde 2008, para o atual intervalo entre 2% e 2,25%.
O ponto alto do simpósio será, por isso, o discurso de Powell na sexta-feira, às 15h (hora de Lisboa), em que o líder do banco central dos EUA poderá confirmar a expectativa do mercado: de que no próximo mês irá cortar os juros em mais 0,25 pontos percentuais. Em alternativa, poderá sinalizar um corte ainda maior (de 0,50 pontos) ou indicar que a redução de julho foi um estímulo pontual à economia e não o início de uma série.
Mas Powell não será o único líder norte-americano a centrar atenções. O presidente dos EUA, Donald Trump, poderá estar presente, mesmo sem se deslocar até Wyoming, tal como fez quando os banqueiros centrais se encontraram em Sintra, em junho.
Apesar da tradição de separação de poderes que garante a independência do banco central, Trump tem sido crítico da atuação de Powell. O presidente pede mais cortes nos juros e, só este mês, já acusou a Fed de “algemar” a economia norte-americana, de ser “demasiado orgulhosa para admitir que fez um disparate” e de ser “incompetente”.
Draghi ausente
Se nos EUA, o cenário é este, na Zona Euro é diferente. O BCE faz parte do segundo grupo a que se refere a Fed: o dos bancos centrais que ainda nem começaram a normalização e já têm de lidar com as perspetivas de uma nova crise. O presidente do BCE, Mario Draghi, será uma das ausências mais importantes, especialmente dada a expectativa sobre o que anunciará em setembro, na última reunião que será presidida pelo italiano antes de abandonar o cargo.
Em julho, Draghi reconhecia que “o outlook económico está cada vez pior” e anunciava que o “Conselho de Governadores está determinado a agir”. Ficou assim aberta a porta a que sejam detalhados um “pacote de estímulos” em que “nenhum instrumento está absolutamente excluído”.
Draghi, que é conhecido pela capacidade de mexer com os mercados financeiros, não estará, no entanto, presente para encaminhar os investidores. O BCE será representado por Philip Lane (economista-chefe), Benoît Cœuré e Sabine Lautenschläger (ambos membros do conselho executivo). Apesar de todos (especialmente os dois primeiros) poderem falar em nome do regulador da Zona Euro, a expectativa não é elevada.
"Quando a próxima recessão vier, e é inevitável que venha, decisores políticos poderão ter de usar todas as ferramentas disponíveis disponíveis para maximizar o seu efeito conjunto. Isto significa apoiar a procura através de estímulos monetários e orçamentais onde for possível.”
Quem ainda não se sabe se estará presente é a sucessora de Draghi, Christine Lagarde. A francesa costuma ser presença assídua em Jackson Hole, mas mesmo que participe, este ano, não deverá ter um lugar de destaque tendo em conta que já se demitiu do cargo de diretora-geral do Fundo Monetário Internacional e ainda não assumiu funções como presidente do BCE.
Além disso, desde que a mudança foi tornada pública que Lagarde não tem feito declarações públicas, mas a sua posição é conhecida. “Quando a próxima recessão vier, e é inevitável que venha, decisores políticos poderão ter de usar todas as ferramentas disponíveis disponíveis para maximizar o seu efeito conjunto. Isto significa apoiar a procura através de estímulos monetários e orçamentais onde for possível“, dizia Lagarde, em junho.
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