Quem ganhou o debate? “Num jogo a seis não dá para haver um vencedor”
Foram duas horas de debate entre os líderes dos seis partidos candidatos à AR que têm assento parlamentar, mas nenhum desses políticos conseguiu destacar-se, dizem os politólogos.
A menos de vinte dias da ida às urnas, os líderes dos seis partidos com assento parlamentar que estão na corrida à Assembleia da República defrontaram-se num debate que ficou centrado em três grandes temas — Segurança Social, sistema político e corrupção — e no qual nenhum dos candidatos conseguiu arrebatar a taça de vencedor, consideram os politólogos ouvidos pelo ECO.
Os especialistas salientam também que nestas duas horas de frente-a-frente ficaram por esclarecer muitos dos temas que são importantes para os portugueses, como a saúde, a educação e o contexto europeu.
“Este debate não era para ganhar. Cada um tinha as suas expectativas e cada um cumpriu aquilo que tinha programado. Não há propriamente nenhum derrotado”, começa por sublinhar José Adelino Marquez.
O investigador de Ciência Política afirma que este foi um frente-a-frente que “correu bem a António Costa” porque o primeiro-ministro em funções e líder do PS não foi “massacrado” com a análise da sua governação, mas também foi útil a Rui Rio, uma vez que lhe trouxe visibilidade, e nem para André Silva foi “desastroso”, ainda que, quando não estão em causa políticas ambientais, o líder do PAN “se engasgue um bocado”.
Semelhante avaliação faz António Costa Pinto, que diz ao ECO que, neste debate, houve um empate.“O aspeto mais importante a salientar são as mensagens que cada um tentou passar, mas não houve ninguém que se tenha destacado”, salienta o professor da Universidade de Lisboa.
A propósito, Costa Pinto reforça que o debate foi dominado por políticas setoriais e não pela ideologia dos vários partidos. “Os vários líderes estão a fazer uma campanha mais setorial”, diz, referindo que tal reflete “alguma maturidade” por parte dos partidos com representação parlamentar, que “apoiam políticas concretas e menos mobilização ideológica”.
O politólogo salienta ainda que “a tónica” tem sido a de “concentrar o ‘fogo’ sobre o primeiro-ministro”, já que todos os partidos “receiam uma eventual maioria absoluta”, destacando particularmente o CDS como o partido que jogou mais ao ataque. E que candidatos estavam melhor preparados? Costa e Rio, defende o especialista.
Já na opinião de Patrícia Silva, investigadora na Universidade de Aveiro, os candidatos não conseguiram “inteiramente” esclarecer e fazer transparecer as diferenças entre os vários partidos, sobretudo no que diz respeito à corrupção e à reforma do sistema político.
Para a politóloga, Catarina Martins fez um bom trabalho a mostrar o que o seu partido já conseguiu com a sua posição no Parlamento, António Costa conseguiu algum sucesso ao enfatizar os avanços conseguidos durante a sua governação e Assunção Cristas “esteve muito bem do ponto de vista de apelar ao seu eleitorado”.
Já sobre Rui Rio, a politóloga considera ter havido no líder do PSD “alguma hesitação” na apresentação das propostas (algumas delas diferentes daquelas inscritas no programa eleitoral do partido laranja), o que terá resultado numa concretização não tão boa do debate.
E sobre André Silva, Patrícia Silva diz: “É estreante, tem menos experiência neste tipo de debates. Os temas que o fazem brilhar não foram trazidos e, por isso, teve de recorrer frequentemente ao programa eleitoral, o que reduz a eficácia ao passar a mensagem“.
A politóloga faz questão, por outro lado, de notar que António Costa esteve numa posição privilegiada na preparação para este debate decorrente da posição que ocupa, já que a liderança do Executivo lhe permite ter “acesso a dados”. “É ele que tem na sua mão o que tem feito”.
Apesar de considerar que este debate foi importante neste momento da corrida à Assembleia da República — a ida às urnas acontece a 6 de outubro, isto é, a menos de 20 dias — Patrícia Silva critica a ausência de temas muito importantes para o eleitorado, como o serviço nacional de saúde, as questões europeias, e a educação.
A mesma crítica é deixada por José Adelino Maltez, que salienta que não foi dita “uma única linha sobre a política europeia ou a crise petrolífera”. O politólogo reforça que, neste debate, os candidatos atiraram argumentos que já tinham na “barrica”, não tendo, portanto, havido surpresas. “Num jogo a seis não dá para haver um vencedor”, remata o politólogo, considerando que este foi um confronto “aborrecido” e que afastou muito eleitores.
O debate desta quarta-feira foi o primeiro nesta corrida à Assembleia da República que juntou os seis partidos com assento parlamentar. O frente a frente durou cerca de duas horas e foi transmitido em direto e em simultâneo pela Antena 1, TSF e Rádio Renascença. A discussão ficou marcada pela sustentabilidade da Segurança Social — com o PSD a juntar-se à esquerda na defesa de uma nova taxa sobre o valor acrescentado das empresas –, pelo sistema político — nomeadamente no que diz respeito aos salários dos políticos –, e pela corrupção — com Rio a defender que os jornalistas que violem o segredo de justiça devem ser punidos proporcionalmente.
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