Legislativas podem deixar rating da DBRS em modo de espera
A agência canadiana DBRS pronuncia-se esta sexta-feira sobre Portugal. Apesar de ter o outlook positivo, o que perspetiva uma subida, a proximidade das eleições poderá ser um travão à mudança.
A dois dias das eleições legislativas, a agência de notação financeira DBRS tem uma avaliação marcada a Portugal. A perspetiva do rating está positiva, o que deixa a porta aberta a subidas. No entanto, a proximidade das eleições poderá ser um entrave a mudanças na nota para o país.
“Não faz sentido que a DBRS se pronuncie porque, se esperarem até segunda-feira, terão uma perspetiva completamente diferente. Subir o rating pode ser usado como arma de arremesso político. Ao anunciar alguma mudança está a envolver-se na campanha eleitoral“, acredita Filipe Garcia, economista e presidente da IMF – Informação de Mercados Financeiros.
O PS leva dos últimos quatro anos o reequilíbrio das contas públicas que permitiu a Portugal sair do nível de rating especulativo pelas principais agências. Com a notação de investimento (e o apoio da política monetária do Banco Central Europeu) veio uma queda livre nos juros da dívida para mínimos históricos e a consequente poupança com gestão da dívida para as contas públicas.
António Costa quer manter-se à frente do Governo e Mário Centeno das finanças portuguesas, sendo que este aponta já para o défice perto de 0% e uma dívida abaixo de 100%, o que deverá agradar a agências de rating. Apesar de as sondagens apontarem para uma vitória do PS, no próximo domingo, a maioria absoluta não é certa e a DBRS poderá optar por esperar para fazer alterações. “A política é extremamente importante para o rating soberano“, lembra Garcia.
País ingovernável ou PS mais forte?
Vários cenários são possíveis: o PS afinal conseguir a maioria absoluta, o PS conseguir formar Governo apenas com um dos três partidos à esquerda (BE, CDU ou PAN), o PS ter de manter um acordo governativo ao género da atual geringonça ou até mesmo o PSD tentar formar governo coligado com o CDS ou outros partidos à direita.
O cenário base do banco holandês ING é que a geringonça se mantenha, mas o economista Steven Trypsteen alertava, numa nota publicada esta quinta-feira, que há um importante risco. “O foco do PS na prudência orçamental poderá tornar mais difícil conseguir apoio. Se não o conseguir, então o país poderá ficar ingovernável. Um cenário como o que se vê em Espanha, em que o PSOE precisou, e em última análise não conseguiu, de apoio do partido mais pequeno de esquerda Podemos, poderá tornar-se uma realidade”, apontou Trypsteen.
O Citigroup está mais otimista e considera que a geringonça irá manter-se, mas que a probabilidade de aumentar o número de deputados no Parlamento “deverá trazer um maior poder ao centro e para a agenda de consolidação orçamental do PS”, referiu, numa nota citada pelo Jornal de Negócios (acesso livre). “Em troca, deverão abrir-se portas a mais revisões em alta do rating“.
E há razões para subidas. Tal como Filipe Garcia, o diretor da gestão de ativos do Banco Carregosa Filipe Silva aponta para o crescimento económico de Portugal (recentemente revisto em alta), para a gestão da dívida pública aproveitando os baixos juros para adiar reembolsos e a política monetária expansionista do BCE como razões para o otimismo da DBRS face a Portugal.
Mas pode não ser suficiente. “Penso que não vão fazer alterações porque já têm o outlook positivo”, diz Silva, que considera, contudo, que as eleições “não são um evento significativo” porque não vão aumentar nem diminuir o risco de Portugal. Só aconteceria se houvesse um candidato extremista.
Economia internacional é o principal risco
Na última revisão, em abril, a DBRS subiu a perspetiva do rating de Portugal para “positiva”, do anterior nível “estável”. Apesar de a notação financeira se ter mantido inalterada em “BBB” (no segundo degrau do nível de investimento de qualidade), a agência elogiou a quebra no défice e na dívida. Mas também alertou para a conjuntura externa.
Desta vez, os analistas esperam que a DBRS volte a chamar a atenção para o abrandamento da economia global, perspetiva de recessão nalgumas geografias que têm impacto em Portugal como a Alemanha e para o impacto da guerra comercial.
A nível interno é o sistema financeiro que continua a lançar dúvidas. Aos alertas sobre o crédito malparado — que tem vindo a cair — poderão poderão juntar-se as margens financeiras dos bancos. “A verdade é que todos os bancos têm buffers muito maiores do que no passado e estão muito mais capitalizados. Ainda existe malparado nos balanços, mas esse não se resolve de um dia para o outro”, diz o diretor da gestão de ativos do Carregosa.
“A margem financeira é que está muito esmagada. O endividamento das famílias e empresas pode ser um problema muito grave se houver uma forte subida dos juros. As margens financeiras estarem tão apertadas obriga a que os bancos tenham de emprestar a outras empresas. Por um lado, é positivo porque apostam em novos negócios. Por outro, há empresas que deviam ir à falência e não vão, levando a que haja empresas zombie. Pode ser um problema, mas penso não será já”, acrescentou.
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