“Não estamos arrependidos.” Farfetch mantém aposta na Libra, a moeda do Facebook
Desde a primeira hora, a Farfetch esteve ao lado do Facebook na criação da moeda universal Libra. E, apesar das desistências, a empresa mantém-se comprometida com o projeto da rede social.
A Farfetch continua decidida em adotar a moeda virtual Libra que está a ser desenvolvida pelo Facebook, fazendo parte da associação responsável pelo projeto com o mesmo entusiasmo com que entrou. “Não estamos nem arrependidos nem deixamos de estar”, garante ao ECO Luís Teixeira, administrador com o pelouro operacional da retalhista de luxo.
Quando o Facebook anunciou a intenção de criar uma moeda virtual para a economia digital, há cerca de um ano, a empresa luso-britânica Farfetch foi uma das parceiras da rede social desde a primeira hora. Desde então, muita água correu por debaixo da ponte. Vários membros da Libra Association viraram as contas ao projeto, incluindo o duopólio Visa e MasterCard, dois dos membros de peso da associação.
No caso da Farfetch, desde o anúncio do projeto que a empresa fundada pelo português José Neves não voltou a fazer mais comentários acerca dele. Até agora. Numa altura em que se aproxima o prazo inicial dado pelo Facebook para o lançamento da Libra (fim do primeiro semestre), a empresa lança mais alguma luz sobre as intenções para a Libra e o motivo que a levou a associar-se ao projeto de Mark Zuckerberg.
“Nós, enquanto plataforma com vários serviços, encaramos isso como mais uma forma de pagamento. É liderada pelo Facebook, ao qual nós nos associamos. Mas não estamos nem arrependidos nem deixamos de estar. O nosso foco aqui é sempre a perspetiva de prestarmos os melhores serviços aos clientes”, explica ao ECO Luís Teixeira, COO (Chief Operations Officer) da Farfetch, quando questionado se a empresa ponderou alguma vez em abandonar a associação.
“Estamos sempre dispostos a testar novas formas de pagamento, novas formas de transporte, novos canais de comunicação, tudo aquilo que esteja na customer journey [isto é, no caminho da experiência do cliente]”, acrescenta.
O Facebook pretende que a Libra seja uma moeda virtual e universal para pagamentos na internet. A intenção inicial era ter uma moeda com um sistema semelhante ao da Bitcoin (blockchain), mas centralizada numa associação composta por dezenas de multinacionais, da qual faz parte a Farfetch, e com valor adjacente a um conjunto de ativos reais. O projeto tem sido alvo de críticas de reguladores e supervisores em todo o mundo, que temem que uma moeda universal, foram do controlo dos bancos centrais, seja uma ameaça para o sistema financeiro global e acarrete problemas de privacidade.
Por sua vez, a Farfetch vê na Libra uma nova forma de pagamento dos produtos que vende na plataforma. “Sim, se for algo que tenha tração perante os clientes, e que os clientes assim o estimem”, explica Luís Teixeira, que confirma que a área dos pagamentos está debaixo da chancela das operações na Farfetch. “Será esse o caminho, tal como é o facto de termos, por exemplo, o Alipay na China, ou o Yandex na Rússia, ou o iDeal na Holanda, ou o Afterpay na Austrália”, aponta.
Não estamos nem arrependidos nem deixamos de estar. O nosso foco aqui é sempre a perspetiva de prestarmos os melhores serviços aos clientes.
“Queremos é estar expostos ao que se vai passando na envolvente de inovação”
Desde logo, uma das motivações da Farfetch enquanto membro da associação da Libra é a de expor a empresa à inovação. Nomeadamente, à inovação na área dos pagamentos e na área da blockchain, uma tecnologia de registo de transações que tem conquistado fãs de peso em todo o planeta, sobretudo depois da euforia em torno da Bitcoin no final de 2017.
“Se eu penso que blockchain e outros tipos de pagamentos vão ser importantes para o futuro? Sem dúvida. Não tenho dúvida nenhuma. Quem é que vai conseguir desenvolver isso primeiro? Nós não sabemos ainda”, diz Luís Teixeira. “O que queremos é estar expostos ao que se vai passando na envolvente de inovação e contribuir também, dentro daquilo que é o nosso conhecimento, para pensar em novas formas de fazer negócio. Agora, se vai ser esse ou se vai ser outro, não sabemos”, frisa o administrador.
Segundo Luís Teixeira, a Farfetch é “uma plataforma aberta”. “Estamos abertos a ligar a toda a comunidade e a todas as ferramentas tecnológicas que possam melhora e fazer evoluir o nosso negócio”, diz. Neste momento, adotar a própria Bitcoin como forma de pagamento não está nos planos, mas é uma hipótese “se o comércio eletrónico evoluir nesse sentido” e caso os clientes “assim o queiram”, garante: “A validação final em tudo isto vem sempre pela validação dos clientes e dos consumidores”.
Apesar das desistências da Libra, a associação do Facebook tem conquistado diversos novos parceiros. Entre eles está a Shopify, uma fornecedora de tecnologia para lojas virtuais e que poderá ser um trunfo para os planos da Libra.
Se eu penso que blockchain e outros tipos de pagamentos vão ser importantes para o futuro? Sem dúvida. Não tenho dúvida nenhuma.
“O nosso prejuízo foi muito melhor do que o que era previsto”
A Farfetch apresentou esta quinta-feira os resultados do primeiro trimestre de 2020, já com o impacto do coronavírus na China e parcialmente no mercado ocidental.
A empresa viu os prejuízos aumentarem de 77,69 milhões de dólares no trimestre homólogo para 79,18 milhões de dólares, o que corresponde a um prejuízo de 0,24 dólares por ação. Em simultâneo, as receitas dispararam de 174 milhões para 331,4 milhões de dólares, um desempenho explicado com o aumento das compras online no período da quarentena.
“O nosso prejuízo foi muito melhor àquilo que era previsto”, comenta Luís Teixeira. “As nossas receitas do primeiro trimestre foram em linha com aquilo que eram as expectativas e o consenso dos analistas”, sublinha.
O gestor avança que a consultora Bain estima uma retração de 30% no mercado do luxo, mas um aumento maior do que o antecipado no comércio eletrónico até 2025. Sem prejuízo de que as dificuldades continuem no segundo trimestre, o COO da Farfetch destaca que “há muitos novos clientes”. Concretamente, foram 27% mais clientes no trimestre e 45% mais visitas à plataforma da Farfetch.
“O facto de estarmos a ver muitos clientes novos significa que estamos a capturar muitos clientes que normalmente não compravam online ou que estavam a comprar de outros comerciantes que não estão a conseguir servir esses mesmos clientes”, justifica Luís Teixeira. Em suma, “de uma forma geral, o que vai acontecer é que os clientes vão comprar menos como um todo” mas “há aqui uma maior oportunidade para quem conseguir servir os clientes online”, explica.
Cotação das ações da Farfetch em Nova Iorque
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