Do “milagre português” aos recordes da terceira vaga. Um ano de pandemia em gráficos
No dia em que se assinala um ano desde que a pandemia chegou a Portugal, o ECO passa em "revista" a evolução da pandemia em Portugal, com os momentos mais marcantes, um vídeo e cinco gráficos.
Esta terça-feira assinala-se um ano desde que foram detetados os primeiros casos em Portugal. Desde então, o país já atravessou três vagas, 12 estados de emergência e dois confinamentos. A pandemia deixou o mundo em suspenso e veio trocar as voltas à forma como vivemos, trabalhamos e até como nos relacionamos uns com os outros. Ao todo, neste ano de pandemia, Portugal registou 804.956 casos de Covid-19, que provocaram 16.351 óbitos. Mais de 720 mil pessoas já recuperaram da doença, havendo 68.370 casos ativos no país.
A 2 de março do ano passado, os alarmes soaram com a confirmação por parte das autoridades de saúde de que tinham sido identificados os dois primeiros casos de infeção em território português. Tratava-se de um médico de 60 anos que esteve de férias no norte de Itália e um outro homem que esteve em Valência, Espanha. Ambos vindos de países onde o novo coronavírus já tinha ganho alguma força e numa altura em que a doença já tinha infetado dezenas de milhares de pessoas um pouco por todo o mudo.
Quinze dias depois, a ministra da Saúde dava conta do primeiro óbito por Covid-19 registado em Portugal. A vítima mortal era um homem de 80 anos que estava internado há vários dias e que tinha “várias comorbilidades associadas”, ou seja, fazia parte do grupo de risco, mais vulnerável aos efeitos da doença Covid-19, explicou Marta Temido, em conferência de imprensa a 16 de março de 2020. O óbito, no entanto, só viria a ser reportado no boletim do dia seguinte.
Um dia depois, a 18 de março, pelas 20h00 o Presidente da República falava ao país a anunciar que Portugal iria entrar em estado de emergência. O anúncio foi feito depois do parecer favorável da Assembleia da República, sem nenhum voto contra, ao contrário do que aconteceu nas sucessivas renovações. Para tomar a decisão Marcelo Rebelo de Sousa invocou cinco motivos entre os quais, “o interesse nacional”, dado o “contexto excecional” vivido. Desde então, Portugal caminha já para uma dúzia de estados de exceção, mas nem todos sucessivos. Houve uma pausa entre maio e outubro.
Assim, a partir de meados de março de 2020 Portugal entrou em confinamento total e obrigatório com várias restrições na via pública e moldes muito semelhantes ao atuais. Todos os estabelecimentos considerados de serviços não-essenciais tiveram de fechar portas, sendo que já antes disso as escolas tinham sido encerradas e os voos para Espanha e Itália suspensos, por exemplo. E, ao contrário do confinamento atual, os jogos da I e II ligas de futebol foram suspensos. Nessa altura, a pandemia continuou a ganhar terreno em Portugal, mas só em abril desse ano viria a ser atingido o pico da primeira vaga.
Dos bons resultados à subida a pique de novembro
Na semana mais crítica durante a primeira vaga da pandemia, entre 30 de março e 5 de abril, a evolução dos casos oscilou e chegou a atingir 1.035 infeções diárias. Em termos acumulados, Portugal registou 5.316 novos casos. Em média, a Direção-Geral da Saúde (DGS) identificou 759 novos casos por dia neste período. Entretanto, os números começaram a desacelerar e, por isso, o Governo apresentou no final do abril o plano do desconfinamento, que aconteceu em três fases. Nessa altura, a atuação de Portugal no combate à pandemia viria a ser elogiada por meios internacionais e o Presidente da República chegou a apelidar o momento como “milagre português”.
Neste contexto, em maio de 2020, Portugal passou ao estado de calamidade, o nível mais elevado na Lei de Bases da Proteção Civil criada em 2006, com um alívio das medidas na generalidade das regiões do país. O teletrabalho continuou a ser a obrigatório (sempre que as funções o permitiam), mas os diversos setores voltaram a retomar a atividade, começando pelo comércio local e cabeleireiros e culminando nas lojas de maior dimensão, centros comerciais e creches (já em junho).
Os meses foram passando e com a chegada do verão os números, tanto ao nível de novos casos de infeção como de mortos, tendiam a estabilizar. Em junho, foram registadas 166 mortes a nível nacional (em média, cinco por dia), enquanto em julho foram registados 159 óbitos (também cerca de cinco por dia). Mas agosto foi mesmo o mês mais “suave”, tendo sido declarados 87 óbitos, isto é, uma média de dois por dia.
Depois de uma redução progressiva das restrições no país nestes meses de verão e apesar de a Área Metropolitana de Lisboa (AML) ter tido regras mais restritas durante esse período, o Executivo decidiu voltar a apertar o “cinto” em meados de setembro, já que com o arranque do ano letivo, aumentariam as deslocações e, consequentemente, os contágios tornavam-se mais propícios. Mas tal como se temia, a situação pandémica voltou a agravar-se nos meses que se sucederam, pelo que o Governo declarou o estado de calamidade em meados de outubro, com medidas mais restritivas, como, por exemplo, a proibição de ajuntamentos de mais de cinco pessoas na via pública. A 19 de outubro, Portugal ultrapassava a barreira dos 100 mil casos confirmados por Covid-19 desde o início da pandemia, tendo nesse dia registado 1.949 novas infeções e mais 17 mortes.
Com os casos de infeção por Covid-19 a dispararem, no início de novembro, o Presidente da República interveio e propôs um novo estado de emergência “muito limitado e largamente preventivo”, avisando que novembro seria “um teste à contenção, serenidade e resistência” dos portugueses para superar a pandemia. E tinha razão, já que esta segunda vaga se veio a verificar muito mais mortífera do que a primeira. Novembro foi considerado o mês com maior número de infeções da segunda vaga e apesar de a taxa de mortalidade também ter sido elevada, o mês seguinte viria ainda a ser mais mortífero. Assim, em novembro foram registadas 156.782 novas infeções e 1.998 óbitos, ou seja, uma média de cerca de 5.226 casos por dia e 66,6 mortes.
E se dezembro, foi considerado o mês de “esperança” por ter arrancado o plano de vacinação contra o novo coronavírus, a verdade é que foi neste mês que sucedeu o pico da mortalidade da segunda vaga da pandemia. No último mês de 2020, foram registados 115.617 novos casos e 2.401 mortes por Covid-19. Isto significa, uma média de cerca de 3.729,6 infeções e 77,5 óbitos diários.
Terceira vaga chegou em força, depois do alívio do Natal
Contudo, a pandemia continuou a não dar tréguas, e os casos de infeção, óbitos e internamentos viriam a disparar para níveis recorde em janeiro, na sequência do alívio das medidas durante a época natalícia, o que levou o Governo a avançar com um novo confinamento geral a 15 de janeiro. Contudo, as medidas não foram suficientes e o Executivo voltou a apertar o cerco, decretando o encerramento das escolas e os serviços públicos a voltarem a funcionar apenas por marcação, a partir de 22 de janeiro.
Foi também a 13 de janeiro, que Portugal ultrapassou a barreira dos 500 mil casos confirmados por Covid-19. Mas o recorde atual de novas infeções só viria a ser atingido 15 dias depois, a 28 de janeiro, com 16.432 novas infeções a ser identificadas pelas autoridades de saúde. Este foi considerado o pior dia da pandemia em Portugal até à data, já que também a 28 de janeiro o país registou 303 óbitos num só dia, o máximo de sempre (e que voltou a ser alcançado a 31 de janeiro). De salientar que cinco dias antes, a 23 de janeiro, Portugal superou a barreira dos dez mil mortos por Covid-19.
No total, no primeiro mês deste ano foram registadas 306.838 novas infeções, superando a anterior fasquia de 156.782 novos casos registados em novembro, e 5.576 óbitos por Covid-19, ou seja mais do dobro do recorde registado em dezembro. Trata-se de uma média de cerca de 9.898 casos por dia e 179,9 óbitos por dia. Assim, se comparamos com compararmos com os números alcançados na primeira vaga da pandemia, os dados são ainda mais avassaladores: o valor das novas infeções registadas em janeiro deste ano é mais de 17 vezes o registado em abril de 2020 (17.249), ao passo que os óbitos são mais de sete vezes superiores do que os registados nesse período (829).
Esta trajetória de crescimento da pandemia em Portugal poderá ser explicada pelo alívio das medidas de contenção no Natal, bem como, devido à estirpe britânica, que é consideravelmente mais contagiosa que o vírus Sars-Cov-2 original e que já representa quase 50% das novas infeções registadas em Portugal. O forte aumento da propagação da pandemia refletiu-se também na pressão sobre o Sistema Nacional de Saúde. A 1 de fevereiro, o SNS atingiu o pico de internamentos, com 6.869 pessoas nestas unidades, das quais 865 nos cuidados intensivos. Quatro dias depois, a 5 de fevereiro, viria a ser batido o recorde com 904 pacientes em cuidados intensivos.
A elevada pressão nos hospitais levou a que o Ministério da Saúde aceitasse a ajuda de países europeus que se disponibilizaram a fornecer equipas para ajudar no tratamento de doentes infetados pela Covid-19 nos hospitais portugueses. Nesse contexto, a 3 de fevereiro, aterrou em Portugal uma equipa médica militar, composta por 26 profissionais, que está a trabalhar no Hospital da Luz em Lisboa. Dias depois, chegaria também uma equipa do Luxemburgo e outra de França, que estão a operar em Évora e em Almada, respetivamente. O Governo equacionou também a possibilidade de transferir doentes para outros países, mas a medida não chegou a avançar.
Vacinação é luz ao fundo do túnel
Apesar de a pressão sobre o SNS ainda continuar elevada comparativamente com os dados da segunda e primeira vagas da pandemia, a verdade é que depois do mês “negro” de janeiro, os contágios, óbitos e internamentos têm vindo a descer. Ainda assim, tanto o Governo como o Presidente da República consideram que ainda é “prematuro” desconfinar.
O primeiro-ministro comprometeu-se a apresentar o plano de desconfinamento a 11 de março, depois da insistência do Chefe de Estado e dos partidos. Sem avançar grandes detalhes, António Costa garantiu que o desconfinamento será “gradual” e “diferenciado”, nomeadamente por “localizações”, para que mais à frente não se volte a confinar. A ministra de Estado e da Presidência já tinha garantido que as escolas seriam as primeiras a reabrir.
O regresso à normalidade é ainda uma incógnita, mas tudo aponta para que o confinamento se mantenha, pelo menos, durante o mês março. Não obstante, o plano de vacinação contra a Covid-19 é visto como a luz ao fundo do túnel da esperança, com o responsável pela task force a antecipar alcançar a imunidade de grupo — 70% da população adulta vacinada — no início de agosto. Isto apesar dos atrasos. Desde o arranque da vacinação, já foram administradas 868.951 vacinas contra a Covid-19, ultrapassando já o número de casos confirmados pela doença. Ao todo, já 603.588 pessoas receberam a primeira dose e 265.366 pessoas já têm a vacinação completa.
O Governo tem como objetivo vacinar até ao final de março 80% dos idosos com mais de 80 anos e, que segundo, o primeiro-ministro será alcançado. Contudo, o facto de a vacina da AstraZeneca não ser recomendada para pessoas a partir dos 65 anos está a colocar em causa uma das metas do Executivo para a vacinação dos grupos de risco entre os 65 e os 79 anos com patologias associadas. Até ao final do primeiro trimestre, Portugal estima receber 2,5 milhões de vacinas, ou seja, cerca de metade dos 4,4 milhões previstos inicialmente. Mas espera-se que o processo seja acelerado a partir do segundo trimestre com a entrega e mais vacinas, bem como a aprovação da vacina da Janssen, produzida pelo grupo Johnson & Johnson.
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