Carro comprado hoje pode só chegar em 2022 por causa da crise dos chips
Vice-presidente da ACAP alerta que a crise dos chips está a provocar constrangimentos na produção de veículos, num contexto de retoma da procura. Carros comprados agora vão demorar a serem entregues.
Com a pandemia, as vendas de automóveis reduziram-se de forma expressiva. A produção praticamente parou, obrigando os fornecedores de chips a procurarem outros mercados. Com o desconfinamento, veio a retoma. A procura aumentou, mas as fabricantes de automóveis não conseguem dar resposta porque faltam semicondutores. Há uma crise na indústria que está a atrasar a entrega de veículos novos aos condutores. A ACAP alerta que um carro novo comprado hoje pode só chegar a casa de quem o comprou já em 2022.
“Temos um problema de stock“, diz António Coutinho, da M. Coutinho Automóveis, na conferência “Mercado Automóvel 2021: comportamento e tendências” realizada pelo ECO em parceria com o Montepio Crédito. Esse problema de stock é resultado de “uma realidade que as marcas nunca pensaram que iam viver quando tiveram os problemas no ano passado, em que pararam as fábricas”. É resultado da crise dos chips, consequência da crise pandémica.
Quando pedimos alguns carros, há alguns que só estão disponíveis em 2022, e outros para o final do ano.
Quando o mundo parou, no ano passado, por causa da Covid-19, as fabricantes de semicondutores “acabaram por arranjar outras soluções na área dos jogos, na área dos computadores e quando as marcas [de automóveis] precisaram de reforçar as produções, já não havia” chips no mercado. “Por isso é que se está a equacionar em fazer-se, muito rapidamente, uma fábrica nos Estados Unidos, na Europa, porque grande parte disto estava em Taiwan, na China, e há uma dependência muito grande do Oriente”, lembra o também vice-presidente da ACAP.
“As marcas dizem-nos que estão a gerir ao dia” o problema dos chips. “Abrem as fábricas hoje, amanhã fecham-nas e estamos a falar de marcas que fazem isto constantemente”, diz António Coutinho, concretizando o impacto desta crise no mercado automóvel: o “problema de stock é grande”, havendo atrasos substanciais entre o momento em que um consumidor compra um carro e aquele em que o recebe.
“Quando pedimos alguns carros, há alguns que só estão disponíveis em 2022, e outros para o final do ano“, atira o vice-presidente da ACAP. Ou seja, em determinadas marcas e modelos, o tempo de espera pelo carro novo pode chegar a seis meses. “Nós vamos continuar a vender automóveis aos clientes, mas as entregas serão mais tarde”, remata.
É um problema para “as nossas equipas porque grande parte dos nossos vendedores vive de automóveis. E, mais uma vez, tivemos de equacionar todo um processo de forma a que as nossas equipas possam viver e estarem equilibrados emocionalmente”, diz António Coutinho, explicando que em vez de receberem a comissão no momento da entrega dos carros, recebem-na no momento em que assinam o contrato de venda.
Carros menos tecnológicos
Além de estarem a demorar mais tempo a entregarem os carros novos, as marcas estão também a alterar algumas das especificações dos veículos que comercializam, tentando assim contornar a falta de chips. “Há marcas que estão a tentar passar de digital para analógico para poderem entregar alguns carros”, diz o responsável da M. Coutinho Automóveis.
Um automóvel moderno pode levar até 100 componentes eletrónicos e entre 20 a 40 semicondutores. Para passarem ao lado da insuficiência destes componentes no mercado, várias fabricantes estão a retirar elementos mais tecnológicos — ainda que altamente apreciados pelos consumidores. Um dos exemplos disso é a Tesla que, recentemente, revelou que retirou o ajuste lombar do banco do passageiro para colmatar a falta de chips.
Tweet from @elonmusk
Elon Musk, o patrão da fabricante de automóveis elétricos norte-americana, respondeu, através do Twitter, que a remoção do ajuste lombar do banco do passageiro foi feita porque “raramente era utilizado”, mas não terá sido alheia à crise dos semicondutores.
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