Inteligência artificial na Nos é “mais um membro da equipa”
Jorge Graça, administrador executivo da Nos com o pelouro da tecnologia, fala sobre inteligência artificial e de como pode mudar a forma como trabalhamos. E aborda as questões éticas que ela levanta.
O administrador executivo da Nos com o pelouro da tecnologia está convencido de que a inteligência artificial (IA) vai “mudar” a forma como as pessoas trabalham. Na Nos, alguns modelos já são considerados membros da equipa, diz Jorge Graça, em entrevista ao ECO.
Destacando que a Nos tem “acompanhado” a IA há “muitos anos”, o gestor recordou os tempos em que era preciso “um mês para treinar um modelo”. ” Punhamos a informação lá para dentro e depois estávamos um mês — um mês! — à espera da resposta. São coisas que hoje carregamos no botão, iluminam-se não sei quantos data centers numa parte do mundo e a resposta sai logo”, lembrou.
“Lembro-me também da primeira vez que olhei para um resultado, e para um modelo, e para os fatores de decisão, e pensar assim: ‘eu não percebo, por que carga de água é que o modelo está a dizer para fazermos isto?’ E nós aplicávamos o modelo e, contra o grupo de controlo, tínhamos um lift. Se há pessoa que é crente no potencial de mudar a maneira como nós trabalhamos, sou eu”, rematou Jorge Graça, referindo-se à IA.
Para o administrador da Nos, o potencial é maior quando se soma a IA à inteligência humana. “O melhor jogador de xadrez do mundo é uma coisa que se chama um Centauro. É a combinação de um jogador humano com um destes algoritmos. São duplas em que se partilha a componente humana com o algoritmo, e é na combinação das duas que fazem o jogo”, afirmou. “Efetivamente, a transformação que vem é nesta lógica de conseguirmos fundir as duas, para que a soma das duas peças seja superior à soma de um mais um. Que um mais um seja três. Se eu tenho um processo que está automatizado, filosoficamente, olhamos para ele como mais um membro da equipa”, rematou.
Questionado sobre se os responsáveis políticos em Portugal estão conscientes desse potencial revolucionador da IA, Jorge Graça recordou que “a profundidade da discussão é grande, porque não são temas triviais”. “Como é que formalizamos ética? Como é que definimos o que é uma decisão em que não há uma resposta óbvia?”, retorquiu.
“Há um nível mínimo de educação e de entendimento que tem de ser assegurado em todas as empresas que vão fazer o deploy desta tecnologia. Porque não basta nós confiarmos na palavra de terceiros”, considerou, sinalizando que a União Europeia “está a fazer um caminho” mais “estruturado” do que o que foi “feito pelos EUA”.
“A Google tinha aquele mantra do no evil [não faças o mal]. Gosto muito desse mantra, mas a pergunta não deixa de ser: qual é a tua definição de evil? É tudo muito bonito, mas se a tua definição de evil não é igual à minha, é-me irrelevante que se diga do no evil…”, disse.
“Isto parece uma coisa pouco interessante ou pouco relevante, mas ela é fundamental para o que aí vem”, sublinhou o administrador executivo da Nos. “Se vou pôr a minha vida e a vida de outras pessoas nas mãos de uma IA que vai guiar o meu carro, eu gostava de saber quais são os princípios. O que é que vai acontecer? Se ele for confrontado com uma decisão de ‘atropela uma pessoa’ ou ‘morrem os quatro ocupantes do carro’, qual é a decisão que vai tomar?”, exemplificou.
“Eu quero saber isso. Não quero que seja decidido por uma black box de um tipo que, quando lança um foguetão, fuma um charro em celebração. Peço desculpa, mas gostava que o Elon Musk me explicasse qual é o sentido de ética que ele tem”, atirou, numa referência direta ao controverso gestor que lidera a Tesla e fundou a SpaceX, uma empresa privada de transporte espacial.
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