Férias chegam ao fim, mas regresso ao trabalho na Dielmar é uma incógnita

As férias na Dielmar terminaram esta quarta-feira, mas o regresso ao trabalho não faz parte da equação. "Retoma não depende da vontade dos trabalhadores, mas das entidades competentes", diz sindicato.

Se esta quarta-feira fosse um dia normal para a Dielmar, os 280 trabalhadores estavam de volta ao trabalho após o período de férias. No entanto, este regresso não passa de uma miragem e de uma esperança por parte dos trabalhadores que correm o risco de perder o emprego, caso não se encontre uma solução viável para a empresa de Alcains que chegou a vestir a seleção portuguesa e o Benfica.

Marisa Tavares dirigente do Sindicato Têxtil da Beira Baixa disse ao ECO, a 4 de agosto, que tinham de ser tomadas “medidas com urgência” para que dia 18 de agosto, após o período de férias, a “empresa voltasse a laborar e os trabalhadores tivessem o seu posto de trabalho disponível”. Apesar da vontade dos trabalhadores e do sindicato, não foi possível conceder este desejo.

“Temos indicação para os trabalhadores não se apresentarem ao trabalho esta quarta-feira (..) Mas os colaboradores podem estar à porta da empresa com o intuito de pressionar as entidades competentes”, conta ao ECO a presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Setor Têxtil da Beira Baixa.

Os 280 colaboradores da Dielmar, que já foi considerada uma das maiores empregadoras da região, vivem há duas semanas um pesadelo sem fim à vista. Numa fábrica que já brilhou, vivem-se dias de escuridão e incerteza. Maria da Luz Esteves, dirigente da comissão sindical da Dilemar, disse ao ECO que apesar de “existir a consciência que a empresa não estava bem, não estava à espera que insolvência chegasse tão cedo”.

Maria da Luz Esteves, que trabalhou na Dielmar 33 anos, tem “fé e a esperança” que seja encontrada uma solução para a empresa de Alcains. “Até agora não está nada traçado, mas a esperança é a última a morrer”, diz a dirigente.

Governo ainda não assumiu publicamente a garantia do pagamento dos salários

Para o sindicato a maior preocupação continua a ser salvaguardar o vínculo de trabalho, mas lembra que para isso tem que existir uma garantia do pagamento dos salários por parte do Governo. “Os trabalhadores não podem manter o vínculo e chegar ao final do mês de agosto ou setembro, sem saber o tempo que isto vai durar, sem ter vencimento. Não têm condições para isso. No tempo em que vivemos é impensável termos famílias inteiras com salários em atraso dois e três meses”, lamenta Marisa Tavares.

Apesar de a laboração não retomar, o ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, disse que os salários dos colaboradores estão garantidos enquanto decorrer o processo de venda. Na ótica do Sindicato esta conquista já é uma vitória. No entanto, a presidente do sindicato lamenta que o Ministério da Economia não tenha “assumido publicamente a garantia do pagamento salarial e que “o assunto ainda esteja em aberto”.

“Ainda não existe clareza por parte do ministério. Existe um compromisso por parte do Governo em salvaguardar postos de trabalho e encontrar soluções, mas temos de perceber se efetivamente essas soluções foram encontradas ou não”, destaca Marisa Tavares.

O sindicato lembra que a retoma não depende da vontade dos trabalhadores regressaram ao seu posto de trabalho, mas sim das entidades competentes. Marisa Tavares lembra que “têm de estar reunidas todas as condições para os trabalhadores voltarem ao trabalho”.

A presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Setor Têxtil da Beira Baixa explicou que como “está a ser agilizado o processo de venda da empresa, os trabalhadores têm de estar disponíveis para a qualquer altura serem chamados para virem trabalhar”, acrescenta.

Os 280 trabalhadores da Dilemar souberam da situação da empresa e do pedido de insolvência através da comunicação social quando estavam a gozar o período de férias, uma situação que Marisa Tavares considerou “inaceitável”. Para a trabalhadora Maria da Luz Esteves a empresa “agiu de má-fé”. Foi uma espécie de “traição”, diz.

Apesar do cenário de incerteza, a Câmara Municipal de Castelo Branco confirmou ao ECO que já há uma mão cheia de interessados em comprar a Dielmar. Desde o início do processo que o autarca albicastrense tem manifestado confiança na viabilização da companhia.

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Ryanair apresenta nova queixa contra ajuda à TAP no tribunal europeu

  • ECO
  • 18 Agosto 2021

A Ryanair avançou com uma nova queixa contra a ajuda pública prestada à TAP. Desta vez, por causa dos 462 milhões aplicados na transportadora portuguesa pelo Governo.

A Ryanair apresentou uma queixa junto do Tribunal de Justiça da União Europeia contra a ajuda de 462 milhões de euros à TAP aplicada pelo Governo português, avança o Público (acesso condicionado), esta quarta-feira.

É importante explicar que o Governo usou esses 462 milhões de euros para reforçar o capital da TAP SA em maio, passando a deter diretamente cerca de 92% da transportadora área. Na prática, o Estado ficou, assim, com 97,8% daquele que é o principal ativo do grupo TAP. O Executivo precisa ainda de enviar a Bruxelas um relatório (com as contas auditadas e certificadas por uma entidade externa) de modo a comprovar que o apoio não foi excessivo.

Esta é a segunda frente de batalha jurídica aberta pela companhia aérea irlandesa Ryanair à portuguesa TAP. Antes da atual queixa, a companhia já tinha questionado o empréstimo à TAP de 1.200 milhões de euros, que foi aprovado por Bruxelas.

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Hoje nas notícias: Garantias, Ryanair e Luís Filipe Vieira

  • ECO
  • 18 Agosto 2021

Dos jornais aos sites, passando pelas rádios e televisões, leia as notícias que vão marcar o dia.

A Ryanair apresentou uma nova queixa contra a TAP no tribunal europeu e as garantias dos produtos aumentam para três anos. Esta quarta-feira fica ainda marcada pela nota de que Luís Filipe Vieira tem 13 dias para pagar empréstimo de 160 milhões, mas também pela notícia de uma fraude fiscal com ouro vendido no tempo da troika “custou” milhões à Autoridade Tributária.

Ryanair apresenta nova queixa contra a TAP no tribunal europeu

A Ryanair apresentou uma queixa junto do Tribunal de Justiça da União Europeia contra a TAP por causa dos 462 milhões de euros que estão a ser aplicados na transportadora pelo Governo português. Esta é a segunda frente de batalha jurídica aberta pela companhia aérea irlandesa à TAP, depois de ter questionado o empréstimo de 1.200 milhões de euros aprovado por Bruxelas. Leia a notícia completa no Público (acesso condicionado).

Garantia dos produtos vai aumentar de dois para três anos

Os consumidores vão ter direito a mais um ano para devolver ou pedir a troca de um produto avariado. A partir do próximo ano vai ser possível ativar a garantia de um produto até três anos depois da compra. Atualmente, o prazo de garantia aplicado a “bens móveis”, como eletrodomésticos, está limitado a dois anos. Objetivo passa por reforçar “a proteção do consumidor num mercado cada vez mais competitivo e digital”. O diploma já foi submetido à consulta do Conselho Nacional do Consumo (CNC) e entrará em vigor a 1 de janeiro de 2022. Leia a notícia completa no Jornal de Negócios (acesso pago).

Vieira tem 13 dias para pagar empréstimo de 160 milhões

Luís Filipe Vieira tem 13 dias para pagar o empréstimo de 160 milhões de euros que lhe foi concedido por Ricardo Salgado através de uma emissão de dívida de Valores Mobiliários Obrigatoriamente Convertíveis. Caso não cumpra esse prazo, o Novo Banco pode tornar-se dono da Promovalor SGPS, sociedade da qual constam os interesses imobiliários mais importantes da família Vieira. A administração do Novo Banco vai reunir-se esta quarta-feira para decidir o futuro dessa sociedade. Leia a notícia completa no Correio da Manhã (acesso pago).

Mais de 80% dos novos empregos nas autarquias foram diretos para os quadros

A menos de três meses das eleições, os dados do Ministério da Administração Pública indicam que mais de 84% dos novos empregos criados no setor das autarquias assumiram a forma de vínculos contratuais sem termo. A nível nacional é menos de metade, apenas 36% foram diretamente para o quadro. Atualmente, as autarquias (câmaras, juntas de freguesia, empresas, associações, fundações, comunidades intermunicipais) dão trabalho a 126.780 pessoas em Portugal, o registo mais elevado desta série que começa no final de 2011. São mais 4.400 face há um ano. Leia a notícia completa no Diário de Notícias (acesso pago).

Fraude fiscal com ouro vendido no tempo da troika

Foi detetada uma fraude fiscal de milhões de euros com ouro vendido no período de intervenção da troika em Portugal. Um empresário envolvido no processo foi condenado a 10 anos de cadeia, sendo que a rede exportadora chegou a ter mais de 20 lojas espalhadas pelo território nacional. O Fisco foi lesado num esquema de faturas falsas. Leia a notícia completa no Jornal de Notícias (link indisponível).

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Garantia dos produtos vai aumentar de dois para três anos

  • ECO
  • 18 Agosto 2021

A partir do próximo ano vai ser possível ativar a garantia de um produto até três anos depois da compra. Violação dos direitos dos consumidores dá multa entre os 1.700 e 24 mil euros.

Os consumidores vão ter direito a mais um ano para devolver ou pedir a troca de um produto avariado. A partir do próximo ano vai ser possível ativar a garantia de um produto até três anos depois da compra, avança o Jornal de Negócios (acesso pago).

Atualmente, o prazo de garantia aplicado a “bens móveis”, como eletrodomésticos, está limitado a dois anos. Objetivo passa por reforçar “a proteção do consumidor num mercado cada vez mais competitivo e digital”. O diploma já foi submetido à consulta do Conselho Nacional do Consumo (CNC) e entrará em vigor a 1 de janeiro de 2022.

O vendedor passará a ser “responsável por qualquer falta de conformidade que se manifeste no prazo de três anos a contar da entrega do bem”. Caso se trate de bens usados, o prazo de três anos poderá ser reduzido para 18 meses, “por acordo entre as partes”, de acordo com o texto do diploma.

A violação dos direitos dos consumidores garantidos pelo diploma constituirá contraordenação económica grave, o que significa que as multas podem variar entre 1.700 e 24 mil euros, dependendo da dimensão da empresa infratora.

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Lojas do Cidadão com funcionamento normal em setembro

  • Lusa
  • 18 Agosto 2021

Governo vai dar orientações para o atendimento sem marcação prévia nas Lojas do Cidadão. Deve ser retomado o horário de funcionamento e atendimento completo e contínuo em setembro.

As Lojas do Cidadão deverão regressar ao funcionamento normal no início de setembro, passando a prestar atendimento presencial sem necessidade de marcação prévia.

O Governo preparou um diploma, que será publicado em Diário da República, o qual estabelece orientações para o atendimento sem marcação prévia nas Lojas do Cidadão e que determina, entre outros aspetos, que deve ser retomado o horário de funcionamento e atendimento completo e contínuo.

Em declarações à Lusa, o vogal da Agência Para a Modernização Administrativa Paulo Mauritti explicou que objetivo é, com planeamento, regressar à normalidade em setembro, se a evolução da pandemia e a vacinação o permitirem.

“Se a evolução pandémica permitir estamos a criar meios para estar preparados para o regresso das lojas em setembro com horário de funcionamento, atendimento completo e continuo”, disse.

Paulo Mauritti alertou que apesar de o atendimento presencial nas 60 Lojas do Cidadão ser importante continuam a existir meios alternativos de atendimento que devem continuar a ser usados.

Segundo o diploma do Ministério da Modernização do Estado e da Administração Pública, por Resolução do Conselho de Ministros, que altera as medidas aplicáveis em situação de calamidade, no âmbito da pandemia de Covid-19, foram previstas medidas a aplicar em função da progressão da pandemia.

Ao abrigo dessa resolução, quando seja atingido o patamar de 70% da população com vacinação completa, o Governo deverá determinar, a aplicação de certas medidas de desconfinamento, designadamente que as lojas do cidadão passam a prestar atendimento presencial sem necessidade de marcação prévia.

Mais de 6,7 milhões de pessoas (66%) residentes em Portugal completaram a vacinação contra a Covid-19, revela o relatório semanal da Direção-Geral da Saúde publicado na terça-feira.

De acordo com o relatório de vacinação, até domingo 6,76 milhões de pessoas (66%) concluíram a vacinação e 7,79 milhões (76%) tomaram pelo menos uma dose de vacina.

O diploma surge agora em conformidade com o definido pela resolução, antecipando um conjunto de orientações para o funcionamento das Lojas do Cidadão neste contexto, considerando que a Agência para a Modernização Administrativa, na qualidade de entidade gestora da rede de Lojas do Cidadão, deve considerar algumas orientações.

Além da retoma ao horário de funcionamento e atendimento completo e contínuo é aconselhado que o atendimento sem marcação e o atendimento previamente agendado devem ser compatibilizados, de forma a que este não seja prejudicado.

Por outro lado, o diploma refere que os serviços sujeitos a maior procura devem encontrar soluções para maior capacidade de resposta, designadamente revendo os tempos de agendamento, afetando trabalhadores para triagem ou agendamento e destacando postos de atendimento para atendimento sem marcação e/ou intercalando ambos os atendimentos.

Aos cidadãos que não consigam atendimento na sua deslocação, deve ser assegurado agendamento oportuno.

A entrada nestes serviços com acompanhantes só deve ser admitida quando indispensável e o número de senhas que pode ser distribuído aos cidadãos sem agendamento prévio, em cada entidade, deve ser comunicado ao coordenador/Unidade de Gestão da respetiva loja, em momento anterior à abertura, assegurando-se a sua publicitação.

Nos Espaços Cidadão situados nas Lojas do Cidadão que disponham de mais de um posto de atendimento, deve preferencialmente afetar-se um deles ao atendimento sem marcação e o outro ao atendimento agendado.

No diploma a que a Lusa teve acesso o Governo refere ainda que a ocupação máxima da loja deve ser respeitada em permanência, considerando sempre a informação do sistema de contagem de pessoas no interior das lojas que disponham do mesmo.

Os cidadãos em espera (com ou sem agendamento), que ultrapassem a lotação autorizada, devem aguardar fora do recinto das Lojas do Cidadão, cumprindo as regras de distanciamento social.

Aos que não efetuarem a higienização das mãos à entrada ou não usarem máscara ou viseira será vedado o acesso no interior das Lojas do Cidadão e também não é permitido o consumo de alimentos ou bebidas.

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Tiro da “bazuca” derruba emissão de dívida do IGCP

A justificação para o cancelamento da emissão de dívida prevista para esta quarta-feira é o calendário de chegada dos fundos europeus. Este mês, Portugal levantou 2,2 mil milhões de euros da "bazuca".

Portugal tinha programado ir ao mercado esta quarta-feira, para emitir entre 750 milhões e 1.000 milhões de euros em bilhetes do Tesouro a 3 e 11 meses. Mas a operação não se vai realizar. Na sexta-feira, o IGCP anunciou o cancelamento da emissão obrigacionista, decisão que é explicada com a chegada ao país dos primeiros euros do fundo de recuperação.

Quando anunciou o cancelamento da operação, o IGCP não apresentou qualquer justificação para o travão ao leilão de Bilhetes do Tesouro programado para a manhã desta quarta-feira. Contudo, agora, numa resposta ao ECO, fonte oficial da agência que gere a tesouraria e a dívida do Estado explica o que levou Portugal a recuar.

“O programa de financiamento para o terceiro trimestre previa um leilão de Bilhetes do Tesouro a 3 e 11 meses, em agosto, com um montante indicativo entre 750 [milhões] e 1.000 milhões. Atendendo ao montante das necessidades de financiamento coberto e ao calendário de desembolso de fundos europeus, conforme aconteceu no passado, revelou-se necessário introduzir ajustamentos às linhas de atuação anunciadas ao mercado”, explica o IGCP. “Face ao exposto, foi decidido cancelar o leilão de Bilhetes do Tesouro previsto para” esta quarta-feira, remata a mesma fonte oficial.

Por outras palavras, o cancelamento dá-se no contexto de desembolso dos fundos da chamada “bazuca” europeia, previstos no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). A 3 de agosto, Portugal foi ao “banco” e levantou a primeira tranche de 2,2 mil milhões de euros.

O próximo leilão de títulos de dívida pública de curto prazo está programado para 15 de setembro de 2021, com o qual o IGCP pretende obter entre 1.000 milhões e 1.250 milhões de euros em títulos com maturidade de 6 e 12 meses. O último leilão deste género tinha sido realizado a 21 de julho, com o qual a agência emitiu 1.000 milhões de euros em obrigações com maturidade em julho de 2022.

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Powell diz que pandemia mudou economia dos EUA para sempre

  • Lusa
  • 18 Agosto 2021

Apesar de ainda não ser claro se a variante Delta do novo coronavirus vai ter mais impacto na economia, os EUA já viram alterações significativas. Trabalho vai ser cada vez mais remoto.

O presidente da Reserva Federal (Fed), Jerome Powell, defendeu que a economia dos EUA foi mudada para sempre pela pandemia do novo coronavirus e que é importante o banco central adaptar-se a estas mudanças.

Numa videoconferência com professores e estudantes realizada na terça-feira nos EUA, Powell disse que, apesar de ainda não ser claro se a variante delta do novo coronavirus vai ter mais impacto na economia, o país já viu alterações significativas desde que a pandemia começou a fechar o país, em março de 2020.

Estas mudanças vão desde o aumento do teletrabalho, à maior oferta de refeições take-away por parte dos restaurantes ou aos agentes imobiliários, que mostram casas de forma virtual, exemplificou.

Muitas empresas já fizeram investimentos relevantes em tecnologia para se adaptarem aos desafios que a pandemia colocou.

“Parece que é certo que vai haver substancialmente mais trabalho remoto daqui para a frente”, disse Powell. “Isto vai mudar a natureza do trabalho e a forma como é feito”, avançou.

“Nós não vamos voltar à economia que tínhamos antes da pandemia, (…) precisamos de observar cuidadosamente a forma como a economia evolui através da pandemia, procurar entender como mudou e quais as implicações para a nossa política”, declarou Powell.

Powell afirmou também que os investimentos pesados das empresas em novas tecnologias significam que vai haver mais empregos no futuro associados a essa tecnologia, mas também perdas potenciais de empregos em setores focados nos contactos interpessoais. Realçou que alguns desses setores podem evoluir para “um modelo automatizado, de não contacto”.

"Parece que é certo que vai haver substancialmente mais trabalho remoto daqui para a frente. Isto vai mudar a natureza do trabalho e a forma como é feito.”

Jerome Powell

Presidente da Fed

Esta tendência já se está a ver na informação sobre os empregos, com a recuperação mais lenta nas indústrias que assentam na interação pessoal, como viagens, entretenimento e hotelaria. Estes são empregos desproporcionadamente ocupados por mulheres e pessoas de cor e que pagam baixos salários, detalhou Powell.

“Pode ser que algumas dessas pessoas passem tempos difíceis a procurar regressar ao mercado de trabalho, sem mais educação nem formação”, preveniu. Powell acentuou ainda que há milhões de pessoas que perderam empregos no setor de serviços e que permanecem fora do mercado de trabalho, pelo que precisam de ser apoiadas.

“Esta é uma parte da recuperação que está longe de estar completa”, disse.

Dirigindo-se aos estudantes e professores da sua audiência, Powell disse que a pandemia pode vir a constituir um ponto de inflexão histórica, permitindo à atual geração de estudantes tornar as lições aprendidas em “profundos instrumentos de mudança”.

Os estudantes que viveram através da pandemia vão ver o mundo de forma diferente, previu.

“Vocês viram a queda de um mundo, mas também viram um mundo em rápida mudança – por vezes, mais durante uma semana do que alguns de nós experimentaram ao longo de décadas”, comparou.

“Este é um tempo extraordinário e acredito que vai resultar numa extraordinária geração”, disse Powell.

Esta é uma iniciativa que foi iniciada por Ben Bernanke, um dos antecessores de Powell no cargo, e continuada por Janet Yellen, a anterior presidente da Fed e atual secretária do Tesouro. O objetivo é ilustrar a importância do ensino de Economia.

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Portugal na cauda da UE no regresso ao PIB pré-Covid. Nove países já recuperaram da crise

A queda maior em 2020 e o percalço no arranque de 2021 deixaram Portugal na cauda da retoma na UE, apesar da aceleração da retoma no segundo trimestre. Há nove países que já atingiram nível pré-crise.

Apesar de ter registado o quinto maior crescimento da União Europeia no segundo trimestre deste ano, o PIB (produto interno bruto) de Portugal ainda está a 4,7% do nível pré-crise pandémica. Por um lado, há dois países na UE mais longe desse nível e, por outro lado, há nove países que já recuperaram totalmente. A média europeia está a cerca de 3% de completar a retoma, sendo influenciada pela maior demora nas quatro maiores da economia (Espanha, Itália, Alemanha e França).

Estas são as conclusões que se podem tirar dos cálculos do ECO a partir dos dados do Eurostat sobre o PIB do segundo trimestre de 2021 na União Europeia, ainda na ausência de números para sete países. A comparação é feita com o quarto trimestre de 2019, o último sem a pandemia de Covid-19 na Europa. No caso da China o PIB recuperou ainda em 2020 e no caso dos Estados Unidos a retoma ficou completa no segundo trimestre deste ano.

Na União Europeia, entre os 21 Estados-membros para os quais há dados completos, 14 países ainda não recuperaram totalmente. O que está mais “atrasado” é Espanha onde o PIB estava no final de junho cerca de 7% aquém do nível pré-pandemia. A economia espanhola não sofreu tanto quanto Portugal no primeiro trimestre deste ano, tendo caído apenas 0,5%, mas tinha sido mais afetada durante 2020, registando a maior queda anual (-10,6%) da União Europeia.

Segue-se a República Checa (cerca de 5% aquém) e depois Portugal, cujo PIB está 4,7% abaixo do tamanho que tinha no quarto trimestre de 2019. Entre estes países poderá ainda estar Malta: o Eurostat ainda não tem dados do segundo trimestre, mas no primeiro trimestre o PIB do país estava 6% aquém do nível pré-pandemia.

O caso da economia portuguesa é explicado pela maior queda do PIB no segundo trimestre do ano passado, influenciado pela maior dependência económica do turismo em comparação com outros países europeus, e também pelo maior impacto da Covid-19 no arranque de 2021. Portugal registou a maior contração do PIB da UE no primeiro trimestre, fruto da difícil situação pandémica em janeiro e fevereiro, atrasando notoriamente a retoma da economia portuguesa.

Ligeiramente acima de Portugal surgem as três maiores economias da Zona Euro: Itália, cujo PIB está 4% aquém, Alemanha, cujo PIB está 3,6% aquém, e França, cujo PIB está 3,3% aquém. A economia alemã já esteve mais avançada neste processo, mas foi penalizada significativamente no primeiro trimestre e não conseguiu recuperar todo o impacto do arranque do ano no segundo trimestre.

É a demora da recuperação nas maiores economias europeias que puxa a médiaa expectativa das instituições europeias é que a média recupere totalmente ainda este anosignificativamente para baixo: o PIB da Zona Euro está 3% aquém do nível pré-pandemia e o da União Europeia 2,6%. Isto apesar de ter muitos mais países europeus (só que mais pequenos) acima da média europeia do que abaixo. É o caso da Irlanda, que é a economia mais avançada na recuperação da pandemia — porém, é preciso relembrar os efeitos contabilísticos que incidem sobre o cálculo do PIB irlandês.

Países europeus estão a recuperar do efeito da Covid-19, mas a ritmos diferentes

Fonte: Cálculos do ECO com base nos dados do Eurostat.

Os outros oito países que já ultrapassaram o nível pré-pandemia são a Letónia (0,1% acima), Polónia (0,19% acima), Hungria (0,6% acima), Dinamarca (0,69% acima), Lituânia (1,51% acima), Roménia (1,95% acima), Luxemburgo e Estónia. No caso da Irlanda, Luxemburgo e Estónia, o Eurostat ainda não tem dados do segundo trimestre, mas estes países já tinham ultrapassado no primeiro trimestre. Perto de ultrapassar, entre os países sem dados para o segundo trimestre, estão a Grécia (-2,9% aquém) e a Croácia (-1,6% aquém).

Entre os que devem alcançar o nível pré-pandemia nos próximos trimestres, antes do final do ano, está a Holanda, Suécia, Finlândia e Bulgária. Também a cerca de 3% do PIB pré-Covid está a Bélgica, Chipre e Eslováquia. Isto significa que, salvo alguma surpresa negativa, a maioria dos países da União Europeia deverá chegar ao final deste ano já com a economia recuperada da Covid-19. No caso de Portugal, a expectativa é que tal aconteça no início de 2022.

Os dados confirmam também a ideia de que foi nas economias do Norte da Europa onde o impacto económico da pandemia foi menor e é lá que a retoma está a ser mais rápida, em relação ao Sul da Europa. Porém, há exceções: por um lado, com a Alemanha (considerada do Norte da Europa na habitual divisão entre Norte e Sul) a juntar-se à causa da UE neste indicador e, por outro lado, com a Croácia e a Grécia, países mais dependentes do turismo, a recuperar mais rapidamente do que outros países do Sul da Europa.

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70% da população vacinada esta semana permite fim da obrigação de máscara na rua

No final desta semana 70% da população deverá ter a vacinação completa. Ao alcançar esta meta, o país deve avançar já para a segunda fase do desconfinamento, em vez de no início de setembro.

A segunda fase do processo de desconfinamento decidido pelo Governo no final de julho estava prevista para o início de setembro, mas deverá ser antecipado para breve uma vez que Portugal atingirá esta semana a meta de 70% da população totalmente vacinada. Essa é a expectativa do vice-almirante que, a concretizar-se, abrirá a porta ao fim do uso obrigatório de máscara na via pública.

O próprio primeiro-ministro admitiu na conferência de imprensa em que apresentou o plano de três fases de desconfinamento que as datas podiam ser alteradas caso os objetivos fossem atingidos mais rapidamente. É o que deverá a acontecer, dado o elevado ritmo de vacinação em Portugal, com a meta de 70% da população totalmente vacinada a ser antecipada para esta semana.

O coordenador do grupo de trabalho responsável, Henrique Gouveia e Melo, disse ao Público que, ao que tudo indica, “em princípio” Portugal atingirá essa meta “até ao final desta semana”. De acordo com o relatório de vacinação divulgado esta terça-feira pela Direção-Geral de Saúde (DGS), 66% da população portuguesa estava totalmente vacinada até 15 de agosto.

Dado que não há Conselho de Ministros esta semana, a decisão (e a respectiva legislação) do Governo de avançar para a segunda fase poderá só ser tomada na próxima semana, a 26 de agosto (quinta-feira), já perto do início de setembro, altura para que estava previsto avançar esta fase. Mas nada impede o Executivo, atualmente chefiado por Mariana Vieira da Silva uma vez que António Costa (e o seu número dois e número três) está de férias, de fazer um Conselho de Ministros eletrónico antes dessa data.

Uma das principais mudanças da segunda fase do desconfinamento é o fim do uso da máscara na rua, o qual é obrigatório atualmente sempre que não seja possível cumprir o distanciamento físico recomendado. Mas há mais: a lotação dos casamentos e batizados assim como dos espetáculos culturais sobe para 75%, os transportes públicos deixam de ter limites à lotação e deixa de ser necessário marcação prévia para aceder aos serviços públicos.

Se se mantiver o ritmo de vacinação, a terceira fase, que estava prevista para o início de outubro, também poderá ser antecipada caso Portugal atinja mais cedo a meta de ter 85% da população totalmente vacinada. Nessa altura, os bares e discotecas abrem com acesso condicionado ao certificado digital ou teste negativo, os restaurantes ficam sem limite máximo de pessoas por grupo e a lotação dos vários eventos deixam de ter limites.

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Resultados do combate aos incêndios no Algarve foram “bastante positivos”, diz Governo

  • Lusa
  • 17 Agosto 2021

O incêndio que teve início em Castro Marim poderia ter atingido os 20.000 hectares ardidos, mas ficou nos 6.700, de acordo com Patrícia Gaspar.

A secretária de Estado da Proteção Civil, Patrícia Gaspar, qualificou esta terça-feira como “bastante positivos” os resultados do combate ao incêndio que se iniciou em Castro Marim, que poderia ter atingido os 20.000 hectares ardidos, mas ficou nos 6.700.

“Nós tínhamos aqui uma ocorrência com um potencial enorme de destruição, com uma área potencial que poderia ter alcançado os 20.000 hectares, e os números que hoje temos são bastante positivos e eles devem-se à eficácia e à operacionalidade de todos aqueles que combateram este incêndio, quer no terreno, quer nas salas de operações, quer no comando regional, mas também na sede da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, onde toda esta operação foi acompanhada desde a primeira hora”, afirmou a governante.

Patrícia Gaspar falava no Azinhal, em Castro Marim, durante o último ponto de situação da Proteção Civil sobre o incêndio que se iniciou na segunda-feira à 01:05, foi dado como dominado às 10:20, mas sofreu depois um reacendimento que levou à propagação do fogo para sul. As chamas só foram dominadas esta terça-feira, às 16:02.

Congratulamo-nos com o facto de não existirem vítimas deste incêndio, quer ao nível da população civil, quer ao nível dos operacionais, houve alguns ferimentos ligeiros e esperamos que as pessoas que os sofreram rapidamente possam recuperar”, afirmou.

A secretária de Estado destacou o trabalho que tem estado a ser feito com “um apelo constante” para que haja “uma adequação dos comportamentos de toda a população junto dos espaços florestais” e sublinhou que o incêndio, agora em fase de consolidação da extinção e rescaldo, aconteceu “naquele que, até hoje, foi o pior dia em termos de severidade meteorológica deste ano”.

“Temos alertado para que qualquer pequena ignição, nestas condições meteorológicas, pode degenerar numa grande ocorrência e esta é a prova de que estes apelos nunca são demais”, alertou.

Patrícia Gaspar realçou também o trabalho que tem sido feito pela Proteção Civil e o Governo na implementação de “um dispositivo todo ele integrado, cada vez mais robustecido”, que está a “garantir bons resultados”.

“Isto não é um balanço, é muito cedo para balanço, mas este ano apresenta-se até agora com resultados bastante positivos. Estamos a falar de cerca de 16.600 hectares ardidos desde o início do ano, aos quais se irão somar os dados finais apurados deste incêndio, e isto representa uma redução de cerca de 74% face àquele que é o balanço dos últimos 10 anos”, exemplificou.

A par destes números, Patrícia Gaspar disse que tem sido “conseguido também reduzir o número de ocorrências”, embora sem quantificar.

“Temos todos de ficar de alguma forma satisfeitos – não com o incêndio, que obviamente gostaríamos que não tivesse acontecido – mas porque, considerando as consequências que ele poderia ter tido, o balanço que nos é dado a conhecer é de alguma forma positivo”, declarou.

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Moradores de Castro Marim revoltados por falta de apoio no combate ao fogo

  • Lusa
  • 17 Agosto 2021

O fogo que teve início em Castro Marim consumiu mais de 9.000 hectares de terrenos agrícolas e florestais. Moradores acusam os bombeiros de pouco ou nada terem feito.

Moradores do interior do concelho de Castro Marim queixam-se da falta de apoio dos bombeiros e de água canalizada para o combate ao incêndio que durante dois dias, entre segunda e terça-feira, reavivou a memória do fogo de 2004.

Em cerca de 40 horas, o fogo que teve início em Castro Marim por volta das 01:00 de segunda-feira, alastrando-se ainda a Tavira e Vila Real de Santo António, consumiu mais de 9.000 hectares de terrenos florestais, agrícolas, mato e alguns imóveis, e deixou as populações em alerta.

Uma viagem pelas estradas rurais que ligam a localidade de Odeleite (Castro Marim) – onde se situa a barragem que os aviões usam para reabastecimento – e a Mata Nacional da Conceição (Tavira) – um dos ‘pontos quentes’ indicados pela Proteção Civil – dá uma visão abrangente sobre o impacto das chamas.

Na localidade de Cortelha, Castro Marim, fica situado um edifício consumido quase na totalidade pelo incêndio: um armazém de cereais, alfarrobas e outros produtos agrícolas que os proprietários viram desaparecer em minutos.

Um grupo de pessoas conversa em frente ao que ainda resta da construção e mostra-se indignada com o que se passou, mas as atenções estão viradas para a dona Natália, que, desconsolada e em lágrimas, vai relatando o que viveu e mostra o pouco que sobrou.

“O meu filho veio com isto na mão e disse-me: foi o que sobrou do ouro”, diz, enquanto mostra algumas peças que tinha ali guardadas e agora quase impercetíveis.

É a muito custo que revela à Lusa que os figos, amêndoas, alfarrobas, várias centenas de quilos de cereais e todo o material que levava para vender no mercado desapareceram. “Ardeu tudo”, lamenta.

O fumo ainda é visível a sair de uma das divisões do armazém, onde uma empilhadora jaz junto ao uma porta entreaberta e contorcida pelo calor. O resto das divisões já não têm telhado e no chão negro é com dificuldade que se consegue identificar o que quer que lá tenha estado.

“O fogo estava lá em baixo, mas os bombeiros não o apagaram lá, nem aqui, e depois de estar tudo a arder é que vieram, deitaram um bocadinho de água. Ela acabou, eles foram-se embora e isto continuou a arder”, destaca Natália.

Na localidade, agora sem água, ainda conseguiram “tirar alguns dos carros”, mas uma carrinha repousa ardida em frente ao armazém.

“Ardeu também um outro camião que está lá na parte de trás”, conta o filho Nelson.

“Ardeu tudo, ficámos só com a roupa. Os materiais e o dinheiro foi-se. O meu pai só trabalha com dinheiro vivo, não trabalha com cheques”, afirma. Como o negócio é de compra e venda a pequenos produtores, “eles preferem em dinheiro”. Não revela o montante perdido, mas assume que “dava para comprar uma casa, das grandes”.

A conversa toma outro tom quando Manuel Pereira, vizinho, acusa os bombeiros de “pouco ou nada terem feito” e afirma que estavam 12 carros de bombeiros num largo a “pouco mais de 100 metros” e “deixaram arder esta casa”.

“Fizeram zero e eu estava aqui nessa altura. Estavam deitados dentro dos carros. Estava tudo ardendo, tomado pelas chamas. O homem [o dono do armazém] deitado ali na estrada…”, descreve, já com a voz embargada, referindo que lhe responderam que “não tinham ordem para ir apagar”.

A indignação é notória noutros populares que relatam situações similares em mais localidades e aproveitam a presença de alguns membros do município para “dizer o que tem de ser dito”.

Ao longo das estradas sinuosas da serra o cenário é negro, pontuado com algum verde das árvores que conseguiram escapar às chamas. Muitos postes de comunicações não tiveram a mesma sorte e vários repousam agora no terreno ou ficam pendurados e agarrados ao fio que se mantém no ar graças aos outros que resistiram.

É já na Carrapateira, concelho de Tavira, que José António tira água do poço com dois baldes, para dar conta de algum pequeno fumo e para “ter um pouco de água em casa”, já que se acabou a que lá tinha.

Reside em Cacela, mas assim que soube do fogo foi ver se conseguia salvar a casa que era do sogro. “Safou-se desta vez, como em 2004”, conta, quando quatro aviões sobrevoam a caminho da barragem de Odeleite para reabastecer. “Ainda deve haver por aí algum fogo”, afirma.

Numa zona onde a estrada passa várias vezes os limites dos concelhos, é já em Castro Marim, na localidade de Pisa Barro de Cima, que um grupo de populares se junta à porta do café Ribeira da Serra com o fogo como ponto de conversa.

São cerca de 10 habitantes, entre homens, mulheres e crianças, e à pergunta sobre como foi a noite passada respondem quase em uníssono: “Fomos nós a combater o fogo. Aqui não havia bombeiros”.

A discordância surge quando tentam calcular quanto tempo estiveram sozinhos a combater o fogo. “Uma hora e meia, duas horas ou mais… Só apareceram já as chamas tinham passado a povoação”, ouve-se.

A indignação dirige-se também ao município, ao qual, com ironia, agradecem por ainda não terem água canalizada. Notam que, se tivesse acabado a eletricidade, “tinha sido a bonita”, já que as casas ficaram ameaçadas e as bombas são elétricas.

A mobilização da população começou “às cinco, seis da tarde”, quando decidiram encher os tanques com água por precaução e porque já previam o que iria acontecer.

“Fizemos exatamente a mesma coisa do que no incêndio de 2004. Foi a mesma coisa. Os bombeiros não apareceram em 2004 e agora aconteceu o mesmo”, reclamam.

A estrada segue em direção a sul e, já com vista mar, o cenário mantém-se negro, com os limites do empreendimento Monte Rei a revelarem não terem sido suficientes para parar as chamas. Só os relvados do campo golfe conseguem manter o verde.

A sul da Autoestrada 22 o rasto do fogo mantém-se e em algumas zonas são visíveis pontos de fumo e carros de bombeiros a vigiar ou aguardar indicações.

Às 16:30 é anunciado que o incêndio está dado como dominado, mas uma hora depois os aviões ainda descarregam água algures perto da Mata de Santa Rita (Tavira), uma zona de arvoredo mais denso, que foi uma preocupação ao longo do dia de hoje e se mantém sob o olhar dos operacionais no terreno.

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Wall Street quebra ciclo de ganhos ao cair quase 1%

Após cinco sessões de ganhos, o Dow Jones e o S&P 500 fecharam em terreno negativo esta terça-feira. A "culpa" é da contração das vendas no retalho em julho nos EUA.

Os três principais índices norte-americanos desvalorizaram na sessão desta terça-feira, penalizados pela queda das vendas no retalho e pelo receio de que a retoma económica esteja a desacelerar a nível mundial.

O Dow Jones perdeu 0,79% para os 35.343,28 pontos e o S&P 500 cedeu 0,71% para os 4.448,08 pontos, tendo ambos os índices interrompido um ciclo de cinco sessões de ganhos. O S&P 500 fechou esta segunda-feira com o dobro dos pontos que tinha no mínimo alcançado no início da pandemia, o que tornou este bull market no mais rápido desde pelo menos a Segunda Guerra Mundial. Tanto o Dow como o S&P fecharam em máximos históricos na sessão anterior.

O Nasdaq, que já tinha caído na sessão anterior, voltou a desvalorizar: o índice tecnológico perdeu 0,93% para os 14.656,18 pontos. As grandes tecnológicas norte-americanas como a Alphabet (Google), Amazon, Apple e Facebook negociaram em terreno negativo esta terça-feira.

A pesar no sentimento dos investidores estiveram os dados das vendas ao retalho nos Estados Unidos. As vendas caíram significativamente mais do que o esperado em julho — uma queda de 1,1% face aos esperados 0,3% — por causa da falta de automóveis e outros bens, assim como por causa do menor consumo privado devido ao receio da variante Delta.

As cotadas mais penalizadas foram as maiores retalhistas norte-americanas. A Home Depot desceu mais de 4%, após ter revelado que as suas vendas falharam as estimativas pela primeira vez em sete trimestres. Já a Walmart escapou, com as suas ações a subirem depois de a maior retalhista do mundo ter aumentado a sua previsão para as vendas em 2021 nos EUA.

A contrariar a tendência negativa estiveram as cotadas da saúde cujo índice setorial atingiu um novo recorde. A United Health, a Merck e a Johnson&Johnson valorizaram nesta sessão.

As bolsas arrancaram a terceira semana de agosto com o pé esquerdo devido aos dados económicos abaixo do esperado na China e, agora, nos Estados Unidos. A maior cautela levou os investimentos para zonas mais defensivas do mercado como a dívida pública.

O foco está agora nas minutas da última reunião da Reserva Federal que vão ser divulgadas esta quarta-feira. Os investidores aguardam por sinais depois de o presidente da Fed de Boston, Eric Rosengren, ter dito que mais um mês de dados fortes no mercado de trabalho pode satisfazer os requisitos do banco central para começar a redução das compras mensais de ativos que iniciou por causa do impacto da pandemia.

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