Da “oportunidade” à “responsabilidade”, bancos reagem à maioria absoluta do PS

CEO do BPI e do Totta reagiram quarta-feira à maioria absoluta de António Costa nas legislativas. Resultado traz estabilidade ao país, mas eleva a fasquia da responsabilidade. E já há exigências.

Estabilidade, estabilidade e estabilidade. Pergunte a um grupo de gestores e será este, provavelmente, o fator que mais apontarão para a melhoria do clima de negócios. A banca é, talvez, dos exemplos mais prementes. Face à maioria absoluta de António Costa nas últimas legislativas, dois bancos portugueses já reagiram — e, convicções políticas à parte, o certo é que menos incerteza é uma oportunidade a aproveitar, defendem.

Para João Pedro Oliveira e Costa, CEO do BPI, o facto de Portugal passar a ter um Governo com maioria absoluta no Parlamento traz a vantagem de “clarificar o futuro e reduzir fatores de incerteza importantes”. Essa oportunidade é ainda mais relevante numa altura em que o país se prepara para começar a executar os fundos da “bazuca” europeia. Segundo o gestor, há aqui “uma grande oportunidade que vai criar um momento histórico”, disse esta quarta-feira, numa conferência de imprensa.

“Temos claramente um vento de popa, como dizem os marinheiros, muito significativo”, ressalvou até.

Contudo, a maioria absoluta socialista não tem só vantagens. Na ótica do CEO do BPI, o resultado da eleição de domingo “aumenta a responsabilidade de quem assume a difícil tarefa de governar o país que tem enorme esperança na recuperação que temos pela frente”.

João Pedro oliveira e Costa tem, desde já, um pedido a fazer ao novo Governo — o fim da contribuição extraordinária imposta à banca. “Se tenho expectativas? Vou acreditar que sim, que vai prevalecer o bom senso, mas pelo menos para este Orçamento não tinha sido retirado”, apontou.

Para o CEO do BPI, manter a contribuição “não faz sentido absolutamente nenhum”. “É uma penalização que não entendo, ainda mais depois de tudo o que os bancos demonstraram durante os últimos dois anos, a reestruturação que fizeram, o esforço enorme que fizeram, não foram parte do problema como no passado, são parte da solução e uma parte do problema estão a pagá-la”, disse. O BPI já pagou 18,8 milhões de euros no âmbito desta medida.

Também esta quarta-feira falou o CEO do Santander Totta, no dia em que o banco apresentou os resultados do ano completo de 2021. Para Pedro Castro e Almeida, um Governo maioritário é uma “oportunidade” para o país, embora “o grau de exigência” seja “muito grande”.

“Há uma muito maior liberdade de execução face a um governo minoritário. Não há muitos países na Europa com esta capacidade de autonomia e de decisão como nós temos”, afirmou numa conferência de imprensa. Em simultâneo, o governo maioritário permitirá atrair talento para o Governo.

“Há muitas pessoas que não iriam para um Governo de combate político. Há pessoas e até independentes que pela perspetiva de um governo a quatro anos e com capacidade para executar um plano, também aí a atração de talento é uma grande vantagem”, explicou o gestor.

Para Castro e Almeida, são três as prioridades para o país. Numa altura em que já se fala da possibilidade de subidas dos juros pelo BCE, o gestor defendeu: “Devemos aproveitar os próximos anos de crescimento para continuar a consolidar esta a consolidação orçamental. Se chegarmos daqui a três anos com 115% ou 120% de dívida pública, acho que vamos ter um problema.”

A segunda prioridade é a execução do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), mas também dos fundos do PT2020 e do PT2030. “Temos mais de 60 mil milhões [de euros para executar] nos próximos anos”, recordou.

Para o CEO do Totta, a terceira prioridade é crescer. “Há 20 anos que crescemos a 0,8% ao ano e, em termos relativos, vamos ficando mais pobres. Claramente temos de apostar muito na modernização e temos muitos fundos para o fazer”, disse aos jornalistas, para quem o Estado tem, também, de ser um agente “facilitador” e “menos burocrático”.

Além do sistema financeiro, também os empresários andam animados com o novo Governo livre da extrema-esquerda. Sem as “amarras” do Bloco de Esquerda e do PCP, as empresas portuguesas contam ver António Costa com ímpeto reformista e um programa para baixar impostos, estabilizar a legislação laboral e subir os incentivos ao investimento e à inovação.

O BPI registou lucros de 307 milhões de euros em 2021, ou seja, quase triplicou o resultado líquido face aos 105 milhões conseguidos em 2020. O banco vai entregar um dividendo de 194 milhões de euros ao acionista CaixaBank.

Já o Santander Totta viu os lucros crescerem 1% em 2021, para 298,2 milhões de euros. O banco vai pagar 480 milhões de euros de dividendos aos espanhóis do Santander, informação conhecida no dia em que um balanço feito pelo banco contabilizou uma redução de 1.175 trabalhadores em Portugal no ano passado, em que encerrou 79 balcões no país.

 

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

Da “oportunidade” à “responsabilidade”, bancos reagem à maioria absoluta do PS

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião