Estes são os mais recentes oligarcas russos sancionados pela UE
As sanções da União Europeia contra a Rússia incidem em grande parte sobre as fortunas e os bens de multimilionários russos, próximos de Vladimir Putin. Quem são e que empresas gerem estes oligarcas?
Desde 2014, ano da anexação da península da Crimeia pela Rússia, que a União Europeia (UE) tem aplicado uma série de medidas restritivas contra Moscovo. No entanto, face à invasão russa da Ucrânia, as sanções impostas por Bruxelas têm subido de tom, atingindo entidades e organismos, mas também indivíduos cujas ações prejudicam ou ameaçam, segundo os responsáveis europeus, a integridade territorial, a soberania e a independência da Ucrânia.
Antes de suspender a atividade da agência noticiosa Sputnik e da televisão Russia Today – meios de comunicação estatais da Federação Russa – no bloco comunitário, e de excluir sete bancos russos do sistema internacional de pagamentos SWIFT, o Conselho da UE adicionou 26 pessoas à lista de indivíduos sancionados. Entre eles, constam membros do Governo e personalidades militares, jornalistas – que Bruxelas descreve como “propagandistas” anti-Ucrânia – e novos oligarcas e empresários ativos nos setores petrolífero, bancário e financeiro.
No total, as medidas restritivas abrangem agora a 53 entidades e 680 indivíduos, e incluem congelamento de bens, proibição de disponibilização de fundos e proibição de entrada ou trânsito no território da UE. O ECO reuniu cinco dos oligarcas tidos como aliados do Presidente russo, Vladimir Putin, e que são visados pelas sanções europeias.
Igor Ivanovich Sechin
Igor Sechin é diretor executivo da Rosneft, companhia petrolífera estatal russa e uma das maiores produtoras de petróleo bruto do mundo. De acordo com o Jornal Oficial da UE, é “um dos conselheiros mais próximos e de maior confiança” de Putin, além de ser seu amigo pessoal, partilhando ligações “de longa data e profundas”. Segundo o The Guardian (acesso livre/conteúdo em inglês), já foi descrito como “a segunda pessoa mais importante na Rússia”.
Considerado um dos membros mais poderosos da elite política russa, Sechin trabalhou com Putin no gabinete do presidente da Câmara Municipal de São Petersburgo na década de 1990, altura desde a qual “deu provas da sua lealdade”. Antes de chegar à Rosneft em 2012, tornou-se vice-chefe da administração de Putin em 1999 e vice-primeiro-ministro em 2008. “É uma das pessoas do círculo de Putin que recebem contrapartidas financeiras e missões importantes pela sua subordinação e lealdade”, lê-se no diário oficial do espaço comunitário.
O texto da UE refere também que a Rosneft esteve envolvida no financiamento das vinhas do palácio perto de Gelendzhik, que Navalny alegou, no ano passado, ser usado pessoalmente pelo Presidente russo. “Portanto, Igor Sechin prestou ativamente apoio material ou financeiro e beneficiou dos decisores russos responsáveis pela anexação da Crimeia e pela desestabilização da Ucrânia”, aponta a UE.
Segundo o The Guardian (acesso livre/conteúdo em inglês), os impostos sobre a empresa liderada por Sechin – que já foi descrito como “a segunda pessoa mais importante na Rússia” – deram 1,8 triliões de rublos ao Governo russo apenas em 2020. “Esse dinheiro teria sido suficiente para financiar cerca de 40% do orçamento militar anual”, refere o artigo do jornal inglês.
Além disso, a Rosneft Aero, uma filial da Rosneft da qual Sechin é diretor executivo, fornece combustível para motores de reação ao aeroporto de Simferopol, que assegura ligações aéreas entre o território da Crimeia ilegalmente anexada e Sebastopol e a Rússia. Os responsáveis europeus concluem, nesse sentido, que este oligarca “ajuda a consolidar a anexação ilegal da península da Crimeia à Federação da Rússia, comprometendo ainda mais a integridade territorial, a soberania e a independência da Ucrânia”.
Entre os bens confiscados a este oligarca estará um iate de 86 metros. “A Alfândega francesa procedeu à apreensão do iate ‘Amore Vero’ em La Ciotat, no âmbito da aplicação das sanções da União Europeia contra a Rússia”, informou o Ministério francês das Finanças, em comunicado divulgado na passada quinta-feira.
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Petr Olegovich Aven
Outro oligarca próximo de Putin é Petr Aven, um dos acionistas do Alfa Group, que inclui um dos principais bancos russos, o Alfa Bank. “É um dos cerca de 50 homens de negócios russos com grandes fortunas que se reúnem regularmente no Kremlin com Vladimir Putin”, refere o Jornal Oficial da UE, que acrescenta que Aven “não atua independentemente das solicitações do Presidente [russo]”.
A amizade com Vladimir Putin remonta ao início da década de 1990. Aven era ministro das Relações Económicas Externas na altura em que o agora chefe de Estado da Rússia presidia a Câmara de São Petersburgo. “Sabe-se ainda que Petr Aven é um amigo muito próximo de Igor Sechin”, escreve o diário oficial de Bruxelas, que conta ainda que a filha mais velha de Putin dirigiu um projeto de beneficência, intitulado “Alfa-Endo” e que foi financiado pelo Alfa Bank.
Petr Aven terá ainda beneficiado das suas ligações ao Governo num processo judicial relativo a interesses relacionados com uma das suas empresas. Segundo a UE, “escreveu uma carta a Vladimir Putin em que se queixava da decisão do Tribunal Arbitral de Moscovo”, após o que o Presidente russo pediu ao Procurador-Geral da Rússia para que investigasse o processo, acabando Putin por recompensar “a lealdade do Alfa Group às autoridades russas dando apoio político aos planos de investimento externo do Alfa Group”.
Por outro lado, Aven e o seu sócio Mikhail Fridman “participam nos esforços do Kremlin para levantar as sanções ocidentais impostas para combater a política agressiva da Rússia contra a Ucrânia”. Consta que, em 2016, Putin avisou Petr Aven sobre a possibilidade de os EUA imporem mais sanções contra este e/ou o Alfa Bank, sugerindo que Aven tomasse medidas para se proteger a si e ao Alfa Bank.
O que fez ele? A par com Fridman, visitou Washington DC em 2018, com a “missão oficiosa de transmitir a mensagem do Governo russo sobre as sanções dos EUA e sobre as sanções de retaliação da Federação da Rússia”, descreve a UE, que conclui que Petr Aven “prestou ativamente apoio material ou financeiro aos decisores russos responsáveis pela anexação da Crimeia e pela desestabilização da Ucrânia”, tendo beneficiado desses decisores. Ao mesmo tempo, “apoiou ações ou políticas que comprometem ou ameaçam a integridade territorial, a soberania e a independência da Ucrânia”, acrescentam os responsáveis europeus.
O Financial Times (acesso pago/conteúdo em inglês) aponta que Mikhail Fridman e Petr Aven “são talvez os melhores integrados no Ocidente” de entre os homens mais ricos da Rússia. Após uma perda de 14 mil milhões de dólares em 2013, com a venda da sua participação na empresa petrolífera TNK-BP à Rosneft, ambos “construíram um império empresarial com sede em Londres”, tendo participações na cadeia de supermercados espanhola Dia, no grupo energético alemão Wintershall Dea e na cadeia britânica de alimentos naturais Holland & Barrett.
Porém, face às sanções impostas pelo Ocidente, renunciaram na quarta-feira à sua empresa de investimentos internacional LetterOne, com sede no Luxemburgo, e tiveram as suas inúmeras participações “congeladas”. “Parece que a nossa tentativa de construir negócios fora da Rússia foi de facto inútil, só pelo simples facto de sermos originalmente de lá”, lamentou Fridman.
Nikolay Petrovich Tokarev
Nikolay Tokarev é diretor executivo da Transneft, empresa estatal russa e a maior companhia de oleodutos de petróleo do mundo. É mais um conhecido de longa data e muito próximo de Vladimir Putin, depois de, na década de 1980, ter trabalhado com o Presidente russo para o KGB, os serviços secretos da União Soviética. “Nikolay Tokarev é um dos oligarcas do Estado russo que assumiram controlo sobre importantes ativos do Estado na década de 2000, na altura em que o presidente Putin consolidava o seu poder, e que trabalham em estreita parceria com o Estado russo”, descreve o Jornal Oficial da UE.
A Transneft está entre os principais patrocinadores do palácio situado perto de Gelendzhik, na costa do mar Negro, que, como já referido, se suspeita que seja pessoalmente usado pelo Presidente Putin. Segundo o texto aprovado pelos 27 Estados-membros, Nikolay Tokarev terá beneficiado da sua proximidade às autoridades russas, tendo em conta que familiares próximos e conhecidos deste oligarca “enriqueceram graças aos contratos celebrados com as empresas estatais”.
Alisher Usmanov
“Alisher Usmanov é um oligarca pró-Kremlin com laços particularmente estreitos com o Presidente russo”, aponta Bruxelas, que aponta este empresário como “um dos preferidos” de Putin. Alegadamente, Usmanov foi testa de ferro do líder do Kremlin e resolveu os seus problemas de negócios. Documentos da Rede de Combate a Crimes Financeiros dos EUA (FINCEN, na sigla em inglês) indicam que pagou seis milhões de dólares a Valentin Yumashev, um conselheiro influente junto de Vladimir Putin. Ao mesmo tempo, Dmitry Medvedev, vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia e antigo presidente e primeiro-ministro da Rússia, terá beneficiado do uso pessoal de residências luxuosas controladas por Alisher Usmanov, revelam os responsáveis da UE.
Este empresário russo tem ainda participações nos setores do minério de ferro e aço, em meios de comunicação social e em empresas de Internet. O Jornal Oficial da UE aponta que a maior holding de Usmanov é a Metalloinvest, empresa russa de mineração e metalurgia especializada no fabrico de aço, e que, após este assumir o controlo do jornal diário Kommersant, a equipa da redação viu a sua liberdade restringida e a publicação passou a assumir uma posição manifestamente pró-Kremlin. “Já propriedade de Alisher Usmanov, o Kommersant publicou um artigo de propaganda contra a Ucrânia, da autoria de Dmitry Medvedev, no qual o antigo presidente da Rússia alegava que era inútil encetar conversações com as atuais autoridades ucranianas, que na sua opinião estavam sob controlo estrangeiro direto“, sublinha o texto assinado pelos 27.
Sergei Pavlovich Roldugin
Outro oligarca incluído na lista de sanções da UE é Sergei Roldugin, padrinho da filha mais velha do Presidente russo e descrito como “um homem de negócios estreitamente ligado a Vladimir Putin” e que faz parte do dispositivo financeiro do líder do Kremlin. Detém pelo menos cinco entidades offshore e tem os seus ativos no Bank Rossiya, um dos bancos visados pelas sanções europeias, além de que é conhecido em Moscovo como a “carteira de Putin”.
De acordo com a investigação “Panama Papers”, levada a cabo pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação, Roldugin é responsável por “redistribuir” pelo menos dois mil milhões de dólares por bancos e empresas offshore enquanto parte da rede financeira escondida de Putin. Além disso, terá participado na “Lavandaria Troika” e canalizado milhares de milhões de dólares através desse sistema, tendo ainda recebido mais de 69 milhões de dólares através de empresas desse esquema de lavagem de dinheiro. Deste modo, a UE considera que Roldugin é “responsável por prestar ativamente apoio material ou financeiro aos decisores russos responsáveis pela anexação da Crimeia e pela desestabilização da Ucrânia”.
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