BCE espera “inflação indesejavelmente alta durante algum tempo”
Presidente do BCE, Christine Lagarde, alerta famílias que a inflação vai continuar elevada por mais algum tempo. Mas, para já, não espera uma recessão.
As famílias europeias vão ter de continuar a lidar com a escalada dos preços durante mais algum tempo, até que o aperto da política monetária, e outros fatores, aproximem a taxa de inflação do objetivo de 2%.
O alerta foi dado esta quinta-feira pela presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, que confessou, numa conferência de imprensa: “Esperamos que a inflação continue indesejavelmente elevada durante algum tempo, por causa da pressão dos preços da energia e dos alimentos.”
A declaração representa uma má notícia para os europeus, numa altura em que o índice de preços na Zona Euro atingiu 8,6% em junho na comparação homóloga. A confirmação deste indicador terá sido um dos fatores que levou o conselho de governadores do BCE a decidir subir os juros diretores em 50 pontos base esta quinta-feira. Uma subida igual ao dobro do que tinha sinalizado no mês passado, e que põe fim à era dos juros negativos na Zona Euro.
De acordo com Christine Lagarde, a inflação está a “alastrar-se a mais e mais setores”, principalmente em resultado da subida dos preços da energia. Disso é exemplo o facto de que os portugueses nunca pagaram tanto por gasolina e gasóleo como neste ano. A agravar esta dinâmica inflacionista está também a “depreciação da taxa de câmbio do euro”, que já chegou a transacionar abaixo do dólar nas últimas semanas, admitiu a presidente.
Ainda assim, a líder do BCE disse que as perspetivas do banco central até junho, aliadas às da Comissão Europeia divulgadas na semana passada, levam o conselho de governadores a crer que não deverá haver uma recessão na Zona Euro em 2022 nem em 2023. Todavia, Lagarde confessou: “Há nuvens no horizonte? Claro que há.”
Nesse contexto, a responsável explicou que existem alguns fatores que estão a amparar o impacto da inflação. É o caso das poupanças acumuladas pelas famílias durante os confinamentos provocados pela pandemia, mas não só: “A atividade económica continua a beneficiar da reabertura da economia, de um mercado laboral forte e das políticas de apoio orçamentais. Em particular, a reabertura da economia está a ajudar o consumo no setor dos serviços”, sublinhou.
Aqui há boas notícias para Portugal, que é particularmente exposto ao turismo: “À medida que as pessoas começam a viajar novamente, espera-se que o turismo ajude a economia no terceiro trimestre deste ano”, estimou Lagarde. De notar que a Comissão Europeia reviu em alta a perspetiva de crescimento da economia portuguesa este ano para 6,5% — a confirmar-se, será a economia europeia que mais crescerá em 2022, abrandando depois para 1,9% em 2023, calcula Bruxelas.
Ainda assim, apesar de toda a incerteza, a presidente do BCE mostrou-se esperançosa com a “estabilização” dos preços da energia e alívio nos estrangulamentos nas cadeias de abastecimento. Fatores que, aliados à “normalização da política monetária”, deverão levar a inflação para um território mais suportável.
Na quarta-feira, também o primeiro-ministro português, António Costa, alertou que a inflação vai perdurar por mais algum tempo. No debate do Estado da Nação, o chefe do Governo disse que o “efeito da inflação será mais duradouro” do que o previsto, estando o Executivo a desenhar um novo pacote de ajudas às famílias e empresas para setembro.
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