Marcelo “pessimista” teme efeitos do “discurso muito dramático” do BCE
Presidente da República diz temer o efeito que a "travar às quatro rodas" do BCE possa causar nos mercados financeiros. "Esperemos que isso não seja excessivo", comentou, em São Francisco, nos EUA.
O Presidente da República teme que o “discurso muito dramático” da presidente do Banco Central Europeu (BCE) sobre a evolução económica na Zona Euro tenha efeitos negativos nos mercados e nas economias.
Perante uma plateia de empresários portugueses em São Francisco, na noite de segunda-feira na Califórnia (de madrugada em Portugal), Marcelo Rebelo de Sousa assumiu, porém, também ele “uma análise pessimista” da conjuntura económica portuguesa nos próximos tempos, “por causa do mundo”.
“O final do ano anterior foi muito bom e o primeiro trimestre foi muito bom. O segundo trimestre estabilizou, mas os números do ano que vem poderão ser bem mais complicados”, advertiu, numa mensagem que tem repetido nas últimas semanas.
Na intervenção, Marcelo Rebelo de Sousa qualificou as recentes declarações da presidente do BCE, Christine Lagarde, como “um travar às quatro rodas” e “uma transição brusca para um discurso muito dramático, e depressivo, porventura”, depois de uma fase marcada pela “vontade de criar confiança”.
“Esperemos que isso não seja excessivo”, afirmou, acrescentando: “Talvez tenha sido de repente uma mudança de 80 para 8, bruscamente, sem transição e sem mitigação, como se diz agora. Vamos ver como é que os mercados financeiros reagem, vamos ver como é que as economias reagem.”
"O final do ano anterior foi muito bom e o primeiro trimestre foi muito bom. O segundo trimestre estabilizou, mas os números do ano que vem poderão ser bem mais complicados.”
Lagarde vê perspetivas “mais sombrias”
No domingo, dirigindo-se à Comissão de Assuntos Económicos e Monetários do Parlamento Europeu, Christine Lagarde declarou que as perspetivas para a zona euro “são cada vez mais sombrias”, com o BCE a antever que a atividade económica “abrande substancialmente nos próximos trimestres”.
Marcelo Rebelo de Sousa disse compreender a preocupação do BCE, “perante as medidas de alguns Estados, que injetaram nas ajudas sociais, económicas às famílias, às empresas, às diversas instituições, injetaram o que puderam ou que estão a poder e nalguns casos porventura mais do que admitiam poder”.
“Mas nós sabemos como há muito de psicológico nas declarações feitas”, salientou, relatando já ter recebido “ecos” que “são um pouco preocupantes”. Em termos gerais, o Presidente da República considerou que “o mundo não está fácil, não está geopoliticamente fácil, não está economicamente fácil”.
Quanto à situação de Portugal, apontou “vários desafios em simultâneo, comuns alguns deles com outros países”, sendo “o desafio mais imediato dos efeitos económicos, financeiros e sociais da guerra” e “o mais sensível a inflação”.
O chefe de Estado manifestou a esperança de que não venha aí “a estagflação”, um quadro de inflação elevada com estagnação ou recessão económica.
Embora assumindo “uma análise pessimista”, Marcelo Rebelo de Sousa referiu, pela positiva, que Portugal tem tido “um ano de turismo excecional” e que “os números em termos de exportações têm sido em volume excecionais”.
“E temos tido intenções de investimento muito apreciáveis, que se espera que sejam concretizadas, quer por deslocação de investimentos do Leste europeu, por razões geopolíticas compreensíveis, quer por procura de uma economia com segurança física e económica, estabilidade política e também de alguma maneira vista como sendo central em termos globais”, acrescentou.
No discurso, Marcelo Rebelo de Sousa contou que, pelas conversas que teve no funeral da monarca do Reino Unido Isabel II, “os líderes de grandes economias europeias, com uma exceção, estavam muito pessimistas” e quase todos “apostavam ou temiam que o próximo ano fosse um ano mau do ponto de vista de crescimento”.
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