Governo prepara “estudo de campo” para decidir futuro da tarifa social de internet

Executivo quer evitar repetir o falhanço na tarifa social de internet. Por isso, quer promover um "estudo de campo" com várias opções possíveis para, depois, decidir "com base em evidência".

Antes de reformar a tarifa social de internet, que ficou muito aquém das expectativas iniciais, o Governo pretende testar diferentes soluções no terreno, para que as decisões sejam baseadas “em evidência”, revelou esta sexta-feira o secretário de Estado da Digitalização, Mário Campolargo.

“Fez um ano desde que a tarifa social foi posta em marcha, em março do ano passado. Eu, na Assembleia da República, já me comprometi a fazer uma reflexão sobre o que é que se pode melhorar em termos da tarifa social de internet”, disse o governante, que, na atual orgânica do Governo, responde diretamente ao primeiro-ministro. O primeiro passo está concluído, que foi a elaboração, pela Anacom, de “um estudo” acerca desta matéria.

Atualmente, o Governo está em “interações” com os operadores do mercado e, “muito proximamente”, irá envolver na discussão entidades que representem os interesses do consumidor. A novidade é que, antes de decidir, serão testadas várias alternativas no terreno, assegurou o secretário de Estado.

“Seguramente, anunciarei algumas coisas, mas há uma coisa que é clara na minha cabeça, que é: a baixa adesão que se verificou no modelo atual justifica que nós pensemos um modelo, quiçá, evoluído, alternativo. E, para isso, vamos fazê-lo testando no campo, antes de entrarmos em medidas definitivas. Testando no campo algumas destas soluções e percebendo exatamente porque é que as pessoas não aderiram à tarifa social de internet como era expectável”, avançou Mário Campolargo.

O governante foi mais longe: “Esse estudo de campo vai ser, para mim, um aspeto fundamental, porque eu gostaria de ter políticas que fossem definitivas com base em evidência”, concluiu. O governante conversava com o ECO à margem de um seminário sobre cabos submarinos promovido esta sexta-feira pela embaixada do Reino Unido em Lisboa.

As declarações de Mário Campolargo surgem na mesma semana em que João Galamba, ministro das Infraestruturas, foi questionado sobre o mesmo tema na Assembleia da República. O ministro respondeu que o Governo quer “fazer uma avaliação” ao assunto e acrescentou, citado pelo Observador: “A única coisa que posso dizer é que ainda não olhei para a tarifa social e que ainda tenho de olhar.”

Esse estudo de campo [com soluções para a tarifa social de internet] vai ser, para mim, um aspeto fundamental, porque eu gostaria de ter políticas que fossem definitivas com base em evidência.

Mário Campolargo

Secretário de Estado da Digitalização e da Modernização Administrativa

Governo deixa de comparar tarifa social de internet à da energia

A tarifa social de internet é uma medida que obriga as operadoras a oferecerem um serviço de banda larga a um preço acessível às famílias que cumpram os requisitos, geralmente, agregados com baixos rendimentos. O custo da instalação não pode ultrapassar os 21,45 euros e a mensalidade é de cinco euros (valores a que acresce o IVA à taxa normal, ficando o custo mensal a 6,15 euros). A ligação permite até 15 GB de tráfego de dados por mês e débitos mínimos de 12 Mbps (megabits por segundo) de download e 2 Mbps de upload.

Quando foi criada, o Governo dizia esperar que a tarifa social pudesse chegar a 800 mil famílias, em linha com a tarifa social de eletricidade. No entanto, tinha em março pouco mais de 500 ligações ativas, um número significativamente inferior.

Apesar de ainda não haver nenhuma decisão tomada sobre o que será a nova tarifa social de internet, o secretário de Estado Mário Campolargo tem agora uma visão diferente do que pode ser esta medida: promover a inclusão daqueles que, por dificuldades económicas, estão mesmo excluídos do acesso à rede global.

“A tarifa social de internet visa trazer pessoas para o mundo digital que não têm, neste momento, condições económicas para o fazer. Ou seja, facilitar a adesão das famílias e dos domicílios ao mundo digital. Não é comparável com a energia. Isso é muito importante. E também não é uma política que seja isolada única”, disse ao ECO o governante.

“Ou seja faz parte de um pacote que é para aumentar a literacia digital, para garantir que a cobertura nas zonas brancas vai ser feita. E é na conjugação de não termos zonas brancas, termos uma literacia aumentada e termos medidas específicas para pessoas que tenham condições económicas que o justifiquem, que passará o futuro”, concluiu.

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Governo tem ou não razão na justa causa para despedir a CEO da TAP?

O ECO/Advocatus contactou especialistas na lei laboral que explicam: Medina tem razão ao invocar 'justa causa' na exoneração da futura ex-CEO da TAP?

Depois do relatório da Inspeção-Geral de Finanças (IGF) – relacionado com a indemnização de 500 mil euros dada a Alexandra Reis – Fernando Medina anunciou que a CEO e o presidente do Conselho de Administração da TAP iriam ser afastados dos seus cargos. Christine Ourmières-Widener e Manuel Beja estavam à frente da empresa desde junho de 2021.

O anúncio foi feito no dia 6 de março pelo ministro das Finanças, que explicou que a exoneração dos dois administradores será feita por justa causa, não havendo lugar ao pagamento de indemnização a nenhum dos dois. Dias depois, Christine Ourmières-Widene contratou a advogada Inês Arruda, conforme o ECO noticiou em primeira mão, para contestar esse mesmo argumento jurídico nos tribunais. Do lado do Estado, os advogados responsáveis serão da Sérvulo, embora não tenha havido uma confirmação oficial do escritório liderado por Manuel Magalhães. Já a Vieira de Almeida (VdA), rejeitou o convite do Estado.

Porém, segundo o Jornal Económico, só depois dessa conferência de imprensa é que Fernando Medina procurou sustentar juridicamente a decisão, numa reunião que manteve com o escritório de advogado em causa.

Fonte oficial do Ministério das Finanças disse que “o processo de fundamentação jurídica desta decisão está a ser conduzido pelas equipas jurídicas do Estado”, recusando fazer quaisquer comentários quanto à existência de reuniões com advogados externos.

Mas, afinal, a CEO e o chairman da companhia têm direito a alguma indemnização do Estado ou a justa causa faz sentido e, sendo assim, não há lugar a qualquer compensação?

Pedro Quitério Faria, sócio da Antas da Cunha ECIJA, diz à Advocatus que “em tese, e daquilo que é público, fará sentido falar-se em demissão do gestor público com fundamento em justa causa por putativa violação grave, por ação ou omissão, da lei ou dos estatutos da empresa. Presumo que estaremos no âmbito do instituto da demissão com justa causa previsto no artigo 25º, nº 1, alínea b) do Estatuto do Gestor Público, sendo certo que, esta demissão compete ao órgão de eleição ou nomeação, requerendo audiência prévia do gestor para exercício do seu contraditório, e a mesma terá que imperativamente ser fundamentada, ou seja, terá que ser densificado, e, necessariamente, disso haver prova, ou seja, que que o gestor público terá cometido uma ou mais violações graves da lei e/ou dos estatutos da TAP”.

Acrescentando que o relatório da IGF aponta, “aparentemente, em sentido formal nesse sentido, sendo que consigo percecionar em absoluto a ratio legis que preside a essa recomendação prevista no relatório, pelo que, presumo que o que estará a ocorrer por estes dias será precisamente a operacionalização deste procedimento por parte da tutela setorial responsável. Na minha perspetiva, esta será a razão matricial pela qual a CEO ainda se encontra em plenitude de funções à data de hoje. Só após o terminus deste procedimento e com a receção pela CEO da comunicação da sua demissão com justa causa é que o vínculo se extinguirá. Naturalmente que uma demissão com este enquadramento é suscetível de ser sindicada judicialmente pela ainda CEO da TAP, como parece ser sua intenção”.

Questão diferente, defende ainda o advogado, prende-se com o termo que tem sido correntemente utilizado da figura do “despedimento com justa causa”. Ora, “salvo melhor opinião, ou salvo se existir relação jurídico-laboral, que desconheço, esse instituto no presente caso não terá qualquer enquadramento nem aplicação, isto porque, a figura do despedimento com justa causa (que se aplicável, seria uma justa causa subjetiva) apenas seria equacionável se a CEO da TAP estivesse ao abrigo de um contrato de trabalho, o que reforço, do que é público, não me parece ser de todo aplicável ao caso vertente”, concluiu.

Joana Sá, especialista em direito laboral e sócia da PRA, defende, também em declarações que “não faz sentido falar-se em justa causa para o despedimento neste caso, desde logo porque não estamos perante uma relação laboral e a analisar a sua manutenção ou vicissitudes. Ao que pude apurar pelo veiculado nos órgão de comunicação social a relação entre Presidente da Comissão Executiva e a TAP assenta numa nomeação/mandato para o exercício do respetivo cargo e, considerando a natureza da TAP e o cargo em análise, à relação jurídica em causa é aplicável o Estatuto do Gestor Público (EGP) e as regras que, por via das disposições especiais deste diploma se aplicam, designadamente, ao nível da cessação de funções do gestor publico”.

A advogada esclarece que “o EGP não contempla a modalidade de ‘despedimento por justa causa’ mas sim de demissão – artigo 25 do EGP. Mais, este normativo dá a conhecer em que circunstâncias pode o gestor público ser demitido e, no que ao presente caso interessa, estabelece como um dos motivos para a saída do Gestor Publico a violação grave, por ação ou por omissão, da lei ou dos estatutos da empresa. De realçar também que esta demissão é da competência do órgão de eleição ou nomeação, requer audiência prévia do gestor e é devidamente fundamentada”.

“O afastamento definitivo de Christine Ourmières-Widener da Comissão Executiva da TAP nunca poderá fazer por despedimento por justa causa, por não ser aqui legalmente aplicável esta figura jurídica, mas sim por demissão dando cumprimento cabal ao disposto no artigo 25.º do EGP”, concluiu a advogada.

O advogado António Garcia Pereira, defendeu que nem Christine Ourmières-Widener nem Manuel Beja são trabalhadores da TAP, estando sujeitos ao estatuto do gestor público (EGP) e, tendo os respetivos mandatos cessado por justa causa, “não há lugar a qualquer espécie de indemnização”. “Seguramente não terão direito a quaisquer remunerações. O advogado relembra que existiram “graves e repetidas violações da lei e dos estatutos da empresa, desde logo por ter mentido à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), dando conta de que Alexandra Reis saíra da TAP por iniciativa própria”.

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Joaquim Ferreira do Amaral sai da Lusoponte após 16 anos

Ex-ministro das Obras Públicas renunciou em fevereiro à liderança da concessionária das pontes 25 de Abril e Vasco da Gama por motivos pessoais. Nova administração será nomeada no final do mês.

Joaquim Ferreira de Amaral deixou de ser o presidente da Lusoponte. A renúncia ao cargo foi confirmada pelo ECO junto do ex-ministro das Obras Públicas nos dois governos de maioria absoluta de Cavaco Silva. O novo conselho de administração da concessionária das pontes 25 de Abril e Vasco da Gama será escolhido em assembleia geral no dia 31 de março. Para o cargo será escolhida Belen Marcos Cortes, executiva do grupo Vinci.

A renúncia ao cargo foi apresentada no dia 3 de fevereiro deste ano mas apenas foi tornada pública nesta sexta-feira pelo Portal da Justiça. “Achei que não tinha condições para continuar no cargo”, justificou ao ECO, sem querer prestar mais declarações.

O gestor liderava o conselho de administração da Lusoponte desde 2006, após a morte de João Morais Leitão, fundador do CDS e sócio-fundador da sociedade de advogados Morais Leitão, J. Galvão Teles & Associados, em 1993.

Belen Marcos Cortes vai substituir Joaquim Ferreira do Amaral na presidência do conselho de administração da Lusoponte.

A saída de Joaquim Ferreira do Amaral ocorreu um ano depois de os grupos Mota-Engil e Vinci terem ficado como únicos acionistas da Lusoponte. A Mota-Engil, através da empresa Lineas, ficou com uma participação de 50,5%, enquanto a Vinci Concessions assumiu 49,5%.

A alteração acionista decorreu depois da venda da posição de 17,21% da Atlantia na concessionária, por 54 milhões de euros.

Para presidente do conselho de administração será escolhida Belen Marcos Cortes, que está na Lusoponte desde outubro de 2020 como vogal. Belen Marcos Cortes é atual diretora-geral adjunta da Vinci Concessions, empresa que gere as infraestruturas do grupo francês. António Rosa continuará como administrador-delegado da Lusoponte.

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Banco Montepio aponta a mais de 200 saídas na última fase da reestruturação

Última fase do ajustamento anunciado no final de 2020 já arrancou. Banco liderado por Pedro Leitão prevê mais de 200 saídas com nova vaga de rescisões e reformas antecipadas.

Já arrancou a última fase do plano de ajustamento de pessoal anunciado pelo Banco Montepio no final de 2020. Não há números oficiais, mas várias fontes adiantaram ao ECO que esta derradeira vaga poderá levar à saída de mais de 200 trabalhadores através de rescisões por mútuo acordo e reformas antecipadas. Informação que o banco não desmente.

O programa de saídas voluntárias, iniciado no último trimestre de 2020, apontava para uma redução de 600 a 900 trabalhadores ao longo de três anos. Desde então, o quadro de pessoal do banco liderado por Pedro Leitão já se reduziu em 527 trabalhadores, sendo que quase 90% (aproximadamente 460 saídas) da diminuição se deveu ao plano de ajustamento, segundo avançou a instituição ao ECO. O Banco Montepio fechou 2022 com 3.406 trabalhadores, tendo já emagrecido mais de 13% em termos de pessoal.

À luz destes números, há margem para o banco apontar para, pelo menos, mais 150 saídas e ao abrigo deste plano ao longo deste ano, isto para alcançar apenas o patamar mínimo que tinha previsto inicialmente. O ECO questionou o banco sobre qual a meta em cima da mesa, mas não respondeu diretamente a esta questão. Nem desmentiu ou confirmou as informações obtidas pelo ECO relativamente à perspetiva de alcançar mais de duas centenas de saídas com esta vaga final. O número final dependerá, ainda assim, do nível de aceitação junto dos trabalhadores.

Desde o passado dia 22 de fevereiro que os trabalhadores podem aceder ao programa de saídas, depois de a instituição ter comunicado internamente os termos para os acordos de rescisões ou reformas antecipadas.

Nas semanas que antecederam esse anúncio, o departamento de recursos humanos do banco teve várias interações com os sindicatos do setor a dar conta das suas intenções. Ainda assim, houve quem fosse apanhado de surpresa. Foi o caso dos sindicatos bancários afetados à UGT, Mais Sindicato, Sindicato dos Bancários do Norte (SBN) e Sindicato dos Bancários do Centro (SBC), que assumiram “espanto” pelo facto de o Banco Montepio ter comunicado que os trabalhadores com mais de 55 anos continuariam a ter acesso ao SAMS, embora não haja qualquer protocolo assinado.

“A realidade é que neste momento não existe nenhum protocolo de manutenção do SAMS com o Mais, o SBC e o SBN, tendo o Montepio dado uma informação precipitada e sem qualquer preocupação pela verdade”, afirmaram os três sindicatos num comunicado conjunto, alertando os trabalhadores para não assinarem as rescisões sem antes confirmarem os seus direitos.

Por seu turno, o Sindicato Nacional dos Quadros e Técnicos Bancários (SNQTB) irá promover esta terça-feira uma sessão online de esclarecimento junto dos seus associados, “recordando que nenhum trabalhador é obrigado a aceitar uma rescisão de contrato de trabalho por mútuo acordo ou reforma antecipada, sendo que a decisão deve ser livre, ponderada e informada”.

Lucros de 34 milhões e dividendos à vista

Ao contrário dos outros bancos portugueses, que já concluíram os seus processos de ajustamento, o Banco Montepio ainda procura recuperar terreno na arrumação da sua casa e tem agora a oportunidade do novo ciclo dos juros para concretizar a reestruturação. O ano passado já trouxe uma subida dos lucros para 33,8 milhões de euros, mas a rentabilidade continua em níveis pobres em função do capital investido.

Ainda assim, com a subida dos juros a potenciar o negócio do banco, o acionista já olha para dividendos futuros. Foi uma das razões para a Associação Mutualista Montepio Geral (AMMG) ter aprovado a redução de capital do banco para metade no mês passado. A operação “teve lugar porque o Banco Montepio entrou num ciclo consistente de resultados positivos”, adiantou a AMMG ao ECO.

“Neste quadro, a operação realizada permitirá, observados os necessários requisitos exigíveis, a oportuna distribuição de dividendos aos acionistas”, acrescentou a instituição liderada por Virgílio Lima.

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Mercadona ultrapassa Minipreço. Lidl reforça pódio dos supermercados

Com dez vezes menos lojas em Portugal, Mercadona supera Minipreço e prepara-se para tirar Auchan do top 5 do retalho alimentar. Pingo Doce acerca-se do Continente, mas é o Lidl que mais ganha em 2022.

A Mercadona já vende mais do que o Minipreço em Portugal. A líder de mercado em Espanha, que abriu o primeiro supermercado deste lado da fronteira em julho de 2019, ultrapassou no último trimestre de 2022 a cadeia detida pelo também espanhol grupo Dia, que tem dez vezes mais lojas no mercado português do que a concorrente, posicionando-se como o sexto maior operador no mercado português, que continua a ser liderado pelo Continente.

Esta é a principal novidade relativa às quotas de mercado das diferentes retalhistas nos produtos de grande consumo (FMCG na sigla inglesa), a que o ECO teve acesso. Na reta final de um ano em que inaugurou mais uma dezena de lojas, passando a ter um total de 39 no território nacional, a Mercadona chegou aos 3,8%. Também o alemão Aldi (2,7%) superou o Minipreço (2,2%) nos últimos três meses do ano, mas a oscilação de quota tem sido mais volátil.

“A Mercadona tem vindo a consolidar a sua posição e acaba por ser o momento em que ultrapassa o Minipreço. Tem uma dinâmica dentro da loja e ao nível também da sua marca da distribuição e da oferta de marcas de fabricante diferente à que o Minipreço tem hoje em dia. Isso acaba por trazer toda uma experiência de compra diferente e também uma oferta de preço e sortido para o comprador que é muito mais completa”, destaca a diretora comercial da Kantar. Nos últimos dois anos, 15,5% dos lares portugueses já fizeram compras na Mercadona.

Já o Minipreço, contrapõe Marta Santos, está “numa perspetiva completamente distinta”. Mesmo sem a concorrência do grupo de Valência, que apresenta contas anuais esta terça-feira, “estaria certamente a ser afetado na sua quota de mercado”. “Pelo facto de não se atualizar, de não se aproximar do consumidor, de nos últimos anos ter perdido alguma qualidade na experiência de compra e de ao nível promocional também não ser tão atrativa quanto os principais players, como o Continente ou o Pingo Doce. Mesmo no sortido não tem tantas marcas de fabricante, como outras insígnias, e a sua marca própria não tem a perspetiva de qualidade por parte do comprador que têm as do Lidl ou do Aldi. Tudo isso acaba por influenciar”, resume.

Nas últimas semanas voltaram a surgir na imprensa espanhola rumores de que o grupo Dia estará a ponderar sair do mercado português, vendendo a cadeia de supermercados Minipreço, que em 2022 registou vendas líquidas de 596 milhões de euros, um ligeiro crescimento de 0,5% em relação ao ano anterior, com uma redução de 7% na rede de lojas. A porta-voz da Kantar frisa que, além de não estar com o mesmo ímpeto ao nível da comunicação e das promoções, “tem havido algum desinvestimento na própria loja e isso acaba por ser visível para o consumidor, mesmo que não esteja muito informado” sobre essas notícias.

Não surpreenderá a progressiva aproximação da Mercadona ao último lugar do top 5 do retalho alimentar em Portugal, nesta altura ocupado pela Auchan, sendo que a evolução das respetivas quotas de mercado faz prever a intersecção das mesmas daqui a poucos trimestres.

Pedro Pimentel

Diretor-geral da Centromarca

“A evolução da presença no mercado das duas cadeias e dos restantes players fazia antecipar essa ultrapassagem, a qual, apesar de tudo, terá ocorrido de uma forma mais rápida do que se esperaria. Se do lado do Minipreço se assiste, desde há muitos anos, a um definhamento comercial, com uma perda progressiva e consistente de quota de mercado, [vemos] desde 2019 um crescimento orgânico muito forte da Mercadona. (…) Assistimos ao desenho de duas curvas de sentidos opostos que se terão cruzado no último trimestre do ano passado e que, na ausência de uma inflexão muito significativa de estratégia da parte do Dia/Minipreço, se tenderão a afastar cada vez mais”, corrobora Pedro Pimentel.

O diretor-geral da Centromarca arrisca que “não surpreenderá a progressiva aproximação da Mercadona ao último lugar do top 5 do retalho alimentar em Portugal, nesta altura ocupado pela Auchan [4,5%], sendo que a evolução das respetivas quotas de mercado faz prever a intersecção das mesmas daqui a poucos trimestres”. A responsável comercial da Kantar é mais cautelosa. Argumenta que, depois da experimentada a novidade, “o passo seguinte é perceber se existe a fidelização à insígnia” – e os dados mostram que até tem um ticket acima da média nas restantes insígnias, mas uma menor frequência – e de tirar aos portugueses o “vício das promoções”, que não faz parte da política comercial da marca.

Lidl consolida terceiro lugar

No topo da lista mantêm-se os dois maiores grupos portugueses de distribuição alimentar, que em 2022 ficaram um pouco mais próximos, de acordo com o ranking elaborado pela Kantar. No total do ano de 2022, a Sonae liderou com 26,9% (vs. 28,3% em 2021), enquanto a Jerónimo Martins, dona do Pingo Doce, subiu de 21,6% para 22,4% no mesmo período. Mas o “retalhista ganhador” no ano passado, como é classificado por esta consultora de mercado, foi o Lidl, que “tem vindo a conquistar espaço com o seu selo de qualidade-preço junto dos portugueses”.

“O Lidl tem conseguido fazer este percurso com uma estratégia entre o que é a marca própria, o ajuste produtivo das marcas de fabricantes dentro da loja e algumas promoções, mas também com muita aposta nos frescos, nos biológicos, nos orgânicos. Isto tem vindo a resultar bem, fazendo já parte dos locais de compra de 80% dos lares portugueses desde 2019”, indica Marta Santos.

Marta Santos, diretora comercial da Kantar

Parte desses ganhos terão vindo da Sonae, que em resposta ao Governo se queixou de uma “campanha de desinformação” nos preços? “Não é descabido pensar dessa forma porque vemos cada vez mais a Sonae a trabalhar o seu mix de marca própria e a dar prioridade às marcas próprias em algumas categorias, em detrimento das marcas de fabricante. Tem a consciência de que o Lidl é cada vez um concorrente de respeito e tenta adaptar-se ao que o comprador está à procura fora da Sonae, tentando adaptar o que tem dentro de casa”, responde a especialista.

Minimercados não aguentam ganhos da pandemia

Os dados compilados por esta consultora internacional mostram, por outro lado, que os oito maiores retalhistas saíram reforçados em 2022, com o peso dos restantes a baixar de 17,4% para 16,8%. Entre eles estão os minimercados e as lojas independentes de proximidade, que na altura da pandemia até conseguiram ganhar algum terreno, mas que não conseguiram reter as famílias portuguesas após o levantamento das restrições.

“O regresso a uma mobilidade quase normalizada, a perda do medo de visitar espaços de maior dimensão e mais frequentados, o sortido mais afinado com as suas necessidades, horários facilitadores de compras para quem trabalha, e preços e estratégias promocionais mais competitivas, foram tudo fatores que motivaram o consumidor a regressar à rotina de compra anterior ao período de pandemia. E daí voltarmos a assistir à erosão de quota do comércio tradicional, que se vinha observando há décadas”, aponta Pedro Pimentel.

Além das insígnias de comércio organizado, como a Coviran, Spar ou a rede Aqui É Fresco, esse espaço da proximidade tem vindo a ser ocupado pela moderna distribuição, através de insígnias como a Meu Super (Sonae), Amanhecer (Jerónimo Martins) ou MyAuchan. Essa inserção dos grandes grupos na malha urbana e nas zonas residenciais, tal como a presença de supermercados de dimensão relevante em 298 dos 308 concelhos do país, contabiliza o líder da Centromarca, “deixa – por questões de sortido, de conveniência ou de vantagem competitiva a nível de preços – cada vez menos espaço para as lojas mais tradicionais”.

Outra tendência acelerada pela pandemia foi o aumento das compras online, com o ritmo de crescimento a abrandar depois dos confinamentos, apesar de as operadoras terem mantido os investimentos nesta área, decididos durante a Covid-19. A quota em valor do canal online no fecho de 2022 foi de 2,5%, ficando ligeiramente acima do nível pré-pandemia (2,2% em 2019), mas já longe do máximo de 3,2% no comércio eletrónico que tinham alcançado em 2021. No que toca ao “cesto digital”, descreve a diretora comercial da Kantar, subsiste a “maior resistência” à compra de produtos frescos e de congelados através da internet, e a preferência pela entrega em casa de artigos mais pesados.

De acordo com os dados fornecidos ao ECO pela Marktest, somando a grande distribuição alimentar à especializada – incluindo assim a IKEA, a Worten, a Staples ou a Decathlon, num conjunto de 34 insígnias –, o número de lojas no ano passado totalizou 4.205. A diferença face ao ano anterior é ligeira (-0,8%), mas ganha relevo por ter sido a primeira descida – pressionada sobretudo pelos encerramentos do Minipreço – no número global deste tipo de espaços comerciais desde, pelo menos, 2009, quando a empresa de estudos de mercado iniciou esta contagem sobre as áreas dedicadas ao retalho em Portugal.

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5 coisas que vão marcar o dia

  • Mariana Marques Tiago
  • 13 Março 2023

Eurogrupo reúne em Bruxelas e INE divulga dados da atividade de transporte aéreo e atividade turística em Portugal. No Porto, aterra o primeiro voo da companhia israelita Sun d’ Or.

A semana inicia com a reunião do Eurogrupo e a divulgação de dados da atividade de transporte aéreo e atividade turística em Portugal. No Porto, aterra o primeiro voo da companhia israelita Sun d’ Or. O BdP apresenta a evolução das contas de serviços mínimos bancários.

Eurogrupo reúne-se em Bruxelas

Os ministros das Finanças dos Estados-membros da área do euro e o presidente do Eurogrupo, Paschal Donohoe, reúnem-se esta segunda-feira em Bruxelas. É esperado que seja feito o balanço da evolução macroeconómica e orçamental na Zona Euro e, ainda, que sejam discutidas algumas orientações em matéria de política orçamental para 2023 e 2024. O Eurogrupo vai ainda debater questões fundamentais para a coordenação das políticas económicas a nível mundial, tendo em vista as próximas reuniões do grupo do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional.

INE divulga dados da atividade de transportes…

O Instituto Nacional de Estatística (INE) divulga esta segunda-feira as estatísticas rápidas do transporte aéreo em Portugal relativas a janeiro de 2023. De acordo com os últimos dados divulgados, os aeroportos portugueses movimentaram mais do dobro dos passageiros em 2022 do que no ano anterior. Apesar deste aumento, o valor continua abaixo do número registado em 2019, ou seja, antes do choque da pandemia. Registou-se ainda um aumento do número de passageiros, que mais do que duplicou (+121,7%), mas ficou 5,6% abaixo de 2019.

… e da atividade turística

O instituto português divulga ainda os dados da atividade turística relativamente ao primeiro mês do ano após a apresentação das estatísticas rápidas, divulgadas no final de fevereiro. De acordo com os dados iniciais, o primeiro mês do ano registou um aumento das dormidas de turistas portugueses e estrangeiros. O mercado interno contribuiu com 1,2 milhões de dormidas (um aumento de 38,7% face a janeiro de 2022) e o externo um aumento de 101,3% de dormidas face ao período homólogo de 2022.

BdP apresenta evolução das contas de serviços mínimos bancários

O Banco de Portugal (BdP) começa a semana a divulgar a evolução das contas de serviços mínimos bancários. O BdP exige às instituições de crédito que reportem semanalmente informações sobre estes serviços. No final do primeiro semestre do ano passado, existiam em Portugal 169.698 contas de serviços mínimos bancários ativas. No primeiro semestre de 2021 este valor era de 141.561.

Companhia aérea Sun d’Or “aterra” pela primeira vez no Porto

Pelas 18h30, no Aeroporto Francisco Sá Carneiro vai aterrar o voo inaugural da companhia aérea israelita Sun d’ Or. Em janeiro, o presidente do Turismo do Porto e Norte, Luís Pedro Martins, avançou à Lusa que o aeroporto vai receber dois voos por semana desta companhia já a partir deste mês. Inicialmente esperava-se que isto só acontecesse em 2024. No evento estarão presentes Luís Pedro Martins, Filipe Silva (administrador do Turismo do Portugal) e Gal Gershon (CEO da companhia aérea israelita).

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Fed abre linha de emergência para evitar contágio da falência de banco das startups

A Reserva Federal dos EUA abriu uma linha de emergência de liquidez para evitar riscos de contágio da falência do banco das startups ao sistema financeiro

Depois da falência do SVB Financial Group, dona do Sillicon Valley Bank (SVB), o Governo americano apressou-se a garantir que não haveria um resgate com dinheiro dos contribuintes.

No entanto, este domingo, a Reserva Federal norte-americana (Fed) anunciou a criação de uma linha de emergência de liquidez para garantir que todos os clientes com exposição ao SVB através de depósitos possam reaver o seu dinheiro já a partir desta segunda-feira.

“Para apoiar as empresas e as famílias americanas, o Conselho da Reserva Federal anunciou no domingo que disponibilizará fundos adicionais às instituições depositárias elegíveis para assegurar que os bancos têm capacidade para satisfazer as necessidades de todos os seus depositantes“, referiu a Fed em comunicado.

Segundo o regulador do mercado bancário norte-americano liderado por Jerome Powell, “esta ação reforçará a capacidade do sistema bancário para salvaguardar os depósitos e assegurar o fornecimento contínuo de dinheiro e crédito à economia.” Além disso, deixou claro a capacidade e a vontade da Fed para normalizar o setor. “A Reserva Federal está preparada para lidar com quaisquer pressões de liquidez que possam surgir”, lê-se no comunicado.

A forma de a Fed restituir confiança ao mercado passa pela disponibilização de uma linha de financiamento adicional através da criação de um novo Programa de Financiamento a Prazo Bancário (Bank Term Funding Program – BTFP) que oferecerá empréstimos de até um ano a bancos, associações de poupança, cooperativas de crédito e outras instituições depositárias elegíveis que se comprometam a dar como colateral obrigações do Tesouro dos EUA e outros títulos de dívida do Tesouro norte-americano, obrigações hipotecárias e outros títulos que serão definidos pela Fed e que serão avaliados ao par.

Com esta iniciativa, a Fed acredita que “o BTFP será uma fonte adicional de liquidez contra títulos de alta qualidade, eliminando a necessidade de uma instituição vender rapidamente esses títulos em tempos de stress”, como sucedeu com o SVB que, por via de uma “venda rápida” destes ativos para garantir a sustentabilidade da instituição teve de reconhecer perdas 1,8 mil milhões de dólares, despoletando posteriormente o descalabro do banco.

Estou satisfeito por terem chegado rapidamente a uma solução que protege os trabalhadores americanos e as pequenas empresas, e mantém o nosso sistema financeiro seguro”, referiu Joe Biden, Presidente dos EUA, sublinhando que “a solução também assegura que os dólares dos contribuintes não sejam postos em risco.”

Como forma de conferir ainda mais segurança ao mercado, a Fed refere que “com a aprovação da Secretário do Tesouro [Janet Yellen], o Departamento do Tesouro disponibilizará até 25 mil milhões de dólares do Fundo de Estabilização Cambial como uma salvaguarda para o BTFP”. No entanto, a entidade liderada por Powell sublinha que “não prevê que será necessário recorrer a estes fundos de reserva.”

As declarações da Fed e dos reguladores do sistema financeiro norte-americano foram recebidas positivamente pelos mercados asiáticos. O índice Hang Seng de Hong Kong terminou a sessão a subir 2,11% e tanto o índice Shenzhen Composite como o Shanghai Composite encerraram a sessão com ganhos de 0,4% e 0,8%, respetivamente.

No Japão, o principal índice acionista (Topix), apesar de ter fechado a cair 1,5%, chegou a negociar com ganhos. Entre os títulos mais destacados da sessão esteve o Softbank, identificado como uma das instituições com maior exposição ao SVB, que encerrou o dia a perder 1,5%.

Cerca de uma hora depois do fecho da bolsa de Tóquio, a instituição financeira que conta com muitos investimentos em startups tecnológicas, revelou num comunicado citado pela Reuters que antecipa que a falência do SVB não tenha qualquer impacto na condição financeira da instituição, “dado o anúncio das autoridades dos EUA de que os depósitos estão totalmente protegidos.”

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Quem está a ganhar com a subida dos preços?

Nem os distribuidores alimentares nem as empresas de energia aumentaram as margens de lucro. O impacto maior sobre a subida dos preços dos bens alimentares é causado pela elevada carga fiscal.

Desde outubro que a taxa de inflação em Portugal tem vindo a corrigir. Desde então, passou de uma taxa homóloga de 10,29% (valor mais elevado desde maio de 1992) para 8,25% em fevereiro. Porém, o abrandamento da subida dos preços da generalidade dos produtos não tem sido acompanhado pelos preços dos bens alimentares.

Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística, a taxa de inflação dos produtos alimentares não transformados voltou a subir em fevereiro pelo terceiro mês consecutivo, fixando-se em 20,09% em fevereiro. É o valor mais elevado em 38 anos. E ainda este mês, a Deco Proteste deu nota de que o preço de um cabaz de alimentos essenciais, que agregam mensalmente, atingiu o valor mais elevado desde que começaram a fazer esta monitorização a 5 de janeiro de 2022.

A disparidade no comportamento das duas taxas de inflação levantou muitas vozes críticas, indiciando inclusive que alguém esteja a beneficiar tremendamente com a subida dos preços.

O ministro da Economia e do Mar, António Costa e Silva, chegou a dizer que existe uma “divergência muito grande em alguns produtos entre os preços de aquisição e de venda ao público”, notando que isso “não é criminoso” mas “é um alerta”.

De todos os intervenientes na cadeia de valor, o Estado foi o único que não fez qualquer alteração na sua “margem de lucro”.

A mensagem do governante tinha como destino, entre outros, as principais cadeias de distribuição alimentar, dado que o Governo está inclusive a estudar uma forma de pressionar o Continente, o Pingo Doce e outras cadeias de super e hipermercados a baixar os preços e as margens.

No entanto, quando se consulta as últimas contas dos dois principais players do mercado, os números revelam que nem as margens brutas nem as margens de lucro operacionais do Continente (do grupo Sonae) e do Pingo Doce (do grupo Jerónimo Martins) estão a aumentar. Pelo contrário, até caíram nos primeiros nove meses do ano, em comparação com os dados homólogos.

  • O Continente fechou os primeiros nove meses de 2022 com uma margem EBITDA subjacente (margem de lucro operacional) de 9,31%, face a 9,90% no mesmo período do ano anterior. Significa que, entre janeiro e setembro de 2022, por cada 100 euros de vendas realizadas, a Sonae lucrou 9,3 euros, menos 6% que no mesmo período de 2021. Entre 2019 e 2021, a margem de lucro operacional da Sonae MC (que agrega o Continente) foi de 9,9%. O mesmo sucede com a margem bruta (rácio entre vendas e custo das vendas de mercadorias), se bem que numa proporção mais reduzida: segundo as contas da Sonae MC, a margem bruta nos primeiros nove meses de 2022 foi de 41,9%, que compara com 42% no mesmo período de 2021 e 42% em 2019. Significa que por cada 100 euros de compras realizadas entre janeiro e setembro de 2022, o grupo Sonae faturou 41,9 euros.
  • As operações de distribuição alimentar da Jerónimo Martins em Portugal (Pingo Doce e o Recheio) fecharam os primeiros nove meses de 2022 com uma margem EBITDA de 5,87%, que compara com uma margem de lucro operacional de 5,92% no mesmo período do ano anterior ou de 8,31% em 2019. Ao nível da margem bruta, as contas da Jerónimo Martins não detalham os custos das vendas de mercadoria por segmento, sendo apenas possível calcular a taxa bruta do grupo. E, neste caso, verifica-se que se nos primeiros nove meses de 2021 a margem bruta da Jerónimo Martins era de 27,6%, entre janeiro e setembro de 2022 essa margem caiu para 26,8%.

Estes números mostram que nos primeiros nove meses do ano passado, um período marcado por uma forte subida dos preços da generalidade dos produtos, tanto o Continente como o Pingo Doce encaixaram nas suas contas parte da subida da inflação. “Baixámos as nossas margens para acomodar o aumento dos custos”, referiu Cláudia Azevedo, CEO da Sonae, numa carta enviada na sexta-feira aos funcionários do grupo.

No caso da Jerónimo Martins, não deixa de ser curioso o fato de o grupo liderado por Pedro Soares Santos ter conseguido acomodar mais o efeito da inflação na sua operação na Polónia (Biedronka) do que as operações em Portugal – nos primeiros nove meses de 2022, a margem de lucro operacional da Biedronka era de 8,8%, face a 9,1% registado no mesmo período do ano anterior.

“Pela sua posição geopolítica e com um contexto energético diferente, a inflação nos custos foi superior na Polónia, pelo que a margem EBITDA da Biedronka foi mais pressionada nos primeiros nove meses de 2022 face ao ano anterior”, refere uma fonte da Jerónimo Martins ao ECO.

Decompondo a cadeia de valor até chegar ao Estado

Na semana passada, a Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED) referiu em comunicado que “a distribuição está a comprar os produtos cada vez mais caros, já em 2023, aos fornecedores (indústria e produção).”

A associação que representa o setor lembrou que “estes aumentos no início da cadeia refletem a subida dos custos dos fatores de produção decorrentes dos aumentos dos preços dos fertilizantes, das rações e de outros custos relevantes”, notando que “o índice de preços do lado da produção agrícola aumentou 33,6 pontos percentuais (de 2,3% para 35,9%), do lado da indústria alimentar aumentou 18,4 pontos percentuais (evoluiu de 13,3% para 31,7%) e o índice de preços dos produtos alimentares na distribuição/retalho alimentar aumentou 16,2 pontos percentuais (passou de 3,7% para 19,9%), sempre inferior ao da indústria alimentar em cerca de 10 pontos percentuais”.

É uma evidência que os preços estão a aumentar em toda a cadeia de valor. A questão está em perceber se, como o Governo questiona, estará a haver especulação dos preços por via do aumento considerável das margens de lucro das empresas.

Um alvo recorrente destas críticas são as empresas de energia, como a EDP e a Galp Energia. Mas mesmo nestes casos, apesar de as vendas e dos lucros terem subido consideravelmente no último ano, as contas de ambas as empresas mostram que também as suas margens de lucro operacional não aumentaram. Pelo contrário, caíram.

Segundo as contas anuais da EDP divulgadas a 1 de março, a margem EBITDA da elétrica foi de 21,9% em 2022 contra uma margem de lucro operacional de 24,8% em 2021 e 31,7% em 2020.

As contas da Galp, apresentadas há um mês, revelam também uma queda (se bem que ligeira) da margem de lucro operacional no último ano, com a margem EBITDA a cifrar-se em 14,3% em 2022 face a 14,4% em 2021.

Restam as contas dos produtores. E, neste grupo, olhando para as contas dos maiores players da indústria como a Nestlé, a Unilever e a Procter & Gamble (P&G), verifica-se também que as suas margens também caíram.

A Unilever, por exemplo, que tanto comercializa bens alimentares como bens de higiene, fechou as contas de 2022 com uma margem de lucro operacional de 19%, menos 3 pontos percentuais face aos 22% que tinha em 2021. O mesmo sucede com a P&G, que além de baixar a margem EBITDA de 28% para 26%, baixou também a margem bruta de 51,4% para 47,6%. E o mesmo sucedeu com a Nestlé, que fechou as contas do ano passado com uma margem de lucro operacional de 20,4% face a 21,2% em 2021.

Fica apenas a faltar nesta equação o Estado, que atua no mercado através da carga fiscal que aplica sobre os bens de consumo através do Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA). E de todos os intervenientes na cadeia de valor, o Estado foi o único que não fez qualquer alteração na sua “margem de lucro”: não baixou nem reviu o IVA sobre os bens alimentares básicos, como fez Espanha, nem parece ter intenção de o fazer. E o resultado da inação por parte do Estado é bem visível nas suas contas.

Segundo os últimos dados da execução orçamental, publicados pela Direção-Geral do Orçamento, a receita fiscal arrecadada pelo Estado em 2022 aumentou 11,6% para mais de 58,5 mil milhões de euros. No entanto, a receita gerada com a cobrança do IVA no último ano disparou 18,5%.

Nos últimos 10 anos que não se assistia a um desfasamento tão grande entre o crescimento da receita fiscal e o crescimento da receita gerada com a cobrança do IVA. E tudo isto aconteceu com o consumo privado a registar um crescimento de apenas 5,9% (segundo projeções do Banco de Portugal), cerca de um terço do aumento da taxa de crescimento da receita arrecadada em IVA.

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Morreu Alexandre Patrício Gouveia (1952-2023), o gestor de Aljubarrota

  • ECO
  • 12 Março 2023

Alexandre Patrício Gouveia foi gestor, passou pelo Governo, bateu-se pela tese de atentado do irmão António em Camarate e agora presidia à Fundação Aljubarrota.

O presidente da Fundação Aljubarrota, Alexandre Patrício Gouveia, morreu este domingo aos 71, vítima de cancro, revelou o DN e confirmou o ECO. Passou pela política no início da década de 80 e foi presidente do El Corte Inglês em Portugal, mas ganhou protagonismo público com duas causas que nunca deixou cair: Defendeu, até ao último dia, a tese de atentado no acidente que vitimou o seu irmão, António Patrício Gouveia, no avião em que também seguia Francisco Sá Carneiro, e promoveu a criação da Fundação Aljubarrota, a que presidia agora, para defender a identidade histórica de Portugal.

Alexandre Patrício Gouveia transformou em causa da sua vida a identidade histórica e cultural de Portugal, tendo, em particular, sido inspirador e Presidente da Fundação Batalha de Aljubarrota, que, para além do centro interpretativo da batalha, tem desenvolvido relevantes atividades culturais e educativas“, escreveu o Presidente da República, no sítio oficial.

O gestor nunca desistiu de uma intervenção pública na defesa do país e, nos últimos anos, tinha uma coluna de opinião regular no Observador. No último texto, de outubro de 2022, Alexandre Patrício Gouveia foi muito crítico da política económica do Governo desde 2015. “Desde que subiu ao poder em 2015, o Governo de António Costa nunca assumiu como prioridade o crescimento económico. Adotou antes uma orientação de agradar ao eleitorado, privilegiando sobretudo o aumento das despesas públicas e uma total ausência de reformas que pudessem aumentar o nível de vida dos portugueses“, escreveu.

O velório de Alexandre Patrício Gouveia decorre esta segunda-feira na Basílica da Estrela, a partir das 18 horas, segundo o DN.

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AON passa a seguir o risco de tempestades e chuvas convectivas em Portugal

  • ECO Seguros
  • 12 Março 2023

Prever danos segurados em riscos de ciclones e chuvas fortes está incluído num modelo de previsão da corretora e Portugal passa a ser um dos países de risco a ser monitorado.

Portugal passou a ser incluído no modelo de previsão da corretora AON para os riscos de tempestades de vento e chuvas convectivas, aquelas que caem por um intervalo de poucos minutos com intensidade numa uma área restrita. Para a AON é um reconhecimento da importância de quantificar as perdas potenciais causadas por estes fenómenos em Portugal, o que ainda não tinha acontecido.

Para além de Portugal, a corretora passou a incluir, no modelo, Espanha, os países bálticos e ainda a Hungria e a Suíça. No total, passam a ser 22 os países que integram o modelo preditivo Impact Forecasting Europe Windstorm and Severe Convective Storm (SCS), desenvolvido pela corretora.

Segundo a AON, os prejuízos devidos a tempestades de vento atingiram 141 mil milhões de dólares desde 1980 e, no mesmo período, chuvas convectivas extremas causaram 89 mil milhões de prejuízos às seguradoras.

A corretora afirma que os modelos atualizados permitem prever melhor as exposições europeias dos seus clientes, para auxiliar a gestão de portfólio e a alocação de capital e ajudar a cumprir os requisitos ESG.

À medida que as empresas de gestão de risco, entidades reguladoras e agências de rating são cada vez mais solicitados a avaliar os riscos climáticos, o modelo ajuda a incorporar projeções climáticas futuras em uma enorme variedade de cenários, para ajudar a quantificar a incerteza dos impactos das mudanças climáticas em tempestade na Europa”.

“Nesta expansão geográfica do modelo de tempestade por vento, a componente de vulnerabilidade é a principal característica da atualização”, explica a AON, “com base em cinco temporadas de previsão de perdas, a equipa aprimorou as funções de danos para refletir melhor as perdas causadas por médias e pequenas tempestades”, conclui a empresa.

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AM Best diminui ratings da Scor

  • ECO Seguros
  • 12 Março 2023

A decisão reflete a queda do desempenho operacional da resseguradora francesa, que já não se enquadra da forte avaliação anterior da AM Best. Mas a resseguradora mantém a sua posição de destaque.

A AM Best baixou as classificações de crédito da Scor, e justificou que a atitude reflete a deterioração do desempenho operacional da resseguradora francesa, que já não reúne as condições para a avaliação anterior da AM Best.

A agência de rating baixou o Financial Strength Rating (FSR) para A (Excelente) de A+ (Superior), e o Long-Term Issuer Credit Ratings (ICR a longo prazo) para “A+” (Excelente) de “AA-” (Superior) do SCOR SE (SCOR) e das suas principais subsidiárias operacionais.

A AM Best também baixou as notações de crédito de emissão a longo prazo (Long-Term Issue Credit Ratings – IRs de Longo Prazo) nos instrumentos de notação de risco da SCOR. A perspetiva destas notações de crédito foi revista para estável, de negativo.

Nos seus resultados de 2022, a Scor reportou uma perda líquida notável de 301 milhões de euros e um rácio combinado de 113,2%, impulsionado por perdas de catástrofes naturais acima do orçamento e pelo reforço das reservas realizado no terceiro trimestre do ano.

A média de cinco anos da Scor (2018-2022) do rácio combinado de não-vida e do rácio de retorno sobre o capital é de 102,5% e 3,5%, respetivamente, tal como calculado pela AM Best.

A agência de rating explica que a diversificação dos ganhos da empresa entre os segmentos não-vida e vida modera um pouco a volatilidade nos seus resultados técnicos globais.

As perdas técnicas não-vida, registadas nos últimos seis anos, foram compensadas pelos lucros da carteira de vida da Scor em cinco dos seis anos, apesar da pandemia.

Em 2022, o resultado do ramo vida foi positivamente impactado pela gestão ativa do livro de forças e pela libertação de um considerável excesso de reservas no terceiro trimestre, disse a AM Best.

Embora a gestão da Scor tenha implementado ações corretivas para melhorar o desempenho da subscrição, tais como a redução dos seus picos de exposição, a não renovação de contas não rentáveis, e a racionalização da organização para aumentar as eficiências operacionais, a AM Best declara que levará tempo a melhorar o historial de rentabilidade técnica não-vida.

A agência de notação sugere que o fraco desempenho da subscrição em períodos recentes evidenciou fraquezas nas capacidades de subscrição e gestão de risco da Scor.

Como resultado, a avaliação ERM já não é considerada como um apoio à avaliação anterior muito forte e foi revista para se adequar. As capacidades de gestão de risco da empresa estão de acordo com o seu perfil de risco.

A AM Best espera que a capitalização ajustada ao risco da Scor seja mantida no nível mais forte prospetivamente, tal como medida pelo rácio de adequação de capital da Best (BCAR), apoiando a sua avaliação muito forte da solidez do balanço.

A agência de rating escreve: “A Scor beneficia de uma carteira de investimentos conservadora e de um robusto programa de retrocessão concebido para proteger a sua base de capital”.

A AM Best continua: “um fator parcialmente compensatório é a dependência da Scor de componentes de capital em condições favoráveis, que inclui dívida híbrida, valor do negócio de vida em força e uma facilidade de capital contingente”.

A agência concluiu: “a Scor continua a manter a sua posição de destaque como uma das cinco maiores resseguradoras mundiais, com excelente diversificação de produtos e geografias.

“Reconhecimento internacional, relações de longa data com clientes e conhecimentos técnicos especializados ajudam a Scor a gerir os ciclos do mercado local e global de resseguros. Espera-se que a empresa beneficie da melhoria das condições do mercado de resseguros enquanto executa no seu objetivo declarado de reduzir a volatilidade dos ganhos”, escreve em comunicado.

 

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Allianz Group consolida e cria Allianz Commercial

  • ECO Seguros
  • 12 Março 2023

Como resultado de uma crescente globalização dos riscos, a seguradora juntou vários departamentos de seguros de pequena e média dimensão para criar o Allianz Commercial.

O Allianz Group anunciou a criação do Allianz Commercial, um segmento de seguros comerciais que concentra o seu negócio de Empresas e Especialidades (AGCS), servindo grandes clientes empresariais e as suas empresas que servem contas de pequena e média dimensão.

A nova abordagem antecipa uma “crescente globalização dos riscos, colmata lacunas estruturais internas no alcance do mercado e alarga a oferta e entrega de soluções Allianz, a nível local, para satisfazer as necessidades do mercado”, disse a Allianz, em comunicado.

Os clientes e parceiros “devem esperar uma abordagem de subscrição mais consistente“, com coordenação à escala global, disse a seguradora.

“A Allianz Commercial permite-nos entregar o valor total da escala da Allianz e todo o conjunto de capacidades em benefício dos nossos clientes, corretores e acionistas”, disse Chris Townsend, membro do Conselho de Administração da Allianz SE.

A Allianz Commercial terá uma única liderança em cada país ou região para representar os seus negócios comerciais, um passo que, segundo afirmou, pretende simplificar a experiência dos clientes e parceiros de distribuição.

Espera-se que as suas equipas comerciais, de subscrição e de entrega ao cliente “trabalhem em estreita colaboração” sob o modelo, de acordo com o comunicado. É previsto que as entidades jurídicas que conduzem o negócio dos seguros e a sua liderança permaneçam as mesmas, disse a Allianz.

 

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