Sindicatos bancários alertam para burnout e perda de poder de compra no setor
Diagnóstico divulgado por seis sindicatos alerta para as dificuldades que afetam os 90.000 bancários em Portugal e pede "ações concretas para assegurar a dignidade e o bem-estar dos trabalhadores".
A “elevada carga de trabalho” está a gerar situações de burnout na banca, sendo o setor financeiro “o único” no país com “evidente quebra do poder de compra”, segundo um diagnóstico divulgado esta quarta-feira por seis sindicatos.
Elaborado pelo Mais Sindicato, Sindicato dos Trabalhadores do Setor Financeiro de Portugal (SBN), Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Banca, Seguros e Tecnologias (SBC), Sindicato dos Trabalhadores das Empresas do Grupo CGD (STEC), Sindicato Independente da Banca (SIB) e Sindicato dos Trabalhadores da Atividade Financeira (Sintaf), o diagnóstico alerta para as dificuldades que afetam os cerca de 90.000 bancários em Portugal e pede “ações concretas para assegurar a dignidade e o bem-estar dos trabalhadores“.
De acordo com os seis sindicatos, o documento está a ser apresentado aos partidos políticos com assento parlamentar, tendo também já sido solicitada audiência ao Presidente da República.
Entre os problemas identificados está a conclusão de que os bancários “têm uma elevada carga de trabalho, que leva a situações de burnout.
“Os trabalhadores estão cada vez mais numa lógica multitarefa, decorrente de os clientes poderem interagir com as instituições financeiras por vários canais (agência, telefone, e-mail, app) e a execução de uma variedade de tarefas pode levar a stresse, cansaço significativo, erros não voluntários e mesmo a situações de difícil retorno como o burnout“, sustentam.
Adicionalmente, referem, “a pressão para a realização de trabalho suplementar existe sem os incentivos remuneratórios correspondentes e com intimações de que poderão constar da lista de trabalhadores a dispensar na próxima reestruturação”.
“Há anos que este trabalho suplementar não é pago, pois os trabalhadores são vítimas de pressão para que não haja registo ou, quando existe, possa ser facilmente adulterado ou eliminado. E, apesar das sucessivas queixas dos sindicatos à Autoridade para as Condições de Trabalho (ACT), as ações inspetivas, quando as há, têm poucos resultados, pois os trabalhadores são forçados pela hierarquia a esconderem-se”, lê-se no documento divulgado esta quarta-feira.
Acrescem também os aumentos salariais abaixo da inflação — com o setor financeiro a ser apontado como “o único em Portugal com evidente quebra do poder de compra”, de 7,3%, desde 2021 –, a exigência imposta pela transformação digital e os riscos colocados pela inteligência artificial e automação dos processos bancários, que levam à “insegurança no emprego”.
O diagnóstico aponta ainda que “as crises económicas e a reestruturação dos bancos têm conduzido à insegurança no emprego e a um clima de medo no setor”, a que se somam “situações graves de assédio laboral“, desde “humilhação frente aos colegas, retirada de funções e substituição por tarefas de categoria inferior, isolamento confinado, sem material de trabalho e sem atribuição de competências” e que “pode chegar, até, ao impedimento de entrada no local de trabalho”.
Paralelamente, as oportunidades de progressão na carreira “são cada vez mais limitadas, levando à frustração dos trabalhadores”, muitos dos quais “procuram crescimento e novos desafios fora do setor bancário, nomeadamente os mais jovens, acentuando o envelhecimento da classe bancária”.
Face a esta situação e “à importância do setor financeiro”, os sindicatos apelam para “uma ação concertada dos gestores bancários e dos decisores políticos para abordar estas questões de forma justa e eficaz”, salientando ser “essencial promover um ambiente de trabalho digno, assegurar a formação contínua, garantir a segurança no emprego e valorizar devidamente os trabalhadores bancários”.
“Só assim será possível construir um setor bancário resiliente e sustentável, capaz de enfrentar os desafios do futuro”, alerta.
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