Transportes, hospitais, escolas e até bancos. Que setores vão ser afetados pela greve geral?

UGT e CGTP convocaram greve geral para 11 de dezembro, e vários sindicatos já anunciaram a sua adesão. Paralisação deverá, por isso, ter impacto, nomeadamente, nos transportes, na saúde e nas escolas.

Ao centro, Tiago Oliveira, secretário-geral da CGTP, uma das centrais sindicais que convocou a greve geral de 11 de dezembro de 2025.Lusa
ECO Fast
  • A CGTP e a UGT convocaram uma greve geral para 11 de dezembro de 2025, em protesto contra a reforma da lei do trabalho proposta pelo Governo.
  • O anteprojeto "Trabalho XXI", aprovado em julho, prevê mais de 100 mudanças ao Código do Trabalho, gerando forte oposição dos sindicatos.
  • A greve geral poderá afetar diversos setores, incluindo educação e saúde, com a adesão de várias organizações sindicais, apesar das negociações em curso.
Pontos-chave gerados por IA, com edição jornalística.

Se tem planos para ir ao banco, viajar de avião ou até fazer um seguro no dia 11 de dezembro, saiba que pode enfrentar constrangimentos. Deixar as crianças na escola ou ir ao hospital pode também revelar-se desafiante nessa data, uma vez que a CGTP e a UGT convocaram uma greve geral à qual sindicatos de vários setores já aderiram. A motivar a paralisação está a reforma da lei do trabalho que o Governo quer concretizar.

Voltemos, por momentos, ao final de julho. Foi nessa altura que o Governo aprovou em Conselho de Ministros e apresentou na Concertação Social o anteprojeto “Trabalho XXI”, que pôs em cima da mesa mais de 100 mudanças ao Código do Trabalho, nomeadamente no que diz respeito aos contratos a prazo, aos despedimentos, às licenças parentais e aos bancos de horas.

Desde essa altura que a UGT tem feito críticas, mas, entretanto, decidiu consensualizar uma data com a CGTP para uma greve geral, em protesto não só contra as medidas que estão em cima da mesa, mas também contra a falta de evolução na negociação.

Entretanto, vários sindicatos já anunciaram a adesão a essa paralisação, antecipando-se, assim, que diversos setores poderão ser afetados, das escolas aos hospitais, passando pelos bancos, cultura, transportes e até indústria.

No caso dos transportes, o Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC) — que representa os tripulantes de cabine da TAP, SATA ou Easyjet — aprovou a adesão à geral. E já é certa a adesão do Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Aviação Civil (SITAVA), o mais representativo entre o pessoal de terra da TAP e também entre os trabalhadores do handling da Menzies, confirmaram ao ECO dirigentes da estrutura sindical.

Enquanto isso, o Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC) tem marcada para esta sexta-feira uma assembleia-geral extraordinária para tomar a decisão de se juntar ou não à paralisação. Este sindicato já se mostrou, contudo, contra a reforma da lei laboral e ameaçou aderir à greve, caso o Governo não recuasse.

A própria TAP já dá sinais de que a paralisação terá impacto na atividade, apesar de terem sido definidos serviços mínimos. Esta quinta-feira, a transportadora portuguesa confirmou que “está a cancelar voos do dia 11 de dezembro” em antecipação da greve geral e está a permitir o reagendamento proativo e gratuito dos voos desse dia para os três dias anteriores ou posteriores.

Das viagens aéreas para as terrestres, importa notar que a Federação dos Sindicatos de Transportes e Comunicações (FECTRANS) também já mostrou o seu apoio à paralisação de dia 11, tendo entregado pré-avisos relativamente, nomeadamente, à Comboios de Portugal, à Fertagus, ao Metro de Lisboa e ao Metro do Porto.

“Todos os trabalhadores, de todas as profissões e empresas, podem e devem participar nesta poderosa forma de luta contra o pacote laboral do Governo, por mais e melhores salários, pelas 35 horas semanais, por mais e melhores serviços públicos”, lê-se na nota da FECTRANS publicada no site da CGTP.

Da energia à cultura

À esquerda, Lucinda Dâmaso, presidente da UGT. À direita, Mário Mourão, secretário-geral da mesma central sindical, que convocou a greve geral de 11 de dezembro de 2025.
O secretário-geral da UGT, Mário Mourão (D), acompanhado pela presidente da UGT, Lucinda Dâmaso, prestam declarações aos jornalistas após o encontro com o primeiro-ministro, Luís Montenegro (ausente da fotografia), no palácio de São Bento, em Lisboa, 26 de novembro de 2025. FILIPE AMORIM/LUSAFILIPE AMORIM/LUSA

Noutro setor (o da energia), o Grupo REN acordou com vários sindicatos a realização de serviços mínimos no dia 11 de dezembro, mantendo os níveis de atividade semelhantes aos do fim de semana e feriados.

Já na cultura, o Sindicato dos Trabalhadores de Espetáculos, do Audiovisual e dos Músicos aderiu à paralisação. “[Esta greve visa] rejeitar o pacote laboral de assalto aos direitos e de afronta à Constituição da República portuguesa e combater a política de retrocesso, exigindo um novo rumo para o país”, salientou a estrutura.

Nas telecomunicações, o Sindicato dos Trabalhadores do Grupo Altice em Portugal não só já anunciou a adesão, como enviou uma carta ao primeiro-ministro e à ministra da tutela a criticar a reforma da lei do trabalho. Na missiva, os representantes dos trabalhadores classificam o anteprojeto do Executivo como “um dos maiores ataques de que há memória depois do 25 de abril aos direitos dos trabalhadores“.

No mesmo setor, os trabalhadores da Rhmais e da Randstad que prestam serviço à Vodafone também vão estar parados no dia 11 de dezembro. Neste caso, este protesto insere-se, contudo, em vários outros dias de greve (a começar esta sexta-feira).

Já na indústria, a comissão de trabalhadores da Autoeuropa diz prever uma grande adesão à greve na fábrica de Palmela. “O Governo não quer negociar — não o quis durante cinco ou seis meses e continua a não querer — e os trabalhadores vão responder à nossa chamada. Penso que aqui, na Autoeuropa, a greve geral vai ter uma adesão bastante grande”, disse à agência Lusa Rogério Nogueira, coordenador da referida comissão.

“O projeto do Governo tem repercussões diretas nos trabalhadores da Autoeuropa, nomeadamente nas questões do outsourcing, na liberalização dos despedimentos, nos próprios bancos de horas individuais, porque na Autoeuropa temos uma ferramenta coletiva, os downdays, que, no fundo, funciona como um banco de horas, mas os bancos de horas individuais poderão eventualmente aqui ser também aplicados”, acrescentou o mesmo.

Já na segurança pública, a Associação Sindical dos Profissionais de Polícia anunciou uma concentração junto à residência do primeiro-ministro no dia da greve geral.

Das escolas aos hospitais

Além dos setores já mencionados, na educação, a Federação Nacional dos Professores (Fenprof) já tinha anunciado também a adesão à greve geral, manifestando-se contra a “ameaça de retrocesso civilizacional” resultante da revisão da lei do trabalho que está em curso.

E, noutro setor crítico da sociedade portuguesa — a saúde –, a própria ministra da tutela, Ana Paula Martins, já adiantou que prevê que, apesar dos serviços mínimos no Serviço Nacional de Saúde (SNS), as cirurgias e as consultas serão afetadas pela greve geral de dia 11 de dezembro. Neste caso, aderiram à paralisação o Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP) e a Federação Nacional dos Médicos (FNAM).

Além disso, a Federação de Sindicatos da Administração Pública (FESAP) — que reúne 45 organizações sindicais em todas as áreas da Administração do Estado — também já anunciou que vai estar na greve de dia 11, “esperando que seja uma das grandes greves que se fizeram nos últimos anos“, perspetivou o secretário-geral José Abraão.

Do público para o setor privado, no caso da banca, o Sindicato dos Trabalhadores do Setor Financeiro de Portugal (SNB) garante que, “desde a primeira hora, manifestou o seu inequívoco apoio à greve geral convocada pela UGT para o próximo dia 11 de dezembro”.

Esta estrutura sindical diz-se preocupada com alterações à legislação laboral constantes do anteprojeto apresentado pelo atual Governo, avisando que, “caso viessem a ser aprovadas, constituiriam um retrocesso significativo e teriam impactos gravemente lesivos sobre os direitos e interesses dos trabalhadores do setor financeiro“.

Também o Mais Sindicato já apelou à adesão dos bancários a esta paralisação, considerando grave para os trabalhadores a proposta do Governo. E o Sindicato dos Trabalhadores das Empresas do Grupo CGD anunciou também a adesão à greve geral, considerando que o anteprojeto de reforma laboral do Governo poderá “penalizar gravemente” os funcionários do banco público.

O Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Banca, Seguros e Tecnologias (SBC) também já manifestou total apoio à greve geral, confessando-se preocupado com a revisão da lei laboral em curso.

E esta sexta-feira foi a vez do Sindicato Nacional dos Quadros e Técnicos Bancários (SNQTB) anunciar a adesão à greve. “Será igualmente a primeira vez que o SNQTB adere a uma greve geral, sublinhando a gravidade da situação laboral em discussão. A convocatória desta greve surge como resposta ao anteprojeto de revisão do Código do Trabalho, cuja proposta o sindicato considera um retrocesso civilizacional, introduzindo alterações profundamente prejudiciais e injustificadas para os trabalhadores“, explica a estrutura em comunicado.

Já no setor dos seguros, o Sindicato dos Trabalhadores da Atividade Seguradora deu conta que está alinhado com a central sindical à qual é filiado, a UGT, no que diz respeito à greve geral.

Reunião “construtiva” não trava greve

O primeiro-ministro, Luís Montenegro, não dá sinais de recuar nos pontos da reforma da lei do trabalho que são linhas vermelhas para os sindicatos.ESTELA SILVA/LUSA

Já depois do anúncio da greve geral, o primeiro-ministro, Luís Montenegro, recebeu o secretário-geral da UGT, Mário Mourão, e a sua presidente, Lucinda Dâmaso. O encontro foi “construtivo”, admitiu o primeiro desses sindicalistas. E até serviu para “desanuviar” o ambiente das negociações. Mas a greve vai mesmo manter-se, assegurou Mário Mourão.

Nesse mesmo dia, à noite, a ministra da tutela, Maria do Rosário Palma Ramalho, confessou, em entrevista à RTP, que está convencida de que a greve acontecerá, apesar de as negociações continuarem.

Ainda que diga desejar um acordo na Concertação Social, o Governo continua a não dar sinais de recuar nas propostas de alteração da lei do trabalho que têm sido consideradas mais críticas pelas centrais sindicais, como o outsourcing, os despedimentos e a contratação a prazo.

Palma Ramalho já admitiu que, mesmo não sendo possível acordo na Concertação Social, o documento seguirá para o Parlamento. Nessa sede, deverá ficar nas mãos do Chega a viabilização desta reforma da lei laboral.

(Notícia atualizada às 9h19 com declarações do SNQTB)

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