O que é hoje a Altice Labs, a “joia da coroa” do grupo?
Nem sempre o pólo tecnológico de Aveiro foi da Altice. Com décadas de história, a ex-PT Inovação evoluiu até se tornar no que é hoje: um exportador de tecnologia, com ramos espalhados pelo mundo.
Assim como evolui a tecnologia, evoluiu o pólo tecnológico de Aveiro ao longo de várias décadas. Aquele que foi outrora o centro de competências em telecomunicações, mais tarde PT Inovação, é hoje Altice Labs. O “quartel-general” de inovação da dona da Meo, considerado a “joia da coroa” da multinacional fundada por Patrick Drahi e Armando Pereira, que comprou a PT Portugal em 2015 aos brasileiros da Oi. É lá que, todos os dias, cerca de 700 engenheiros “altamente qualificados” trabalham para inventar, investigar e produzir tecnologias do futuro.
“Temos sido, há mais de 65 anos, um acelerador fundamental para a entrega de serviços digitais de comunicação avançados”, lê-se na página da Altice Labs na internet. Mas a Altice Labs nem sempre se chamou assim. Aliás, é recente a passagem deste centro português para a chancela do grupo Altice. Esta sexta-feira, 23 de fevereiro, a empresa assinala os dois anos dessa nova marca, que serviu para dar continuidade à PT Inovação, criada em 1999 com base no tal centro de competências que já existia.
A Altice Labs tem já outros pólos em países como França, Israel e República Dominicana, num total de cerca de 1.000 engenheiros, alguns deles portugueses. Alcino Lavrador é, atualmente, o líder deste centro, depois de uma longa carreira ao serviço da PT Inovação. O que significou o carimbo da Altice ATCB 0,00% no pólo tecnológico de Aveiro? “Para a Altice Labs e para a PT Inovação, foi uma grande oportunidade. Tem-nos dado um suporte imenso, este grupo. Em janeiro do ano passado tínhamos 17 projetos e, em janeiro deste ano, tínhamos 39″, explica o responsável da Altice, em conversa com o ECO.
Para Alcino Lavrador, esse crescimento só pode dizer uma coisa: “Têm-nos aberto efetivamente as portas. Temos tido um apoio incondicional, quer dos acionistas, quer da Altice Portugal, em desenvolver e continuar a criar valor e diferenciação no grupo”. Apesar de tudo, o líder da Altice Labs a nível internacional reconhece que também houve mudanças: “As formas de trabalhar, obviamente, são diferentes. Os modelos de gestão são diferentes do que eram no grupo PT antes e agora no grupo Altice”. De qualquer forma, para o projeto, “foi efetivamente um saldo positivo”, resume.
Se a ti te gusta, a mi me encanta
O entusiasmo de Alcino Lavrador espelha-se na própria administração da Altice, que decidiu manter o centro em Aveiro com base em três grandes premissas: o facto de já estar estruturado, ter recursos humanos muito qualificados e conseguir garantir essas competências “a um total cost desse mesmo recurso mais reduzido”. Quem o assume é Alexandre Fonseca, presidente da Altice Portugal, em conversa com o ECO, alertando para que isso “não se confunda” com “utilizar a lógica do baixo salário”.
“A nível nacional, a Altice Labs representa aquilo que é hoje um dos principais centros de inovação e desenvolvimento tecnológico do país. A Altice Labs já se firmou como uma marca”, garante o líder da Altice Portugal. Sublinha ainda que a unidade “continua a ser, efetivamente, uma joia da coroa, referida pelo próprio acionista, na perspetiva de que, em projetos estruturantes de infraestruturação noutras geografias, a Altice Labs continua a ser um fornecedor preferencial”.
No ano passado, o grupo anunciou que, depois da expansão para o estrangeiro, o projeto vai expandir-se a três novas geografias em Portugal. Viseu, Algarve e Madeira foram as regiões escolhidas e vão receber pólos tecnológicos que serão os ramos de uma árvore com raízes em Aveiro. É uma ideia que parece estar a agradar aos autarcas de outras regiões. Ao ECO, Alexandre Fonseca garante que “outras tantas” estão a “manifestar interesse” em ter um pólo da Altice Labs. “Há outras, sim, que ainda não posso revelar. Além das três que já estão anunciadas, há mais outras tantas que estão a manifestar esse interesse e com quem estamos a conversas”, diz.
Questionado sobre se o legado de décadas e mais décadas daquele pólo representa uma responsabilidade acrescida, Alexandre Fonseca pinta-se de orgulho. “Sem dúvida nenhuma, mas é uma responsabilidade que, primeiro, assumimos com muito orgulho. Temos um orgulho imenso na herança e na história que está subjacente a esta mudança de marca”, frisa. É por isso que, diz a Altice, decidiu dar continuidade ao centro, numa lógica não só de “fazer inovação por fazer inovação” mas, sobretudo, “fazer inovação que faça a diferença — que, de facto, seja relevante”, refere o também ex-administrador tecnológico da PT Portugal, hoje presidente da Altice no país.
A Altice Labs representa aquilo que é hoje um dos principais centros de inovação e desenvolvimento tecnológico do país. A Altice Labs já se firmou como uma marca.
5G, “uma das prioridades”
Falar de inovação parece inócuo, por isso vamos a detalhes. O que se faz na Altice Labs? Nem tudo é público, mas sabe-se, por exemplo, que uma das tecnologias que merece mais atenção no centro em Aveiro é o 5G, a quinta geração de rede móvel. É a conectividade do futuro que vai permitir ter tudo ligado à internet — não só os computadores, tablets e telemóveis como as televisões, os carros autónomos, os frigoríficos inteligentes e todas as demais coisas que o homem quer ligar à rede nos próximos tempos. É também, antes de mais, uma das prioridades do mercado único digital para Bruxelas.
Sobre isso, Alcino Lavrador explica que “o 5G não é só mais largura de banda ou mais rapidez” no acesso à internet: “É também uma nova arquitetura de redes” que vai representar um novo desafio para operadoras como a Meo, a Nos e a Vodafone em Portugal. “Estamos muito envolvidos nesta área do 5G. Na primeira call que houve na União Europeia, no final de 2014 para o [programa] Horizonte 2020, conseguimos ver aprovados cinco projetos e eram todos relacionados com o 5G”, recorda Alcino Lavrador. Nas últimas edições do Web Summit, a Altice testou novas tecnologias de rede móvel que abrem caminho para essa nova geração — o 4,5G e o 4G+ (LTE Advanced). Foram desenvolvidas, pois claro, no Altice Labs.
Por sua vez, Alexandre Fonseca abre um leque mais amplo. Quando o ECO lhe pergunta qual a tecnologia da Altice Labs que mais o entusiasma, o gestor português aponta para o smart living. “Não é, necessariamente, aquilo que algumas pessoas confundem com smart cities ou smart home. Tem a ver com o impacto que a tecnologia pode ter na vida das pessoas. Isso significa que pode ser algo tão concreto como a automatização da casa e tudo o que tem a ver com dispositivos que podem automatizar a gestão de uma casa, mas também tem que ver com a gestão dos espaços onde nós, enquanto cidadãos, também circulamos”, explica.
Mas o tempo também deu à Altice Labs um novo espaço onde os engenheiros da empresa e a comunidade podem experimentar novos conceitos e ideias. Chama-se Future Labs e foi apresentado não há muitos anos. De lá, ainda não saiu nenhuma tecnologia disruptiva para o grupo, mas o objetivo não é esse: “O objetivo do Future Labs não é desenvolver projetos disruptivos de grande impacto para a Altice. O Future Labs tem dois objetivos: um deles é os colaboradores poderem usar a criatividade que têm para desenvolverem ideias próprias, para experimentar. É um laboratório de prototipagem rápida. Por outro lado, é também chamar o público, escolas, universidades, para darmos a possibilidade de essas pessoas poderem experimentar algumas ideias”, conta Alcino Lavrador.
Isso não quer dizer que não tenha trabalho para mostrar. O líder do pólo tecnológico da Altice destaca dois: “Temos um caso, que até já mostrámos, que é um espelho interativo em que podemos estar a olhar para o espelho, mas podemos estar a ouvir notícias, a pesquisar informação, sem lhe tocar. É por gestos ou por voz. E foi desenvolvido ali.” Outro é “um drone com uma câmara” para “identificar espaços vagos” em parques de estacionamento. Permite, entre outras coisas, “indicar quais são esses espaços vagos, contabilizá-los e indicar até a direção para chegar lá”, refere.
Venda de ativos é uma incógnita
No final do ano passado, a Altice enfrentou um período tumultuoso. Vários anos de aquisições transformaram o grupo de Patrick Drahi numa multinacional com uma dívida próxima dos 50 mil milhões de euros. A multinacional garante ter liquidez para suportar esse passivo, mas isso não travou o receio dos investidores: durante um mês, a pressão vendedora fez as ações da companhia desvalorizarem significativamente, ao ponto de a Altice acabar por se ver obrigada a anunciar um plano de venda de ativos.
Um desses ativos é o negócio da empresa na República Dominicana, onde também há um pólo da Altice Labs. Se a venda for fechada, o que acontecerá a essa unidade? Nenhum dos dois gestores quis responder diretamente à questão. Alexandre Fonseca, presidente da Altice Portugal, indica: “A República Dominicana é uma das geografias onde temos estado a trabalhar ativamente, muitas vezes com recursos locais, outras vezes com recursos portugueses. Também temos muitos portugueses a trabalhar lá. A questão do negócio da República Dominicana é um negócio do grupo, não é um negócio em que a Altice Portugal se possa pronunciar. Esse é um tema para o grupo Altice”, refere o engenheiro.
Sobre o assunto, Alcino Lavrador, líder da Altice Labs, acrescenta: “Quando olhamos para aquilo que é a República Dominicana hoje, que pode estar fora no grupo no próximo ano ou, enfim, em qualquer outra altura, olhamos como olhamos para os outros clientes anteriores também do grupo PT. Continuamos a ser os fornecedores de todas as operações que faziam parte da PT. Por exemplo, na Vivo, que hoje é a Telefónica no Brasil, a PT vendeu a operação em 2011 e, sete anos depois, ainda somos um dos principais fornecedores daquela operação”, garante.
Quando olhamos para aquilo que é a República Dominicana hoje, que pode estar fora no grupo no próximo ano (…), olhamos como olhamos para os outros clientes (…) do grupo PT. Continuamos a ser os fornecedores de todas as operações (…).
Outro tópico de relevo no que toca à Altice Labs foi a passagem dos direitos de propriedade intelectual da Altice Labs para a Altice, noticiada pelo ECO em primeira mão no passado mês de novembro. Todos estes anos de desenvolvimento e investigação tecnológica levaram a ex-PT Inovação a acumular direitos de propriedade por alguns produtos que inventou. E, pela primeira vez desde então, o líder da Altice Labs garante que não houve transmissão da propriedade, mas sim uma “centralização” desses direitos.
“Os direitos de propriedade intelectual não passaram para a Altice. Há é uma centralização dos direitos de propriedade, das marcas, etc. Não houve passagem de propriedade intelectual para a casa mãe”, frisa Alcino Lavrador. E acrescenta: “É uma questão de termos num local central tudo o que são marcas, tudo o que é propriedade intelectual mapeada. A propriedade continua a ser de quem a gerou, de quem a produziu, e toda a propriedade intelectual que foi produzida e que faz parte do espólio da Altice Labs e da PT Inovação antigamente continua aqui”.
De resto, não há dúvidas de que a Altice Labs é hoje tida como exemplo de inovação tecnológica, com espólio, com história. O espaço em Aveiro acolhe esta sexta-feira a cerimónia de aniversário, com a presença de muitos nomes de peso ligados ao grupo Altice e ao centro de Aveiro que está a construir futuro. Mas mais importante do que isso, só mesmo o capital humano que ali se encontra, a maioria com ADN português. E isso, diz Alexandre Fonseca, é “uma evidência de que temos competência, temos as ferramentas e que os portugueses, nessa perspetiva, têm o capital intelectual e a atratividade” para construir esse futuro. Um futuro inovador. Assente na tecnologia.
Cotação das ações da Altice na bolsa de Amesterdão
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