Lucro da EDP dispara 45% para 146 milhões até março. Mexia acredita em lucros de 800 milhões em 2020
Elétrica diz que registou um "impacto reduzido" do período de confinamento. Dívida líquida caiu para o valor mais baixo dos últimos 13 anos. Mexia confiante num lucro de 800 milhões de euros em 2020.
O lucro da EDP disparou 45% para 146 milhões de euros no primeiro trimestre. A elétrica assume um “impacto reduzido do período de confinamento” por causa da pandemia do coronavírus, cujos efeitos poderão no entanto fazer-se sentir com mais força entre abril e junho deste ano. António Mexia, presidente executivo da empresa, está confiante e diz que a elétrica é “resiliente” e vai resistir à pandemia.
Questionado pelos analistas sobre as previsões para este ano, Mexia manteve a expectativa de 800 milhões de euros de lucros já avançados (muito com base na normalidade do ano hídrico até agora), um valor que poderá ainda aumentar com o encaixe esperado pela elétrica com a venda e rotação de ativos (hídricos e eólicos, respetivamente) na Península Ibérica.
“Para 2020 estamos confortáveis. Estamos adiantados face aos nossos planos estratégicos. O plano de negócio foi desenhado para ser resiliente e a EDP está bem posicionada para o que aí vem”, disse Mexia. O CEO está também “confortável” com a projeção de 800 milhões de euros de lucro para 2020. “Faz sentido face à informação que temos hoje”, mesmo com a incerteza inerente à recuperação económica e à possibilidade de uma segunda vaga da doença que já matou milhares de pessoas no mundo.
No que diz respeito à venda de seis barragens em Portugal à francesa Engie, o negócio já tem o ok de Bruxelas e deverá ficar concluído na segunda metade do ano, mais concretamente no terceiro trimestre (entre julho e setembro), frisou Mexia, com um encaixe de 2,2 mil milhões de euros. Falta ainda a autorização do Governo português e da Autoridade da Concorrência. A EDP está também a avaliar a venda de mais ativos ibéricos, além de oportunidades de remodelação de ativos no Brasil. Em caixa estão já cerca de 55% dos 6 mil milhões de venda e rotação de ativos previstos no plano estratégico da empresa até 2022, confirmou Mexia revelando que dois terços das metas traçadas estão praticamente cumpridas,
E enquanto o Covid-19 parece não afetar para já os resultados da empresa, a chuva que se fez sentir nos primeiros meses do ano, enquanto o país mergulhava na quarentena, ajudou a elétrica a recuperar dos prejuízos registados no mercado português nos últimos tempos. Parte da subida expressiva do resultado líquido no arranque de 2020 teve sobretudo a ver com o mau desempenho no período homólogo, “o qual foi fortemente penalizado por um volume de produção de energia hídrica anormalmente baixo” (-48% ) entre janeiro e março de 2019, segundo as contas apresentadas ao mercado esta quinta-feira.
Agora com as barragens mais cheias, a EDP antecipa assim que 2020 seja um bom ano. “Abril foi um mês muito bom, 17% acima da média na produção hídrica. Para este ano esperamos bons recursos hídricos, em geral”, disse Miguel Stilwell d’Andrade, CFO da EDP, na call com analistas que seguiu a apresentação de resultados. Nestes três meses, a produção hídrica da EDP aumentou 84% em termos homólogos.
Para já, mostra a elétrica, o Covid-19 teve efeitos, sim, na procura de eletricidade, que para a EDP caiu 3% em Portugal e 7% em Espanha entre janeiro e abril, com as famílias a aumentarem o seu consumo e a pesarem 41% do lado da procura. Já as empresas caíram a pique no consumo de energia elétrica (52% da procura; com os restante 7% para as PME).
Neste início do ano, as energias renováveis foram responsáveis por 79% da produção de eletricidade da EDP, com o carvão em sentido contrário, a cair a pique (-77%), para apenas 6%. No primeiro trimestre, a EDP investiu 425 milhões de euros (+24%), dos quais 80% foram dedicados à expansão das renováveis, com mais 700 MW instalados face aos período homólogo e ainda 1,3 GW em construção. Num curto espaço de tempo, entre abril e maio de 2020, a EDP anunciou três novos contratos de compra e venda de energia a longo prazo nos EUA, Espanha e México.
A EDP diz que o lucro nos primeiros três meses do ano poderia ter atingido os 252 milhões de euros se não tivesse registado o impacto negativo de dois eventos: uma operação financeira de recomprar de títulos de dívida híbrida, cujo impacto foi de -45 milhões; e a contribuição extraordinária sobre o setor energético (CESE) em Portugal, que representou um encargo de 61 milhões. Depois de no ano passado ter contestado o pagamento deste imposto, chegando depois a acordo com o Governo, em 2020 a EDP já liquidou a CESE, apesar da redução na taxa prometida para este ano.
Ainda assim, os resultados subiram de forma expressiva, também devido aos menores encargos com dívida.
Dívida cai para mínimos de 13 anos
Em termos operacionais, ainda que a capacidade instalada tenha recuado 2% entre o primeiro trimestre de 2019 e o primeiro trimestre de 2020, para 26.544 megawatts (MW), a produção subiu 2% no mesmo período para 18.286 MW, e com maior preponderância das renováveis: teve um peso de 79%, mais 10 pontos percentuais face ao período homólogo.
A margem bruta cresceu 8% para 1.475 milhões de euros. O EBITDA — lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações — subiu 6% para 980 milhões de euros. Para isso contribui sobretudo a recuperação dos recursos hídricos na Península Ibérica, com um incremento de 87% na produção no primeiro trimestre (ainda assim 9% abaixo da média histórica em Portugal), representando um aumento de 65 milhões no EBITDA.
Refere a EDP na apresentação de resultados que a forte recuperação na produção hídrica na Península Ibérica compensou uma produção eólica mais fraca no trimestre (-8%).
“Em relação à energia eólica e solar, a desconsolidação de ativos eólicos no âmbito das transações de asset rotation do ano passado, em conjunto com os baixos recursos eólicos (10% abaixo da média histórica), justificam o decréscimo na produção de 8%”, lê-se do documento enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários.
A EDP destaca ainda a uma redução da dívida líquida em 8% para 12,7 mil milhões de euros, o valor mais baixo dos últimos 13 anos. O rácio da dívida/EBITDA desceu de 3,6x para 3,4x.
No que toca à posição de liquidez, a EDP tinha 6,9 mil milhões de euros no final de março de 2020, “cobrindo as necessidades de refinanciamento para além de 2022”, refere em comunicado.
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