As cotadas portuguesas mais afetadas pelas políticas de Trump

As políticas protecionistas de Trump e as mais que esperadas alterações ao “Inflation Reduction Act” colocam empresas do PSI sob tensão, particularmente a família EDP e a Corticeira Amorim.

As políticas protecionistas e imprevisíveis de Donald Trump, que regressou esta segunda-feira à Casa Branca, estão a gerar preocupações entre as principais empresas portuguesas cotadas no índice PSI da Euronext Lisboa com forte exposição ao mercado norte-americano.

EDP EDP 0,00% , EDP Renováveis EDPR 0,00% e Corticeira Amorim COR 0,00% destacam-se como as mais vulneráveis às medidas anunciadas pela nova administração Trump, que prometeu impor tarifas de 10% sobre todas as importações e reverter incentivos às energias renováveis.

A EDP e a sua subsidiária EDP Renováveis são, de longe, as empresas do PSI mais expostas ao mercado norte-americano e, consequentemente, as que enfrentam maiores desafios com o regresso de Trump ao poder. E isso é bem visível no comportamento recente das ações das duas empresas, que entre 4 de novembro, um dia antes das eleições presidenciais dos EUA, e segunda-feira acumulam perdas de 14% (EDP) e de 26% (EDP Renováveis), enquanto o PSI registou uma queda marginal de 0,02% no mesmo período.

A política “America First” de Trump e a ameaça de impor tarifas de 10% sobre todas as importações podem encarecer significativamente os equipamentos e componentes que a EDP Renováveis importa para os seus parques eólicos e solares nos EUA.

Segundo o plano estratégico 2023-2026 da EDP, a empresa pretende investir cerca de 8,5 mil milhões de euros no mercado norte-americano até 2026, o que representa mais de um terço do seu investimento global previsto de 25 mil milhões de euros para o período. Já a EDP Renováveis tem mais de metade da sua capacidade instalada (51%) localizada nos EUA, de acordo com o relatório e contas de 2023.

O CEO da EDP e da EDP Renováveis, Miguel Stilwell, tem motivos para estar apreensivo. As promessas de Trump de reverter incentivos às energias renováveis e reforçar o apoio aos combustíveis fósseis ameaçam diretamente o ambicioso plano de expansão da EDP e da EDP Renováveis nos EUA.

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A nova administração já sinalizou a intenção de cancelar o Inflation Reduction Act (IRA), aprovado por Joe Biden, que, entre outros, prevê mais de meio bilião de dólares em incentivos para projetos de energia limpa, hidrogénio e tecnologias renováveis. A concretizar-se esta promessa, seria um duro golpe para a EDP Renováveis, que contava com estes apoios para expandir a sua presença no mercado norte-americano.

Com a Casa Branca e o Congresso controlados pelos republicanos, o futuro do IRA é incerto. A escassez de maiorias no Senado e na Câmara dos Representantes pode representar um desafio para os legisladores republicanos na criação de uma coligação para a revogação total da IRA, uma vez que os incentivos da IRA beneficiaram os eleitores republicanos.

“No entanto, o IRA continua a ser vulnerável, uma vez que não são necessárias coligações no Congresso para ações executivas que ponham em causa a aplicação do IRA”, referem Riki Fujii-Rajani e Sanjay Patnaik, investigadores do Instituto de Brooking, num artigo publicado recentemente.

Além disso, a política “America First” de Trump e a ameaça de impor tarifas de 10% sobre todas as importações podem encarecer significativamente os equipamentos e componentes que a EDP Renováveis importa para os seus parques eólicos e solares nos EUA.

Donald Trump toma posse como 47.º presidente dos EUA esta segunda-feira, esperando-se que logo nas primeiras horas do seu mandato assine cerca de 200 ordens executivas.Lusa

Rolhas e papel também estão sob pressão

A Corticeira Amorim é outra empresa do PSI com uma exposição significativa ao mercado norte-americano que poderá ser afetada pelas políticas de Trump. Desde 4 de novembro, a cotação das ações da Corticeira Amorim resvalaram 4,6%.

Segundo o último relatório e contas anual, os EUA são o segundo maior destino das vendas da empresa liderada por António Rios de Amorim, com uma quota de mercado de 16,4%, logo após a França.

A ameaça de Trump de impor tarifas de 10% sobre todas as importações poderia encarecer significativamente os produtos da Corticeira Amorim no mercado norte-americano, reduzindo potencialmente a sua competitividade face a alternativas locais. Além disso, a empresa possui uma unidade industrial nos EUA, a Amorim Cork Composites, que poderá ser afetada por eventuais restrições à importação de matérias-primas ou componentes.

A Navigator NVG 0,00% , uma das maiores produtoras mundiais de papel de impressão e escrita, enfrenta também desafios significativos com as políticas protecionistas de Donald Trump. Embora o relatório e contas de 2023 da empresa não especifique a percentagem exata de receitas provenientes dos EUA, as vendas para mercados fora da Europa são cruciais para a Navigator. Em 2023, as flutuações cambiais tiveram um impacto negativo líquido de cerca de 16 milhões de euros no EBITDA da empresa, indicando uma exposição considerável a mercados internacionais, incluindo os EUA.

A situação da Navigator é ainda mais complexa devido ao prolongamento em 2022 do processo anti-dumping que o Departamento de Comércio dos EUA tem em curso contra a empresa. Este processo, que foi estendido por mais cinco anos, pode resultar em tarifas adicionais sobre os produtos da Navigator no mercado norte-americano.

As potenciais tarifas de 10% sobre as importações, propostas por Trump, somadas às possíveis tarifas anti-dumping, poderiam afetar drasticamente a competitividade dos produtos da Navigator nos EUA.

As políticas de Trump têm o potencial de afetar significativamente várias empresas do PSI, seja diretamente através de tarifas e restrições comerciais, seja indiretamente através de mudanças nas dinâmicas globais de mercado.

Efeito de contágio em Portugal

Entre as 15 empresas que compõem atualmente o PSI, destaque ainda para as retalhistas Sonae SON 0,00% e Jerónimo Martins JMT 0,00% que, embora não tenham operações diretas nos EUA, poderão sentir os efeitos indiretos das políticas de Trump de maneiras significativas.

As tarifas sobre importações podem levar a um aumento generalizado dos preços dos produtos importados, afetando as cadeias de abastecimento globais destas retalhistas. Isso pode pressionar as margens das operações empresas, forçando a Sonae e a Jerónimo Martins a procurar fornecedores alternativos ou a repassar os aumentos de custos aos consumidores.

Além disso, as políticas protecionistas de Trump poderiam afetar o poder de compra dos consumidores em mercados onde a Sonae e a Jerónimo Martins operam, especialmente se houver uma desaceleração económica global como resultado de tensões comerciais.

A Galp Energia GALP 0,00% é outra das empresas do PSI que pode ser implicada pelas políticas energéticas de Trump. A promessa de impulsionar a produção de petróleo e gás nos EUA, espelhada num dos slogans da sua campanha “We will drill baby, drill” (“Vamos perfurar, perfurar”, numa tradução livre) que foi repetido uma vez mais na segunda-feira por Trump no discurso de tomada de posse, pode levar a uma maior oferta global do ouro negro, pressionando potencialmente os preços do petróleo.

A confirmar-se esta dinâmica, naturalmente as margens da Galp seriam afetadas, tanto nas suas operações de upstream (exploração e produção) quanto nas de downstream (refinação e distribuição).

Além disso, as políticas de Trump relativamente ao acordo nuclear com o Irão e as sanções a países produtores de petróleo poderiam causar volatilidade nos preços globais do petróleo, afetando a previsibilidade das receitas da Galp.

As políticas de Trump têm o potencial de afetar significativamente várias empresas do PSI, seja diretamente através de tarifas e restrições comerciais, seja indiretamente por mudanças nas dinâmicas globais de mercado. Às empresas portuguesas caberá demonstrarem agilidade e adaptabilidade sobre cada uma das medidas que Trump venha a aprovar.

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Descida dos juros nos EUA beneficia gigantes do PSI e pensões dos portugueses

Com uma forte exposição ao mercado dos EUA, o grupo EDP e o Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social são dos grandes beneficiados com o recente corte de 50 pontos base das Fed Funds.

A Reserva Federal dos EUA (Fed) anunciou na quarta-feira um corte de 50 pontos base na taxa dos fundos federais (Fed Funds), reduzindo-a para o intervalo entre 4,75% e 5%. Foi a primeira redução desde 2020 e marca o início de um novo ciclo de política monetária nos EUA.

Esta decisão, que foi conhecida às 14 horas locais (19 horas em Lisboa), teve um efeito imediato nos mercados norte-americanos, com o índice de ações norte-americano S&P 500 a subir 0,7% e fechando na quinta-feira em novos máximos históricos.

Mas tal como sucede com a política norte-americana, também a política monetária promovida pelo Tesouro dos EUA tem efeitos globais. E isso foi espelhado esta quinta-feira também na Europa, com os principais índices a encerrarem o dia com ganhos.

Em Portugal, o corte “jumbo” de 50 pontos da Fed terá também um impacto direto e positivo nas suas contas, particularmente junto das empresas com forte exposição ao mercado norte-americano e ao dólar, como sucede com os dois maiores pesos-pesados do PSI: EDP e EDP Renováveis.

No caso da EDP, que no final do ano passado contava com ativos de 3,7 mil milhões de euros em parques eólicos e solares na América do Norte, o corte da Fed é de grande relevância. Desde logo porque a elétrica nacional tem a intenção de investir cerca de 8,5 mil milhões de euros no mercado norte-americano até 2026, segundo o seu plano estratégico 2023-2026 que engloba um investimento global de 25 mil milhões de euros.

Para a maioria das empresas do PSI, o impacto direto do corte de juros da Fed deverá ser mais limitado, dado que têm uma exposição menor ao mercado norte-americano. No entanto, todas serão impactadas indiretamente pela decisão da Fed.

A EDP Renováveis é outra das empresas do PSI que recebeu com bom agrado o corte das Fed Funds dada a forte exposição do seu negócio ao mercado dos EUA. Segundo o relatório e contas da empresa de 2023, 51% da capacidade instalada no final do ano passado estava localizada nos EUA.

Assim, o corte de juros anunciado por Jerome Powell, presidente da Fed, poderá beneficiar estas empresas de várias formas:

  • Redução dos custos de financiamento para novos projetos de energia renovável nos EUA.
  • Potencial estímulo à economia norte-americana, aumentando a procura de energia no país.
  • A possível desvalorização do dólar face ao euro poderá afetar os resultados quando convertidos para euros (embora ambas as empresas tenham mecanismos de cobertura cambial), com efeito direto também sobre os ativos nesses países.

Desta forma, Miguel Stilwell, CEO da EDP e da EDP Renováveis, terá motivos para sorrir com o corte das Fed Funds. Em 2023, o EBITDA recorrente da EDP superou os 5 mil milhões de euros (crescimento homólogo de 11%) e o resultado líquido recorrente alcançou um recorde de 1,29 mil milhões de euros. Com ventos mais favoráveis a soprarem dos EUA, estes números poderão melhorar ainda mais em 2024.

Investimentos e vendas nos EUA com potencial de escalar

Além do binómio EDP, a Corticeira Amorim é outra das empresas do PSI com forte exposição ao mercado norte-americano. Os EUA são inclusive o segundo maior destino das vendas da empresa liderada por António Rios de Amorim, logo após França, com uma quota de mercado de 16,4%, segundo o relatório e contas de 2023 da empresa.

É também nos EUA que a Corticeira Amorim tem localizado uma das suas duas unidades industriais da Amorim Cork Composites (líder mundial no desenvolvimento de novos materiais compósitos de cortiça) que fabricam produtos para empresas como a NASA, a Mazda e a Siemens — a outra fábrica está localizada em Portugal.

António Rios Amorim e os acionistas da Corticeira Amorim poderão ver no corte da Fed uma oportunidade para recuperar terreno, após um 2023 não tão positivo — em que a empresa recuou da mítica cifra dos mil milhões de euros de faturação –, dado que o corte das taxas de juro poderá beneficiar o negócio de várias formas:

  • Ao baixar o preço do dólar, a Fed concede um estímulo à economia dos EUA, potenciando o consumo, nomeadamente de vinho e, consequentemente, a procura por rolhas de cortiça.
  • A possível desvalorização do dólar, como é previsto pelos analistas do Morgan Stanley que anteveem que a moeda norte-americana possa alcançar a paridade face ao euro nos próximos meses, tornará os produtos da empresa portuguesa mais competitivos no mercado norte-americano.
  • Ao cortar as taxas de juro, o crédito em dólares ficará mais barato, provocando assim uma redução nos custos de financiamento para as operações da empresa nos EUA, onde a empresa contava no final do ano passado com uma unidade industrial e sete joint-ventures.

Destaque ainda para a Navigator, que embora o relatório e contas de 2023 não especifique a percentagem de receitas provenientes dos EUA, menciona que as vendas para mercados fora da Europa são importantes para a empresa e que as flutuações cambiais tiveram um impacto negativo líquido de cerca de 16 milhões de euros no EBITDA da empresa em 2023.

O FEFSS, excluindo o investimento em dívida pública portuguesa, tem uma carteira maioritariamente exposta aos EUA (51,1%), seguida pela Zona Euro (24,2%), Japão (8,0%) e Reino Unido (6,4%). Só em obrigações dos EUA, o fundo tinha 3,31 mil milhões de euros aplicados no final do ano passado.

Para a maioria das empresas do PSI, o impacto direto do corte de juros da Fed deverá ser mais limitado, dado que têm uma exposição menor ao mercado norte-americano.

No entanto, todas serão impactadas indiretamente pela decisão da Fed, desde logo pelo estímulo que o corte do preço do dólar gera na economia dos EUA, nomeadamente no plano do consumo, que em função da dimensão do mercado norte-americano, poderá repercutir-se globalmente através, por exemplo, do aumento da procura pelos produtos e serviços das empresas nacionais.

Efeitos colaterais do corte dos juros

Ao cortar o preço do dólar, a Fed também produz um “efeito borboleta” na política monetária dos restantes bancos centrais, pressionando as autoridades monetárias como o Banco Central Europeu a também cortarem as taxas de juro, gerando com isso uma redução nos custos de financiamento.

O corte de 50 pontos base das Fed Funds representa assim uma mudança significativa no panorama económico global, com repercussões potencialmente positivas para várias empresas portuguesas cotadas na Euronext Lisboa e outras que exportem para o mercado norte-americano.

Além disso, há ainda um beneficiário do corte da Fed frequentemente esquecido, mas de extrema importância para Portugal, que é o Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social (FEFSS). Com uma exposição significativa ao mercado dos EUA, o FEFSS poderá colher frutos substanciais desta mudança na política monetária norte-americana.

Segundo o relatório e contas de 2023 recentemente publicado, o FEFSS, excluindo o investimento em dívida pública portuguesa, tem uma carteira maioritariamente exposta aos EUA (51,1%), seguida pela Zona Euro (24,2%), Japão (8,0%) e Reino Unido (6,4%). Só em obrigações dos EUA, o fundo tinha 3,31 mil milhões de euros aplicados no final do ano passado, um aumento de 12% em relação a 2022.

Desta forma, o FEFSS poderá beneficiar da queda dos juros nos EUA, essencialmente, de duas formas:

  • Valorização das obrigações: Com a queda das taxas de juro, o valor das obrigações existentes tende a aumentar, pois os seus cupões tornam-se mais atrativos em comparação com as novas emissões a taxas mais baixas.
  • Estímulo ao mercado de ações: A redução das taxas de juro geralmente estimula o mercado de ações, o que pode beneficiar a parcela da carteira do FEFSS investida em ações americanas, que no final do ano passado era também substancial.

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Lucros da Corticeira Amorim caem 32% para 16 milhões no primeiro trimestre

A empresa liderada por António Rios de Amorim apresentou também uma queda de 9,7% das receitas e uma queda homóloga de 8,8% do EBITDA consolidada.

A Corticeira Amorim teve um primeiro trimestre de fortes condicionantes operacionais. De acordo com um comunicado enviado esta quinta-feira à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), os lucros registaram uma queda homóloga de 32%, fixando-se nos 16,1 milhões de euros. Desde 2021 que a empresa liderada por António Rios de Amorim não fechava o primeiro trimestre com resultados tão baixos.

“Os primeiros três meses do ano foram afetados por condições de mercado desfavoráveis”, refere António Rios de Amorim, CEO da empresa. Sinal disso é também uma queda homóloga de 9,7% das receitas, “principalmente pela redução dos volumes de venda”, com a Corticeira Amorim a fechar os primeiros três meses de 2024 com receitas consolidadas de 234,7 milhões de euros.

Todas as unidades de Negócio registaram uma pressão sobre as vendas, exceto a Amorim Cork Composites, cujas vendas cresceram ligeiramente para 27,5 milhões de euros (+0,6% face ao período homólogo)”, refere a empresa em comunicado.

A mesma tendência de queda registou-se no plano dos resultados operacionais, com o EBITDA consolidado a fixar-se nos 43,7 milhões de euros no primeiro trimestre deste ano, menos 8,8% face aos 47,9 milhões de euros contabilizados no primeiro trimestre de 2023. “O consumo de matérias-primas cortiça adquiridas a preços mais elevados e os efeitos negativos da desalavancagem operacional foram determinantes para esta redução”, justifica a empresa.

“Perante os efeitos negativos da desalavancagem operacional, refletindo uma contração de volumes nos setores onde operamos, e do aumento de preços de consumo de cortiça, os nossos esforços concentraram-se em aumentar a eficiência industrial, melhorar o mix e ganhar quota de mercado”, refere António Rios de Amorim.

“Considerando o exigente contexto macroeconómico, a inexistência de sinais de recuperação da indústria de pavimentos e as atuais debilidades competitivas da Amorim Cork Flooring, foi decidido iniciar um processo de reestruturação desta unidade de negócio”, revela a Corticeira Amorim em comunicado enviado à CMVM.

Apesar destes números, a margem EBITDA melhorou 0,2 pontos percentuais para 18,6%, apesar da queda dos volumes e da subida dos preços de cortiça. “A Amorim Cork e a Amorim Cork Composites foram as unidades de negócio que se destacaram em termos de melhoria de rentabilidade no período, refletindo, entre outros, menores custos de matérias-primas não cortiça e melhores eficiências industriais”, destaca a empresa em comunicado.

Os resultados do primeiro trimestre da Corticeira Amorim ficam também marcados por uma redução de 1,7% da dívida remunerada líquida, que baixou de 240,8 milhões no final do ano passado para os atuais 236,7 milhões de euros, “apesar do acréscimo das necessidades de fundo de maneio (25,7 milhões de euros) e do aumento do investimento em ativo fixo (12,4 milhões de euros)”, destaca a empresa.

No comunicado enviado à CMVM, a empresa liderada por António Rios de Amorim revela também, confirmando o “ultimato” noticiado há duas semanas pelo ECO, que, no curto prazo, será implementado um plano de otimização industrial na Amorim Cork Flooring que, nos últimos anos, tem apresentado prejuízos que se agravaram entre janeiro e março deste ano.

“Considerando o exigente contexto macroeconómico, a inexistência de sinais de recuperação da indústria de pavimentos e as atuais debilidades competitivas da Amorim Cork Flooring, foi decidido iniciar um processo de reestruturação desta unidade de negócio que implica, numa primeira fase, o ajustamento da sua estrutura produtiva e de suporte à dimensão atual das vendas, de forma a reduzir as perdas operacionais e aumentar a eficiência pela otimização industrial”, explica a empresa.

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Amorim volta a aumentar preço das rolhas em 2024 e faz “ultimato” ao negócio de revestimentos

Gigante da cortiça fala em "necessidade" de subir novamente os preços de venda, apesar do mercado ter "a expetativa de os ver a diminuir”. Produtos de revestimento têm de provar "aceitação".

A subida dos preços de compra de cortiça na última campanha vai obrigar a Corticeira Amorim a “aumentar novamente os preços de venda” das rolhas durante este ano, mesmo reconhecendo que “a implementação seja mais difícil do que nos anos anteriores”. “Decorrente dos aumentos de preços da campanha de 2023, a implementação do aumento de preços em 2024 é uma necessidade”, defende o grupo liderado por António Rios de Amorim no mais recente relatório anual consolidado, consultado pelo ECO.

Antecipando “um dos anos mais desafiantes” para o negócio, a produtora de Santa Maria da Feira sublinha que “o efeito do aumento do preço de consumo da cortiça em 2024 terá um impacto relevante nas contas”. E para contrariar também a “pressão significativa” para o crescimento dos gastos salariais e um contexto “menos favorável” nos preços da eletricidade, adianta que “será necessário implementar ajustamentos adicionais aos preços de venda, num mercado que tem a expectativa de ver os preços a diminuírem”.

Por outro lado, para assegurar a manutenção da rentabilidade na unidade de negócios das rolhas, que em 2023 foi responsável por 76% das receitas totais, o grupo nortenho diz que, além da “necessária redução do preço médio de compra” da cortiça, será “fundamental” manter a eficiência na aquisição de químicos, materiais de embalagem, madeiras e transportes, cujos preços estão ainda acima dos praticados antes da pandemia. “Com a estabilidade da economia, é expectável que seja possível beneficiar da redução de preços de todos estes materiais em 2024”, completa.

Ainda no que toca à Amorim Cork, nota que “as disrupções na cadeia de abastecimento estão ainda por resolver e poderão ter impacto também na evolução do negócio”, mas não espera constrangimentos na produção de rolhas, garantindo ter capacidade instalada para responder aos clientes e aprovisionada a matéria‑prima cortiça necessária. O arranque deste ano está a ser “lento”, em linha com a reta final de 2023, mas confia numa “recuperação durante o ano”. Espera crescer acima do mercado dos vinhos, fala em “mercados relevantes nos espirituosos ainda por explorar” e conta aproveitar “os condicionamentos aos vedantes de plástico”.

“Outra das linhas orientadoras para o ano centra‑se no controlo do capital investido a três níveis: após o reposicionamento dos stocks em 2023, uma gestão cuidadosa do nível de rolhas em todas as famílias de produtos (em Portugal e nas empresas do exterior), mantendo‑se um fluxo contínuo entre a produção e o cliente; gestão da dívida de clientes e foco na recuperação de imparidades; e maior contenção e consolidação dos investimentos efetuados nos anos anteriores, após o forte investimento realizado nos últimos anos”, lê-se no mesmo documento.

Revestimentos têm de provar “aceitação no mercado”

Apesar de ter visto os lucros caírem 9,7% para 88,9 milhões de euros e as vendas baixarem do patamar dos mil milhões de euros devido, sobretudo, à quebra da atividade na área dos revestimentos e pelo efeito cambial desfavorável, o presidente e CEO da Corticeira Amorim classifica o exercício de 2023 como “muitíssimo positivo”, salientando a melhoria de 7,8% do EBITDA consolidado, que atingiu 177 milhões de euros, com a expansão da margem para 18%.

Em declarações ao ECO, após a divulgação dos resultados no final de fevereiro, António Rios de Amorim salientou que para 2024, ano em que irá reforçar o fabrico em França e Itália, “o enquadramento ainda é de incerteza”, mas dizia estar “confiante num ano positivo, mas que exigirá muita resiliência” para ganhar quota e rentabilidade. Palavras que o gestor repete quase na íntegra na mensagem incluída agora no relatório anual consolidado, com uma nota final de confiança: “Os desafios são imensos, mas a nossa determinação é maior”.

António Rios de Amorim, CEO da Corticeira AmorimPaula Nunes / ECO

Num ano que deverá ficar marcado pelo “aligeiramento da política monetária e consolidação fiscal” e em que “o aumento dos riscos geopolíticos é uma forte possibilidade, estando as atenções centradas nas eleições presidenciais norte‑americanas”, a evolução cambial (euro/dólar) é “outra fonte de incerteza” que pode condicionar a performance. Ainda assim, traça o objetivo de voltar a ultrapassar em 2024 os mil milhões de euros de vendas consolidadas, “procurando alguma melhoria na rentabilidade”.

Depois de ter atingido em 2022 a fasquia dos mil milhões de euros, pela primeira vez na história de uma empresa que é familiar há 153 anos – a maioria do capital (70%) é detido pela família Amorim de forma direta ou indireta, e o restante por acionistas institucionais, na sua maior parte estrangeiros –, no último exercício as vendas da gigante industrial nortenha recuaram 3,5% em termos homólogos, para 985,5 milhões de euros. Baixaram desse patamar devido à quebra da atividade nos revestimentos (-30,1%) e nos compósitos de cortiça (-3,8%), e pelo efeito cambial desfavorável.

Neste relatório, o grupo alerta que o ano de 2024 será de “alteração profunda” para a Amorim Cork Flooring, conhecida pela produção de pavimentos e decorativos de parede de cortiça, que no ano passado registou um EBITDA negativo de 7,9 milhões de euros. Apesar do contexto desfavorável que afeta a indústria dos revestimentos, com a contração do setor da construção na Europa, terá de “retomar o caminho da rentabilidade que já teve anteriormente”. A administração deixa mesmo um aviso sério à navegação: “o ano de 2024 será determinante para o futuro da unidade de negócios. Ou o produto tem aceitação no mercado ou medidas mais aprofundadas em termos de estratégia de negócio vão ter de ser implementadas”.

Finalmente, na unidade florestal, a Corticeira Amorim, que é cotada desde 1988 e exporta para mais de uma centena de países, calcula que serão plantados este ano mais 250 mil sobreiros, depois dos 200 mil no ano passado. No âmbito do projeto de intervenção florestal, irá este ano continuar com as plantações de novas áreas na Herdade de Rio Frio por via de um “novo projeto de adensamento” de aproximadamente 400 hectares, e continuar a plantar novos sobreiros na Herdade da Baliza, numa área de 200 hectares, detalha a empresa.

A assembleia-geral de acionistas realizada na segunda-feira, que aprovou o pagamento do dividendo de 0,20 euros a 22 de maio, deu igualmente luz verde à proposta relativa à eleição do conselho de administração para o triénio 2024/2026. A principal novidade é a ascensão de Luísa Amorim a vice-presidente, por troca com Nuno Barroca. Este órgão passa a ter mais um elemento (são agora 11), com a saída de Marta Parreira Coelho Pinto Ribeiro – ao completar o terceiro mandato deixou, em termos legais, de ser considerada independente –, e a entrada dos administradores independentes João Castello Branco e Helena Cerveira Pinto.

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Corticeira Amorim paga dividendo de 20 cêntimos a 22 de maio

  • ECO
  • 22 Abril 2024

Em termos líquidos, dividendo ronda 0,144 euros para singulares e 0,15 euros para pessoas coletivas. Luísa Amorim sobe a vice-presidente do conselho de administração, por troca com Nuno Barroca.

A Corticeira Amorim vai pagar o dividendo de 0,20 euros a 22 de maio, segundo anunciou esta segunda-feira ao mercado a empresa liderada por António Rios Amorim.

O dividendo foi aprovado na assembleia geral de acionistas que teve lugar esta manhã. Em termos líquidos, o dividendo rondará os 0,144 euros para singulares e 0,15 euros para pessoas coletivas.

A gigante da cortiça, com sede em Santa Maria da Feira, registou lucros de 88,9 milhões de euros no ano passado, uma redução de 9,7% em relação a 2022.

Na mesma reunião foram também aprovados por maioria os restantes pontos em agenda, como os documentos de prestação de contas relativos ao exercício de 2023, o relatório do governo societário ou as propostas relativas à aquisição e alienação de ações próprias.

Teve igualmente luz verde dos acionistas a proposta relativa à eleição do Conselho de Administração para o triénio 2024/2026. A principal novidade é a ascensão de Luísa Amorim a vice-presidente, por troca com Nuno Barroca. Este órgão passa a ter mais um elemento, com a saída de Marta Parreira Coelho Pinto Ribeiro, que completou o terceiro mandato nestas funções, e a entrada dos administradores independentes João Castello Branco e Helena Cerveira Pinto.

Veja a nova composição do conselho de administração

Presidente: António Rios de Amorim

Vice-Presidente: Luísa Alexandra Ramos Amorim

Vogais:

Cristina Rios de Amorim Baptista

Nuno Filipe Barroca de Oliveira

Fernando José de Araújo dos Santos Almeida

Juan Ginesta Viñas

João Nuno de Sottomayor Pinto de Castello Branco

José Pereira Alves – Presidente da Comissão de Auditoria

Maria Cristina Galhardo Vilão – Vogal da Comissão de Auditoria

António Manuel Mónica Lopes de Seabra – Vogal da Comissão de Auditoria

Helena Sofia Silva Borges Salgado Fonseca Cerveira Pinto – Vogal da Comissão de Auditoria

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Amorim exige “resiliência” para ganhar quota e rentabilidade em 2024. Corticeira reforça fabrico em França e Itália

Apesar do “enquadramento de incerteza” para 2024, Amorim confia que Corticeira tem “condições para crescer em vendas e rentabilidade”. Sem aquisições “em vista”, aumenta capacidade em Itália e França.

Apesar de ter visto os lucros caírem 9,7% para 88,9 milhões de euros e as vendas baixarem do patamar dos mil milhões de euros (-3,5%) devido, sobretudo, à quebra da atividade na área dos revestimentos e pelo efeito cambial desfavorável, o presidente e CEO da Corticeira Amorim classifica o exercício de 2023 como “muitíssimo positivo”, salientando a melhoria de 7,8% do EBITDA consolidado, que atingiu 177 milhões de euros, com a expansão da margem para os 18%.

Já perspetivando um ano de 2024 “influenciado pelo nível de consumo do mercado”, António Rios de Amorim admite ao ECO que “o enquadramento ainda é de incerteza”. “No entanto, estamos confiantes e pretendemos que seja mais um ano positivo, mas que exigirá muita resiliência da nossa parte. Apesar de estarmos perante um mercado que não cresce, temos condições para melhorar as vendas, através de uma oferta muito competente e tecnicamente desenvolvida para todas as soluções que temos no mercado”, sublinha.

Tendo em conta os investimentos realizados nos últimos dois anos em todas as unidades de negócio, nomeadamente em tecnologias aplicadas às várias áreas de intervenção, o líder da gigante industrial sediada em Mozelos (concelho de Santa Maria da Feira), a maior empresa mundial de produtos de cortiça, aspira a “continuar a disponibilizar produtos e soluções inovadores e a ganhar quota de mercado, reforçando os níveis de rentabilidade”.

“Atualmente, os riscos e oportunidades para o negócio da Corticeira Amorim residem na variação da procura e do consumo dos produtos dos nossos clientes, nomeadamente dos vinhos, espumantes e bebidas espirituosas. Juntamente com a desejável recuperação dos mercados de construção e renovação, especialmente na Europa, assim como a evolução dos emergentes negócios de novas aplicações de cortiça, como a indústria aeroespacial, energia ou mobilidade”, descreve.

Voltar a ultrapassar o patamar dos mil milhões de euros de vendas já em 2024? Ambicionamos continuar a crescer e julgo que temos condições de concretizar esse crescimento: em vendas e em rentabilidade.

António Rios de Amorim

Presidente e CEO da Corticeira Amorim

Atingir a fasquia de vendas de mil milhões de euros em 2022, pela primeira vez na história de uma empresa cuja origem remonta ao ano de 1870, foi “muito significativo”, um “motivo de orgulho para a equipa” e uma “motivação adicional”. Acredita que é possível voltar a atingir esse valor mítico já em 2024? “Ambicionamos continuar a crescer e julgo que temos condições de concretizar esse crescimento: em vendas e em rentabilidade”, responde o presidente e CEO da Corticeira Amorim.

Em declarações ao ECO, o histórico empresário nortenho, que há dois anos sucedeu a Isabel Furtado na liderança da COTEC Portugal, salienta, por outro lado, que “o vasto plano de investimento, a gestão rigorosa e os programas de melhoria contínua e de eficiência produtiva, implementados nos últimos anos, foram cruciais para os níveis atuais de rentabilidade operacional, mesmo neste contexto tão exigente e incerto”.

Sem “nada em vista” para comprar

A compra de uma participação de 55% na empresa suíça de produtos enológicos VMD por 12 milhões de euros, a par do acréscimo das necessidades de fundo de maneio (108 milhões), do aumento do investimento em ativo fixo (95 milhões) e do pagamento de dividendos (39 milhões) – aos 20 cêntimos por ação somou um extraordinário de nove cêntimos pago no último mês do ano passado –, fizeram a dívida remunerada líquida do grupo corticeiro aumentar no final de dezembro para 241 milhões de euros. Traduz um aumento de 112 milhões face há um ano, depois de já ter triplicado de 2021 para 2022. Segundo contabilizou em setembro a CFO, Cristina Amorim, mais de metade da dívida já é “financiamento verde e sustentável”.

A aquisição do grupo sediado em Pully e até agora detido pela família Druz foi anunciada em agosto, mas a contribuição para os resultados consolidados da Corticeira Amorim apenas se registou no último trimestre do ano. A parceria com esta produtora e comercializadora de rolhas, cápsulas, produtos enológicos, barricas e equipamentos para adegas, que opera através de três filiais, permitiu à multinacional portuguesa, que emprega cerca de 5.000 pessoas, “associar-se a um grupo de grande reputação e uma relação privilegiada com uma sólida base de clientes, permitindo reforçar a presença na Suíça”.

“É uma operação ainda bastante recente, mas acreditamos firmemente na parceria estabelecida com o líder de mercado suíço. (…) Este mercado é composto por numerosos players, geralmente de reduzida dimensão, que necessitam assim de um apoio e serviço mais localizado — competência essa que a nossa empresa possui. Por isso, as nossas expectativas para o futuro reforçam-se, dada a importância da VMD no cenário fragmentado deste mercado”, resume.

Em 2024, o principal foco será no aumento da capacidade de duas das nossas unidades, uma na Itália e outra na França, mercados relevantes para a Corticeira Amorim.

António Rios de Amorim

Presidente e CEO da Corticeira Amorim

Familiar há 153 anos – a maioria do capital (70%) é detido pela família Amorim de forma direta ou indireta, e o restante por acionistas institucionais, na sua maior parte estrangeiros – e cotada desde 1988, a Corticeira Amorim exporta para mais de uma centena de países. Nos últimos anos tem andado às compras dentro e fora de portas, com destaque para a aquisição de 50% da italiana Saci por 49 milhões de euros, no início de 2022; e da Herdade de Rio Frio, que teve um custo total aproximado de 50 milhões e completou na sequência de um acordo com o Novobanco.

“Estamos sempre disponíveis para analisar oportunidades, mas neste momento não temos nada em vista”, salienta António Rios de Amorim. Sobrinho do já falecido Américo Amorim, chegou em março de 2001 à presidência da maior fabricante mundial de produtos de cortiça, que diz ter 30 mil clientes e que detém atualmente 30 unidades industriais, das quais dez de matéria-prima, e 63 empresas de distribuição espalhadas pelo mundo.

Corticeira Amorim plantou cerca de 200 mil sobreiros em 2023 e prevê plantar mais 250 mil em 2024

Nos últimos dois anos, o grupo realizou investimentos no valor de 160 milhões de euros, com destaque para o aumento de capacidade de produção nos espirituosos e nas rolhas microaglomeradas através da tecnologia Xpür, e ainda para o acréscimo da oferta nos revestimentos com uma nova impressora digital.

O empresário adianta ao ECO que para 2024 “o principal foco será no aumento da capacidade de duas das unidades [do grupo], uma na Itália e outra na França, que são mercados relevantes” para a líder corticeira. Em causa está o reforço da atividade nas unidades de finalização e distribuição da Amorim France em Eysines (Nova Aquitânia) e da Amorim Cork Italia, sediada em Conegliano (região de Veneto).

A sustentabilidade tem sido outro vetor forte de investimento para o conglomerado de Santa Maria da Feira, que a cada nove anos perde 15% da produção de sobreiros. Concretizado através do esforço financeiro em investigação e desenvolvimento (I&D) e visível em ações como a plantação de sobreiros de quase 500 mil sobreiros entre 2023 e 2024. Também para este ano está prevista a conclusão dos projetos fotovoltaicos para produzir energia para autoconsumo, correspondente a cerca de 20% da eletricidade consumida pela Corticeira Amorim.

De acordo com um ranking internacional divulgado em fevereiro e elaborado pela Morningstar Sustainalytics, a Corticeira Amorim foi a cotada do PSI com melhor pontuação ao nível dos critérios ESG (sigla inglesa que resume os critérios ambientais, sociais e de governança). Com dados referentes a 2023, obteve um nível de risco baixo, registando 11,4 pontos nesta lista que serve para avaliar a exposição das organizações a este tipo de riscos.

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Amorim abre linha de “financiamento verde” com a CGD para fornecedores de cortiça

Fornecedores do grupo industrial de Santa Maria da Feira beneficiam de um desconto no spread do financiamento concedido pelo banco público, em funções de critérios de sustentabilidade.

A Corticeira Amorim, através da subsidiária Amorim Florestal, fechou um acordo com a Caixa Geral de Depósitos (CGD) para reformular uma linha de financiamento dedicada exclusivamente aos fornecedores de cortiça, com “condições particularmente vantajosas ligadas a critérios de sustentabilidade”.

Com esta parceria, os fornecedores beneficiam de um desconto no spread do financiamento concedido pelo banco público, em função do seu nível de classificação ESG (Environmental, Social and Governance) e da obtenção da certificação florestal da Forestry Stewardship Council (FSC), “diretamente proporcional ao respetivo nível de desenvolvimento das práticas ESG e de gestão florestal”.

“Trata-se do primeiro financiamento supply chain concretizado pela Corticeira Amorim com o objetivo de incentivar as melhores práticas ESG na sua cadeia de fornecimento. A iniciativa também marca a sexta operação financeira ESG da empresa, incluindo obrigações e programas de emissão de papel comercial verde e sustainability linked, num total contratado de 141,6 milhões de euros”, contabiliza a empresa de Santa Maria da Feira, em comunicado.

Esta é a sexta operação financeira ESG da Corticeira Amorim, incluindo obrigações e programas de emissão de papel comercial verde e sustainability linked, num total contratado de 141,6 milhões de euros.

Como o ECO noticiou na semana passada, mais de metade da dívida da gigante corticeira já é “financiamento verde e sustentável”, com a administradora financeira (CFO), Cristina Rios de Amorim, a sublinhar que a empresa tem um “benefício efetivo” em termos financeiros neste tipo de operações, além das vantagens que retira ao nível da “visibilidade que dá no mercado e em termos reputacionais”.

“Além das nossas próprias operações, queremos criar oportunidades para que os nossos fornecedores também possam adotar práticas responsáveis e sustentáveis. Implementamos anualmente diversas ações para conservar e expandir as áreas de montado de sobro. Estes esforços vão muito além das áreas florestais sob a nossa gestão direta e incluem programas de certificação florestal, segurança no trabalho, formação técnica e apoio aos proprietários florestais”, resume a gestora, que é irmã do CEO, António Rios de Amorim, e faz parte da quarta geração da família.

No mesmo comunicado, a líder mundial no setor da cortiça destaca igualmente os “investimentos significativos” que está a realizar em projetos de gestão florestal e que ocupam uma área total de 8.181 hectares, como na Herdade da Baliza, na Herdade da Venda Nova e na Herdade de Rio Frio – cuja aquisição teve um custo total aproximado de 50 milhões de euros e que ficou completa no verão de 2022 na sequência de um acordo com o Novobanco.

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Lucros da Corticeira Amorim sobem 8% na primeira metade do ano

Num semestre em que apresentou resultado líquido de 51,4 milhões de euros, o grupo da Feira viu a faturação descer 1,1%, com a unidade de rolhas a ser "a mais afetada pela desvalorização do dólar".

A Corticeira Amorim aumentou os lucros em 8% no primeiro semestre deste ano, para 51,4 milhões de euros. Por outro lado, mostram os dados enviados à CMVM, as vendas atingiram 539,3 milhões de euros até junho, o que equivale a um ligeiro decréscimo (-1,1%) face ao período homólogo de 2022.

“Ao contrário do primeiro trimestre do ano, a evolução cambial teve um impacto desfavorável nas vendas consolidadas, particularmente na unidade de negócio das rolhas, que foi a mais afetada pela desvalorização do dólar. Excluindo este efeito, as vendas consolidadas teriam caído 0,8%”, indica o grupo liderado por António Rios de Amorim.

A Corticeira Amorim salienta o “crescimento robusto” de 5,4% na comercialização de rolhas, que nos primeiros seis meses do ano contribuíram para 77% das vendas consolidadas. Nos isolamentos, as receitas aumentaram 23,4%, mas, em sentido contrário e também em termos homólogos, os segmentos dos aglomerados compósitos (-5,8%) e dos revestimentos (-35,9%) fecharam o semestre no “vermelho”.

O EBITDA consolidado ascendeu a 103,8 milhões de euros (+5,8%), “refletindo, em grande medida, as poupanças significativas ao nível dos custos operacionais, nomeadamente decorrentes da redução dos preços de energia, que mais que compensaram os maiores preços de consumo de cortiça e o aumento dos custos com pessoal”.

Evolução das vendas e EBITDA

Fonte: Corticeira Amorim

No final de junho, a dívida remunerada líquida totalizava 187 milhões de euros, 58 milhões acima do fecho do exercício de 2022. O crescimento desta rubrica no período em análise é explicado pelo grupo sediado em Mozelos, Santa Maria da Feira, com o acréscimo das necessidades de fundo de maneio (79 milhões), o aumento do investimento em ativo fixo (46 milhões) e o pagamento de dividendos (27 milhões).

Com vendas para mais de uma centena dos países – a Europa equivale a quase 62% do total das exportações –, os custos operacionais baixaram para 200,7 milhões de euros no primeiro semestre deste ano (vs. 216,9 milhões na primeira metade de 2022). No final de junho, o maior produtor mundial de cortiça empregava 5.077 pessoas, com os custos com pessoal a subirem 4,6% no espaço de um ano, para 100,3 milhões de euros (18,6% das vendas).

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Corticeira Amorim modera otimismo nas vendas e admite voltar às compras em 2023

Com alguns mercados da gigante da cortiça a atravessarem “uma fase menos favorável”, António Rios de Amorim prevê ao ECO um “crescimento moderado da faturação” em 2023, não excluindo novas aquisições.

Depois de terem superado pela primeira vez a fasquia dos mil milhões de euros em 2022, em resultado de um crescimento homólogo de quase 22%, as vendas consolidadas da Corticeira Amorim recuaram 1,4% nos primeiros três meses deste ano. Ainda assim, o presidente e CEO da Corticeira Amorim encara o resto do ano com “otimismo” e “forte determinação”, mesmo estando ciente de que “alguns segmentos onde [opera] poderão continuar a atravessar uma fase menos favorável”.

“Ainda que o dinamismo do mercado não seja o mesmo que o ano passado, acreditamos que a melhoria do mix e a evolução dos preços de venda suportarão um crescimento moderado da faturação no resto do ano de 2023”, perspetiva António Rios de Amorim, em declarações ao ECO. Em parte devido às poupanças conseguidas nos custos operacionais, com a descida dos preços da energia e dos transportes, os lucros da empresa subiram 18,2% no primeiro trimestre.

Condicionado igualmente pelo comparativo com o mesmo período do ano passado, que foi aquele em que registou um crescimento mais robusto, este recuo ao nível da faturação foi pressionado sobretudo pela área dos revestimentos (-32,8%), que viu as vendas caírem “na generalidade dos mercados” em que opera, mas em particular na Alemanha, que é o mercado mais importante para esta unidade de negócio.

António Rios de Amorim, que lidera a maior empresa mundial de produtos de cortiça, detalha que esta evolução negativa “reflete uma tendência global sentida no setor, de desaceleração da atividade, em particular no segmento de retalho/residencial”. Notando, por outro lado, que “também é verdade que existem stocks na cadeia provenientes de fluxos logísticos que decorrem da perturbação do ano passado”.

Conferência "Querer e Crescer: Ideias para acelerar o crescimento de Portugal" - 20MAR23
António Rios de Amorim, presidente e CEO Corticeira AmorimHugo Amaral/ECO

Já o recuo homólogo de 6,3% nos aglomerados compósitos é explicado pela empresa sediada em Mozelos, no concelho de Santa Maria da Feira, com a redução de volumes nos segmentos de menor valor acrescentado. Neste particular, os maiores decréscimos foram registados nas áreas catalogadas como Distributors of Flooring & Related Products, nos Resilient & Engineered Flooring Manufacturers e ainda de Cork Specialists.

Por outro lado, descreve ainda o CEO da gigante da cortiça, a subida na comercialização de rolhas (5,9%) “refletiu essencialmente a melhoria do mix de produtos, tendo beneficiado ainda da evolução dos preços de venda e da valorização do dólar”. Em 2022, além da atualização de preços feita no primeiro trimestre para incorporar o aumento de custos no ano anterior, avançou nos meses seguintes com novas subidas das tarifas para os clientes, por causa dos “aumentos galopantes” na energia, matérias-primas e logística.

Rentabilidade italiana e novas “oportunidades”

Pouco mais de um ano depois de ter anunciado a compra de 50% da italiana Saci por 49 milhões de euros, António Rios de Amorim faz um “balanço muito positivo” da aquisição desta empresa que tem sede em Turim e que tem como principal atividade a produção e a comercialização de muselets, as estruturas de arame que encaixam, por exemplo, nas rolhas das garrafas de espumantes.

“A performance do Grupo SACI foi excecional e acima das nossas expectativas iniciais, não só no que diz respeito ao crescimento das vendas, mas também em termos de rentabilidade. Estamos muito satisfeitos com esta aquisição”, sublinha o CEO e presidente da Corticeira Amorim, que emprega cerca de 4.600 pessoas, das quais perto de 3.300 em Portugal.

Nos últimos 12 meses, a Corticeira Amorim, cuja origem remonta a 1870, acabou por fechar várias aquisições, num investimento total aproximado que superou os 90 milhões de euros. Outra das operações destacadas pelo empresário foi a compra de uma parte da antiga Herdade de Rio Frio, tendo em junho passado a ser a única proprietária da sociedade Cold River’s Homestead, que incluía 3.300 hectares dessa propriedade na região de Lisboa.

Segundo foi comunicado à CMVM, e com o objetivo de aumentar as áreas próprias de produção de cortiça, implementar novas técnicas de produção e gestão florestal, e “incrementar a rentabilidade do montado instalado”, finalizou por 14,6 milhões de euros a compra de 50% da participação detida pela Parvalorem – a sociedade que herdou os ativos tóxicos do Banco Português de Negócios (BPN) –, isto depois de um ano antes já ter comprado a outra metade que estava nas mãos do BCP.

Em declarações ao ECO, António Rios de Amorim assegura que a empresa continuará “atenta a oportunidades” e diz que “não [exclui] a possibilidade de realizar aquisições este ano”. “No entanto, dificilmente concretizaremos algo com a importância e dimensão das realizadas em 2022”, salvaguarda o empresário nortenho, que no ano passado sucedeu a Isabel Furtado na liderança da COTEC Portugal.

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EDP, Greenvolt e Corticeira são as preferidas dos analistas

Cerca de 90% dos analistas que acompanha as três empresas apontam para a compra destas ações. No entanto, estas não são as empresas do PSI com maior potencial de valorização.

Os analistas que acompanham as ações do principal índice acionista da Euronext Lisboa estão muito otimistas para os próximos 12 meses. Se as previsões dos especialistas se concretizarem, o PSI deverá atingir os 7.228 pontos nos próximos 12 meses. Trata-se de uma valorização de 22,5% face ao fecho de ontem [quarta-feira], que atirará o PSI para a cotação mais elevada desde junho de 2014.

Estas previsões ficam também ligeiramente acima das previsões que os mesmos analistas tinham há três meses para as 16 empresas do PSI. Sublinhe-se que as recentes previsões refletem já os resultados apresentados em 2022 pelas 16 empresas do PSI, que mostraram uma queda das margens operacionais e uma subida dos custos financeiros, e espelham uma mensagem de preocupação para os próximos meses por parte de muitos CEO.

A puxar mais pelo PSI estarão as ações da Galp Energia GALP 0,00% e do BCP BCP 0,00% que, em função de um potencial de valorização de 35% e 37%, respetivamente, e à ponderação que têm no índice, serão responsáveis por 40% da valorização do PSI nos próximos 12 meses, segundo as projeções dos analistas recolhidas pela Refinitiv. No entanto, estas não são as ações preferidas pelos especialistas nem as que apresentam o maior potencial de valorização.

Entre as empresas seguidas por pelo menos cinco analistas, a EDP EDP 0,00% , a Greenvolt GVOLT 0,00% e a Corticeira Amorim COR 0,00% são aquelas que acumulam mais recomendações positivas. De acordo com dados da Refinitiv, 90% das recomendações dos analistas que acompanham a elétrica nacional aponta para a compra das suas ações. O rácio de recomendação de compra para os títulos da Corticeira Amorim e da Greenvolt é de 88% e 86%, respetivamente.

Estas três empresas são de longe as empresas preferidas pelos analistas. No entanto, a onda otimista dos especialistas não se esgota nestas três companhias. Entre as 16 empresas que atualmente constituem o PSI, 10 contabilizam atualmente um número de recomendação de “compra” superior ao número de recomendações de “manter” e “vender” somados.

É o caso da Mota-Engil EGL 0,00% , que apesar de este ano acumular uma valorização de 35%, os analistas atribuem ainda um potencial de valorização de 100% para os títulos da construtora, face ao preço de fecho de ontem. O preço-alvo médio dos três analistas que seguem a empresa é de 3,1 euros, cerca de 9% acima do preço que os mesmos especialistas apontavam há três meses.

Destaque ainda para as ações da Greenvolt que, segundo as expectativas dos oito analistas que acompanham a empresa, negoceiam com um potencial de valorização de 66%. O preço-alvo médio para os títulos da empresa liderada por João Manso Neto é de 10,4 euros, cerca de 6,6% acima do preço estabelecido pelos menos analistas há três meses.

No canto oposto estão as ações da NOS NOS 0,00% : entre os 16 analistas que seguem a empresa, apenas três recomendam a “compra” das ações. De acordo com dados da Refinitiv, 10 recomendam “manter” e 3 recomendam vender. O preço-alvo médio para os títulos da empresa de telecomunicações dado pelas avaliações dos 16 analistas é de 2,94 euros, cerca de 29,5% face à cotação de fecho de ontem.

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O valor das recomendações dos analistas

Mais do que rácios financeiros, análises fundamentais e análises técnicas, é para os preços-alvo que a maioria dos investidores gosta de olhar quando investe em ações. Afinal de contas, são o reflexo das opiniões de especialistas que seguem diariamente o mercado, conhecem “por dentro” as empresas que acompanham e, por isso, encontram-se numa condição privilegiada face à maioria dos investidores para apontarem com maior exatidão um preço futuro para as ações. Pelo menos era assim que deveria ser.

Em 2012, três académicos da Universidade de Waterloo e da Boston College avaliaram as análises de mais de 11 mil analistas de 41 países e concluíram que a previsão global dos preços-alvo não é muito elevada: em média, situa-se nos 18% para um horizonte temporal de três meses e de 30% para um horizonte de 12 meses.

Este é somente um de vários estudos empíricos que demonstram que os analistas não têm qualquer habilidade extraordinária para prever o futuro e, sobretudo, que os preços-alvo são um elemento demasiado certo para definir algo que está dependente de dezenas de variáveis, mais ainda num panorama de tanta incerteza como o que vivemos atualmente.

Por essa razão, os preços-alvo devem ser encarados como mais um elemento da avaliação da empresa e no contexto da análise realizada pelo analista; e não como uma orientação de investimento.

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Mais de um terço da Bolsa nacional está nas mãos de apenas sete investidores

Xi Jinping, presidente da China, é o maior investidor da Euronext Lisboa, contando com participações diretas e indiretas em oito empresas cotadas.

Os maiores investidores da Euronext Lisboa, da esquerda para a direita: John Graham (Canada Pension Plan Investment), Lua Queiroz Pereira (Sodim), Fernando Masaveu Herrero (Oppidum Capital), Xi Jinping (China), Pedro Soares dos Santos (Sociedade Francisco Manuel dos Santos), Paula Amorim (Grupo Américo Amorim) e João Lourenço (Angola).

O mercado de ações da Euronext Lisboa conta atualmente com 37 empresas cotadas que agregam uma capitalização bolsista de 78 mil milhões de euros. A sua estrutura acionista é constituída por milhares de investidores, de onde sobressaem os fundos de investimento e os pequenos investidores nacionais, que compram e vendem vários lotes de ações diariamente.

No entanto, quase metade das cotadas (17) apresenta uma estrutura acionista totalmente blindada pelo controlo da maioria do capital por muito poucos acionistas. É disso o exemplo a EDP Renováveis EDPR 0,00% , a maior empresa da praça portuguesa com uma capitalização bolsista de 21 mil milhões de euros, que é detida em 75% pela EDP EDP 0,00% .

O mesmo sucede com a Jerónimo Martins JMT 0,00% , que tem 56% do seu capital nas mãos da família Soares dos Santos ou a Corticeira Amorim COR 0,00% , que é controlada pela família Amorim através de três holdings familiares.

Xi Jinping é de longe o maior investidor da praça financeira portuguesa. E não é de agora. O poder do Império do Meio tem sido construído ao longo da última década.

A forte concentração do capital entre as cotadas é espelhada no domínio da Bolsa nacional por um grupo muito restritivo de apenas sete investidores, que através dos seus investimentos controlam 35% do capital da Euronext Lisboa.

Grande parte deste grupo é dominado por famílias bem conhecidas: a Soares dos Santos, que detém a maioria do capital da Jerónimo Martins, a família Amorim, que é dona de uma carteira avaliada em 2,5 mil milhões de euros como resultado de investimentos realizados na Galp Energia GALP 0,00% , na Corticeira Amorim e no Estoril-Sol ; e a família Queiroz Pereira, hoje representada pelas três filhas do empresário Pedro Queiroz Pereira que, através da holding familiar (Sodim), controlam um império de 2,4 mil milhões de euros de participações maioritárias na Semapa SEM 0,00% e na Navigator NVG 0,00% .

Apesar de o capital nacional ser ainda a estrela maior na Bolsa lusitana, as 38 cotadas têm nas suas estruturas acionistas investidores qualificados (detentores de participações acima dos 2%) de mais 15 nacionalidades. Entre os países com maior peso na Euronext Lisboa está Espanha e Angola.

Destaque para o fundo Oppidum Capital, do grupo Masaveu do empresário espanhol Fernando Masaveu Herrero, que detém uma participação de 7,2% na EDP (em 2013 chegou a comprar a participação de 1% que o BES detinha na elétrica por 37 milhões de euros), e para o próprio Estado angolano, que através de posições no capital da Galp, NOS NOS 0,00% e BCP BCP 0,00% acumula atualmente investimentos de 2,3 mil milhões de euros.

A completar o leque dos sete maiores investidores da praça portuguesa está John Graham, presidente e CEO da Canada Pension Plan Investment, a entidade que gere o fundo de pensões do Canadá que acumula mais de 350 mil milhões de euros sob gestão. Atualmente, os canadianos deteem uma posição de 7% na EDP e, por arrasto, uma participação indireta da EDP Renováveis e no BCP.

Os mais poderosos da Euronext Lisboa

Fonte: Empresas, Euronext e Refinitiv. 11 de dezembro de 2022.

Pequim tem ganho poder na Bolsa desde os anos da Troika

No topo dos maiores investidores da Euronext Lisboa está Xi Jinping e o capital chinês privado, que por via de três empresas estatais (China Three Gorges, State Grid of China e China Communications Construction Company) e da empresa privada Fosun agrega um portefólio de mais de 8,5 mil milhões de euros de participações diretas e indiretas em oito empresas cotadas: EDP, EDP Renováveis, BCP, REN RENE 0,00% , Mota-Engil EGL 0,00% , Martifer , Inapa e Reditus.

Xi Jinping é de longe o maior investidor da Bolsa nacional. E não é de agora. O poder do Império do Meio tem sido construído ao longo da última década com o arranque, em 2011, do Programa de Assistência Económica e Financeira da Troika, que incluía uma forte política de privatizações, que abriu as portas ao capital chinês nas maiores empresas nacionais.

O primeiro teste do capital chinês na Bolsa portuguesa foi dado pela empresa pública China Three Gorges (CTG) em dezembro de 2011. Na altura, a CTG pagou 2,7 mil milhões de euros ao Estado português por 21,35% do capital da EDP, então liderada por António Mexia. Desde então, Pequim já aforrou mais de 2 mil milhões de euros só em dividendos com o investimento na EDP e alargou o seu raio de ação até à EDP Renováveis e ao BCP, através da participação de 21,08% que a CTG detém hoje no capital da elétrica nacional.

Seguiram-se investimentos na Redes Energéticas Nacionais (REN), através de uma participação de 25% da State Grid of China e de 3,9% da Fosun (hoje essa participação é de 5,3% e está associada à Fidelidade, empresa detida em cresceu 85% pela Fosun) no decorrer de processos de privatização da empresa e, mais tarde, em 2016, ocorre a entrada da Fosun no BCP com um investimento de 175 milhões de euros.

A carteira de Pequim na praça nacional fica completa com a participação de 32,4% da construtora China Communications Construction Company (CCCC) no capital da Mota-Engil e com o controlo de 57,8% da Estoril-Sol pela Finansol, uma sociedade detida pelo empresário chinês Stanley Ho.

(Notícia atualizada a 14 de dezembro com a clarificação de que a Fosun é uma empresa privada).

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Corticeira Amorim e Kaizen criam consultora para digitalizar a indústria

A Kaizen Tech surge de um projeto interno da corticeira e arranca com uma equipa de 20 engenheiros. Prevê crescer 30% ao ano, prometendo ajudar na “transição para uma nova era de indústria digital”.

Quanto precisou de mudar o seu sistema de recolha de informação de gestão da base industrial, a Corticeira Amorim percebeu que não havia no mercado uma solução adequada para o problema e decidiu então formar internamente uma equipa para desenvolver as competências necessárias para implementar o software MES (Manufacturing Execution System) que pretendia.

“Após uma intensa pesquisa de mercado, percebemos que o TrakSYS, o MES selecionado, era o software que melhor respondia às necessidades da Corticeira Amorim. Infelizmente, não encontramos quem pudesse implementar este sistema, pelo que foi necessário constituir uma equipa interna”, relata António Rios de Amorim, presidente e CEO da Corticeira Amorim.

Com o objetivo de potenciar esse conhecimento adquirido, a empresa portuguesa que está a tentar cobrar dívidas na Rússia aliou-se ao Kaizen Institute – multinacional que tem escritórios no Porto e em Lisboa desde 1999 e com quem já colabora noutros projetos há mais de 15 anos – para criar uma empresa de consultoria. Vai apoiar as fábricas nacionais a “alavancar” a transformação digital, garantindo a transição para a indústria 4.0 sustentada em informação obtida das áreas produtivas em tempo real.

A Kaizen Tech, como foi batizada esta nova consultora, oferece soluções de análise funcional e levantamento de requisitos, implementação e gestão de projetos, suporte e evolução de sistema. Instalada em Vila Nova de Gaia, arranca com uma equipa de 20 engenheiros e estima um “crescimento significativo” da equipa nos próximos três anos para responder a um aumento da atividade anual que prevê de cerca de 30%.

“Com o MES, as empresas terão acesso a dados em tempo real, tornando-se mais aptas para encontrar as causas raiz dos seus problemas para, assim, reagirem a desvios, estando então muito mais preparadas para fazer Kaizen”, diz Alberto Bastos, sócio e managing director do Kaizen Institute Western Europe, citado em comunicado.

As empresas terão acesso a dados em tempo real, tornando-se mais aptas para encontrar as causas raiz dos seus problemas para, assim, reagirem a desvios.

Alberto Bastos

Managing director do Kaizen Institute Western Europe

Fundada em 1870 e sediada em Santa Maria da Feira, a Corticeira Amorim é o maior grupo de transformação de cortiça do mundo. Tem dezenas de unidades de negócio espalhadas pelos cinco continentes, presença em mais de uma centena de países e conta com uma rede de 27 mil clientes. Emprega cerca de 4.400 pessoas e em 2021 registou vendas consolidadas de 837,8 milhões de euros, sendo 94% fora de Portugal.

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