Anti-Trump e expert em finanças. Quem é o escolhido para liderar a Uber?
Dara Khosrowshahi tem 48 anos e lidera a Expedia, uma empresa do ramo das viagens. Foi o nome escolhido pela Uber para ocupar a cadeira de CEO. Quem é? E o que significa esta escolha?
Está confirmado. Dara Khosrowshahi é o novo presidente executivo da Uber, a polémica empresa de transporte privado sedeada em Silicon Valley. “Não foi algo de que estivesse à procura (…) Mas é definitivamente a oportunidade de uma vida”, diz, em entrevista à Bloomberg.
A oferta de emprego foi feita, confirmaram vários jornais junto de várias fontes. Mas Khosrowshahi não poderá fazê-lo sem abandonar a liderança da Expedia, uma plataforma de booking para viagens que detém, por exemplo, a Trivago.
Na entrevista, Khosrowshahi falou pela primeira vez sobre a escolha do seu nome para liderar a empresa de transportes. “A Uber é uma empresa que está a redefinir a indústria de transportes numa base global. Fazer parte dessa história é algo muito interessante e será um verdadeiro privilégio”, sublinhou, numa entrevista conduzida na sede da Expedia, em Washington.
Não foi algo de que estivesse à procura. Adoro a Expedia. E queria continuar aqui. Mas é definitivamente a oportunidade de uma vida.
“Há dificuldades? Há complexidades? Há desafios? Sem dúvida, mas é isso que também faz com que seja divertido“, acrescenta, dizendo que o desafio exige que não entre ‘na desportiva’. “Estou nisto para sujar as mãos e construir uma equipa, e construir algo para o qual as pessoas vão olhar e ter orgulho”.
Sai Travis, entra Khosrowshahi
Tem 48 anos, 12 deles passados a comandar os destinos da Expedia. É licenciado em engenharia eletrotécnica pela Universidade de Brown e, no currículo, conta também com uma passagem pela IAC, a dona da Expedia, entre 1998 e 2005, como chefe da divisão financeira. Antes, esteve sete anos no banco de investimento Alen & Co. As informações estão no LinkedIn.
Quer saber a origem do nome? É iraniano. Mas isso pouco interessa — mais do que o nome, é o meio onde se move que faz a diferença. Ora, como explica a Business Insider, Khosrowshahi trabalhou no universo empreendedor de Seattle. Este é um detalhe curioso porque a Uber é a maior empresa de capital privado de Silicon Valley. E sempre houve uma certa rivalidade entre ambos os ecossistemas, indica o jornal.
Crítico de Donald Trump, evangelizador do potencial da tecnologia e com uma taxa de aprovação positiva no meio. É assim que a Business Insider o descreve. Além do mais, pertence ao conselho de administração do The New York Times, o jornal que o Presidente norte-americano cedo colocou na sua lista negra. Restam dúvidas? A Expedia que encontrou em 2005 faturava 2,1 mil milhões de dólares por ano. No ano passado, a receita fixou-se nos 8,7 mil milhões.
A Uber terá de pagar pelo líder da Expedia qualquer coisa como 200 milhões de dólares. É que, ao longo de mais de uma década, Khosrowshahi acumulou opções de compra de ações no valor de 184,4 milhões de dólares pelas cotações de fecho da última sexta-feira, acrescentando-se a isso um ano de salário e outros bónus que o gestor detém em ações da empresa.
Que Uber encontrará?
Aceitando a oportunidade, Dara Khosrowshahi terá em mãos uma empresa em crescimento, com cerca de 70 mil milhões de dólares de capital privado, mas que nunca viu lucros em quase dez anos de atividade. A Uber ainda caminha em direção ao break-even, tendo perdido 645 milhões de dólares no segundo trimestre deste ano, menos 9% do que no trimestre anterior.
Foi um dos números revelados pela empresa ao site Axios na semana passada. Entre eles, um aumento trimestral de 17% nas receitas, que se fixaram em 1,75 mil milhões de dólares entre abril e junho. É por isso uma empresa cuja saúde financeira está a melhorar gradualmente. Mas foi na cultura empresarial que surgiram muitos dos problemas na era de Travis Kalanick, o CEO anterior.
Nomeadamente as acusações de assédio sexual, entre outras polémicas que o ECO resumiu aqui. A Uber envolveu-se ainda em litigância com a Google por causa do carro sem condutor… e também com as autoridades, graças a duas aplicações secretas que desenvolveu internamente para ganhar vantagens sobre a concorrência. Por isso, Khosrowshahi terá, desde logo, a missão de limpar a imagem da companhia.
Entrada em bolsa à vista?
Em conversa com o ECO, Luís Pedro Martins, líder da startup portuguesa Zaask, indicou que o nome Dara Khosrowshahi poderá indiciar aspirações de entrada em bolsa por parte da Uber, dada a ligação do gestor financeiro. “[O perfil] diz no que é que a Uber anda atrás. Ir para bolsa? Mais tarde ou mais cedo há de fazer sentido. Eventualmente tem de resolver ali alguns potenciais indicadores que não estarão tão bons. Pode ser uma preparação”, indicou.
“Normalmente, a especialidade do CEO tem em conta a principal prioridade empresa”, acrescentou. “Às vezes as pessoas falam muito da Uber mas, aparentemente, aquilo financeiramente está a correr bem. Mesmo em Portugal, a coisa está a correr muito bem. [A empresa] tem é tido alguns problemas”, concluiu Luís Pedro Martins.
Às vezes as pessoas falam muito da Uber mas, aparentemente, aquilo financeiramente está a correr bem. Mesmo em Portugal, a coisa está a correr muito bem.
Em contrapartida, Miguel Santo Amaro, cofundador e líder da Uniplaces, disse ao ECO, por email, que a escolha “apanhou o mercado de surpresa uma vez que se esperavam outros nomes como o de Meg Whitman ou o de Jeff Immelt”. “Contudo, o novo CEO da Uber tem vários aspetos interessantes para o novo cargo e parece-me ser uma escolha acertada”, acrescentou o comentou o empreendedor português.
“[Dara Khosrowshahi] foi até ao mês passado presidente executivo da Expedia — uma das principais agências de viagens online e donos de vários sites, entre os quais a Trivago, da qual os fundadores são investidores na Uniplaces. Curiosamente, Dara, um norte-americano de origem iraniana, conhecido por ser anti-Trump, é também administrador do The New York Times Company desde 2015, o que poderá ser útil na gestão da opinião nos media”, referiu Miguel Santo Amaro.
"O novo CEO da Uber tem vários aspetos interessantes para o novo cargo e parece-me ser uma escolha acertada.”
E concluiu: “Não terá uma tarefa fácil à sua frente, uma vez que terá de rapidamente reparar a imagem corporativa da empresa, confiança dos investidores e colaboradores e construir o futuro deste (ainda) colosso tecnológico.”
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