Economista de Sofá

  • ECO
  • 26 Março 2017

O ECO publica, a partir de hoje, semanalmente, um capítulo de um livro. Economista de Sofá, de Steven E. Landsburg, é o primeiro, editado pelo Clube do Autor.

Preâmbulo à presente edição

Certo dia, em 1991, entrei numa livraria de dimensão média e contei mais de 80 títulos sobre física quântica e história do universo. Algumas prateleiras adiante, encontrei o bestseller de Richard Dawkins, ‘O Gene Egoísta’, juntamente com dezenas de outros livros que explicam a evolução darwiniana e o código genético. Nos melhores livros desta classe descobri maravilhas naturais, confrontei mistérios, aprendi novas formas de pensar e senti ter participado numa grande aventura intelectual baseada em ideias deslumbrantes no seu alcance e na sua simplicidade.

A ciência económica também é uma grande aventura intelectual, mas em 1991 não consegui encontrar um único livro que se propusesse partilhar essa aventura com o grande público. Não havia qualquer obra nada que revelasse a especificidade do pensamento dos economistas, utilizando um conjunto de ideias simples para iluminar a totalidade do comportamento humano, ultrapassar os nossos preconceitos e levar-nos a considerar novas formas de ver o mundo. Resolvi escrever esse livro. O ‘Economista de Sofá’ foi publicado em 1993 e atraiu um grande número de seguidores devotos. (…)

O ‘Economista de Sofá’ pretende impressionar com lógica. Alógica é importante. Leva-nos de ideias simples a conclusões surpreendentes.

Uma ideia simples é que as pessoas reagem a incentivos. Uma conclusão surpreendente é que quando estão protegidas por air bags, as pessoas conduzem de forma imprudente e têm mais acidentes. Uma ideia simples é que quando o preço de uma coisa desce, os fornecedores oferecem menos quantidade. Uma conclusão surpreendente é que programas de reciclagem, que reduzem o preço da madeira, levam à plantação de menos árvores e à redução da área florestal. Uma ideia simples é que os monopolistas cobram pelo seu produto o preço máximo que o mercado suporta. Uma conclusão surpreendente é que quando o abastecimento de petróleo é interrompido, as pronunciadas subidas de preços que se seguem são prova de concorrência, não de monopólio, pois uma empresa petrolífera monopolista não esperaria por uma interrupção de abastecimento para aumentar o preço. A evidência empírica é muito importante, mas a lógica pode ser poderosa por si própria. (…)

Muita coisa mudou desde 1991 (…) Ao atualizar o ‘Economista de Sofá’ para o século XXI, vasculhei a internet, a comunicação social e minha própria experiência de vida em busca de boas aplicações contemporâneas das ideias eternas da teoria económica. Consequentemente, alguns capítulos – cujos exemplos estavam a ficar bafientos – foram inteiramente reescritos. Outros foram atualizados para dar mais ênfase às preocupações dos dias de hoje. (…)

Uma outra coisa mudou desde 1991: o mundo tornou-se mais ideológico. Hoje em dia é quase impossível explicar um passo não controverso de um raciocínio económico sem sofrer a suspeição de ter uma agenda ideológica escondida.

Deixem-me, portanto, ser frontal relativamente a isso: tenho opiniões. Falando de forma genérica, tendo a ser otimista no que respeita à capacidade de os mercados fazerem bem, e cético no que respeita à capacidade de os governos fazerem melhor. E tenho certeza de que haverá uma ou outra passagem neste livro onde não terei conseguido conter esses preconceitos. Mas este livro não é trabalho ideológico. A obra trata, salvo raras exceções, dos princípios básicos que norteiam o trabalho de quase todos os economistas, independentemente da sua localização no espetro político.

POR QUE SÃO MAUS OS IMPOSTOS?

A lógica da eficiência

O que há de mal nos impostos? A resposta óbvia é que não é simpático ter de os pagar. Mas a resposta óbvia é que é muito simpático coletá-los. Visto que dólar pago é um dólar coletado, poderíamos argumentar que uma mão lava a outra. Se o cobrador de impostos retirar um dólar ao leitor e o der à minha mãe a título de pensão de reforma, o leitor pode legitimamente resmungar. Mas eu (que me preocupo mais com a minha mãe do que consigo) perspetivarei a transferência de forma mais positiva.

Não há nada na ciência económica que revele se o leitor merece mais ou menos esse dólar, pelo que, para um observador desinteressado a transferência é neutral no fim de contas, nem boa nem má. O verdadeiro problema dos impostos não é termos de os pagar, mas sim que tentamos evitá-los. E tentar evitá-los tem um custo que não gera benefícios para ninguém.

Vejam-se, por exemplo, as minhas sandálias. Encontrei-as na internet por 40 dólares, embora estivesse disposto a pagar 50. Neste sentido, comprá-las tornou-me 10 dólares mais rico. Melhor ainda: o meu ganho não foi obtido às custas de ninguém, pelo que o mundo como um todo ficou 10 dólares mais rico. Esse ganho – a diferença entre o que eu estava disposto a pagar e o que realmente paguei – é que os economistas denominam de excedente do consumidor. Se um imposto sobre as vendas acrescentasse, digamos, seis dólares ao preço das sandálias, ainda as compraria. Ficaria seis dólares mais pobre, mas alguém ficaria seis dólares mais rico. Até aqui tudo bem. Mas se um imposto sobre as vendas acrescentasse, digamos, 12 dólares ao preço das sandálias, eu teria evitado o imposto ao não comprar as sandálias. Perderia o meu excedente de 10 dólares e ficaria a ganhar. Isto é claramente mau. Mesmo um imposto reduzido sobre as vendas provavelmente levaria algumas a não comprar as sandálias.

O verdadeiro problema dos impostos não é termos de os pagar, mas sim que tentamos evitá-los. E tentar evitá-los tem um custo que não gera benefícios para ninguém.

Steven Landsburg

A perda de excedente do consumidor perdido dessas pessoas é o que os economistas denominam perda de peso morto ou carga excedente, porque não é compensada por qualquer benefício. Os impostos fazem quase sempre mais mal do que bem. Para coletar de um dólar, teremos de tirar um dólar a alguém; ao fazê-lo, quase sempre incentivamos alguém a não comprar um par de sandálias, a não construir uma casa, a não trabalhar horas extras.

Quando uma política pública faz mais mal do que bem – isto é, quando se geram perdas de peso morto – chamamos-lhe ineficiente e habitualmente lamentamos a sua aplicação. O único tipo de imposto que evita as perdas de peso morto é um imposto por pessoa, em que toda a gente paga um valor determinado sem se atender ao rendimento, ao património, às compras efetuadas ou qualquer outra coisa sobre a qual o contribuinte tenha controlo.

Em teoria, os economistas adoram impostos por pessoa, mas, na prática, reconhecemos que representam uma solução radical para o problema da ineficiência. Assim, se quisermos ter algum tipo de governo, e se não estivermos dispostos a ir ao extremo de o financiar através de impostos por pessoa, teremos de aceitar uma certa quantidade de perda de peso morto. Mas a perda de peso morto de uma política fiscal pode ser maior do que outra. Quando uma política pública cria perdas de peso morto particularmente elevadas, os economistas começam a procurar alternativas.

A essência da análise do problema é pesar os ganhos e as perdas individuais. Qual é o impacto de uma tarifa sobre automóveis importados? Os analistas sem formação em economia poderiam abordar esta questão estimando os efeitos sobre o emprego na indústria automobilística, o balanço da General Motors, e até mesmo sobre os défices comercial e público. É um ponto de partida mas, por si só, este tipo de análise passa em grande parte ao lado do essencial. Não nos fornece um critério para pesar o bem contra o mal. (Será que um aumento de 4% no desemprego entre os trabalhadores da indústria automobilística equivale a um decréscimo de 3% no preço dos automóveis? E que dizer de uma redução de mil milhões de dólares no défice comercial?)

Esse tipo de análise nem sequer nos fornece um critério para decidir o que deve ser considerado do lado positivo e do lado negativo da contabilização. (Será um aumento na produção de automóveis domésticos, com o correspondente consumo de recursos valiosos, uma coisa boa ou má?) Os economistas abordam estas questões centrando-se na forma como as políticas públicas afetam os indivíduos. (Evidentemente, os indivíduos são afetados pelos lucros da indústria automóvel e pelos défices orçamentais, pelo que talvez tenhamos de considerar esse tipos de coisas – mas apenas enquanto etapas intermédias.)

Relativamente a cada indivíduo, perguntamos: esta pessoa ganha ou perde em resultado desta tarifa – e quanto? Os ganhos e as perdas incluem variações no excedente do consumidor, variações nos lucros dos produtores, transferências feitas com as receitas tarifárias e todas as outras coisas a que o indivíduo dá valor. Somamos os ganhos dos beneficiados e as perdas dos prejudicados. Se os beneficiados ganham mais do que os prejudicados, tendemos a ver a opção como desejável. Se os prejudicados perdem mais do que os beneficiados ganham, declaramos a diferença uma perda de peso morto, pronunciamos a política ineficiente e consideramos o valor da perda de peso morto uma medida de quanto é indesejável.

(…)

A lógica da eficiência subjaz ao desagrado do economista relativamente à inflação. A inflação tem custos para quem recebe rendimentos nominais fixos, mas é benéfica – e exatamente na mesma medida – para quem paga esses rendimentos nominais fixos. Uma inflação inesperada pode ser uma bênção para quem pediu um empréstimo e o paga com dólares inflacionados, mas é simultaneamente uma maldição – exatamente na mesma magnitude – para o credor que recebe esses dólares. Estes efeitos, que são muitas vezes referidos como as principais consequências económicas de inflação, cancelam-se mutuamente e têm um efeito neutral na eficiência.

O verdadeiro custo económico de inflação, assim como o verdadeiro custo económico de um imposto, é que, para a evitar, as pessoas fazem coisas que têm custos, e isso não beneficia ninguém.

Em tempos de inflação, as pessoas andam com menos dinheiro no bolso, porque o dinheiro perde valor pelo simples facto de o transportarem dessa forma. As suas contas correntes apresentam saldos menores pela mesma razão. Isto pode tornar mais difícil a compra de um cachorro quente por capricho, usar um táxi durante uma tempestade inesperada ou e aumentar o número de utilizações das caixas multibanco. As lojas têm menos dinheiro em caixa e ficam sem troco com mais frequência. As grandes empresas têm menos dinheiro para atender a emergências inesperadas e veem-se obrigadas a recorrer a transações financeiras dispendiosas.

Tudo isto são perdas de peso-morto – não são compensadas por quaisquer benefícios. Pode parecer que têm pouca importância em termos gerais, mas estima-se que as perdas de peso morto de uma inflação de 3 por cento nos Estados Unidos sejam de cerca de 18 mil milhões de dólares por ano, ou seja, 60 dólares por cada norte-americano – nada terrível, mas também nada trivial.

Em tempos de inflação muito elevada, as perdas de peso morto podem tornar-se enormes. Na hiperinflação húngara que se seguiu à Segunda Guerra Mundial, os preços centuplicavam a cada mês. Isto significa que uma chávena de café que era vendida a 10 cêntimos a 1 de janeiro custava 10 dólares a 1 de fevereiro, 1 000 dólares a 1 de março, 100 000 dólares a 1 de abril, 10 milhões de dólares a 1 de maio, 1 000 milhões de dólares a 1 de junho, 100 000 milhões de dólares a 1 de julho, e 10 biliões de dólares a 1 de agosto. Os trabalhadores eram pagos três vezes ao dia e as suas mulheres tinham empregos a tempo inteiro a correr entre os locais de trabalho e o banco, tentando depositar os cheques com os salários antes de eles se tornaram inúteis.

Tal sacrifício de tempo e energia que não beneficia ninguém é um exemplo clássico de um peso morto. John Maynard Keynes contou que, durante a hiperinflação alemã que se seguiu à I Guerra Mundial, os frequentadores de tabernas pediam muitas vezes várias cervejas ao início da noite – porque o preço ia subir. Beber cerveja quente pode ser um custo oculto da inflação.

Os argumentistas de Hollywood e os habitués do circuito das conferências universitárias redescobrem periodicamente o potencial dramático de queimar uma nota de dólar. Normalmente, o ato é acompanhado por um comentário emotivo – feito por um simpático personagem na tela do cinema ou por um ícone cultural, já na terceira idade, no ginásio de uma universidade – sobre como uma nota de dólar não é nada mais do que um pedaço de papel. Não se pode comê-la, não se pode bebê-la e não se pode fazer amor com ela. E o mundo não fica pior com o seu desaparecimento. As audiências sofisticadas tendem a sentir-se desconfortáveis com este tipo de raciocínio, sentindo que está de alguma forma errado, mas são incapazes de identificar a falha crucial. Na realidade, é o seu próprio desconforto que constitui um grave erro.

O orador tem razão. Se alguém passar uma noite a queimar dinheiro, o mundo como um todo continua a ser exatamente tão rico como sempre foi. Permitam-me sugerir uma causa provável da falsa sensação que o público tem de que algo está errado. O público reconhece – corretamente – que no final da noite quem queimou o dinheiro estará mais pobre. Se essa pessoa está mais pobre, e se ela é parte do mundo, não deve o mundo estar mais pobre também? A resposta é claramente não.

O mundo não está mais pobre porque nada de valor foi destruído. Portanto, se quem queimou o dinheiro está um dólar mais pobre, alguém deve estar um dólar mais rico. Tudo o que temos a fazer é descobrir essa pessoa. A chave para o mistério é a observação de que a oferta de moeda determina o nível geral de preços. Quando a oferta de dinheiro aumenta, os preços sobem, e quando diminui, os preços caem. Quando um dólar se transforma em cinza, a oferta de dinheiro diminui, ainda que levemente, e os preços caem em toda a economia. Se apenas uma nota for queimada, os preços caem impercetivelmente, mas caem. Os beneficiários dessa ocorrência são as pessoas que têm dinheiro no momento em que o dólar é queimado. Com a queda dos preços, o dinheiro que guardam no bolso ganha valor. Uma redução pequena nos preços cria um aumento pequeno na riqueza de cada uma das inúmeras pessoas que têm dinheiro no bolso no momento da alteração. Muitos milhões de aumentos impercetivelmente pequenos na riqueza podem constituir um fenómeno percetível. Neste caso, somam exatamente um dólar.

O público reconhece – corretamente – que no final da noite quem queimou o dinheiro estará mais pobre. Se essa pessoa está mais pobre, e se ela é parte do mundo, não deve o mundo estar mais pobre também? A resposta é claramente não.

Steven Landsburg

Afinal, sabemos que o valor total dos bens reais no mundo se mantém inalterado, e também que o orador que queimou a nota perdeu um dólar. Podemos, portanto, concluir que exatamente um dólar foi ganho noutro lado. Ocasionalmente, um altruísta excêntrico reúne os seus bens e doa-os ao Tesouro dos EUA. Em resultado, os impostos atuais ou futuros devem reduzir-se.

Cada um dos milhões de contribuintes dos EUA beneficia de uma pequena redução na carga tributária. Mas nem todos beneficiamos igualmente. Aqueles que se situam nos segmentos de rendimento mais elevados – os mais ricos – ficam com uma parte mais que proporcional da doação. Uma estratégia alternativa para o altruísta seria converter os ativos em dinheiro e, em vez de os doar ao Tesouro, fazer uma fogueira com eles. O resultado é essencialmente o mesmo.
Pequenos benefícios revertem para milhões de americanos (desta vez na forma de queda dos preços, em vez de redução de impostos a pagar), e o total desses benefícios é igual ao sacrifício do altruísta. No cenário da fogueira, a parcela de benefícios de cada pessoa é proporcional não ao imposto pago, mas à quantia que essa pessoa detém no momento da fogueira. Este efeito tende a favorecer os ricos, mas provavelmente de forma menos pronunciada. Assim, se o leitor está a pensar-se lembrar-se do Tesouro no seu testamento, e se é uma pessoa igualitária, pense antes em fazer uma fogueira.

Num dia ventoso em Nova Orleães, uma nota de dólar escapou-se me da mão. Fui atrás dela, disposto a evitar que fosse esgoto abaixo. David Friedman – meu amigo, colega economista e, naquele momento, meu anjo da guarda – impediu-me de tentar agarrá-la. Eu tinha acabado de argumentar que a eficiência económica norteia não apenas boas políticas públicas, mas também uma boa conduta pessoal.
Segundo esse princípio, a intervenção de David salvou-me de cometer impensadamente um ato imoral. Se eu desistir do dólar, a contabilidade custo-benefício é a seguinte: perco um dólar, o mundo ganha um dólar através da redução dos preços e o mundo como um todo não fica nem mais rico nem mais pobre do que antes.

Consequências em termos de eficiência económica: nenhumas. Mas se eu tentar agarrar a nota, faço um esforço de aproximadamente três cêntimos. (Ou seja, três cêntimos é o que eu estaria disposto a pagar ao David para a recuperar por mim, em vez de ser eu a persegui-la.) Contabilidade custo-benefício: eu perco três cêntimos, o resto do mundo nem ganha nem perde, e o mundo como um todo (incluindo eu próprio) fica três cêntimos mais pobre. Consequência em termos de eficiência económica: perda de peso morto de três cêntimos. E a lógica da eficiência convenceu-me a desistir da nota.

Será mesmo assim? Permitam-me distinguir entre duas proposições bastante diferentes. Uma delas é que a eficiência económica deve ter um papel importante na resolução de questões relacionadas com políticas públicas. A outra é que a eficiência económica deve ter um papel importante na resolução de questões de conduta pessoal. É apenas a primeira que os economistas frequentemente defendem.

Como a maioria das pessoas, os economistas fazem-se ouvir quando criticam o governo, mas são tímidos quando se criticam uns aos outros. O critério de eficiência trata toda a gente por igual. Um custo é um custo, independentemente quem o suporta. No domínio das políticas públicas, esta é uma característica apelativa. Mas nos nossos assuntos particulares, parece estranho insistir em que devemos comportar-nos como se nossas próprias preocupações não fossem mais importantes do que as preocupações de estranhos distantes.

Há momentos, como naquele dia em Nova Orleães, em que acho que a eficiência falha completamente enquanto orientação para o modo como devo agir. Mas há outros em que me é útil. Quando a minha relva cresce e os vizinhos torcem o nariz, tenho de me perguntar se eu estou moralmente obrigado a remediar a situação. Ao fazê-lo, penso no que me custaria aparar a relva e na infelicidade dos vizinhos. Se me parecer provável que me custará 30 dólares em esforço poupar aos meus vizinhos cerca de 20 dólares em insatisfação, tomo mais um copo de limonada e deixo de me preocupar com a questão.

Se me parecer que com 30 dólares de esforço poderei poupar aos vizinhos 50 dólares em insatisfação, então sentir-me-ei um vilão enquanto não cortar a relva. Trata-se de um cálculo de eficiência que conduz a conclusões que me parecem corretas. Mas não sou inteiramente consistente em relação a isto. Quando decido ligar um motor de combustão interna ou usar um aerossol, preocupo-me com os danos que posso provocar aos outros, ao prejudicar a qualidade do ar. Mas sou veemente em não me preocupar com os danos psíquicos que poderei causar às outras pessoas que se sentem moralmente ofendidas por simplesmente pensarem que ligo um motor de combustão interna ou uso um aerossol.

Penso que esta distinção é difícil de justificar filosoficamente. Se a minha escolha de locomoção torna o leitor infeliz, então eu torno o mundo menos feliz de uma forma que é independente do motivo pelo qual a minha escolha de locomoção torna o leitor infeliz. A lógica estrita de eficiência diria que, se estou disposto a ficar em casa em vez de causar 10 dólares de danos aos seus pulmões, então também devo estar disposto a ficar em casa em vez de causar 10 dólares de danos às suas sensibilidades morais. Concluo que a minha filosofia moral está incompleta, mas que as considerações associadas à eficiência desempenham um papel importante nela.

Contudo, uma recente viagem a Boston abalou um pouco a minha fé. Eu e a minha mulher fomos a Denver de avião, e os bilhetes de ida e volta custaram quase 2500 dólares. Ofereci alternativas ao editor que os iria pagar, mas ele insistiu em que fossemos. Tenho certeza de que se fosse eu a pagar, teria cancelado a viagem. A situação levou-me a formular o seguinte dilema moral: suponha-se que ir a Boston e regressar vale 300 dólares para mim. À companhia aérea custa 200 dólares transportar-me. Mas, devido a um extraordinário poder de monopólio, a companhia aérea cobra mil dólares pelo bilhete. Devo ir de avião? Se apenas nos preocuparmos com a eficiência, a resposta é, sem dúvida, sim. Se eu for de avião, fico 700 dólares pior (a diferença entre o que pagarei e o valor da viagem), enquanto os acionistas da companhia aérea ficam 800 dólares melhor (a diferença entre o que cobram e o custo de me transportar). Há um ganho líquido de 100 dólares, e o critério de eficiência considera a viagem uma coisa positiva. No entanto, tenho certeza que não compraria o bilhete, e eu estou igualmente certo que não perderia o sono por isso. Tenho certeza de que iria chegar à mesma conclusão independentemente de quanto os acionistas ganhassem, ou de quanto eu tivesse a perder.

Assim, embora ainda ache que a eficiência é um bom princípio orientador das políticas públicas, e em muitos casos um bom princípio orientador do comportamento pessoal, creio agora que precisamos de um critério mais subtil para definirmos realmente o que significa ser bom. Creio que há ocasiões em que eu deveria tentar comportar-me de forma eficiente e outros em que não. Só ainda não descobri as regras para as distinguir. Acabei por recuperar aquele dólar, sem me preocupar minimamente com o efeito no nível geral de preços. Não sinto qualquer culpa, embora não saiba porquê.

Nota: Steven Landsburg é professor de Economia na Universidade de Rochester em Nova Iorque. Tem vários livros publicados e é autor de mais de 30 artigos para revistas especializadas de Matemática, Economia e Filosofia. Além disso, como comentador, é presença assídua na televisão e na rádio.

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Montepio garante ter sistema “robusto” de segurança

Em resposta a uma reportagem da RTP sobre burla informática, o Montepio diz ter um sistema "robusto" de segurança. O banco afirma que o caráter da notícia é "tendencioso e especulativo".

O banco Montepio diz ter um sistema “robusto” de segurança, em resposta a uma reportagem da RTP sobre burla informática que tem como fim último a violação de contas bancárias via internet. A instituição acusa a notícia de apenas referir o caso do Montepio, realçando o caráter “tendencioso e especulativo” da reportagem.

Num comunicado enviado às redações, o Montepio diz que, na passada sexta-feira, a RTP emitiu uma reportagem sobre burla informática que tem como objetivo a violação de contas bancárias através da internet que o banco diz ignorar os “demais casos de outros bancos”, fazendo apenas referência a três casos de clientes da Caixa Económica Montepio Geral.

"Cumpre sublinhar que a situação em apreço se insere numa campanha especulativa visando denegrir a imagem desta instituição portuguesa com mais de 170 anos. ”

Montepio

O banco defende-se, garantido a segurança do sistema. “O Montepio dispõe de um sistema robusto e das mais avançadas tecnologias ao serviço dos seus clientes no que se refere à segurança informática e continua a investir no reforço dos seus sistemas de controlo e segurança”, lê-se no comunicado, dizendo que a reportagem se “insere numa campanha especulativa visando denegrir a imagem” do Montepio.

O Montepio diz que “tanto a Polícia Judiciária como a Procuradoria-Geral da República foram claras ao referir que este é um crime transversal a todo o setor financeiro e que surge como consequência da fragilidade humana dos clientes”.

Ainda na semana passada, foram várias as pessoas que confirmaram ter recebido mensagens suspeitas em nome de bancos como o Montepio e o BIC. Geralmente, estes ataques são feitos por email. Mas agora, estão a ser realizados por SMS, que surgem espontaneamente, de um número desconhecido, solicitando uma qualquer ação urgente por parte do utilizador.

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Europa unida mas a duas velocidades? “É perigoso”

Na Declaração de Roma, fala-se de "união", mas também de uma Europa a duas velocidades. Segundo especialistas, pode ser "perigoso" e contraproducente".

Os líderes dos 27 Estados-membros assinaram a Declaração de Roma, com o objetivo de terem uma Europa “unida”, mas a “ritmos e intensidades diferentes”. Mas o que é que isto significa? É possível ter uma Europa unida com países que podem decidir se querem, ou não, adotar determinadas políticas? Sim. Estaremos a caminhar para uma Europa diferente? Muito provavelmente.

A declaração assinada no sábado pelos 27 Estados-membros da União Europeia — o Reino Unido, em processo de saída do bloco europeu já não participou nas comemorações na capital italiana — foca-se muito numa palavra: “união”. No documento lê-se que a “unidade europeia começou por ser o sonho de poucos e tornou-se na esperança de muitos. Então, a Europa voltou a ser uma só”.

O documento é, aos olhos de António Nogueira Leite, “razoavelmente formal, uma declaração de circunstância e de tentativa de consenso”. Mas o ponto mais relevante nesta declaração é o facto de se falar de “união” ao mesmo tempo que se apoia uma Europa a “ritmos e intensidades diferentes”:

"Atuaremos em conjunto, a ritmos e com intensidades diferentes quando for necessário, avançando todos na mesma direção, tal como já o fizemos no passado, em consonância com os Tratados e mantendo a porta aberta àqueles que se nos queiram juntar mais tarde. A nossa União é indivisa e indivisível.”

Declaração de Roma

Francisco Seixas da Costa diz que isto é “perigoso”. O professor universitário explica ao ECO que é uma “afirmação reiterada da possibilidade de adoção de políticas por parte de alguns Estados-membros, ficando outros de fora”. E acrescenta que a “questão das duas velocidades já está no Tratado de Lisboa e no Tratado de Nice. De qualquer forma, o facto de [a Declaração de Roma] estar a sublinhar isso é para a União Europeia (UE) como uma bênção a um modelo que, a meu ver, é disruptor da Europa”.

Portanto, não é, para Francisco Seixas da Costa, “uma declaração que fique para a história”. Isto apesar de reconhecer que, “tendo em atenção que a Europa está muito dividida e que é muito difícil conseguir consensos com o mínimo de ambição, esta declaração é o terreno comum possível”.

A questão das duas velocidades já está no Tratado de Lisboa e no Tratado de Nice. De qualquer forma, o facto de [a Declaração de Roma] estar a sublinhar isso é para a União Europeia como uma bênção a um modelo que, a meu ver, é disruptor da Europa.

Francisco Seixas da Costa

“Parece que há uma espécie de consagração institucional de divisão da Europa. As pessoas estão-se a adaptar. As instituições costumam ser uma espécie de freio para a disrupção, costumam ser um elemento agregador. No momento em que as instituições consagram nelas próprias a desagregação ao admitirem com uma linguagem muito clara a diversidade institucional, acabam por se tornar cúmplices desta divisão. Por isso, mesmo podemos estar no caminho para que a UE aceite a sua divisão futura”, sublinha o professor universitário.

Duas velocidades? Ainda há muito trabalho pela frente

Já Nogueira Leite diz que não se devem tirar demasiadas ilações desta declaração do ponto de vista da política que a UE vai prosseguir. “Duas velocidades? Mas como? Há muitos fatores”, explica, ao ECO. Esta questão não é “consensual” e o facto de a declaração fazer referência a estes ritmos diferentes pode ser “contraproducente”, refere Nogueira Leite, “mas é o início de um trabalho que tem de ser aprofundado e envolver os vários conselhos”. Ou seja, não pode ser uma decisão tomada apenas pela Comissão Europeia, mas por todos — primeiros-ministros, ministros dos Negócios Estrangeiros e Ecofin, explica.

Mais do que isso, o professor universitário diz que é importante perceber o que vai ser feito a nível do fortalecimento da Europa. “Em que dimensões, com que cautelas e se a maior união na Zona Euro significa maior supervisão multilateral ou menor probabilidade de bail out. O caminho não está indicado, há um princípio geral.”

Nogueira Leite refere também que é importante perceber como vão ser tratados os países que ficam fora do núcleo, como é o caso do Reino Unido. Na declaração fala-se de um aprofundamento “das parcerias já existentes e construindo novas”. Uma questão que tem sido colocada em causa no seguimento da decisão do Reino Unido de sair da União Europeia.

A primeira-ministra britânica, Theresa May, já veio dizer que aquilo que propõe “não significa sermos membros do mercado único, mas não sair do bloco europeu totalmente”, o que mostra que o país e a UE têm um longo caminho pela frente em negociações que vão durar cerca de dois anos.

Uma Europa, vários desafios

A declaração reconhece, por isso, que ainda há desafios. “A União Europeia enfrenta desafios sem precedentes, tanto a nível mundial como a nível interno: conflitos regionais, terrorismo, pressões migratórias crescentes, protecionismo e desigualdades sociais e económicas”, de acordo com Declaração, que se divide em quatro pontos:

  1. “Uma Europa segura, onde todos os cidadãos se sintam seguros e possam mover-se livremente, com fronteiras externas bem guardadas”;
  2. “Uma Europa próspera e sustentável, que crie crescimento e emprego”, com um mercado único forte e interligado e “uma moeda única estável e fortalecida”. Neste ponto, a declaração sublinha a necessidade de completar a União Económica e Monetária (UEM) e de trabalhar com vista à convergência económica, prioridades que o Governo português queria ver inscritas na declaração;
  3. O texto contempla também a “Europa social”, uma União que, “baseada no crescimento sustentável, promova o progresso económico e social, bem como a coesão e a convergência”, tendo em conta “a diversidade dos sistemas nacionais”, e que promova a igualdade entre mulheres e homens, combata o desemprego, a discriminação, a exclusão social e a pobreza, e invista na educação dos jovens;
  4. Por fim, os líderes da UE assumem a determinação em tornar a Europa mais forte na cena global, aprofundando as parcerias já existentes e construindo novas, com a assunção de “mais responsabilidades” e reforço da segurança e defesa comuns.

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Espanhóis, italianos e polacos são os que mais vão a Fátima

  • Lusa
  • 26 Março 2017

Espanhóis, italianos e polacos estão, ano após ano, entre os estrangeiros que mais peregrinam a Fátima. E 2017 deve voltar a receber os devotos com a visita do papa Francisco, a 12 e 13 de maio.

Espanhóis, italianos e polacos estão, ano após ano, entre os estrangeiros que mais peregrinam a Fátima, de acordo com informação disponibilizada à Lusa pelo santuário, onde estará o papa Francisco a 12 e 13 de maio.

Segundo dados das peregrinações organizadas estrangeiras — as que são comunicadas aos serviços da instituição –, em 2007, quando se assinalaram 90 anos dos acontecimentos de Fátima, os italianos somaram 37.992 fiéis, seguindo-se os espanhóis (34.450) e, depois, os polacos (14.188). No total, nesse ano, foram 156.729 os peregrinos estrangeiros que se deslocaram ao santuário de forma organizada.

Em 2010, ano da visita de Bento XVI a Fátima, os peregrinos de Espanha já tinham ultrapassado os de Itália, 34.117 e 30.185, respetivamente, continuando os fiéis da Polónia em terceiro lugar entre os estrangeiros que mais visitam Fátima. Neste ano, foram 181.460 os peregrinos estrangeiros que se anunciaram nos serviços do maior templo mariano do país.

Em 2016, a Espanha continuou a liderar, com 32.387 peregrinos, surgindo depois os italianos (13.292) e os polacos (11.440), num total de 124.504 estrangeiros. À Lusa, a diretora de comunicação do Santuário de Fátima, Carmo Rodeia, explicou haver “uma proximidade geográfica a Espanha que, naturalmente, faz com que os espanhóis sejam peregrinos privilegiados”.

"Há uma proximidade geográfica a Espanha que, naturalmente, faz com que os espanhóis sejam peregrinos privilegiados.”

Carmo Rodeia

Diretora de comunicação do Santuário de Fátima

“Aliás, entre os turistas estrangeiros em Portugal, também os espanhóis continuam a dar cartas”, salientou. Adiantando que a estes sucedem os italianos e os polacos, a responsável referiu: “O pendor mariano do santuário também nos aproxima na fé e nesta devoção a Nossa Senhora de Fátima.”

Em Itália, existe um santuário dedicado à Virgem de Fátima, exemplificou, e na Polónia, país natal de João Paulo II, o papa que se fez peregrino por três vezes a Fátima (1982, 1991 e 2000),também há devoção à Virgem. “Aqui já não é a proximidade física, mas a proximidade da devoção, que nos aproxima desses dois países, fazendo com que haja uma presença muito significativa de peregrinos”, assinalou.

Carmo Rodeia acrescentou que “há sempre, permanentemente, imagens da Virgem Peregrina em peregrinação por Itália”, exemplificando que o ano passado uma dessas imagens “esteve quase seis meses” nesse país. Questionada sobre que outros países estrangeiros se destacam, a diretora de comunicação apontou a Coreia do Sul, de onde o ano passado se registaram cerca de quatro mil peregrinos.

“É fenómeno que está a ser estudado do ponto de vista da conversão ao catolicismo. Os grupos de sul-coreanos têm crescido no santuário”, referiu, observando que em 2016 houve, também, “um grupo muito expressivo de indianos [2.754]” e ucranianos (6.719). “Eu diria que, de uma maneira geral, a expressão do Santuário de Fátima em todo o mundo é uma constante e isso alegra-nos e reconforta-nos também perceber que podemos acolher aqui essas pessoas que são tão devotas de Nossa Senhora de Fátima”, salientou Carmo Rodeia.

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Comissões bancárias continuam a render aos bancos

  • Lusa
  • 26 Março 2017

As comissões bancárias cresceram em 2015 e 2016. Isto numa altura em que os principais bancos portugueses continuam a aumentar os preçários.

O valor total cobrado em comissões por quatro dos principais bancos a operar em Portugal voltou a crescer em 2015 e 2016, invertendo a tendência dos quatro anos anteriores, quando estes proveitos registaram quedas consecutivas.

A Lusa agregou os dados das comissões líquidas recebidas pela Caixa Geral de Depósitos, BCP, BPI e Santander Totta na atividade em Portugal (isto é, sem contar com operações no estrangeiro) entre 2010 e 2016 e concluiu que os quatro bancos cobraram, em conjunto, 1.371.900 euros (1,37 mil milhões de euros) em comissões o ano passado. Ou seja, em cada dia de 2016 as comissões renderam mais de 3,7 milhões de euros a estes bancos.

O valor arrecadado em 2016 significou mais 6% face aos 1,29 mil milhões de euros que os mesmos bancos conseguiram em receitas líquidas de comissionamento em 2015, já então num aumento face a 2014, ainda que ligeiro, de 1%.

Ainda assim, o valor total arrecadado em comissionamento no ano passado representou menos 185 milhões de euros do que o registado em 2010 (1.557.316 euros) e fica ainda abaixo do volume arrecadado em 2011 e 2012 (1.488.285 euros e 1.389.697 euros, respetivamente).

Aliás, entre 2010 e 2014 registaram-se reduções anuais consecutivas no volume total cobrado em comissões pelos quatro bancos analisados. Uma redução que, segundo analistas do setor contactados pela Lusa, se deve a uma quebra do negócio bancário nos últimos anos, que levou a menos comissões quer nos serviços mais diretamente relacionados com a banca tradicional (menos abertura de processos de crédito ou menos aberturas de conta, por exemplo), quer com menos comissões relacionadas com a atividade de mercados financeiros (operações em bolsa, comissões de corretagem ou custódia de títulos, por exemplo).

Contudo, os dados dos últimos dois anos indicam já uma inversão de tendência que deverá continuar, uma vez que nos últimos meses se tem assistido a alterações dos preçários das principais instituições bancárias, com revisões em alta destes, nomeadamente aumentos de comissionamento em atividades bancárias de rotina, como comissões de manutenção de conta ou em transferências de dinheiro.

Tradicionalmente, a forma de um banco ‘fazer dinheiro’ é através da margem financeira [ou seja, a diferença entre o que o banco paga de juros nos depósitos e o que cobra de juros nos empréstimos], mas a modernização e a diversificação da atividade bancária e, mais recentemente, o nível baixo das taxas de juro, têm levado a um maior peso no produto bancário dos rendimentos gerados pelas operações financeiras – por exemplo, dívida pública detida pelos bancos – e das comissões bancárias.

 

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CGD: 55 horas de comissão em cinco momentos

A recapitalização da CGD já está na reta final. Mas a comissão para se perceber o que levou o banco a precisar desta ajuda nem por isso. Fique a conhecer cinco momentos das 55 horas de audições.

A comissão parlamentar de inquérito à gestão da Caixa Geral de Depósitos (CGD) já vai em quase 55 horas distribuídas por 18 audições. Foram ouvidos ministros, antigos e atuais, e ex-presidentes do banco estatal. Mas também ex-vice-presidentes, ex-administradores e o governador do Banco de Portugal. Isto numa comissão que foi criada para se perceber o que levou o banco a precisar de uma recapitalização de cinco mil milhões. Mas este processo de recuperação já está na reta final e as conclusões da comissão são… poucas.

O banco estatal fechou o ano passado com imparidades de mais de três mil milhões de euros. Perdas que são sobretudo compostas por créditos em incumprimento. E que têm pesado nos resultados — a CGD apresentou em 2016 os piores resultados de sempre. Foram estas perdas reconhecidas no ano passado, mas acumuladas nos últimos anos, e a necessidades de um plano de recapitalização que levaram à criação de uma comissão parlamentar de inquérito para se perceber o que é que aconteceu para a CGD chegar a este ponto.

O processo de recapitalização já está na reta final. E as conclusões da comissão? Nem por isso. São (ainda) poucas. Ao ponto de Matos Correia — o presidente da comissão que acabou por ser substituído por Emídio Guerreiro — ter abandonado as funções por duvidar que se estivesse a “apurar a verdade”. Tudo numa comissão que já sofreu vários revés: agora foi suspensa até dia 4 de maio. Até lá, saiba quais são os cinco principais momentos nestas 55 horas de audições.

Cinco momentos da comissão à gestão da CGD

Mário Centeno e o “desvio enormíssimo”

A palavra “desvio” marcou o início das audições. Isto depois de o ministro das Finanças ter dito que o Executivo de Passos Coelho era responsável por “um desvio no plano de negócios da CGD superior a três mil milhões de euros”. A oposição não perdoou e acusou Centeno de criar mais instabilidade: a palavra “desvio” podia ser entendida como um “buraco” no banco público.

O ministro aproveitou, assim, para se explicar quando foi à CPI da Caixa. Mário Centeno esclareceu que o valor avançado de três mil milhões de euros não era um “buraco”, mas sim a diferença entre uma estimativa e o resultado do exercício.

José de Matos, ex-presidente da CGD, também disse que a palavra “desvio” devia ser entendida, única e exclusivamente, como a diferença para os novos rácios de capital. Segundo o antigo presidente da Caixa, “através da implementação do programa de reestruturação a CGD conseguiu mitigar parte relevante dos desvios de capitais”.

Ministro das Finanças, Mário CentenoPaula Nunes / ECO

A “pressão” de José Sócrates

O antigo ministro das Finanças Luís Campos e Cunha revelou no Parlamento que, desde que assumiu funções no Governo Sócrates, o primeiro-ministro o pressionou para demitir a administração da CGD. Mas estas declarações foram depois contrariadas por uma série de personalidades.

Uma das pessoas que veio em defesa de Sócrates foi Teixeira dos Santos, o antecessor de Campos e Cunha. O antigo ministro referiu que nunca se sentiu pressionado pelo primeiro-ministro, José Sócrates, a fazer qualquer mudança ou nomear um determinado administrador para o banco estatal. Armando Vara, ex-administrador da CGD, chegou mesmo a acusar Campos e Cunha de ter mentido à comissão.

Até o próprio visado, José Sócrates, veio defender-se. “Há anos que o Dr. Campos e Cunha aproveita os quatro meses da sua passagem pelo Governo para atacar os seus antigos colegas. Considero tal comportamento desprezível e sempre o ignorei por não querer quebrar a regra que sigo de não comentar a vida interna do Governo a que presidi”, acusou Sócrates.

Antigo primeiro-ministro, José SócratesMÁRIO CRUZ/LUSA

Aumento de capital “insuficiente”

A Caixa anunciou em dezembro de 2012 um aumento de capital de 1.650 milhões de euros. Mas António Nogueira Leite disse que não foi suficiente, o que levou à sua saída por considerar que não tinha os instrumentos necessários para fazer um “trabalho extraordinariamente difícil”. Em resposta aos deputados da comissão de inquérito sobre a CGD, disse que a indicação que teve do Governo foi: “aguentem o barco”. Este seria o plano estratégico para o banco do Estado.

Mas, mais uma vez, houve quem viesse contrariar esta acusação. Foi o caso de Álvaro Nascimento. O ex-chairman da Caixa disse que este reforço foi “adequado”, permitindo que o banco cumprisse os alvos com que se comprometeu. Compromissos que incluíram o aumento do crédito cedido às pequenas e médias empresas e permitir que a Caixa se tornasse num bastião no sistema financeiro.

Já Vítor Gaspar, ex-ministro das Finanças garantiu que a recapitalização levada a cabo pelo Governo PSD/CDS não foi pelos mínimos. “Não concordo!”, afirmou Vítor Gaspar numa resposta por escrito quando questionado se concorda com a afirmação que a CGD foi “recapitalizada pelos mínimos”, salientando que “o montante de reforço de fundos próprios foi determinado, como para os outros bancos, com base na análise e pareceres do Banco de Portugal”.

António Nogueira Leite, ex-vice-presidente da CGDPaula Nunes/ECO

A correspondência de António Domingues

António Domingues saiu da CGD por não concordar com a obrigação de entregar a declaração de rendimentos e património ao Tribunal Constitucional. Entretanto, o banco ganhou uma nova liderança, encabeçada por Paulo Macedo. Mas os deputados da comissão queriam ver a correspondência trocada entre Domingues e o ministro das Finanças para perceber se houve, ou não, um compromisso para que a administração do banco público não entregasse a declaração de rendimentos e património ao tribunal.

E estas cartas, que foram reveladas pelo ECO, acabaram por chegar à comissão sobre a recapitalização da CGD. O CDS é o primeiro partido a acusar Mário Centeno de ter mentido à CPI. Logo a seguir o ministro das Finanças acusa o partido centrista de “vil tentativa de assassinato do seu caráter”. E depois foi a vez de o Presidente da República vir em defesa de Centeno, o que não dissuadiu o CDS e o PSD de pedirem as mensagens trocadas entre Centeno e Domingues.

António Domingues, ex-presidente da CGDPaula Nunes / ECO

A comissão dos “SMS”

Foram as mensagens trocadas entre Domingues e Centeno que levaram à criação de uma nova comissão, que tomou posse a 14 de março. Se, na primeira comissão, queria-se (e continua a querer-se) apurar o que levou à recapitalização da CGD, agora o âmbito é outro: a contratação da administração liderado por António Domingues foi feita com o compromisso de sigilo quanto à declaração do património do ex-presidente e da sua equipa.

José Pedro Aguiar-Branco, o deputado do PSD que vai agora presidir os trabalhos, já deixou uma promessa: a nova comissão não vai ser a “comissão dos SMS”. Questionado pela Lusa se esta iniciativa parlamentar não poderá ficar demasiado centrada na troca de comunicações, inclusivamente mensagens telefónicas (SMS), entre Mário Centeno e o anterior presidente da Caixa, António Domingues, o futuro presidente da comissão garantiu que não.

Mas pode não ser bem assim. O Expresso avançou que Aguiar-Branco defende o acesso aos SMS, apesar de ainda não o ter assumido publicamente. Isto depois de o constitucionalista Jorge Miranda ter defendido que os deputados da nova comissão de inquérito têm direito a conhecer as comunicações do antigo presidente da CGD com o ministro das Finanças, mantidas no exercício de funções públicas. Uma polémica que vai continuar a marcar a nova comissão da CGD, apesar de a primeira comissão ainda estar a decorrer.

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Deco acusa banca de cobrar aos clientes comissões indevidas

  • Lusa
  • 26 Março 2017

A Deco acusa a banca de cobrar comissões aos clientes sem prestar qualquer serviço, como por processamento de prestação de crédito ou manutenção de conta.

A Deco acusa a banca de cobrar comissões aos clientes sem prestar qualquer serviço, como por processamento de prestação de crédito ou manutenção de conta, e de querer compensar as perdas da intermediação financeira com a atividade de comissionamento.

Segundo a associação para a defesa dos consumidores Deco, há mesmo uma “alteração do paradigma” da atuação dos bancos: “Estamos a assistir a uma transferência da atividade bancária, da intermediação financeira – isto é, compra e venda de dinheiro, que foi a atividade que deu origem aos bancos -, para uma atividade de comissionamento”, disse o economista Nuno Rico, da Deco/Proteste, em declarações à Lusa.

"Estamos a assistir a uma transferência da atividade bancária, da intermediação financeira – isto é, compra e venda de dinheiro, que foi a atividade que deu origem aos bancos -, para uma atividade de comissionamento.”

Nuno Rico

Economista da Deco/Proteste

Em Portugal, a cobrança de uma comissão bancária só pode acontecer quando há prestação de um serviço pelo banco, caso contrário é ilegal, lembra o economista, invocando a lei de 2015 que estabeleceu os requisitos da cobrança de comissões.

“As comissões e despesas cobradas pelas instituições de crédito têm de corresponder a um serviço efetivamente prestado”, lê-se no articulado do diploma de 2015, que criou também os serviços mínimos bancários.

O problema, explica o economista, é a lei não definir o que é um serviço bancário, possibilitando assim ao Banco de Portugal, e outros responsáveis, “assistir passivamente” à cobrança de comissões pelos bancos mesmo quando não é prestado, efetivamente, um serviço ao cliente.

No caso da comissão de manutenção de conta, aquele responsável argumenta que o simples facto de existir uma conta bancária não pode ser considerado serviço bancário, até porque o acesso a um produto bancário, como um crédito ou um investimento, está dependente de ter uma conta bancária, além de ser um instrumento essencial nos dias de hoje.

“Não podemos esquecer que, quando abrimos uma conta e pomos lá o nosso dinheiro, estamos a disponibilizar o nosso capital ao banco, para que o possa usar em diferentes fins, como vender esse capital a outras pessoas e ganhar dinheiro com isso”, lembrou Nuno Rico, criticando o fim das recompensas financeiras (juros) dos bancos a esses depósitos e agudizando a crítica quanto à obrigação de pagar (comissão) por esse depósito.

"Não podemos esquecer que, quando abrimos uma conta e pomos lá o nosso dinheiro, estamos a disponibilizar o nosso capital ao banco, para que o possa usar em diferentes fins, como vender esse capital a outras pessoas e ganhar dinheiro com isso.”

Nuno Rico

Economista da Deco/Proteste

No caso das comissões pelo processamento de prestações, de crédito à habitação por exemplo, a Deco defende não fazer “sentido nenhum” o cliente ter de pagar para lhe ser cobrada uma prestação de crédito, e defende que essa cobrança “ é apenas uma forma de os bancos arrecadarem receitas”.

Além da cobrança daquelas comissões, que a Deco considera injustificada e até ilegal, a associação queixa-se também dos aumentos “completamente injustificados” das comissões bancárias, entre os quais destaca as anuidades dos cartões de débito que subiram 28% num ano, ou as contas ordenado que aumentaram nos principais bancos 47% nos últimos cinco anos.

“Descobrimos no último estudo [apresentado há semanas] que o novo alvo dos bancos é a conta domiciliada, ou conta ordenado, cuja abertura recomendávamos aos nossos associados, para evitar a cobrança de comissões, mas que desde 2016 é a nova fonte de receita descoberta pela banca”, acusou.

Especialmente nos últimos dois anos, a associação diz que tem vindo a alertar o Banco de Portugal e os grupos parlamentares para esta cobrança que considera excessiva, e até ilegal em alguns casos, mas a resposta é de “completa passividade” do regulador da banca e de “falta de resposta” dos grupos parlamentares.

“À Deco, o Banco de Portugal responde que verifica os preçários dos bancos, que diz estarem conformes com as regras, e que existe livre concorrência no mercado nacional. Mas o que verificamos, por exemplo, é que a anuidade dos cartões de débito dos cinco maiores bancos é das mais altas que conhecemos e é quase igual em todos os bancos, o que é uma grande coincidência”, afirma.

A associação, que tem reivindicado a criação de uma conta à ordem sem quaisquer custos (e sem as restrições dos serviços mínimos bancários) e a cobrança de comissões “razoáveis” aos clientes bancários, admite que noutros países, nomeadamente da Europa, comissões semelhantes são cobradas aos clientes bancários, em alguns casos até há mais tempo do que em Portugal, mas diz que o aumento não foi tão rápido nem tão injustificado.

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Contas bancárias grátis vão acabar dentro de uma década

  • Lusa
  • 26 Março 2017

A consultora PwC antevê o desaparecimento dentro de uma década das contas bancárias gratuitas, em Inglaterra, onde atualmente muitas contas são isentas de comissões.

A consultora PwC (PricewaterhouseCoopers) antevê o desaparecimento dentro de uma década das contas bancárias gratuitas, em Inglaterra, onde atualmente muitas contas são isentas de comissões, de acordo com um estudo realizado em 2015.

O estudo, feito com base em inquéritos a mais de dois mil cidadãos ingleses, conclui que os clientes das instituições bancárias que recusarem pagar uma pequena comissão vão “gradualmente” enfrentar restrições no levantamento de dinheiro ou mesmo no acesso aos balcões dos bancos.

A consultora defende ser “insustentável” o futuro das contas bancárias sem comissões, tendo em conta que impedem os bancos de realizarem lucros “decentes”.

O problema é os consumidores entenderem as suas contas bancárias como não tendo custos, quando é evidente que não são grátis, são pagas através de encargos com contas a descoberto [overdrafts], taxas e penalidades e uma taxa de juro [a receber pelo cliente] não competitiva, ou até de zero.

Steve Davies

Consultora PwC

O autor do estudo, o consultor Steve Davies, avisa: “O problema é os consumidores entenderem as suas contas bancárias como não tendo custos, quando é evidente que não são grátis, são pagas através de encargos com contas a descoberto [overdrafts], taxas e penalidades e uma taxa de juro [a receber pelo cliente] não competitiva, ou até de zero”.

Em Inglaterra, os bancos cobram apenas comissões, que os ingleses consideram avultadas, quando os clientes utilizam a linha de crédito habitualmente associada à sua conta à ordem (‘overdrafts’), um modelo conhecido no país como o “free if in credit”.

Pelo contrário, em Portugal, um estudo recente da associação de defesa dos consumidores Deco, conclui que os custos das contas à ordem são cada vez mais altos e o que tradicionalmente era gratuito, como as contas ordenado, que não pagavam comissão, está a desaparecer.

O estudo, da revista “Dinheiro e Direitos”, refere que Deutsche Bank, Novo Banco e Santander acabaram com as contas ordenado e, em substituição, estão a propor aos clientes um conjunto de serviços, ou “contas-pack”, que nem sempre são do seu interesse e conveniência.

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Uma fábrica de automóveis em Barcelona com tecnologia como se vê nos filmes

  • Lusa
  • 25 Março 2017

“Robots como na Guerra das Estrelas” é uma das expressões que especialistas usam para provar que a ficção para uns é realidade nas linhas de montagem da fábrica da Seat, em Barcelona.

“Robots como na Guerra das Estrelas” é uma das expressões que especialistas usam para provar que a ficção para uns é realidade nas linhas de montagem da fábrica da Seat, em Martorell, nos arredores de Barcelona (Espanha).

A chegada à infraestrutura com dimensão idêntica ao Principado do Mónaco ou a 400 campos de futebol faz-se através do centro técnico da marca espanhola integrada no grupo Volkswagen. Depois de abrir uma viatura com recurso a um telemóvel, Leyre Olavarria, responsável pelo projeto Connected Car Digitalization indica que, daqui a uns dois anos, as viaturas no mercado já terão parte das valências técnicas recentemente reveladas pela marca.

Numa sala dominada por um ecrã gigante curvo, onde estão ligados cabos, torres de computador e a simulação da parte da frente do habitáculo de um automóvel, a especialista explica como mais de 50 pessoas, de diversas áreas, desenvolvem os projetos em conjunto.

Em parceria com Barcelona, que orgulhosamente se promove com títulos relacionados com ‘smart city’, a equipa da Seat desenvolve a previsão de navegabilidade, para que os condutores sejam avisados, por exemplo, quanto zonas afetadas pela realização de um jogo de futebol ou das complicações do trânsito pela manhã nas imediações de escolas.

“Personalização de desejos”

Com a colocação de um telemóvel no simulador é iniciado um vídeo para mostrar aos visitantes do centro a “personalização de desejos”, que está a ser desenvolvida pela Seat e que começa pelo reconhecimento do condutor, nomeadamente pela retina. Com essa identificação estão garantidas as preferências dentro da viatura como a posição do assento, explica Leyre Olavarria, resumindo que à pessoa resta, assim, “conduzir apenas”.

Em movimento, segundo esta demonstração, o condutor começará a ver a sua agenda do dia, que é alterada devido a uma fila de trânsito, no meio da qual pode ativar um modo para gerir distâncias para as outras viaturas. Este sistema de conectividade dará ainda respostas sobre lugares de estacionamento e a sua marcação antecipada. É que 30% do trânsito é de pessoas que procuram um lugar para estacionar, alerta Leyre Olavarria, citando estudos feitos.

Se qualquer telemóvel pode ser utilizado pelo sistema, só Barcelona conseguirá responder a 100% ao sistema, admite, por seu lado, Matthias Rabe, vice-presidente da Seat, responsável pelo Desenvolvimento e Inovação, referindo que em outros lados a conectividade dos automóveis deverá ser de 90%. Questionado sobre implicações legais, o responsável sublinhou serem importantes, mas que a preocupação no centro é desenvolver soluções técnicas, como as que devem ser reveladas dentro de meses, mas que, por agora, estão cobertas com panos opacos para os jornalistas ainda não desvendarem.

“Têm que voltar para saberem”, diz Leyre Olavarria. Depois de passarem pelo centro de protótipos, onde se conta que a realidade virtual é cada vez mais usada para garantir maior eficiência e reduzir a complexidade e a construção física de modelos e de uma apresentação do diretor da fábrica, os jornalistas também são ‘desviados’ das linhas de produção das novidades da marca, como do SUV Arona.

Na área de produção, que desta feita é comparável à dimensão do Vaticano, estão em início de montagem os modelos Leon e Ibiza. Os robots vistos em filmes de ficção científica vão fazendo o trabalho de verificação milimétrica da carroçaria, através de cores.

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Empresários de diversões podem ter IVA mais “favorável” em 2018

O Governo quer ter em vigor um regime de IVA mais favorável para o setor das atividades de diversão itinerantes. As alterações podem ser feitas já em janeiro de 2018.

Governo quer ter em vigor a 01 e janeiro de 2018 um regime de IVA (Imposto sobre o valor Acrescentado) mais favorável para o setor das atividades de diversão itinerantes, segundo uma resposta do Ministério das Finanças.

“A medida encontra-se desde janeiro a ser objeto de um aprofundado estudo técnico, para que se possa realizar uma consulta ao Comité de IVA nos termos do Direito da União Europeia, sendo intenção do Governo que as alterações legislativas em causa sejam incluídas na Proposta de Orçamento do Estado para 2018, para que um regime de IVA forfetário para o setor das atividades de diversão itinerantes esteja em vigor a 1 de janeiro de 2018”, refere o documento.

"A medida encontra-se desde janeiro a ser objeto de um aprofundado estudo técnico, para que se possa realizar uma consulta ao Comité de IVA nos termos do Direito da União Europeia, sendo intenção do Governo que as alterações legislativas em causa sejam incluídas na Proposta de Orçamento do Estado para 2018, para que um regime de IVA forfetário para o setor das atividades de diversão itinerantes esteja em vigor a 1 de janeiro de 2018.”

Ministério das Finanças

Este compromisso assumido pelo Ministério das Finanças consta de uma resposta enviada esta semana, a que a agência Lusa teve hoje acesso, a uma pergunta feita por cinco deputados do Partido Socialista na semana passada sobre quais as medidas de natureza fiscal que o Governo pretendia adotar relativamente a este setor.

A aplicação de um regime de IVA forfetário (consiste na atribuição de uma compensação em sede de IVA) sempre foi uma das reivindicações da associação destas empresas de diversão (APED).

“Um regime de IVA forfetário corresponde também aos objetivos do programa do Governo de apoio às pequenas e médias empresas através da simplificação administrativa e eliminação de custos de contexto, podendo eventualmente o trabalho que se faça relativamente a este setor ser posteriormente utilizado para aplicação do mesmo regime em setores de atividade em que igualmente se justifique”, lê-se na resposta gabinete do Ministério das Finanças.

Contactado hoje pela Lusa, o presidente da associação das empresas de diversão (APED) mostrou-se satisfeito com o compromisso escrito agora assumido pelo Governo, o qual vai ao encontro das reivindicações feitas pelos empresários do setor ao longo de vários anos. Luís Paulo Fernandes acrescentou que as diversões estão todas a funcionar na Feira de Março, que hoje teve início em Aveiro, depois da ameaça de boicote feita pelos empresários a esta festa popular.

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Bruxelas contra participação acionista do Estado no Novo Banco

O Governo está a negociar com Bruxelas o modelo de venda do Novo Banco ao Lone Star e a participação acionista do Estado, com 25% do capital. Bruxelas está contra esta solução.

A Direção Geral da Concorrência europeia (DG Comp) tem uma posição de princípio contra a manutenção de uma participação acionista do Estado no capital do Novo Banco no quadro do negócio de venda ao Lone Star, apurou o ECO. Mesmo que seja minoritária. Depois do acordo com o fundo norte-americano praticamente fechado, há dificuldades inesperadas na frente europeia que põem o negócio em causa nestes termos.

Quando, no dia 17 de fevereiro, o Banco de Portugal comunicou ao Governo a proposta de negociações exclusivas com o fundo Lone Star para a venda do Novo Banco, a natureza dos contactos mudou. Passou a ser o Governo, e o ministro Mário Centeno, a conduzir as negociações com Bruxelas. E com um quadro que já era, previsivelmente, difícil: Centeno recusou a proposta de uma garantia de Estado para viabilizar a venda do Novo Banco e, por isso, a alternativa, era a manutenção de uma participação pública de 25% — através do Fundo de Resolução ou de outra entidade pública — em simultâneo com o Lone Star, como o ECO revelou em primeira mão. Desta forma, haveria uma partilha de risco com o investidor privado.

Claro, há duas condições necessárias para viabilizar a operação nestes termos, a negociar em Bruxelas, com duas entidades diferentes: em primeiro lugar, com o Eurostat, por causa da forma de contabilização desta participação nas contas públicas. Mais importante, com a DG Comp, a entidade que supervisiona as ajudas de Estado e a concorrência europeia. E é aqui que está, neste momento, um problema que, segundo uma fonte que acompanha as negociações, “não está fácil”. “Há uma posição de princípio contra este modelo, mas não é completamente fechada, ou seja, não foi dito nunca que era impossível”, acrescenta. E é uma oposição, seja através do Fundo de Resolução, a opção preferida do Governo, ou de outra entidade pública.

O Ministério das Finanças, contactado pelo ECO, nega a existência de uma decisão formal negativa de Bruxelas, mas não adianta mais informação. E ainda ontem, na conferência de Imprensa em que explicou os resultados do défice de 2016, Mário Centeno afirmou: “Consideramos que há condições para um acordo”, sem adiantar mais dados, com a justificação de que as negociações estão em curso.

Confrontada oficialmente, pelo ECO, uma fonte oficial da DG Comp responde: “O processo de venda está em curso e é gerido pelas autoridades portuguesas. A Comissão está em contacto construtivo com as autoridades portuguesas relativamente ao Novo Banco”. Mas uma outra fonte comunitária recordou, ao ECO, os termos do acordo que permitiu o alargamento do prazo de venda do Novo Bano até 3 de agosto de 2017, já negociado com o Governo de António Costa. “De acordo com o parágrafo (45) da decisão [europeia], o Novo Banco terá vendido todos os seus ativos – core ou não-core – ou o Fundo de Resolução terá vendido todas as ações [do Novo Banco]” até a data definida. Isto é, até 3 de agosto próximo.

Qual é a alternativa? Se a Concorrência europeia mantiver essa posição de princípio e não responder positivamente à proposta do governo, a única saída a pôr em cima da mesa são compromissos adicionais do Novo Banco. Portanto, a somar aos que já existiam, como por exemplo a redução do chamado ‘side bank’ para cerca de nove mil milhões de euros para cerca de quatro mil milhões em três anos. Compromissos estes, refira-se, que o Lone Star quer renegociar para os alinhar com o seu próprio business plan. Só que esses compromissos adicionais não são neutros e podem pôr em causa o modelo de negócio que torna a operação do Lone Star viável… para o próprio fundo.

Neste momento, apurou o ECO, o Governo tem defendido que a participação pública no Novo Banco poderá ser vendida por decisão exclusiva do Estado e, por isso, seria a condição necessária para evitar novas exigências. O problema é que, pelo menos até agora, a DG Comp não mostrou disponibilidade para aceitar este termo do acordo como suficiente. Aliás, o ECO sabe que o Lone Star exigia até que o Estado fosse obrigado a manter uma participação de 25% num período mínimo idêntico ao que é imposto ao próprio fundo, mas Centeno rejeita essa solução.

A negociação com Bruxelas está num momento crítico — e o Governo de António Costa já demonstrou que tem capacidade política para virar o jogo, mesmo quando do ponto de vista técnico as condições são difíceis. É o que lembra, ao ECO, uma fonte governamental, e cita o exemplo da Caixa Geral de Depósitos.

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BES: Emigrantes lesados voltam a pedir “justiça” em Paris

  • Lusa
  • 25 Março 2017

Os emigrantes lesados do Banco Espírito Santo voltaram a manifestar-se hoje em Paris para pedir "justiça" e reclamar as poupanças que depositaram, prometendo voltar às ruas dentro de um mês.

Os emigrantes lesados do Banco Espírito Santo (BES) voltaram a manifestar-se hoje em Paris para pedir “justiça” e reclamar as poupanças que depositaram, prometendo voltar às ruas dentro de um mês.

“Estão outras manifestações previstas. Organizámos esta porque já tivemos paciência que chegasse. Já faz três anos, acho que já chega. Portanto, tem que haver uma solução para estes emigrantes que aqui estão, todos lesados do Novo Banco. Enquanto a gente não tiver nada concreto, a gente não vai parar“, disse à Lusa Carlos Costa, do grupo Emigrantes Lesados Unidos, que organizou o protesto.

"Estão outras manifestações previstas. Organizámos esta porque já tivemos paciência que chegasse. Já faz três anos, acho que já chega. Portanto, tem que haver uma solução para estes emigrantes que aqui estão, todos lesados do Novo Banco. Enquanto a gente não tiver nada concreto, a gente não vai parar.”

Carlos Costa

grupo Emigrantes Lesados Unidos

Entre cerca de uma centena de emigrantes, reunidos em frente à Embaixada de Portugal, estava José Fernandes Fonseca, há 34 anos em França, que entoou a frase “tenho desgosto de ser português”, contando à Lusa que foi enganado no ex-BES porque “pediu uma conta a prazo” e o gerente do banco sempre lhe disse que “o dinheiro estava numa conta segura”.

Sérgio Morgado, presença habitual nas manifestações dos emigrantes lesados do BES em Paris, disse que o dinheiro dos emigrantes foi “ganho com muito suor” e lamentou, apontando para uma faixa de protesto.

“O governador do Banco de Portugal é um ladrão, é um corrupto e nós estamos aqui feitos desgraçados a lutar pelo nosso dinheiro, a lutar pelas nossas economias que estão bloqueadas. Por alma de quem?”, disse, revoltado.

A Associação Movimento Emigrantes Lesados (AMELP) reuniu-se pela primeira vez com o presidente do Novo Banco, António Ramalho, a 17 de março.

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