Covid revelou fragilidades mas cultura será fundamental no pós-pandemia
Aprender com a crise, combater a precariedade e articular os financiamentos públicos e privados. A pandemia revelou fragilidades e reforçou a necessidade de investir no setor das artes e da cultura.
Mais do que uma “oportunidade”, é importante olhar para a crise que a pandemia causou no setor da cultura como uma “aprendizagem sobre como se pode mudar o futuro”. Esta foi a posição reiterada por Graça Fonseca, ministra da Cultura, no segundo painel da Social Good Summit, dedicada ao pós-Covid 19, sobre “a cultura como fator chave para o desenvolvimento económico e social”.
Para Graça Fonseca, é fundamental que os próximos meses sirvam para dar continuidade ao que já tinha começado antes da crise, pois a cultura terá um papel de união e confiança num contexto de pós-pandemia. “É o único setor que pode contribuir de forma decisiva para esta confiança que precisamos de voltar a ter nesta possível normalidade”, sublinhou a ministra.
Em contexto de pandemia, a tecnologia permitiu que o setor da cultura e das artes tirasse proveito das soluções tecnológicas para dar continuidade à sua atividade. Graça Fonseca lembra que este foi “o primeiro setor a reinventar-se” e que, daqui para a frente, será necessário “unir esforços” de todos os atores da sociedade e reforçar medidas políticas, com enfoque no “recentramento”, por exemplo, na precariedade deste setor. “Tal como a cultura se reinventou, também vamos ter de reinventar soluções e algumas medidas de políticas públicas que estavam desenhadas. Para isto tudo acontecer, todos têm de ter um papel”, ressalvou Graça.
Lara Seixo Rodrigues, fundadora da plataforma artística Mistaker Maker, acredita que a pandemia veio expor fragilidades e desigualdades no setor, mas trouxe também uma “oportunidade única e derradeira” para a sociedade civil refletir e transformar e valorizar o valor da cultura e da arte nas suas vidas. É preciso “mudar mentalidades”, defende, mas o contexto de pandemia pode abrir um novo espaço para a arte urbana e que, agora, representa um espaço de segurança que garante a distância entre as pessoas.
É o único setor que pode contribuir de forma decisiva para esta confiança que precisamos de voltar a ter nesta possível normalidade.
A pandemia já obrigou a cancelar cerca de 27 mil eventos em Portugal, de acordo com os dados da Associação de Promotores de Espetáculos, Festivais e Eventos. A Super Bock Group tem sido uma marca apoiante e dinamizadora de eventos culturais de massas, em Portugal e nos países onde está presente, como festivais, festas populares, desporto, eventos na Casa da Música, Fundação Serralves, CCB e até à própria arte urbana. Em contexto de crise, a Super Bock tem apoiado os agentes culturais no país e até dentro da organização, pois “até na própria essência do produto a cultura esta muito presente”, destacou Miguel Araújo, diretor de comunicação da Super Bock Group.
Em contexto de pandemia, a Super Bock lançou uma nova coleção da SuperBock Coruja, cerveja com rótulos da autoria de vários designer e criativos, e desafiou dois humoristas a fazer uma série de sketches, com cada episódio dedicado aos trabalhadores da Super Bock. O objetivo? “Manter a comunicação ativa dentro da empresa”. Foi ainda criada a plataforma digital Entra Em Cena, que contou com o apoio do Ministério da Cultura.
"Tal como a cultura se reinventou, também vamos ter de reinventar soluções e algumas medidas de políticas publicas que estavam desenhadas. Para isto tudo acontecer, todos têm de ter um papel.”
“Não é a riqueza que gera cultura. É a cultura que gera riqueza”, sublinha Lara Seixo Rodrigues, que considera que o acesso dos idosos à cultura é desigual em Portugal. Durante a pandemia, a Mistaker Maker criou a “Sebenta da Quarentena”, um projeto de ação solidária e de promoção artística, que junta 40 autores, com a temática do cuidado do idosos e cuja procura tem crescido dentro e fora de Portugal.
Graça Fonseca acredita, também, que a crise veio mudar a forma como a sociedade se relaciona com as artes e mostrar que o seu impacto “é transversal”: a nível individual, social, económico e do território. “O cancelamento de um festival de música num território como Idanha, Caminha ou Paredes de Coura tem um impacto enorme para aquela comunidade, do ponto de vista individual, social, e da economia daquele território”, exemplifica. A ministra garante que é necessário rever estatuto do artista e acredita que, no futuro, a cultura terá de ser articulada com outros objetivos. Por exemplo, o setor público e o setor privado devem articular-se, porque, defende Graça Fonseca, as entidades — públicas e privadas — podem assumir “um papel complementar” ao financiamento e às políticas públicas já existentes.
O Social Good Summit é um evento das Nações Unidas e está a estrear-se em Portugal. Foi organizado pela startup It’s About Impact, residente na Casa do Impacto da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e com o apoio do Banco Montepio. Até ao final do dia, vai reunir decisores políticos, agentes do impacto social, líderes empresariais e ativistas em painéis de discussão à volta de sete Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. Continue a acompanhar o evento no ECO.
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