Autarquias “apagam” ecrãs gigantes para os jogos do Mundial de futebol

Maioria das autarquias, incluindo Lisboa e Porto, optou por não criar "fan zones" para assistir aos jogos do Mundial de futebol no Qatar, mas recusa ao ECO a tese de boicote político.

A maioria das autarquias portuguesas não vai ter espaços para os fãs de futebol assistirem aos jogos do Mundial do Qatar. Ainda que algumas repudiem o desrespeito pelos direitos humanos naquele país, asseguram que a decisão de não terem estes espaços durante a prova de 2022 não é uma forma de protesto, como assumiram outras cidades europeias. Deve-se, sim, ao investimento que exigiria por ser uma época de chuva e frio, ou por terem outras iniciativas programadas.

O presidente da Câmara Municipal de Braga, Ricardo Rio, assegura ao ECO que, “apesar de o município repudiar o não respeito pelos direitos humanos no Qatar, não é isso que determina esta opção por não organizar a Fan Zone”. “Um Mundial que decorre em pleno inverno iria exigir um investimento significativo da parte da autarquia com a logística”, justifica o social-democrata. Mais ainda, prossegue, quando “alguns dos espaços municipais vão estar ocupados com mercados de Natal e outras atividades natalícias”.

Apesar de o município repudiar o não respeito pelos direitos humanos no Qatar, não é isso determina esta opção por não organizar a Fan Zone.

Ricardo Rio

Presidente da Câmara Municipal de Braga

Algumas cidades francesas, com o Paris ou Marselha não vão criar zonas de fãs nas principais praças como forma de boicote ao Mundial de futebol no Qatar. Por causa da exploração de trabalhadores durante a construção dos estádios para o evento e pelos atentados aos direitos humanos naquele emirato do Golfo Pérsico.

A este propósito, o autarca do Porto, Rui Moreira, assinalou à Lusa que “a escolha de um país como o Qatar, muito pequeno geograficamente, com a questão do calor e dos direitos humanos que se vieram a acentuar, parecia ser um mau negócio para o futebol. Foi uma negociata e um mau negócio para a indústria do futebol”. O independente Rui Moreira vai mais longe: “É algo que não melhorou, e a questão dos direitos dos trabalhadores e das pessoas que lá morreram na construção dos estádios preocupa-me mais que tudo o resto. É algo que não dignifica o mundo do futebol”.

Ainda assim, a Câmara do Porto garante que a decisão de não ter zonas públicas para os munícipes assistirem aos jogos do Mundial não tem a ver com a sua posição sobre o Qatar. Mas também às condições climatéricas e ao investimento que iria exigir toda a logística.

Lisboa é outra das cidades que não vai criar zonas com ecrãs. Em resposta ao ECO, a autarquia afirma que “a Câmara Municipal de Lisboa não vai ter nenhuma zona de fãs da sua responsabilidade na cidade para acompanhar o Mundial do Qatar”. Sem, contudo, adiantar os motivos para esta medida na capital.

Sobre o boicote de cidades europeias, a Câmara de Albufeira diz “[acreditar] que o Mundial não deve ser politizado, condenando naturalmente tudo e qualquer abuso dos direitos humanos”. A autarquia algarvia também não vai ter ecrãs, justificando que “restaurantes, cafés e hotéis vão apostar nessa vertente e, portanto, não iria ter muita adesão, particularmente no inverno”. Nesta altura, o município aposta, sim, “na Albufeira Natal e na festa de Fim de Ano” na cidade.

A Câmara Municipal de Matosinhos também consta da lista das autarquias que não vão ter este tipo de espaços. “Não vamos ter nenhum ecrã gigante para visualização dos jogos. Ao contrário das outras competições, como este ano o Mundial decorre no inverno, não existem condições climatéricas favoráveis para aglomerações ao ar livre”, justifica a autarquia, em declarações ao ECO.

O mesmo cenário ocorre em Viseu, onde se garante que esta é “uma opção que nada tem a ver com a atual polémica em torno da escolha do país para acolher o evento desportivo, mas sim com opções estratégicas e orçamentais do próprio município”. Segundo a autarquia, “a realização deste evento coincide, em parte, com o arranque da programa do Viseu Natal na cidade, sendo esta uma programação com elevado impacto na dinâmica cultural, social e comercial da cidade”.

O município viseense insiste que “não toma nenhuma posição pública” no que respeita à escolha do Qatar como país de acolhimento deste evento desportivo. “Clarifique-se, no entanto, que qualquer violação dos direitos humanos, em qualquer circunstância, deve merecer a atenção de todos e é um ato condenável”, sustenta a mesma fonte.

Mais a sul, em Leiria também não haverá zonas públicas para assistir aos jogos. “Informamos que o município não irá criar zonas públicas para visionamento dos jogos do Mundial”, esclarece fonte oficial.

No Alentejo, o município do Alandroal não vai ter espaços de Fan Zone para evitar gastos, nomeadamente com energia. “O município do Alandroal não irá realizar por questões de poupança energética e orçamental, sendo que o seu principal objetivo é dar espaço às associações e coletividades para dinamizarem os seus próprios espaços”, justifica a autarquia.

Fan Zone em Viana do Castelo e Famalicão

Já a Câmara de Viana do Castelo tem montada uma tenda gigante na Praça da Liberdade, que vai acolher uma Fan Zone do Mundial 2022. Segundo a autarquia, “serão transmitidos todos os jogos da seleção portuguesa e todos os jogos de fases eliminatórias do Mundial 2022 de futebol”, numa tenda gigante com capacidade para 500 pessoas.

Este espaço vai ter ainda um conjunto de eventos de animação associado assim como áreas de bebidas “e todas as transações comerciais implicam, obrigatoriamente, o uso da Pulseira Viana [que é gratuita], pelo que não haverá circulação de dinheiro na Fan Zone”, adianta o município.

Em Vila Nova de Famalicão, todos os jogos do Mundial vão ser transmitidos na Praça – Mercado Municipal, numa iniciativa promovida por este espaço em parceria com os estabelecimentos de restauração instalados no mercado. “Os jogos serão transmitidos na zona da restauração, com recurso a um ecrã que já está instalado, ou seja, não foi propositadamente montado para este Mundial”, avança a autarquia.

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Vai ao Mundial do Qatar? Saiba o que (não) pode fazer

  • Joana Abrantes Gomes
  • 20 Novembro 2022

Beber álcool, só em determinadas horas e locais. Usar roupa que não mostre muita pele. Não demonstrar muitos afetos em público. Saiba as regras e leis a cumprir no Qatar durante o Mundial de futebol.

O Mundial 2022 começa este domingo. E, pela primeira vez, a maior e mais importante competição a nível futebolístico decorre num país muçulmano — o Qatar — onde são esperados mais de um milhão de visitantes.

Mas a prova está a ser marcada pelas críticas à violação dos direitos humanos na nação islâmica, desde abusos aos trabalhadores que construíram os estádios ao longo dos últimos anos (sobretudo migrantes) à desigualdade das mulheres e da comunidade LGBT+ face aos homens, bem como às restrições à liberdade de imprensa e de expressão.

Também face a estas restrições no campo dos direitos humanos, contrariamente a provas anteriores da modalidade rainha, os adeptos que se deslocarem ao país nas próximas semanas estarão sujeitos a uma série de regras e costumes estritos que, se não forem cumpridos, podem mesmo originar multas pesadas ou até prisão.

Álcool? Só em certos horários e zonas designadas para adeptos

O Qatar tem regras apertadas para o consumo de bebidas alcoólicas, que, por norma, só é permitido a pessoas a partir dos 21 anos em certos hotéis e restaurantes, não sendo vendido em supermercados. Contudo, foram criadas algumas exceções para o Mundial. Segundo o país organizador, será permitida a venda e o consumo de bebidas alcoólicas em determinados horários e em zonas designadas especificamente para os adeptos.

Um dos locais previstos eram “áreas selecionadas dentro dos estádios”, onde seria possível comprar e consumir álcool até três horas antes e uma hora depois dos jogos, mas não durante. Contudo, a FIFA anunciou na sexta-feira a proibição de venda de cerveja com álcool também nos estádios, na sequência de um pedido que terá partido da família real do Qatar. A Budweiser, parceiro oficial da prova, apenas poderá comercializar a “Bud Zero”, a sua cerveja sem álcool, nos recintos da competição.

E atenção: um litro de cerveja chega a custar cerca de 13 euros.

A Budweiser, parceiro oficial, só pode vender cerveja sem álcool nos recintos da competiçãoEPA/NEIL HALL

Assim, a venda de bebidas alcoólicas será restrita às fan zones. Uma delas, a “fan festival”, tem capacidade para 40.000 adeptos em Doha, capital do país, onde o consumo de bebidas alcoólicas será permitido a partir das 18h30. No evento “Arcadia Spectacular” — um festival com “artistas e DJ de renome internacional” –, os adeptos poderão beber álcool quase 24 horas por dia, entre as 10 horas e as 5 horas do dia seguinte.

Qualquer consumo de álcool fora desses locais e horários será penalizado. Quem beber em público pode mesmo ser multado num valor equivalente a 800 euros ou incorrer numa pena de prisão de até seis meses. Além disso, em declarações à estação de televisão britânica Sky News em outubro, o organizador principal do torneio, Nasser Al-Khater, disse, sem fornecer mais detalhes, que os adeptos embriagados poderão ser levados para “um lugar para ficar sóbrios”.

Drogas não, fumar sim (em alguns locais)

O tráfico, posse ou consumo de drogas tem “tolerância zero” no Qatar. Qualquer pessoa apanhada a traficar droga no país pode enfrentar 20 anos de prisão, mais uma multa de entre 100.000 rials do Qatar (cerca de 26.600 euros) e 300.000 rials (cerca de 79.800 euros). Aqueles que sejam reincidentes podem ser condenados a prisão perpétua ou, no limite extremo, a pena de morte.

A distinção entre tipos de drogas é pouca: a posse de marijuana é tratada de forma tão estrita como a posse de cocaína ou heroína. Não obstante, fumar é permitido, ainda que em alguns locais seja proibido. Os cigarros eletrónicos não são legais e nem sequer podem ser trazidos para o país.

Dress code: Sem muita pele à mostra

A cultura islâmica conservadora está bem marcada também no modo de vestir. Os turistas devem vestir-se “com modéstia”. Para as mulheres — que no Qatar não precisam de cobrir o cabelo, apenas quando visitam mesquitas –, isto significa que devem evitar mostrar demasiada pele em público, sobretudo ombros, antebraços e joelhos, evitando roupa justa e translúcida. Os homens, por outro lado, normalmente usam calças compridas e camisolas.

Contudo, esta regra muda quando se está em áreas privadas. Nas piscinas dos hotéis, por exemplo, é permitido usar biquíni. Na praia, é necessário verificar o código de vestuário. Normalmente, são permitidos calções, mas não camisas de mangas curtas. O uso de biquíni não é recomendado nas praias públicas.

Note-se ainda que, nos estádios, os adeptos estão proibidos de despir a camisola. Os recintos desportivos estão devidamente equipados para o controlar, como descreve a France Presse: com milhares de câmaras de alta qualidade com reconhecimento facial.

Estádio Nacional Lusail

Lei pode “silenciar” protestos

A realização do campeonato do mundo de futebol no Qatar tem sido marcada por controvérsias, devido a suspeitas de corrupção e suborno na escolha do país para acolher a competição, bem como à falta de direitos humanos. São várias as organizações e seleções que já se manifestaram contra a nação muçulmana, mas quem protestar contra as leis do país pode enfrentar uma pena de prisão de até cinco anos e uma multa de 100.000 rials (cerca de 26.600 euros).

De acordo com a Amnistia Internacional, a terminologia “vaga” da legislação, que foi reforçada em janeiro de 2020, “pode silenciar o protesto pacífico”. O artigo 136.º do código penal do Qatar estabelece que os afetados incluem “quem difundir, publicar ou republicar rumores falsos ou tendenciosos, declarações, notícias ou propaganda inflamatória, a nível interno ou externo, com a intenção de prejudicar interesses nacionais, agitar a opinião pública, ou infringir o sistema social ou o sistema público do Estado”.

Não há certezas de que as autoridades do Qatar punirão os estrangeiros na mesma medida que os seus próprios cidadãos. Os ativistas devem obter uma autorização do Ministério do Interior do país para poderem protestar pacificamente, mas raramente isso é concedido pelo Governo catari.

Simultaneamente, a lei não se aplica apenas ao protesto físico, mas também ao “cibercrime” e à “impressão e publicações”. A Lei dos Crimes Cibernéticos de 2014 pune a divulgação de “notícias falsas online” com uma pena de prisão máxima de três anos. Também aqui a terminologia é vaga, proibindo publicações que “violam valores ou princípios sociais” ou “insultam e difamam os outros”.

Demonstrações de afeto podem dar prisão

Um dos principais argumentos contra a realização do Mundial no Qatar é o facto de considerar a homossexualidade ilegal, podendo ser punível com pena de morte. Mas as restrições não se limitam à homossexualidade: por exemplo, tocar numa mulher com quem não se é relacionado pode dar multa.

Em 2013, Hassan Al-Thawadi, secretário-geral da entidade organizadora da prova, foi criticado por dizer que todos eram bem-vindos ao evento, desde que se abstivessem de demonstrações públicas de afeto. Isto porque até manifestações de afeto em público como beijar e abraçar são proibidas no país; apenas andar de mãos dadas é minimamente tolerado.

Ao mesmo tempo, homens e mulheres que não sejam casados não podem, por norma, viver juntos. No entanto, as autoridades disseram que durante o Mundial será permitido que namorados ou amigos partilhem o mesmo quarto de hotel, independentemente da sua sexualidade. Já a lei que proíbe relações sexuais fora do casamento será aplicada mesmo durante a competição e qualquer ato considerado “excessivamente íntimo” poderá levar a detenções.

Para verificar se será mesmo assim, jornalistas noruegueses, suecos e dinamarqueses fizeram uma espécie de teste. Em maio deste ano, contactaram 69 hotéis na lista oficial de hotéis da FIFA, fingindo serem casais homossexuais recém-casados: três hotéis não aceitaram a sua tentativa de fazer reservas, enquanto outros 20 lhes pediram que evitassem demonstrar publicamente a sua sexualidade.

Adicionalmente, as bandeiras arco-íris, tipicamente associadas aos movimentos LGBT+, poderão ser confiscadas. Em abril, o major-general Abdulaziz Abdullah al-Ansari, um líder da segurança do Qatar, alegou que será para proteger os adeptos da discriminação e violência por parte das pessoas anti-LGBT+.

Atenção às asneiras e gestos obscenos

As boas maneiras são essenciais em qualquer lugar. Mas num país muçulmano como o Qatar há alguns costumes a ter em conta. Por exemplo, pessoas do mesmo sexo cumprimentam-se com apertos de mãos, enquanto pessoas de sexos opostos saúdam-se sem se tocar, sendo de evitar fazer perguntas pessoais.

Para entrar numa mesquita, os visitantes devem tirar os sapatos. Importa também ter em mente que, no Qatar, o primeiro dia da semana é domingo, o fim de semana é sexta-feira e sábado e o dia sagrado é sexta-feira, pelo que os bancos e outros serviços estarão fechados.

Em restaurantes, deve chamar o empregado de mesa levantando a mão e não apenas o seu dedo indicador, algo visto como ofensivo na sociedade islâmica — e o nosso “fixe” (polegar levantado) é considerado um gesto obsceno. Cuspir para o chão, urinar em público e dizer palavrões pode acabar em prisão, enquanto deitar lixo ao chão dá direito a uma multa no valor de cerca de 2.800 euros.

Cuidado com as fotografias!

Sim, também há regras para tirar fotografias no Qatar. Sempre que uma pessoa quiser fotografar algo, deve pedir autorização com antecedência. Por exemplo: tirar fotografias de pessoas num local público é considerado uma ofensa grave. É ainda proibido fotografar ou filmar polícias, zonas industriais e de construção ou edifícios governamentais e militares.

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Musk restabelece conta de Donald Trump no Twitter após sondagem

  • Lusa
  • 20 Novembro 2022

Magnata promoveu uma sondagem de 24 horas para perguntar se o Trump deveria regressar à rede social. Dos mais de 15 milhões de votos, 51,8% foram a favor.

O novo dono do Twitter, Elon Musk, anunciou que repôs a conta do ex-Presidente dos Estados Unidos Donald Trump na rede social, depois de promover uma sondagem que se pronunciou a favor da decisão. “O povo falou. Trump será reintegrado. Vox Populi, Vox Dei [A voz do povo é a voz de Deus]”.

O magnata promoveu uma sondagem de 24 horas para perguntar se o antigo Presidente norte-americano — que a plataforma suspendeu indefinidamente citando riscos de incitamento à violência, dois dias depois de apoiantes terem invadido o Capitólio — deveria regressar à rede social.

De acordo com os resultados da sondagem, publicados por Musk, que recebeu 15.085.458 votos, 51,8% revelaram ser a favor do restabelecimento da conta de Trump, enquanto 48,2% votaram contra.

No início de Novembro, Musk disse que o Twitter “não permitirá” que aqueles que tenham sido retirados da rede social por violar as regras regressem à plataforma até que a empresa tenha um processo claro para o fazer.

Musk, que comprou a rede social por 44 mil milhões de dólares (42,5 mil milhões de euros), também disse numa série de tweets que “o conselho de moderação de conteúdo do Twitter vai integrar representantes com opiniões amplamente divergentes, o que incluirá, sem dúvida, a comunidade de direitos civis e grupos que combatem a violência alimentada pelo ódio”. Antes de adquirir a rede social, Musk disse que uma das pessoas que gostaria de receber no Twitter era o ex-presidente Donald Trump.

Musk anunciou no sábado o desbloqueio das contas do escritor Jordan Peterson, da comediante Kathy Griffin e do jornal conservador The Babylon Bee. Os perfis de Peterson e do Babylon Bee foram bloqueados por publicarem conteúdo que desrespeitavam a comunidade transexual, enquanto o de Griffin foi removido por se fazer passar por Musk.

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PSD quer apurar responsabilidades sobre intromissão no BIC sem esperar por “nenhum tribunal”

  • Lusa
  • 20 Novembro 2022

Líder social-democrata diz que partido quer "assacar responsabilidades políticas” relativas às acusações ao primeiro-ministro de intromissão na administração do BIC.

O presidente do PSD, Luís Montenegro, avisou no sábado à noite que não vai esperar pela decisão de “nenhum tribunal” para “assacar responsabilidades políticas” relativas às acusações ao primeiro-ministro de intromissão na administração do BIC.

Em Penafiel, no distrito do Porto, na tomada de posse dos órgãos da distrital do partido, Luís Montenegro deixou vários recados a António Costa sobre o que pretende ver esclarecido no caso da troca de mensagens e telefonemas entre o primeiro-ministro e o ex-governador do Banco de Portugal Carlos Costa. “Não vamos ficar à espera de nenhum tribunal para sabermos isso”, avisou.

António Costa anunciou que irá processar o antigo governador, que acusou de ter escrito um livro com mentiras e deturpações a seu respeito e de ter montado uma operação política de ataque ao seu caráter, depois de Carlos Costa ter reafirmado que houve uma “tentativa de intromissão do poder político junto do Banco de Portugal”.

Luís Montenegro começou por dizer que António Costa “vai dirimir as mensagens e as trocas de telefonemas” que teve com o antigo governador, mas que vai deixar que o primeiro-ministro “faça esse combate nos tribunais”. “Mas se António Costa pensa que é por ele próprio ter levado esse assunto para os tribunais que nós vamos deixar de assacar as responsabilidades políticas, esteja enganado porque nós queremos respostas”, avisou.

Para o líder social-democrata, é preciso saber se o primeiro-ministro “quis ou não quis influenciar o Banco de Portugal” para manter Isabel dos Santos na administração do BIC.

Luís Montenegro disse ainda querer saber se houve “uma negociata para entregar o Banif a uma instituição financeira espanhola”. “Nós queremos saber se aquilo que o doutor António Costa andava a dizer na campanha eleitoral em 2015 sobre o sistema financeiro e aquilo que depois fez nas primeiras semanas de exercício que levaram à resolução do Banif, nós queremos saber se isso tinha uma intenção por trás”, continuou.

“Nós queremos saber se é aquilo que vem no dito, se havia ou não havia uma preparação, uma intencionalidade para criar condições para, em vez de ser vendido, o Banif fosse, como foi, oferecido ao Santander”, acrescentou.

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Plano do PRR está a ser cumprido mas 2023 exige “esforço adicional”, diz Pedro Dominguinhos

  • Lusa
  • 20 Novembro 2022

Se esse “esforço adicional” não for feito, terá consequências nos investimentos nos anos seguintes e a meta de 2026 fica comprometida.

O presidente da Comissão Nacional de Acompanhamento do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), Pedro Dominguinhos, disse este domingo que o programa está a ser cumprido, mas avisa que 2023 vai obrigar a um “esforço adicional” para concretizar as metas definidas.

Se esse “esforço adicional” não for feito tal terá consequências nos investimentos nos anos seguintes e a meta de 2026 fica comprometida, admitiu o responsável, numa entrevista à Antena 1 e ao Jornal de Negócios. Pedro Dominguinhos disse que o nível de pagamentos se situa nos 1.098 milhões de euros, segundo os últimos dados, e que no final do ano se pode chegar aos 1.400 milhões de euros.

Ainda assim, admitiu que era possível em “alguns casos” estar mais adiantado, se os beneficiários finais fossem mais céleres a assinar os contratos, e disse que a queda do Governo atrasou o processo e que em muitos casos a máquina do Estado não estava preparada para a grande procura.

Na entrevista, Pedro Dominguinhos lembrou que o que existe é um conjunto de investimentos em diferentes ciclos de vida e é neste âmbito que inclui as críticas do Presidente da República ao PRR.

Na primeira semana deste mês, Marcelo Rebelo de Sousa defendeu a necessidade de “aumentar muito” a taxa de execução dos fundos europeus em 2023. E avisou a ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, que estará “muito atento” e não a perdoará caso descubra que a taxa de execução dos fundos europeus não é a que acha que deve ser.

O PRR tem um período de execução até 2026 e é um programa destinado a implementar um conjunto de reformas e investimentos para repor o crescimento económico sustentado após a pandemia.

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COP27: O que determinam os dois acordos alcançados na Conferência da ONU sobre o clima

  • Lusa
  • 20 Novembro 2022

Conferência da ONU sobre o clima (COP27) adotou dois textos principais: uma declaração final e uma resolução sobre a compensação pelos danos causados pelas alterações climáticas.

A conferência da ONU sobre o clima (COP27) adotou este sábado dois textos principais: uma declaração final e uma resolução sobre a compensação pelos danos causados pelas alterações climáticas sofridos por países vulneráveis. Em termos gerais, o que diz cada um:

Declaração final

  • Redução das emissões: Ressalta a necessidade urgente de reduções imediatas, profundas, rápidas e sustentadas das emissões globais de gases que causam efeito de estufa, responsáveis pelas alterações climáticas. O secretário-geral da ONU, António Guterres, lamentou, no entanto, a falta de ambição da COP27 para “reduzir drasticamente as emissões”;
  • Objetivos de limitar o aquecimento: Reafirma o objetivo do Acordo de Paris de conter o aumento da temperatura média abaixo de 2°C relativamente aos níveis pré-industriais e de continuar os esforços para limitar o aumento da temperatura a 1,5°C. Lembra que os impactos das alterações climáticas serão muito menores com um aumento de 1,5°C do que com 2°C e decide continuar esforços para limitar o aumento da temperatura a 1,5°C;
  • Energia: Apela para “a aceleração dos esforços para eliminar gradualmente o uso de ‘carbono (CO2) sem captura’ e para a remoção dos subsídios ineficazes aos combustíveis fósseis. Apela para “a aceleração de transições limpas e justas para energia renovável”. Muitos países queriam mencionar a redução do uso de petróleo e gás e não apenas dos subsídios.

Resolução sobre compensações

  • Decide estabelecer novos acordos para criação de fundos de apoio aos países em desenvolvimento para que lidem com os danos causados pelas alterações climáticas, incluindo fornecer e ajudar a mobilizar recursos novos e adicionais;
  • Neste contexto, decide criar um fundo de intervenção em caso de perdas e danos;
  • Criação de um “comité de transição” responsável pelas regras de funcionamento destas novas disposições, incluindo o fundo. Terá, nomeadamente, de determinar quem serão os contribuintes. O comité terá que fazer recomendações “para consideração e adoção” na COP28, a realizar no final de 2023.

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Como será o dinheiro no futuro? Será “programável”, mas há um “lado sombrio”

No futuro o dinheiro vai ser "programável" e através vai ser possível incorporar comportamentos. Contudo, há um lado sombrio de termos o governo a controlar as nossas decisões com o novo dinheiro.

Como vai ser o dinheiro no futuro? Vai ser “programável”, uma aplicação de computador, e através dele vamos poder incorporar comportamentos, preveem os especialistas. Enquanto os governos e os bancos centrais podem desempenhar um papel útil na democratização financeira, há um “lado sombrio” que ameaça a promessa que o dinheiro do futuro poderá trazer: o risco de estas autoridades a controlarem as nossas decisões.

“O que acontecerá quando o dinheiro for um programa de computador? Essa é a diferença chave entre o dinheiro eletrónico de hoje e o dinheiro programável de amanhã”, começou por afirmar o diretor de cripto e ativos digitais do Banco Santander, John Whelan, na conferência internacional que o banco espanhol organiza anualmente, que decorreu em Madrid, no dia 3 de novembro.

“Com o dinheiro programável, vamos poder incorporar um comportamento diretamente na construção do próprio dinheiro”, prosseguiu e desenvolveu logo a seguir a sua ideia no painel dedicado às CBDC (moedas digitais dos bancos centrais), criptomoedas e digitalização.

“És pai, e queres dar uma mesada ao teu filho que tem cinco anos. Podes incorporar um comportamento na mesada em que apenas pode gastar na loja de brinquedos; ou uma filha de 14 anos que só poderá gastar em roupa ou livros da escola; ou um filho de 21 anos, que só pode gastar dinheiro em equipamento desportivo”, exemplificou Whelan.

John Whelan (diretor de cripto e ativos digitais do Santander), Eswar S. Prasad (autor do livro O Futuro do Dinheiro) e Izabella Kaminska (fundadora do The Blind Spot) no painel sobre ativos digitais na conferência do SantanderDR Santander

O “lado mais sombrio”

Há muito que o dinheiro “eletrónico” – para usar o termo de Whelan – faz parte do nosso dia-a-dia. A taxonomia evoluiu muito nos últimos anos e consolidou: criptomoedas, tokens, stablecoins, CBDC, digital bonds

Ao lado do diretor do Santander, Eswar S. Prasad, autor do livro “The Future of the Money: How How the Digital Revolution Is Transforming Currencies and Finance”, considerou que o dinheiro do futuro poderá ajudar a democratizar o acesso ao mundo financeiro, um papel que caberá aos governos e aos bancos centrais – que já avançaram com planos para o dólar digital, o euro digital ou o yuan digital.

“Qual o papel dos governos e os bancos centrais podem ter que o setor privado não terá? Que tipo de falhas de mercado poderão ter de ser respondidas? Isso vai ao coração do pensamento sobre se as CBDC terão um papel útil ou não”, referiu.

Ainda assim, o também professor de Política de Comércio Internacional da Universidade de Cornell identificou um “lado sombrio” que o dinheiro programável e as CBDC poderão ter.

“A programabilidade do dinheiro tem o potencial para sustentar inovações financeiras muito interessantes, poderá criar produtos e serviços. (…) Abre muitas possibilidades para as instituições financeiras, mas tem um lado mais negro também. Sim, podemos impedir que a nossa versão de 21 anos gaste mal o dinheiro, mas podemos ter um governo autoritário ou outro governo a decidir que quer que usemos as CBDC apenas para certas coisas e não para certos outros tipos de transações”, explicou.

Questionada sobre o impacto que o dinheiro do futuro poderá ter na geração de riqueza, Izabella Kaminska (outra das oradoras no painel) também deixou uma nota menos otimista. A ex-jornalista do Financial Times introduziu o termo de “Gosplan 2.0”, uma espécie de “sistema de economia de comando da URSS”, onde o mecanismo de controlo seria justamente o “novo dinheiro”.

“[Na URSS] a ideia era que, eventualmente, não precisaríamos de dinheiro porque tudo iria dos produtores para aqueles que precisavam apenas instantaneamente. Agora as pessoas dizem que talvez o Gosplan não tenha funcionado porque não tinha a tecnologia e agora seja diferente”, afirmou a fundadora do site de finanças The Blind Spot.

Izabella Kaminska, fundadora do The Blind Spot

Ansiedade e teorias da conspiração

Para Esward Prasad, podemos então estar a entrar num mundo em que a promessa de descentralização das finanças se esvai. Ao invés, podemos ter “potencialmente um mundo com maior grau de centralização” e onde as instituições existentes e com a tecnologia apropriada acabarão por levantar mais barreiras e a dar vantagem aos incumbentes, ao contrário do que se previa.

“Acabamos por ter ainda mais concentração e ainda mais desigualdade, então há um lado potencialmente mais sombrio de tudo isso”, frisou. “Mas espero que alcancemos um lugar melhor.”

Izabella Kaminska gostaria, por isso, de ver mais discussão pública sobre o que será o dinheiro no futuro e sobre os projetos e inovações que estão a ser desenvolvidos neste momento e não apenas nos círculos tecnocráticos. “É preciso ver o Russell Brand [apresentador e comediante britânico] para realmente entender o que o público está a pensar, é daí que as teorias da conspiração estão a surgir, porque as pessoas têm ansiedade sobre isso e não veem tudo como positivo.”

Eswar S. Prasad, autor do livro The Future of the Money: How How the Digital Revolution Is Transforming Currencies and FinanceDR Santander

Bancos centrais arriscam credibilidade com CBDC

Nos bancos centrais, que arriscam perder o controlo da moeda, os tempos também não serão os mais tranquilos, segundo os especialistas. “As implicações monetárias não estão totalmente compreendidas”, disse John Whelan, explicando que “há muitas opções em cima da mesa sobre como poderá ser o desenho das CBDC”.

“Vamos ver diferentes abordagens na União Europeia, no Reino Unido ou no Brasil. Os EUA também estão a discutir como poderá ser o dólar digital: se será uma CBDC emitida pela banca comercial, por infraestruturas do mercado financeiro (FMI, sigla em inglês) ou se será uma stablecoin não bancária.

Prasad apontou as “novas formas de riscos financeiros” que o mundo das criptomoedas e ativos digitais está a criar. “Por exemplo, stablecoins ​​parecem fundos mútuos não regulamentados do mercado monetário que, como sabemos, causaram alguns problemas durante a crise financeira”, recordou.

Embora alguns riscos possam ser geríveis através de “módulos de regulação” para novos produtos que possam surgir, o professor tem uma preocupação maior: a possibilidade de termos CBDC programáveis ameaça a integridade e credibilidade de um banco central.

“Podemos pensar, por exemplo, em dinheiro com data de validade. Se quisermos avançar com um estímulo do género que foi lançado durante a Covid que seja eficaz, podemos fazer com que as pessoas saiam e gastem o dinheiro talvez em bens duradouros. O problema é que, uma vez que o banco central é visto como tendo potencialmente essa capacidade de implantar a política orçamental de uma maneira mais direcionada, (…) torna-se num agente do governo”, explicou.

John Whelan, diretor de cripto e ativos digitais do Banco SantanderDR Santander

Neste cenário, o banco central passa a assumir um mandato ainda maior do que já tem, segundo Prasad. “Há uma boa possibilidade inerente às CBDC, em que os bancos centrais podem usá-las como uma ferramenta para alcançar objetivos como maior inclusão financeira e estabilidade do sistema de pagamentos, mas há um grande risco”, alertou.

Izabella Kaminska vê as CBDC como resposta às inovações que estão a ser criadas no setor privado, como a Libra do Facebook.

Perante as dúvidas, e admitindo que podia ser controversa a sua posição, John Whelan afirmou que os bancos centrais não têm necessidade de emitirem formas digitais da sua moeda e que “uma abordagem prudente seria esperar para ver”. Na sua opinião, os bancos centrais e governos deviam criar um enquadramento de registo e licenças apropriado, “um livro de regras para a indústria” e depois “uma estrutura de contas apropriada no banco central poderia ser alguma forma de conta de reserva técnica para operar de forma a assegurar a transação”.

O jornalista viajou a Madrid a convite do Santander.

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Ucrânia rejeita qualquer tentativa de negociações com a Rússia

  • Lusa
  • 19 Novembro 2022

"Uma paz genuína e duradoura só pode resultar do completo desmantelamento de todos os elementos da agressão russa", disse o Presidente ucraniano.

A Ucrânia rejeitou este sábado qualquer tentativa de negociações com a Rússia apesar de os bombardeamentos inimigos das últimas semanas terem danificado metade da rede energética do país e de se aproximar o inverno.

“Os compromissos amorais conduzirão a mais derramamento de sangue. Uma paz genuína e duradoura só pode resultar do completo desmantelamento de todos os elementos da agressão russa”, disse o Presidente ucraniano, que falava para um fórum de segurança no Canadá.

Zelensky procurou pôr fim aos rumores, que se intensificaram durante a cimeira do G20, nas últimas semanas, sobre a alegada pressão dos EUA sobre Kiev no sentido de negociar um acordo. Kiev não quer sequer ouvir falar de tréguas durante o Mundial do Qatar, no qual nem a Ucrânia nem a Rússia participam. “Alguns chamar-lhe-iam o fim da guerra. Mas uma tal pausa só agravaria a situação”, argumentou o chefe de Estado ucraniano.

Na mesma linha, os seus conselheiros deixaram claro que a única opção é regressar às fronteiras internacionalmente reconhecidas após a queda da União Soviética. “Haverá paz quando derrotarmos o exército russo na Ucrânia e regressarmos às fronteiras de 1991”, escreveu Andriy Yermak, no Telegram. Por seu lado, o braço direito de Zelensky, Mykhailo Podolyak, rejeitou a existência de negociações secretas entre o ocidente e a Rússia.

Entretanto, o chefe adjunto do Conselho de Segurança russo, Dmitry Medvedev, disse acreditar que os EUA, a NATO e a União Europeia “não querem romper definitivamente com a Rússia, porque isso significaria a Terceira Guerra Mundial”.

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O novo orçamento britânico quer “corrigir” os erros de Liz Truss

  • Joana Abrantes Gomes
  • 19 Novembro 2022

Os próximos anos vão ser de aumentos de impostos e cortes na despesa pública no Reino Unido, enquanto a economia ainda está longe de recuperar da turbulência provocada pelo Governo anterior.

Estabilidade, crescimento e serviços públicos são as prioridades do novo orçamento do Reino Unido que o ministro das Finanças, Jeremy Hunt, revelou na quinta-feira. Depois do ambicioso programa económico do seu antecessor, com um dos maiores cortes de impostos em décadas, mas que fez a libra cair a pique e disparou as taxas de juro da dívida, obrigando o Banco de Inglaterra (BoE) a uma compra de emergência de gilts (títulos soberanos), o plano do Governo de Rishi Sunak prevê cortes na despesa pública e aumento de impostos para tapar um “buraco” nas contas públicas estimado em 55.000 milhões de libras (cerca de 63.000 milhões de euros) ao longo dos próximos cinco anos.

O objetivo é assegurar aos mercados que a instabilidade provocada pelas decisões da ex-primeira ministra Liz Truss não se repetirá, mas as estimativas do Gabinete de Responsabilidade Orçamental (Office for Budget Responsibility – OBR) não são nada animadoras para os britânicos.

Hoje apresentamos um plano para enfrentar a crise do custo de vida e reconstruir a nossa economia“, afirmou Jeremy Hunt, durante a chamada “Declaração de Outono” aos deputados na Câmara dos Comuns. Sublinhando que a inflação elevada, que atingiu os 11,1% em outubro, é “o inimigo da estabilidade”, o chancellor elencou uma série de medidas que contrastam fortemente com o “mini-orçamento” apresentado em meados de setembro por Kwasi Kwarteng e que defende serem necessárias para reverter os danos causados à reputação do Reino Unido.

Entre as medidas fiscais do novo orçamento destaca-se a redução do limite salarial a partir do qual as pessoas começam a pagar a taxa mais alta (45%) do imposto sobre os rendimentos (equivalente ao IRS), de 150 mil para 125 mil libras por ano, quando o plano de Liz Truss propunha pôr fim ao escalão mais alto do imposto sobre os rendimentos a partir de 2023, o que faria com que os cidadãos que auferem mais de 150 mil libras por ano passassem a pagar apenas 40% de imposto.

Com o plano do Governo liderado por Rishi Sunak haverá também cortes nas deduções dos impostos relativos a dividendos e o limite a partir do qual os trabalhadores têm de contribuir para a Segurança Social será congelado até 2028, ou seja, as empresas terão de pagar mais. Além disso, os impostos sobre os lucros das energéticas vão aumentar de 25% para 35% até 2028, sendo ainda criado um novo imposto temporário de 45% sobre os lucros das empresas geradoras de eletricidade.

Para o diretor-geral do think tank britânico Instituto para os Assuntos Económicos, que influenciou o “mini-orçamento” de Kwasi Kwarteng, o novo plano de Jeremy Hunt coloca o Reino Unido “firmemente no caminho para impostos mais altos, mais gastos e menor crescimento”. “É uma receita para o declínio controlado, não um plano para a prosperidade”, considera Mark Littlewood.

Os planos iniciais do Governo de Liz Truss apontavam para uma descida de impostos avaliada em 45 mil milhões de libras, com pelo menos 100 mil milhões de libras para financiar diretamente os custos da energia para famílias e empresas durante dois anos, que seriam suportados por empréstimos rapidamente vetados pelos mercados financeiros.

Quanto à despesa pública, os aumentos serão limitados a 1% entre 2025 e 2028 ao abrigo do novo orçamento, uma subida muito menor do que aquela que constava nos planos do Executivo anterior, que elevavam a despesa pública em 3,7%. Esta medida forçará os dois maiores partidos – Conservador e Trabalhista – a dizer em que departamentos cortariam despesa no período que antecede as próximas eleições, previstas para 2024. Caso contrário, serão acusados de imprudência.

As alterações fiscais entrarão em vigor já a partir do próximo ano, segundo Hunt, que não entrou em grandes detalhes sobre onde deverão ser feitos cortes na despesa pública, prometendo apenas proteger as infraestruturas e a investigação para impulsionar o crescimento a longo prazo. Os funcionários do Tesouro remetem o esclarecimento sobre os serviços públicos que terão reduções de gastos para a próxima revisão geral dos orçamentos departamentais, também prevista para 2024. Insistindo que “este é um Governo com compaixão pelo próximo”, o ministro das Finanças assegurou ainda que as prestações sociais e as pensões aumentarão de acordo com a inflação, numa tentativa de “proteger os mais vulneráveis”.

Mesmo assim, este plano representa um apertar do cinto para os britânicos, numa altura em que a elevada taxa de inflação provocou um aumento significativo do custo de vida. Isto além do facto de a economia do país ainda não ter recuperado totalmente dos efeitos causados pelos planos do Executivo liderado por Liz Truss, entre os quais a queda acentuada da libra e o forte aumento das taxas de juro da dívida, que arrastaram com elas os juros dos empréstimos à habitação, forçando o BoE a intervir com a compra de dívida no valor de quase 75 mil milhões de euros.

A apresentação do plano económico de Jeremy Hunt fez-se acompanhar das estimativas do órgão fiscalizador do Reino Unido, o que não se verificou quando o seu antecessor anunciou o “mini-orçamento”. Acontece que as estimativas do OBR não são nada animadoras: apesar de as estimativas apontarem para um crescimento de 4,2% ainda este ano, o Produto Interno Bruto (PIB) do país já está a desacelerar e cairá 1,4% em 2023, antes de subir 1,3% em 2024, 2,6% em 2025 e 2,7% em 2027, adiantou Hunt. A confirmarem-se estas projeções, a economia britânica vai manter-se abaixo dos níveis pré-pandemia até ao final de 2024.

O Reino Unido, tal como outros países, está agora em recessão”, resumiu o governante, no discurso de quinta-feira ao Parlamento britânico. O relatório do Gabinete de Responsabilidade Orçamental indica ainda que a taxa de inflação vai descer até 9,1% em dezembro, e depois para 7,4% no próximo ano, com o nível de vida a cair 7% ao longo dos próximos dois anos e a acabar com oito anos de crescimento. Acrescentando que “os preços mais elevados da energia explicam a maior parte da revisão em baixa do crescimento acumulado desde março”, o ministro atribui a responsabilidade deste cenário ao impacto da invasão russa da Ucrânia.

Já as previsões do endividamento público são um sinal dos desafios que Hunt enfrentará futuramente: este ano, deverá atingir 177 mil milhões de libras (203 mil milhões de euros), correspondente a 7,1% e que representa um aumento acentuado face à projeção do OBR, em março, de 99 mil milhões de libras. Porém, em 2023, deverá descer para 140 mil milhões de libras (160 mil milhões de euros), equivalente a 5,5% do PIB, e em 2027 e 2028 para 69 mil milhões de libras (79 mil milhões de euros), ou seja, 2,4% do PIB. Em resultado, o rácio da dívida pública em relação ao PIB deverá cair de um máximo de 97,6% em 2025 e 2026 para 97,3% em 2027 e 2028.

A questão é se os planos deste novo orçamento são verdadeiramente uma necessidade económica ou uma decisão política, visto que várias medidas estão a ser comparadas à austeridade do Governo de David Cameron, no rescaldo da crise financeira de 2008, sob a alçada do então ministro das Finanças George Osborne – que Hunt chegou a descrever como seu “velho amigo”.

Mas, recordando o primeiro discurso de Rishi Sunak como primeiro-ministro, em outubro, os britânicos já tinham sido avisados de que viriam aí “decisões difíceis” para reconquistar a confiança e a estabilidade económica. Embora tenha prestado um “tributo” à antecessora Liz Truss, Rishi Sunak salientou que “foram cometidos alguns erros” e que ele iria, em parte, corrigi-los.

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“Nada” justificaria um aumento de 10% nas portagens, diz Costa

  • Lusa
  • 19 Novembro 2022

António Costa diz que vai agir para impedir que concessionárias avancem com um "aumento injustificado" de 10% nos custos das portagens.

O secretário-geral do PS, António Costa, afirmou este sábado que nada justificaria um aumento de 10% no preço das portagens e prometeu intervir para que não haja um “aproveitamento” da inflação.

“O que é que justificaria que as portagens subissem 10% no próximo mês de janeiro? Nada”, afirmou António Costa, na Covilhã, no XX Congresso Federativo do PS/Castelo Branco. Na intervenção, o líder socialista e primeiro-ministro apontou a inflação como uma das questões a que será preciso dar resposta e assumiu que há setores em que o aumento se reflete no custo final, mas não no caso das portagens.

António Costa frisou que no caso concreto “não há aumentos de custos de energia”, nem qualquer aumento do fator de produção que justificasse que as concessionárias das autoestradas aumentassem 10% o custo das portagens.

O chefe do executivo considerou não ser pelo facto de os contratos preverem um aumento indexado à taxa da inflação que se deve aproveitar uma circunstância “absolutamente excecional” de um ano em que este indicador sobe como não acontecia “há 30 anos”. Costa prometeu que vai tomar medidas, mas não especificou quais.

“Não há aumentos de custos de energia, não há nenhum aumento de fator de produção que justifique que os concessionários das autoestradas aumentassem 10% o custo das portagens, e é por isso que iremos intervir. Para que não aproveitem essa circunstância para terem um aumento injustificado que penalizaria muito o funcionamento da economia e o conjunto dos portugueses”, vincou.

Na terça-feira, a Ascendi propôs ao Governo um aumento das portagens de 10,44% em 2023, o valor da inflação homóloga de outubro sem habitação, mas a concessionária admitiu que cabe ao Estado determinar o valor final.

Na mesma linha, a Brisa referiu na passada sexta-feira ao jornal Eco que, “de acordo com o estipulado no contrato de concessão com o Estado, o preço das portagens para o próximo ano é calculado em função da inflação registada em outubro deste ano (retirando o efeito da habitação)”.

As concessionárias de autoestradas tinham até ao dia 15 de novembro para comunicar ao Governo as suas propostas de preços para 2023, tendo depois o Estado 30 dias para se pronunciar. A Ascendi acabou por propor um aumento das portagens de 10,44% em 2023 — inflação homóloga de outubro sem habitação — um valor que o ACP considera “uma brutalidade”.

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Nas últimas horas de negociação, tensões geopolíticas também podem ameaçar acordo na cimeira do clima

Ucrânia, Rússia, Estados Unidos, China e Brasil chegaram à cimeira do clima com tensões geopolíticas que podem dificultar um acordo em Sharm el-Sheikh.

Os líderes mundiais entraram nas horas chave das negociações na cimeira do clima. As conversas entre os delegados presentes em Sharm el-Sheik, que se prolongam por longas horas da noite desde a passada quarta-feira, deverão continuar este sábado, embora o final da COP27 estivesse previsto para sexta-feira.

Sameh Shoukry garantiu esta sexta-feira estar “determinado a terminar esta conferência” este sábado, apelando às partes para que “passem a uma velocidade superior”. Já da parte do vice presidente da Comissão Europeia, foi lançado um apelo esta manhã para que as nações não desistam de chegar a um acordo e reúnam todos os esforços para se chegar a um consenso em relação às propostas de Perdas e Danos, o compromisso para a redução de emissões e o fim dos combustíveis fósseis.

Se estão aqui para negociar, então ficarão o tempo que for necessário. Ainda não vimos a proposta final, mas queremos sair daqui sabendo que fizemos tudo para manter a meta de 1.5 graus Celsius viva”, afirmou esta manhã, numa conferência de imprensa.

As versões preliminares do acordo entre as partes que têm sido divulgadas sugerem que o consenso é uma miragem e que ainda existem alguns obstáculos pela frente que podem comprometer os avanços.

“Não pode haver política climática eficaz sem paz”.

Apesar dos vários temas centrais desta cimeira, o evento anual que reúne representantes de 190 países, acontece em contexto de grande instabilidade geopolítica com a guerra na Ucrânia, que já leva oito meses desde o seu início. A situação, que abalou as relações diplomáticas em todo o mundo, ameaça dificultar as negociações na reta final. O conflito militar espoletado pela Rússia, não passou despercebido e a delegação ucraniana, no Egito, acusou o Kremlin não só de “terrorismo” mas também de “ecocídio”.

“A invasão matou animais selvagens, gerou poluição e causou instabilidade social. O nosso meio ambiente está sob ameaça por causa deste ataque terrorista”, disse Svitlana Grynchuk, ministra adjunta do Meio Ambiente da Ucrânia, em Sharm el-Sheikh acrescentando que um quinto das áreas protegidas da Ucrânia foram arruinadas e os prejuízos da contaminação de solos, anteriormente férteis, ascenderam a 11,4 mil milhões de euros.

Além disso, a guerra terá aumentado os níveis de emissão de gases de efeito estufa (GEE) naquele país em 33 milhões de toneladas, ao passo que a reconstrução poderá resultar na libertação de até 49 milhões de dióxido de carbono (CO2). Desde o início da guerra, em fevereiro, o país afirma ter reunido provas de 2.000 “crimes ambientais” avaliados em 37 milhões de euros, incluindo destruição de florestas, libertação de gases tóxicos e danos em instalações de água. O governo também afirma que cerca de 600 animais e 750 plantas e fungos estão sob ameaça.

Num discurso transmitido por vídeo, na terça-feira, o presidente Volodymyr Zelensky foi perentório: “Não pode haver política climática eficaz sem paz”.

Discurso por vídeo do Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky na 27ª Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (COP 27), em Sharm el-Sheikh, no Egito. 8 de novembro, 2022. AHMAD GHARABLI / AFP

Presente na cimeira, ainda que não estivesse representada por Vladimir Putin, a Rússia reiterou que continua comprometida com os objetivos climáticos, ainda que esteja a sofrer as consequências das sanções do Ocidente. Ruslan Edelgeriev, enviado especial de Moscovo, rejeitou a noção de que o país estaria a contribuir para um atraso no combate à crise climática, afirmando que a Rússia seria capaz de atingir as metas de zero carbono antes de 2060 se fossem levantadas as sanções económicas.

Já ciente de que a guerra na Ucrânia seria um dos temas centrais na COP27, o presidente da COP, Sameh Shoukry, na cerimónia de abertura, apelou, mas sem dizer nomes, a que as nações não deixassem que “tensões políticas” interferissem no combate à crise climática, antecipando que o período de negociações finais pudesse sentir alguma turbulência por causa da Rússia e da Ucrânia.

EUA e China “descongelam” cooperação depois de visita a Taiwan

Mas a guerra não é o único fator que pode dificultar a chegada de consenso entre as delegações presentes em Sharm el-Sheik. A presidência do Egito já antecipava obstáculos entre a China e os Estados Unidos, os dois maiores emissores do mundo, e cujas relações azedaram depois de Nancy Pelosi, presidente demissionária da Câmara dos Representantes, ter visitado o Taiwan neste verão.

Apesar destas tensões, as duas nações reuniram-se de forma informal no arranque da cimeira do clima sob a garantia de estarem ambas a fazer “um esforço conjunto de apoiar a presidência egípcia a realizar uma COP27 bem-sucedida”. “Espero que os Estados Unidos tomem a iniciativa para eliminar as barreiras. Penso que a porta estava totalmente fechada da parte deles. Nós, na China, estamos a tentar abri-la”, afirmou o enviado especial chinês, Xie Zhenhua.

A porta reabriu-se esta segunda-feira, em Bali, no arranque da reunião dos G20, onde o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o líder chinês, Xi Jinping se reuniram e chegaram a acordo para retomar a cooperação bilateral no combate às alterações climáticas, permitindo desbloquear as negociações que se encontravam paradas desde agosto. Apesar do encontro entre os dois líderes ter ocorrido longe do Egito, os líderes prometeram que iam iriam “capacitar altos funcionários” nas áreas mais importantes de cooperação, nomeadamente, as alterações climáticas.

Presidente chinês Xi Jinping cumprimenta presidente norte-americano Joe Biden. 14 novembro 2022. EPA/XINHUA /LI XUEREN

Mas durante a cimeira do clima, os dois países também deram sinais de compromissos relativamente ao fundo Perdas e Danos e ao financiamento climático, ambos destinados a ajudar os países a cobrir os prejuízos das consequências das alterações climáticas e a mitigar os riscos. Durante a sua intervenção na cimeira do clima, o representante chinês referiu que embora não exista “uma obrigação da China” em contribuir para o fundo, Pequim está “disposto” a dar o seu “contributo” e a fazer “um esforço” no combate ao agravamento das alterações climáticas.

Já Biden, que antes de partir para a reunião do G20 passou por Sharm el-Sheikh, prometeu aos líderes mundiais que os 11,4 mil milhões de dólares anuais, destinados ao financiamento climático e que deveriam estar a ser entregues desde 2020, chegariam até 2024. A promessa foi feita antes do apuramento das eleições intercalares, cujo resultado pode colocar a aprovação destas verbas em causa, alertou o enviado especial John Kerry. Os resultado recolhidos até à data sugerem que o Senado poderá ficar nas mãos dos democratas ao passo que os republicanos recuperam a Câmara dos Representantes, cuja liderança fica em aberto depois de Nancy Pelosi se ter demitido.

“Brasil está de volta”

O Brasil e o resultado das eleições também marcaram a cimeira do clima. O presidente eleito, que só tomará posse em janeiro de 2023, dirigiu-se a Sharm el-Sheikh para deixar claro perante os líderes mundiais que o combate à crise climática e a preservação ambiental vão voltar a ser prioridade para o governo.

“O Brasil acaba de passar por uma das eleições mais decisivas da sua história. Uma eleição observada com atenção inédita pelos demais países”, referiu Lula da Silva durante o seu discurso, explicando que o momento foi decisivo para ajudar a “conter o avanço da extrema-direita autoritária, antidemocrática e do negacionismo climático no mundo”.

Com a derrota de Jair Bolsonaro, Lula da Silva afirmou que “a democracia venceu” e, com isso, “voltam a vigorar os valores civilizatórios, o respeito aos direitos humanos e o compromisso de enfrentar com determinação as alterações climáticas”.

Presidente eleito Luiz Inacio Lula da Silva na 27ª Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (COP 27), em Sharm el-Sheikh, no Egito EPA/KHALED ELFIQI

O novo presidente do Brasil aproveitou o momento para fazer a promessa de zelar pela proteção da Amazónia (cujo a desflorestação atingiu níveis recorde durante o mandato de Bolsonaro) e de criar um Ministério dos Povos Originários, que servirá “para dar voz” à comunidade indígena no país.

O regresso do país ao diálogo sobre a crise climática incentivou Lula a lançar um desafio a António Guterres: “Vamos falar com o secretário-geral da ONU e vamos pedir que a COP de 2025 seja no Brasil, na Amazónia“.

Mais dinheiro, menos combustíveis fósseis

Apesar das questões geopolíticas, o fim dos combustíveis fósseis e o financiamento para o combate à crise climática continuaram a ser o tema crucial e determinante para um acordo em Sharm el-Sheikh. António Guterres já tinha alertado de que, face à COP26, em Glasgow, seria necessário este ano um “pacto histórico” do clima com os países mais pobres, ou “estaremos condenados”. Mas, até agora, os avanços não têm sido significativos e o próprio presidente egípcio da COP27 veio a público admitir que dentro das salas das negociações, as “divisões são profundas”.

Desde a passada quarta-feira, altura em que as conversas começaram a ir pela noite adentro, que têm sido divulgados propostas formais de países e rascunhos de um possível acordo que deveria ter ficado assinado na sexta-feira, 18 de outubro. Mas a falta de medidas vinculativas e concretas nos documentos sugerem haver ainda trabalho pela frente este sábado.

Certo é que as críticas e apelos da parte dos países mais pobres fizeram-se ouvir durante a COP27, depois de terem acusado os países mais ricos de não fazerem o suficiente para ajudar os mais vulneráveis na mitigação e adaptação das consequências das alterações climáticas. Mia Mottley, primeira-ministra dos Barbados, considerou que “o mundo ainda se parece demasiado com o que era quando havia um império colonialista”, denunciando as desigualdades e acesso a recursos entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento.

Fomos aqueles cujo sangue, suor e lágrimas financiaram a revolução industrial. Devemos agora enfrentar um risco duplo por ter que pagar o custo como resultado desses gases de efeito estufa da revolução industrial? Isto é fundamentalmente injusto

Mia Mottley, primeira-ministra dos Barbados

Em causa está o financiamento climático de 100 mil milhões de dólares — mecanismo que serve para a mitigação e adaptação das alterações climáticas — e o fundo de Perdas e Danos, usado para cobrir prejuízos imediatos de catástrofes agravadas pelas alterações climáticas. Ambos da responsabilidade dos países mais ricos, destinado a ajudar os países mais pobres, mas que nunca foi concretizado — mas não pela falta de vontade. Estados-membros da União Europeia, os Estados Unidos e a Nova Zelândia reiteraram as intenções de apoiar monetariamente os países mais expostos aos riscos das alterações climáticas, prometendo vários milhões de euros ao longo da semana. No entanto, a vontade não é generalizada.

Protestos durante a 27ª Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas de 2022 (COP 27) em Sharm el-Sheikh, no Egito. EPA/SEDAT SUNAEPA/SEDAT SUNA

 

Generalizada também não é a vontade de por um ponto final no recurso aos combustíveis fósseis, apesar de a Índia ter proposto eliminar gradualmente a utilização dos combustíveis fósseis — uma medida que passaria a englobar o gás e o petróleo que, no Pacto de Glasgow, em 2016, ficaram de fora. Espera-se que países como a Arábia Saudita e a China contestem a medida.

“A única coisa que quero evitar é que coloquemos todos os combustíveis fósseis no mesmo lote quando pedimos por uma redução gradual, porque todos sabemos que vamos demorar muito mais a reduzir gradualmente o gás natural do que reduzir gradualmente o carvão”, afirmou o vice-presidente da Comissão Europeia, Frans Timmermans disse. “O carvão é muito mais sujo do que o gás natural, quanto mais cedo nos pudermos livrar dele, melhor”.

A argumentação de Timmermans, não reflete, no entanto, a realidade da União Europeia. O risco de um “apagão” este inverno, como consequência da decisão da estatal Gazprom de fechar a “torneira” ao gás russo, obrigou aos 27 Estados-membros a delinear medidas de segurança extraordinárias e que garantissem, pelo menos, reservas suficientes para até março de 2023. Entre elas, a reativação de centrais a carvão para a produção de eletricidade em países como a Alemanha, Áustria, Itália ou os Países Baixos perante a ameaça de uma crise energética potenciada pela guerra na Ucrânia.

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Xi espera “maior entendimento” entre China e EUA

  • Lusa
  • 19 Novembro 2022

Presidente chinês esteve reunido com a vice-presidente norte-americana. Espera que ambos os países possam "levar as relações bilaterais para um caminho saudável e estável".

O presidente chinês, Xi Jinping, afirmou este sábado em Banguecoque, numa reunião com a vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, que espera “maior entendimento” sino-americano para que diminuam os “mal-entendidos e erros de cálculo”.

“É de esperar que a China e os Estados Unidos avancem para um maior entendimento mútuo e diminuam mal-entendidos e erros de cálculo. Espera-se que trabalhemos juntos para levar as relações bilaterais para um caminho saudável e estável“, disse Xi durante o breve encontro com Harris, à margem da cimeira da Cooperação Económica Ásia-Pacífico (APEC) que termina este sábado.

Harris, que se encontra na capital da Tailândia a substituir o Presidente norte-americano, salientou que Pequim e Washington “devem manter as linhas de comunicação abertas para gerir responsavelmente a concorrência”, indicou a Casa Branca. Por outro lado, o líder chinês aproveitou o encontro de líderes da APEC para apelar a uma maior integração dos países-membros, garantindo que o desenvolvimento chinês será sempre pacífico.

Xi, que saiu da China pela primeira vez em mais de dois anos, manteve esta semana uma agenda preenchida, com reuniões bilaterais à margem da cimeira do grupo das 20 economias mais desenvolvidas (G20), realizada na terça e quarta-feira. O responsável chinês reuniu-se com Biden na segunda-feira, num encontro que serviu para tentar reduzir as tensões entre as duas principais potências económicas.

Biden exortou Xi a procurar formas de “gerir as diferenças” para evitar que a competição entre as duas potências degenere num conflito, e manifestou disponibilidade para colaborar em “assuntos globais urgentes”, incluindo alterações climáticas e insegurança alimentar. Por sua vez, Xi manifestou a intenção de manter um “diálogo franco e profundo” com Biden sobre os temas de importância estratégica nas relações bilaterais, a nível regional e global.

Nessa reunião, Xi Jinping avisou o homólogo norte-americano para não “cruzar a linha vermelha” em Taiwan. “A questão de Taiwan está no centro dos interesses centrais da China, a base da fundação política das relações sino-americanas, e é a primeira linha vermelha a não ser atravessada nas relações sino-americanas”, disse Xi a Biden, segundo o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês.

Este foi o primeiro encontro presencial entre Biden e Xi desde a chegada do norte-americano à Casa Branca, em janeiro de 2021.

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