Autarquias “apagam” ecrãs gigantes para os jogos do Mundial de futebol
Maioria das autarquias, incluindo Lisboa e Porto, optou por não criar "fan zones" para assistir aos jogos do Mundial de futebol no Qatar, mas recusa ao ECO a tese de boicote político.
A maioria das autarquias portuguesas não vai ter espaços para os fãs de futebol assistirem aos jogos do Mundial do Qatar. Ainda que algumas repudiem o desrespeito pelos direitos humanos naquele país, asseguram que a decisão de não terem estes espaços durante a prova de 2022 não é uma forma de protesto, como assumiram outras cidades europeias. Deve-se, sim, ao investimento que exigiria por ser uma época de chuva e frio, ou por terem outras iniciativas programadas.
O presidente da Câmara Municipal de Braga, Ricardo Rio, assegura ao ECO que, “apesar de o município repudiar o não respeito pelos direitos humanos no Qatar, não é isso que determina esta opção por não organizar a Fan Zone”. “Um Mundial que decorre em pleno inverno iria exigir um investimento significativo da parte da autarquia com a logística”, justifica o social-democrata. Mais ainda, prossegue, quando “alguns dos espaços municipais vão estar ocupados com mercados de Natal e outras atividades natalícias”.
Apesar de o município repudiar o não respeito pelos direitos humanos no Qatar, não é isso determina esta opção por não organizar a Fan Zone.
Algumas cidades francesas, com o Paris ou Marselha não vão criar zonas de fãs nas principais praças como forma de boicote ao Mundial de futebol no Qatar. Por causa da exploração de trabalhadores durante a construção dos estádios para o evento e pelos atentados aos direitos humanos naquele emirato do Golfo Pérsico.
A este propósito, o autarca do Porto, Rui Moreira, assinalou à Lusa que “a escolha de um país como o Qatar, muito pequeno geograficamente, com a questão do calor e dos direitos humanos que se vieram a acentuar, parecia ser um mau negócio para o futebol. Foi uma negociata e um mau negócio para a indústria do futebol”. O independente Rui Moreira vai mais longe: “É algo que não melhorou, e a questão dos direitos dos trabalhadores e das pessoas que lá morreram na construção dos estádios preocupa-me mais que tudo o resto. É algo que não dignifica o mundo do futebol”.
Ainda assim, a Câmara do Porto garante que a decisão de não ter zonas públicas para os munícipes assistirem aos jogos do Mundial não tem a ver com a sua posição sobre o Qatar. Mas também às condições climatéricas e ao investimento que iria exigir toda a logística.
Lisboa é outra das cidades que não vai criar zonas com ecrãs. Em resposta ao ECO, a autarquia afirma que “a Câmara Municipal de Lisboa não vai ter nenhuma zona de fãs da sua responsabilidade na cidade para acompanhar o Mundial do Qatar”. Sem, contudo, adiantar os motivos para esta medida na capital.
Sobre o boicote de cidades europeias, a Câmara de Albufeira diz “[acreditar] que o Mundial não deve ser politizado, condenando naturalmente tudo e qualquer abuso dos direitos humanos”. A autarquia algarvia também não vai ter ecrãs, justificando que “restaurantes, cafés e hotéis vão apostar nessa vertente e, portanto, não iria ter muita adesão, particularmente no inverno”. Nesta altura, o município aposta, sim, “na Albufeira Natal e na festa de Fim de Ano” na cidade.
A Câmara Municipal de Matosinhos também consta da lista das autarquias que não vão ter este tipo de espaços. “Não vamos ter nenhum ecrã gigante para visualização dos jogos. Ao contrário das outras competições, como este ano o Mundial decorre no inverno, não existem condições climatéricas favoráveis para aglomerações ao ar livre”, justifica a autarquia, em declarações ao ECO.
O mesmo cenário ocorre em Viseu, onde se garante que esta é “uma opção que nada tem a ver com a atual polémica em torno da escolha do país para acolher o evento desportivo, mas sim com opções estratégicas e orçamentais do próprio município”. Segundo a autarquia, “a realização deste evento coincide, em parte, com o arranque da programa do Viseu Natal na cidade, sendo esta uma programação com elevado impacto na dinâmica cultural, social e comercial da cidade”.
O município viseense insiste que “não toma nenhuma posição pública” no que respeita à escolha do Qatar como país de acolhimento deste evento desportivo. “Clarifique-se, no entanto, que qualquer violação dos direitos humanos, em qualquer circunstância, deve merecer a atenção de todos e é um ato condenável”, sustenta a mesma fonte.
Mais a sul, em Leiria também não haverá zonas públicas para assistir aos jogos. “Informamos que o município não irá criar zonas públicas para visionamento dos jogos do Mundial”, esclarece fonte oficial.
No Alentejo, o município do Alandroal não vai ter espaços de Fan Zone para evitar gastos, nomeadamente com energia. “O município do Alandroal não irá realizar por questões de poupança energética e orçamental, sendo que o seu principal objetivo é dar espaço às associações e coletividades para dinamizarem os seus próprios espaços”, justifica a autarquia.
Fan Zone em Viana do Castelo e Famalicão
Já a Câmara de Viana do Castelo tem montada uma tenda gigante na Praça da Liberdade, que vai acolher uma Fan Zone do Mundial 2022. Segundo a autarquia, “serão transmitidos todos os jogos da seleção portuguesa e todos os jogos de fases eliminatórias do Mundial 2022 de futebol”, numa tenda gigante com capacidade para 500 pessoas.
Este espaço vai ter ainda um conjunto de eventos de animação associado assim como áreas de bebidas “e todas as transações comerciais implicam, obrigatoriamente, o uso da Pulseira Viana [que é gratuita], pelo que não haverá circulação de dinheiro na Fan Zone”, adianta o município.
Em Vila Nova de Famalicão, todos os jogos do Mundial vão ser transmitidos na Praça – Mercado Municipal, numa iniciativa promovida por este espaço em parceria com os estabelecimentos de restauração instalados no mercado. “Os jogos serão transmitidos na zona da restauração, com recurso a um ecrã que já está instalado, ou seja, não foi propositadamente montado para este Mundial”, avança a autarquia.
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